Passou pelo Benfica e vive na Noruega: «Bodo é uma espécie de SC Braga, mas já chegou onde o SC Braga deseja» | OneFootball

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·24 September 2024

Passou pelo Benfica e vive na Noruega: «Bodo é uma espécie de SC Braga, mas já chegou onde o SC Braga deseja»

Gambar artikel:Passou pelo Benfica e vive na Noruega: «Bodo é uma espécie de SC Braga, mas já chegou onde o SC Braga deseja»

O FC Porto viaja até à Noruega para dar o pontapé de saída na nova edição da Liga Europa. Vítor Bruno e companhia terão pela frente a - para muitos, desconhecida - formação do Bodo/Glimt. Para desmistificar este mistério, de modo a dar a conhecer o adversário dos dragões com o maior rigor possível, o zerozero recorreu a um entendido na matéria.

Nuno Marques. Ex-guarda-redes do Benfica e do Estrela da Amadora, mudou-se para a Noruega em 2004 e por lá ficou desde então.


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Quem é o adversário do FC Porto?

Ao olhar para a tabela do campeonato norueguês, o bom momento do Bodo/Glimt é visível: ocupa a primeira posição numa prova bastante «competitiva»: «Vemos a tabela e reparamos que o último classificado tem 21 pontos e, por exemplo, o oitavo tem 27. É uma diferença muito curta. Ou seja, jogar ao Totobola aqui é para esquecer (risos). À partida, sabemos quem deve ser campeão, por causa dos orçamentos, mas de resto não conseguimos perspetivar nada. Há sempre surpresas. Aqui, todos os clubes têm a mesma importância, ao contrário de Portugal.»

Líderes e com três campeonatos nos últimos quatro anos. Há um cheiro a hegemonia a pairar sobre Bodo: «O Bodo/Glimt está a fazer, hoje em dia, o que o Rosenborg fez nos anos 90. Digamos que é uma espécie de SC Braga, mas que já chegou onde o SC Braga deseja chegar. O clube diz muito à região do norte, todas as pessoas de lá são do Bodo/Glimt, por ser um clube muito local. Com as competições europeias nos últimos anos, têm tido força económica para contratar os melhores jogadores, não só na Noruega como na Escandinávia. Por isso, têm ganho.»

«Estiveram quase a chegar à fase regular da Liga dos Campeões - perderam com o Estrela Vermelha, que jogou contra o Benfica. Há uns anos ganharam à Roma, em casa, por 6-1; quase bateram o Milan, o Arsenal. Eles têm uma vantagem enorme em casa: o campo sintético», recordou Nuno Marques.

Nas sempre difíceis deslocações portuguesas ao norte da Europa, o clima, por vezes, traz complicações. Uma questão que, em princípio, não afetará o jogo da próxima quarta-feira: «Como ainda estamos em setembro, creio que não será pelas questões climatéricas. Deve fazer algum vento, como é o norte da Noruega, mas não será por aí. No Porto também estão habituados a vento. Acho que é mesmo a questão do sintético.»

Entre a conversa, Nuno Marques revelou-nos um detalhe curioso: o guarda-redes português, em 2006, esteve prestes a assinar pelo Bodo/Glimt! Na dúvida, acabou por rumar ao Bryne, onde encontrou Håvard Zachariassen, atual diretor-desportivo... da formação de Bodo.

Por isso - e por estar a par da atualidade norueguesa - Nuno contou-nos sobre a forma de jogar do adversário do FC Porto: «Em casa, o Bodo/Glimt joga num 4-3-3 muito agressivo, espero que o FC Porto tenha feito os trabalhos de casa e analisado bem os jogos, porque em casa eles são quase invencíveis. Fora, em relva, têm algumas dificuldades, mas em casa jogam muito bem, com uma estrutura de há muitos anos. Têm uma equipa jovem, com bons jogadores, onde os de 24/25 anos são os mais experientes.»

Da forma de jogar, passamos para o plantel e, além de nos alertar para os jogadores que os dragões devem ter debaixo de olho, Nuno Marques também nos fez uma reflexão sobre o jogador escandinavo, que tem qualidade, mas precisa de não saltar etapas antes de chegar ao topo.

«Há um jogador que fez um grande jogo contra o Milan e foi logo para lá, mas depois não se adaptou, porque saiu diretamente do Bodo/Glimt. Andou pela Alemanha e pela Bélgica, mas regressou: Jens Petter Hauge. Quando se sai do Bodo/Glimt para o Milan é um salto muito grande...

Por exemplo, o Martin Odegaard. Quando foi para o Real Madrid, perguntaram-me o que achava. Disse que era impossível recusar o Real Madrid - ainda por cima, pelo dinheiro que foi. Disse também que o ideal seria ir primeiro para os Países Baixos ou Bélgica. Foi o que acabou por acontecer: foi emprestado ao Heerenveen e ao Vitesse, depois à Real Sociedad e só depois singrou no Arsenal. Esses saltos são muito grandes, de um campeonato escandinavo para um Real Madrid ou Barcelona. O Erling Haaland também fez um trajeto semelhante; se tivesse ido diretamente para o Manchester City, teria sido muito diferente.

Além do Jens Petter Hauge, há o capitão: Patrick Berg, filho, sobrinho e neto de lendas do Bodo/Glimt e do futebol noruguês, um jogador da casa. O Kasper Hogh também é muito bom jogador, avançado dinamarquês... São todos jovens; o Bodo/Glimt e o Nordsjaelland são as melhores formações da Escandinávia - já se trabalha muito bem nas academias destes clubes», alertou o português.

Sobre o jogo da próxima quarta-feira, Nuno Marques confirmou que vai estar atento e deixou o aviso: «Vou ver o jogo, logicamente. É pena ser longe e a meio da semana, caso contrário ia mesmo ao estádio. Reforço: espero que o FC Porto tenha feito o trabalho de casa. Se o fez, acredito que ganhe, talvez por 1-2. Caso não tenha feito e ache que vai ser um jogo fácil, aí perde. O Bodo/Glimt vai com tudo

Entre a Noruega e Portugal, uma grande diferença

Ao recuar na carreira, o ex-guarda-redes do Benfica e do Estrela da Amadora recuou aos tempos em Portugal e salientou a principal diferença entre ambos os países.

«Quando comparo com Portugal, o que mais noto diferença é no equilíbrio entre a família e o emprego. Aqui, em primeiro vem a família; o mais importante é que estejam bem e, se for preciso sairmos do trabalho a meio do dia, saímos, não há problema e não temos de justificar nada a ninguém, desde que o trabalho depois apareça feito. Por exemplo, eu já estava em teletrabalho há muitos anos, mesmo antes da COVID, por causa deste tipo de visão direcionada para a família. Se uma pessoa tem estabilidade familiar, o resto corre bem. Para mim, isso é o mais importante e o que noto mais diferença, ter esta flexibilidade e estabilidade; trabalhar, cuidar da família, ir aos treinos dos meus filhos, ir com eles ao médico, o que seja. Há uma confiança no trabalhador e isso é muito importante para que tudo funcione.

Aqui, os meus filhos entram às 8h15 e acabam a escola às 13h. Às 14h já estão em casa, vão para as atividades desportivas às 16h/17h e às 19h já estão em casa. Na minha altura, lembro-me de chegar a casa às 23h, por ter treinos às 21h. Em Portugal, as crianças passam muito tempo na escola, dormem muito pouco e, quando chegam aos 20 e poucos anos, acho que aprenderam o mesmo que os noruegueses, que passaram menos tempo na escola. Sinto que as crianças têm mais tempo para ser crianças, na Noruega.

Se bem que, claro, o nosso país também tem muita coisa boa. Eu adoro Portugal; somos um país fantástico e temos um enorme potencial. É lógico, também, que a Noruega não é nenhum paraíso e também tem os seus problemas. De momento, sentimo-nos bem aqui, mas Portugal será sempre a nossa casa», explicou o ex-guarda-redes.

A vida pessoal: das balizas à política

Há 20 anos pelo norte da Europa, Nuno recordou-nos do momento em que abandonou Portugal e rumou à Escandinávia: «Fui numa de: "isto vai ser uma aventura". Naquela altura, em 2003/04, muitos jogadores iam para o Chipre, para a Rússia... Eu era para ir para a Suécia, só que nunca mais se decidiam e, entretanto, recebi um telefonema de um empresário a perguntar se estava interessado em ir para Oslo; ia treinar e, se corresse bem, assinava contrato. Pensei: “olha, por que não?”

A minha intenção inicial era ficar dois ou três anos e eventualmente mudar, mas gostei tanto, tive boas condições, estabilidade financeira, uma boa equipa... Como não me faltava nada e como sabia que, em Portugal, ou estava nos grandes, ou então treinava e arriscava-me a não receber... Adaptei-me bem, aprendi a língua, fiz amigos e nunca me faltou nada: nunca tive um salário em atraso e, às vezes, até me pagavam dias antes do suposto; abria a conta e já estava lá o dinheiro, isso significa muito.

Aqui havia a possibilidade de jogar futebol e estudar em simultâneo - ou ter outro trabalho - e isso fez com que continuasse, ao ponto de terminar a carreira por cá. O nível futebolístico podia não ser tão bom como em Espanha ou Inglaterra, mas a estabilidade e o preparar a vida pós-futebol pesou muito na decisão de continuar na Noruega», contou.

O futuro, contudo, deu uma volta que nem Nuno esperava. Por isso, de momento, envergou por um ramo «diferente» do futebol e vive feliz por Notodden: «Acabei por ir para a política, sou vice-presidente do município da cidade onde vivo. É a cidade do último clube onde joguei: fiz seis épocas cá e, depois, com 33 anos e dois filhos, pensei em deixar o futebol e começar noutro trabalho, como já tinha acabado os estudos aqui. Ainda assim, fiquei como treinador de guarda-redes da equipa principal, durante dez anos.»

Após a viagem pela vida de Nuno Marques, recordar o que originou esta peça: dragões e noruegueses medem forças na próxima quarta-feira, às 17h45.

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