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·24 September 2024

Um ano do caso Rafael Garcia: uma mancha em meio à festa

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24 de setembro. Um dia que marcou para sempre a história do São Paulo Futebol Clube e o coração de milhões de torcedores. O sonho da inédita Copa do Brasil enfim se realizou, e nesta terça-feira, completa 1 ano. Porém, um dia que deveria ser lembrado apenas pela festa e euforia, terá para sempre uma mancha ao seu lado.

A mancha do sangue de Rafael Garcia (32). São-Paulino, que assim como todos nós, apenas celebrava a conquista inédita, em volta do Morumbi. De maneira covarde e sem qualquer motivo, a Polícia Militar avançou contra os torcedores na Rua Sérgio Paulo Freddi, com um dos policiais atirando na cabeça de Rafael.


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Deficiente auditivo e membro da ala “Surdos e Mudos” da Independente, Rafael faleceu horas depois.

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Foto do torcedor Rafael Garcia. (Reprodução: G1)

Não foi o único conflito no Morumbis após o final do jogo. Policiais foram flagrados agredindo outros torcedores com cassetetes, além de utilizarem de bombas e jatos d´água, para expulsar a torcida dos arredores do estádio.

E claro, seguindo o seu modus operandi, a Polícia Militar logo culpou a torcida do São Paulo, e até mesmo do Flamengo. Alegou que organizadas dos dois clubes tentaram invadir uma barreira de fiscalização de ingressos antes da partida. E ao citar o caso que matou Rafael, declarou que torcedores tentaram invadir uma área de isolamento, e atiraram garrafas e pedras em direção aos policiais.

Tudo isso enquanto imagens que circulavam nas redes mostravam o contrário: um ambiente de tranquilidade por parte dos torcedores, com são-paulinos e flamenguistas confraternizando juntos, em paz. Na rua onde tudo ocorreu, membros da Independente não faziam nada além de celebrar a conquista.

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Policiais agredindo são-paulinos nos arredores do Morumbis. (Reprodução: G1)

Relembrado o caso, ficam as perguntas: Por que? Qual a necessidade de tamanha covardia e truculência nos estádios? Toda essa violência da Polícia Militar, nitidamente despreparada, não se justificaria nem se uma meia dúzia arrumasse confusão; em uma final totalmente pacífica, muito menos.

E além de tudo isso, vimos a omissão do São Paulo em relação ao caso. A única “homenagem” feita a Rafael foi uma faixa de luto, utilizada contra o Corinthians uma semana depois. No curto anúncio, não citou nem mesmo a verdade. Vagamente, afirmou que Rafael havia falecido, mesmo com todas as evidências. Não vimos nenhuma nota oficial, nenhum esforço por justiça. O clube tratou um de seus torcedores, tão importantes nos últimos anos, como descartável.

Sabemos muito bem que a Polícia Militar adora conflitos tolos nos estádios, e mais do que isso, faz de tudo contra o futebol paulista. Em quase todos os jogos, a PM obriga o torcedor a ficar distante do ônibus do São Paulo, mas no Choque-Rei pelo campeonato paulista 2024, foi muito além do aceitável, como mostra a imagem do jornalista Gabriel Sá.

E não se limita apenas ao São Paulo; na grama dos rivais, conseguem fazer muito pior. Durante a pandemia, com estádios vazios, a PM tentou vetar um mosaico provocativo de corintianos na Neo Química Arena, antes de um Derby Paulista, alegando que “incitaria a violência”. Com estádios vazios (!).

Em um caso pior, já com a volta do público, um cartaz foi rasgado na frente de uma criança de 9 anos, no jogo entre Corinthians e Grêmio, pelo Brasileirão 2021.

Com base em tantos acontecimentos infelizes, a reportagem entrevistou dois são-paulinos: a torcedora Camyli Estefani, e o torcedor João Vitor Castilhejo, tratando inicialmente da atuação da PM no Morumbis.

Quando esteve no Morumbis vendo o São Paulo, já teve experiências desagradáveis com a PM? Ou sabe de algum conhecido que passou por algo?

“Já presenciei. Foi um PM agindo de maneira mais grossa com torcedores próximos a mim, sendo que só fizeram uma pergunta sobre quando iria liberar a entrada, pois o jogo já havia começado.” (Camyli) “Sim […] conheço pessoas que tiveram experiências completamente negativas com a Polícia Militar. A truculência deles, o despreparo, a ignorância […] tudo isso já aconteceu comigo e outros amigos.” (João Vitor)

Em termos gerais, qual a sua avaliação da atuação da PM no Morumbis?

“Péssima! A Polícia Militar no Morumbis, muitas vezes, age de maneira desproporcional e truculenta. O tratamento dado aos torcedores é frequentemente desrespeitoso e autoritário, o que não contribui em nada para a segurança e a tranquilidade do lugar. Acredito que falta um preparo adequado para lidar com o público de maneira mais humana e eficiente.” (Camyli) “É a pior possível. […] a maioria dos policiais são truculentos e despreparados, então acontecem muitas ocasiões desagradáveis por conta disso. […] minha avaliação sobre a Polícia Militar do Estado de São Paulo é a pior possível, se eu pudesse dar uma nota, daria nota zero” (João Vitor)

Outra polêmica mais recente entre torcida e Polícia Militar se deu no jogo contra o Grêmio, na 17ª rodada do Brasileirão. Após a derrota para o Atlético Mineiro com gol irregular, a Independente resolveu fazer um protesto pacífico no Morumbis, com um apitaço no início do 1º e do 2º tempo contra os gaúchos. Porém, a ação foi vetada pela PM, gerando uma nota de repúdio da organizada. Nota que lembrou também dos ocorridos na final da Copa do Brasil.

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Protesto anunciado pela Torcida Independente, e vetado pela PM. (Reprodução: Torcida Independente/Instagram)

Em relação ao veto do apitaço, e a distância da torcida para o ônibus, a torcedora Camyli Estefani deu sua opinião:

“Sinceramente, acho que existe na PM um certo preconceito para com o torcedor de arquibancada. O tratamento é diferente e de maneira agressiva. O protesto do apitaço seria realizado de maneira pacífica, mas foi vetado. Sobre a distância imposta, acho desnecessário, há anos a recepção do ônibus São Paulino é uma tradição e dificilmente ocorrem casos necessários de intervenção policial.”

Por fim, as entrevistas chegaram ao caso de Rafael Garcia, com duas perguntas.

Como soube do ocorrido com Rafael? Se foi pela mídia, lembra da maneira que foi anunciado?

“Soube através das redes sociais. Me recordo que foi a partir de vídeos do momento do ocorrido, no início era dito que o torcedor estava ferido, mas depois vieram mais atualizações sobre o caso.” (Camyli) “Eu soube do ocorrido pela mídia. Lembro que a maneira que foi anunciado foi bem ríspida […] do jeito que tinha que ser. Se não me engano uma matéria do UOL, Polícia Militar assassina torcedor do São Paulo após título da Copa do Brasil” (João Vitor)

Como você avaliou a postura do São Paulo em relação ao caso?

“Achei omissa, foi pouco falado sobre o caso na época e até hoje. Às vezes tenho a impressão que o São Paulo não quis se posicionar sobre o assunto para não manchar a imagem do clube.” (Camyli) “Achei muito falha […] poderia ter feito algo mais, em relação a averiguação, quem fez isso […] acredito que o São Paulo podia ser mais incisivo” (João Vitor)

Infelizmente, o tratamento do caso foi cercado de erros, especialmente por parte da mídia. Logo que surgiu a notícia e a nota da Polícia Militar, alguns veículos não hesitaram em insinuar que a culpa era dos são-paulinos, sempre querendo vender a imagem de que torcedores de futebol são selvagens.

Com o surgimento de imagens e provas apontando para a PM, a história começou a ser abafada e pouco mencionada, até ser esquecida com o tempo.

Por outro lado, quando a palmeirense Gabriela Anelli foi morta por um “torcedor” (em um caso não menos lamentável), foram dias noticiando e batendo na imagem das torcidas. Se estamos falando de dois casos de assassinato em estádios, por que só um deles foi tratado com repúdio pela mídia? Qual o motivo de tanta proteção para a violência policial?

O estrago está feito, novamente a impunidade venceu. Devemos sim lembrar de 24 de setembro como um dia feliz, o dia da libertação do São Paulo Futebol Clube. Porém, nunca esquecer da mancha deixada pela Polícia Militar. Lembrar sempre de Rafael Garcia, para que outros torcedores não tenham o mesmo destino. Sejam são-paulinos ou de qualquer time.

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