Calciopédia
·7 janvier 2025
Calciopédia
·7 janvier 2025
Dá para dizer que o desfecho de um clássico, onde normalmente não há favoritos, foi surpreendente? Bem, no caso da final da Supercopa Italiana de 2024, sim. O Milan chegou à competição como único participante que não havia ganho títulos na temporada anterior e com um treinador com menos de meia semana no cargo. Era, sem dúvidas, o azarão. Porém, mesmo assim, superou a Inter, que ganhara o último scudetto e sonhava com um inédito tetracampeonato consecutivo do torneio, com uma empolgante virada por 3 a 2, sacramentada nos acréscimos do Derby della Madonnina.
Em Riade, capital da Arábia Saudita, a Inter chegava para sua quarta decisão seguida da Supercopa Italiana – todas sob o comando de Simone Inzaghi, embora Antonio Conte tenha sido o responsável por classificar os nerazzurri para a primeira da sequência. Favorita, a Beneamata almejava ser a primeira equipe tetracampeã consecutiva do torneio. Do outro lado, Sérgio Conceição, anunciado pelo Milan no dia 30 de dezembro, faria sua segunda partida pelos rossoneri. A primeira, terminada com uma vitória de virada sobre a Juventus, na semifinal, lhe permitiu disputar a final com uma tranquilidade ainda maior. Afinal, de antemão, a obrigação de levantar a taça já não existia.
Os dois técnicos tiveram de lidar com desfalques ou intercorrências que fizeram seus planos mudarem. Na Inter, os lesionados Pavard, Acerbi e Thuram não tinham condições de jogo. No Milan, além das ausências de Florenzi, Okafor e Chukwueze, Rafael Leão foi relacionado com restrições: segundo a imprensa italiana, o português só podia atuar por cerca de 30 minutos.
Competitivo desde a chegada de Conceição, o Milan iniciou bem um dérbi que se revelaria bastante agitado. Logo aos 15 minutos, Reijnders limpou Bisseck e ficou bem posicionado dentro da área, mas chutou fraco e torto, para fora. Depois, aos 19, foi a vez de Hernandez ter a liberdade para arriscou. O francês também não acertou em cheio, porém Morata, livre, desviou a pelota no meio do caminho e Sommer, atento, a segurou.
Taremi e Lautaro, que vinham sendo contestados, fizeram bom jogo e marcaram – apesar da derrota nerazzurra (Arquivo/Inter)
Depois do bom começo do Diavolo, a Inter deu uma equilibrada na partida e pouco ocorreu até o intervalo. Aos 23 minutos, a Beneamata armou um contra-ataque, Taremi abriu para Dimarco e o chutaço do ala foi espalmado por Maignan para escanteio. Já na casa dos 35, os nerazzurri sofreram um importante baque: Çalhanoglu sentiu os adutores, como Thuram na semifinal contra a Atalanta, e foi substituído por Asllani. A princípio, isso não afetou a equipe de Inzaghi, que viu dois atacantes contestados em tempos recentes brilharem.
No primeiro minuto de acréscimos da etapa inicial, aliás, a Inter abriu o placar. Dimarco aproveitou a cochilada de Emerson Royal e cobrou um arremesso lateral rapidamente, na busca por Mkhitaryan. A jogada pela esquerda passou pelo iraniano Taremi e terminou no flanco oposto, com Lautaro. O camisa 10 nerazzurro puxou para a canhota, tirando a zaga rossonera, e fuzilou no contrapé de Maignan. Martínez, maior artilheiro em atividade do Derby della Madonnina, chegou a nove gols no clássico e, de quebra, anotou seu quarto tento na Supercopa Italiana. Assim, se igualou ao compatriota Dybala como principal goleador da competição.
Com a vantagem no placar, a Inter voltou para o segundo tempo determinada a definir o clássico e bastante ligada. O Milan, nem tanto. Aos 47 minutos, Asllani deu uma linda fatiada vertical, tirando o peso da bola, e encontrou Taremi na cara do gol. O iraniano dominou e bateu no cantinho, se livrando de um jejum que durava desde 1º de outubro, quando, contra o Estrela Vermelha, havia anotado seu único tento pelos nerazzurri até então.
Imediatamente após o segundo gol da Inter, Sérgio Conceição tirou Rafael Leão do banco, embora o camisa 10 não tivesse as melhores condições físicas, como citado. Parecia que o ponta entraria no sacrifício. Entretanto, sua presença em campo mudaria a história do dérbi e teria impacto imediato. Em sua primeira jogada, Rafa saiu carregando a bola na entrada da área interista e sofreu falta de Mkhitaryan. Na cobrança, Hernandez aproveitou a barreira mal montada por Sommer para diminuir, com um chute no cantinho direito do arqueiro suíço, aos 52 minutos.
A entrada de Rafael Leão mudou a história do clássico (AFP/Getty)
A entrada de Rafael Leão mudou o jogo como um todo. Para o Milan, conferiu moral; para a Inter, o senso de urgência em aproveitar contragolpes, já que Bisseck sofria com o português e a defesa poderia fazer água a qualquer momento. Assim, o dérbi se animou muito e o segundo tempo ganhou ares frenéticos.
Aos 62, Rafa Leão fez grande jogada pela ponta esquerda e deixou Reijnders sem goleiro para finalizar. Porém, o arremate do holandês pegou no rosto de Bastoni e saiu em escanteio. Três minutos depois, o Milan – que seguia pressionando – obrigou Sommer salvou a Inter numa cabeçada à queima-roupa de Morata.
A Inter respondeu nos minutos seguintes, com três chegadas consecutivas, todas iniciadas pelo lado direito e com inversões. Na primeira, aos 68, Taremi não alcançou o disparo cruzado de Dumfries; na segunda, Lautaro limpou e parou em defesa segura de Maignan. Já na casa dos 72, após uma jogada bem trabalhada, Carlos Augusto apareceu dividindo pelo alto com Musah e acertou a trave. Meio no susto, o arqueiro rossonero pegou a bola sobre a linha.
Quando parecia que a Inter havia conseguido equilibrar o jogo, ainda que Rafael Leão disseminasse o pânico pelo lado esquerdo, o Milan empatou o clássico – e justamente pelo flanco canhoto. Hernandez chegou à linha de fundo, cruzou rasteiro e Bastoni deu uma bobeada. Pulisic não foi bobo, dominou e bateu no canto, igualando a partida aos 80 minutos.
Nos acréscimos, Abraham aproveitou assistência de Rafa Leão para dar a Supercopa Italiana ao Milan (Pics Action/NurPhoto/Getty)
Dali em diante, a Inter, chocada com um empate que raramente sofre, já que costuma dominar as partidas e tinha uma boa vantagem, passou a tomar a iniciativa. Ir para os pênaltis não parecia uma boa opção para os nerazzurri. Nesse sentido, Dumfries chegou a ter duas oportunidades: aos 84 minutos, após um escanteio bem batido por Asllani, finalizou de primeira por cima da baliza adversária; já aos 87, após um corte providencial de Thiaw sobre Frattesi, viu Maignan crescer em sua frente para evitar o gol.
Quando os pênaltis pareciam realidade, o Milan de Sérgio Conceição transformou sua reação em mais uma remontada. Aos 93 minutos, Rafael Leão fez o movimento vertical nas costas da zaga rival, recebeu de Pulisic e colocou no meio da área para Abraham virar, dando números finais ao jogo. Com apenas sete dias de trabalho, o treinador português, ex-atleta da Inter, adicionou um título a seu currículo. Sua trajetória lembra muito a de Joel Santana, que assumiu o Vasco em 2000, por conta de uma briga entre o técnico Oswaldo de Oliveira e o cartola Eurico Miranda, e, de cara, ganhou a Copa Mercosul com uma histórica virada sobre o Palmeiras.
Estrela e competência, Sérgio Conceição certamente tem. Nos seus tempos de Porto, o técnico interrompeu uma sequência de quatro títulos nacionais do Benfica e, agora, impediu que a Inter estabelecesse um recorde na Supercopa Italiana. De quebra, fez o Milan empatar com a rival em número de troféus do torneio (oito). Com moral, poderá reescrever a temporada dos rossoneri e, quem sabe, levar o Diavolo para a Champions League – competição em que também terá condições de fazer história.
Para Inzaghi, horas de reflexão: sua equipe voltou a bobear após ter ótima vantagem num jogo grande, tal qual no empate por 4 a 4 com a Juventus, e somou a terceira derrota da temporada, sendo duas no Derby della Madonnina. O tropeço poderá afetar, ao menos de imediato, a trajetória da Inter, que fará seis jogos nos próximos 18 dias?