Zerozero
·16. Januar 2025
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·16. Januar 2025
No documento em que a Deloitte apresenta o resumo e as principais conclusões retiradas da auditoria forense à SAD do FC Porto, a palavra «Portimonense» é referida um total de 92 vezes.
Isso não traz surpresa, já que os algarvios foram um dos clubes que mais negociou com os dragões durante o período em análise - entre 2014/15 e 2023/24 -, mas importa referir que, dos 55 jogadores analisados na auditoria, os seis casos relacionados com o Portimonense são alguns que mais questões levantaram em relação à racionalidade e justificação dos negócios.
O que comandou valores mais altos e mais vezes vestiu a camisola azul e branca foi Manafá, mas essa transferência não deixa de gerar pontos de interrogação. Ora, os dragões investiram três milhões de euros em 60 por cento do passe do jogador numa altura em que este apresentava um valor de mercado de 1,25 milhões e, mais tarde, adquiriram os restantes 40 por cento por quatro milhões, mas o jogador acabou por deixar o clube a custo zero.
Samuel Portugal é o único nome que ainda não fez qualquer jogo oficial por qualquer equipa dos dragões desde que assinou em setembro de 2022, mas já justificou três pagamentos diferentes, totalizando quatro milhões de euros por 90 por cento do passe.
Gleison Moreira foi contratado ao Portimonense por um milhão de euros (50 por cento do passe) quando tinha um valor de mercado de apenas 75 mil euros, sendo que após variados empréstimos foi vendido ao Portimonense por apenas 100 mil euros, quando o seu valor de mercado era já de 600 mil. Semelhante aconteceu com Musa Yahaya, que custou 750 mil euros por 45 por cento do passe quando tinha um valor de mercado de 25 mil, mas deixou o clube a custo zero quando já estava avaliado 300 mil.
Formado no FC Porto, Bruno Costa foi vendido ao Portimonense por dois milhões de euros - valor correspondente ao mercado - por metade do passe, em janeiro de 2020, mas um ano e meio depois a SAD azul e branca investiu 2,5 milhões de euros nessa mesma fatia dos direitos económicos do médio. Deixou o clube, em setembro de 2023, a custo zero.
Por fim, Rui Costa trocou o Portimonense pelo FC Porto a troco de 1,5 milhões de euros por metade dos direitos económicos, o que corresponde ao quádruplo do seu valor de mercado no momento. Deixou o clube dois anos depois, a custo zero.
Em todos os casos acima referidos, a auditoria refere que «não foi identificada documentação de suporte ao racional de decisão para alienação, aquisição ou saída do jogador».
Estes não foram os únicos casos. Aliás, dos 55 jogadores analisados nesta auditoria, 51 não tinham evidência da elaboração de um relatório de scouting ou monitorização do desempenho desportivo. Segundo este documento, apenas quatro dos jogadores tiveram esta «documentação de suporte ao racional de decisão»,
Nos restantes dados relacionados à prospeção de jogadores, a auditoria conclui que houve durante o período em análise um conjunto de contratos de scouting que contemplaram 22 entidades e um indivíduo, totalizando mais de 10 milhões de euros. 14 dessas entidades, num valor de 5,4 milhões de euros, tiveram simultaneamente intervenção enquanto agentes de intermediação, no que pode ser considerado um conflito de interesses.
A auditoria refere que esses contratos geraram um número de relatórios «bastante inferior ao número indicado como sendo o mínimo exigível». Dos 122 relatórios de scouting apresentados à SAD do FC Porto neste período, apenas um jogador foi adquirido.