
Central do Timão
·20 Mei 2025
Chefe do DM deixa Corinthians; Comissão de Justiça estuda convocação para apurar denúncia de ingerência

Central do Timão
·20 Mei 2025
Após um ano e três meses no cargo, a doutora Ana Carolina Ramos e Côrte foi demitida da chefia do Departamento Médico do Corinthians. O clube publicou uma nota em seu site na tarde desta segunda-feira, 19, onde confirma a saída da profissional, mas sem citar as circunstâncias exatas. No texto, o Alvinegro agradeceu os serviços prestados pela profissional, que trabalhava no clube ininterruptamente desde 2018, com outra passagem registrada entre 2014 e 2015.
Poucas horas depois, a médica divulgou comunicado em suas redes sociais. No texto, Ana Carolina agradeceu ao Corinthians pelos anos trabalhados e se disse orgulhosa por ter sido a primeira mulher a chefiar o DM de um clube da primeira divisão nacional. Também disse estar confiante no trabalho realizado e apelou para que não houvesse retrocessos no trabalho desenvolvido:
Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
“Levo comigo a certeza de que entreguei meu melhor todos os dias e sigo motivada a contribuir com o esporte brasileiro em novas frentes, trabalhando para ver cada vez mais mulheres em cargos onde historicamente nunca estiveram. Espero que não haja retrocessos e que possamos manter, assim como ocorreu na última Olimpíada, igualdade de gênero entre atletas em todas as esferas do futebol.”
Desgaste, ingerência e denúncia
À profissional, o clube teria afirmado que a demissão ocorreu por uma “reformulação do setor”. Porém, conforme apurou o jornalista Fábio Lázaro, do Trivela, a gestão não tem um plano para a substituição da médica no cargo. O clube pode tanto ir ao mercado em busca de um novo profissional quanto pode promover um dos médicos remanescentes no DM (André Jorge, Eures Facci e João Marcelo), com o primeiro nome tendo certa preferência caso a decisão seja por uma reposição interna.
Nas horas seguintes ao anúncio do Corinthians, surgiram rumores de que a demissão tivesse sido provocada pelas declarações de Dorival Júnior neste domingo, 18, em coletiva após a vitória sobre o Santos pelo Brasileirão, a respeito de Matheuzinho. No entanto, uma fonte ligada ao clube, ouvida pela Central do Timão, negou essa especulação, dizendo ainda que os boatos incomodaram o treinador, que entrou em contato com a médica para esclarecer a situação.
Ainda segundo a apuração, a demissão era vista há alguns meses como certa, e teria ocorrido devido a um “desgaste” entre clube e profissional, que se intensificou no segundo semestre de 2024, por meio de declarações de Ramón e Emiliano Díaz, então treinador e auxiliar da equipe, que constantemente demonstravam insatisfação com a condução do tratamento médico dos jogadores lesionados.
Este “desgaste”, no entanto, teve um estopim no início deste ano, a partir de um sério atrito ocorrido entre a então chefe do DM corinthiano e um membro da diretoria, que teria pressionado a profissional a liberar um atleta do elenco para jogo enquanto ainda seguia sob tratamento médico.
Ana Carolina teria reagido mal à abordagem, considerando uma ingerência em seu trabalho, e por conta disso teria formalizado uma denúncia interna de assédio moral, para que a postura do profissional fosse apurada. No entanto, isso não aconteceu, e a convivência com o mesmo nos meses seguinte minou, aos poucos, a relação entre Ana Carolina e o departamento de futebol como um todo.
Já em 2025, mas ainda na “era Ramón”, críticas da comissão às condições físicas de Diego Palacios chamaram atenção, pois mesmo curado das lesões no joelho desde dezembro ele praticamente não atuou durante o Paulistão. Ao mesmo tempo, o DM corinthiano se viu em dificuldades de tratar da tendinoplatia no joelho direito de Rodrigo Garro, fazendo com que o departamento fosse alvo de questionamentos.
Por fim, a ausência de Matheuzinho no clássico deste domingo foi vista como um “ponto final”. Segundo apurado pela Central do Timão, a decisão do DM de liberar o lateral-direito para a viagem ao Uruguai, onde o Corinthians enfrentou o Racing Montevideo pela Copa Sul-Americana, estava clinicamente amparada. O atleta, porém, reclamou de dores no retorno ao Brasil, e tornou-se um desfalque imprevisto para Dorival na partida do Alvinegro pelo Brasileirão contra o Santos.
Convocação da CJ
A redação também apurou, com outra fonte ligada ao Corinthians, que a agora ex-funcionária do clube deverá ser convocada para se apresentar à Comissão de Justiça do Conselho Deliberativo (CD). O intuito da convocação será compreender o contexto da demissão da profissional, devido ao risco de ser visto como uma retaliação por conta da denúncia formulada pela mesma em relação à ingerência em seu trabalho.
Com isso, a CJ espera evitar o chamado “dano reputacional” ao Corinthians, que poderia ser configurado devido ao fato de a denúncia em questão não ter avançado internamente no clube. No entanto, o órgão não faria esta convocação agora, devido ao contexto político do clube, que na próxima semana verá o CD votar o mérito do processo de impeachment contra o presidente Augusto Melo.
Vale lembrar que a Comissão de Justiça é uma das comissões temáticas do Conselho Deliberativo, instituídas para monitorar o trabalho desenvolvido pela diretoria de forma segmentada. Sua criação ocorreu, de maneira inédita, apenas em fevereiro de 2024, embora o estatuto do Corinthians já previsse a instituição destes grupos de trabalho há anos.
A Central do Timão procurou a doutora Ana Carolina Ramos e Côrte, que optou por não se manifestar neste momento. A assessoria da presidência também foi questionada, afirmando que a saída da profissional ocorreu “em decisão conjunta do departamento de futebol e da presidência do Clube, dando sequência ao processo de reorganização estrutural”.
Já sobre a denúncia de assédio moral formalizada, a resposta obtida foi de que o presidente Augusto Melo tomou conhecimento da situação. “O caso foi tratado internamente na ocasião, com todo respeito e atenção que a situação necessitava no momento. O Corinthians reafirma seu compromisso com a ética, a transparência e o respeito institucional em todas as suas decisões”, diz a nota.
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