Calciopédia
·17 de setembro de 2024
Calciopédia
·17 de setembro de 2024
Não se assuste, você não está só: absolutamente ninguém apostaria na Udinese como líder isolada da Serie A após quatro rodadas. A surpreendente trupe do técnico Kosta Runjaic dificilmente permanecerá no topo da tabela até a fase crucial do campeonato, mas ao menos vai somando pontos importantes para não se enrolar na briga contra o rebaixamento. Ao mesmo tempo, os bianconeri dão o tom de quão equilibrado está o certame: nenhum time tem 100% de rebaixamento ou está zerado. Ademais, a distância entre o Bologna, primeiro fora da zona de descenso, e o Napoli, vice-líder, é de somente seis pontinhos.
A Udinese pode se isolar na ponta principalmente porque, nesta jornada, as favoritas Inter e Juventus se enrolaram em adversários bem mais fracos – Monza e Empoli, respectivamente. As atuações negativas da dupla contrastaram com um Napoli empolgante, que já dá sinais de que pode ser uma máquina ofensiva. Como o time de Antonio Conte não terá compromissos em torneios continentais, terá essa vantagem física sobre os rivais. No fim de semana, ainda tivemos a primeira vitória do Milan nesta Serie A, a recuperação da Atalanta e Fiorentina e Roma aprofundando situações nada confortáveis. Confira, abaixo, a análise da rodada.
Gols e assistências: Delprato (Mihaila) e Bonny (Man); Lucca (Kamara), Thauvin (Davis) e Thauvin Tops: Thauvin e Kamara (Udinese) Flops: Keita e Coulibaly (Parma)
Parma e Udinese começaram a Serie A no grupo de sensações do torneio. Não à toa, a partida no estádio Ennio Tardini, que celebrou 100 anos de construção justamente nesta semana, foi repleta de reviravoltas, gols e muita emoção para quem assistiu. Melhor para os friulanos, que contaram com o campeão mundial Thauvin, um dos vice-artilheiros do Italiano, para saíram da Emília-Romanha com os três pontos.
O Parma fez uma partida de altos e baixos. Por um lado, teve bastante eficiência ofensiva: marcou logo aos 2 minutos, com o capitão Delprato, após cobrança de escanteio, e ampliou com o francês Bonny, pertinho do intervalo. Só que os crociati entraram em parafuso – e não estamos falando apenas do balão que o lateral Coulibaly deu na própria área e o goleiro Chichizola espalmou contra o próprio travessão, num lance que quase produziu um dos gols contra mais bizarros da história do certame. O estreante Keita, contratação mais cara dos ducali neste verão europeu, entrou no segundo tempo e foi expulso depois de apenas 18 minutos em campo.
Quando Keita foi expulso, a Udinese já havia empatado o jogo. Em crescimento, a equipe friulana acertara a trave com Lucca, no fim da primeira etapa, e contou com uma firme testada do gigante para diminuir, logo após o intervalo. Thauvin, então, apareceu: primeiro, aos 66, “roubou” o gol de Davis, que havia recebido cruzamento e cabeceado em diagonal; quatro minutos após o vermelho ao volante belga, o francês novamente aproveitou uma jogada com participação do camisa 9 e virou a partida.
Gols e assistências: Di Lorenzo (Lukaku), Kvaratskhelia (Lukaku), Lukaku (Kvaratskhelia) e Buongiorno (David Neres) Tops: Lukaku e Kvaratskhelia (Napoli) Flops: Scuffet e Mina (Cagliari)
O placar não faz parecer, mas o Napoli teve dificuldades contra o Cagliari. Entretanto, os azzurri contaram com atuações importantes de jogadores que não vinham bem, como Anguissa e Meret, e o poder de decisão dos craques Lukaku e Kvaratskhelia para deixarem a Sardenha com a vitória que lhes colocou na vice-liderança da Serie A.
No primeiro tempo, Anguissa foi o nome do jogo. Em baixa desde o fim da temporada em que o Napoli ganhou o scudetto, o camaronês dominou o meio-campo e deu um bote preciso para iniciar a jogada do gol de Di Lorenzo. Os partenopei, entretanto, não aumentaram a vantagem e viram o Cagliari equilibrar as ações, principalmente na volta do intervalo. Àquela altura, Meret foi vital: fez uma grande defesa em cabeçada de Luperto e se esticou todo para empurrar o chute de Marin para o travessão.
No meio da segunda etapa, então, a crescente sintonia entre Lukaku e Kvaratskhelia começou a definir o placar elástico. Aos 66 minutos, um contra-ataque teve assistência do belga e gol do georgiano; já aos 70, Scuffet entregou a paçoca na hora de sair jogando e Kvara devolveu o presente ao camisa 11. O erro crasso do arqueiro decretou a derrota dos mandantes, mas ainda houve tempo para David Neres, que tem sido muito produtivo ao sair do banco de reservas, cobrar escanteio com perfeição e fornecer uma assistência para o quarto gol, anotado pelo zagueiro Buongiorno.
Lukaku e Kvaratskhelia já mostram sintonia: com dupla afinada, o Napoli assumiu a vice-liderança do campeonato (Getty)
Gols e assistências: Mota (Izzo); Dumfries (Carlos Augusto) Tops: Izzo e Pablo Marí (Monza) Flops: Asllani e Pavard (Inter)
O tropeço da Inter no estádio Brianteo ficou todo na conta de Simone Inzaghi. Como se ainda fosse aquele técnico contestado do período entre 2021 e 2023, o treinador desfigurou a sua equipe, pensando nos compromissos com Manchester City, pela Champions League, e Milan, pela Serie A, e não soube corrigir os erros que cometeu. Assim, quase perdeu o jogo com o Monza e atirou pela janela pontos que podem ser importantes na renhida disputa com a Juventus (e o Napoli?) pelo scudetto.
Inzaghi optou por poupar várias peças, sendo que Çalhanoglu e Barella fizeram falta – e aí não adiantou escalar a sua dupla habitual de ataque, considerando que Lautaro ainda não está 100% fisicamente. O meio-campo nerazzurro, entorpecido pela atuação burocrática de Asllani, girou em marcha lenta e quase não produziu chances de gol. Frattesi não pareceu nem de perto o meia da seleção e Mkhitaryan, geralmente regular, também teve prestação abaixo da crítica.
O Monza neutralizou o ataque da Inter sem muita dificuldade e ficaria contente com o 0 a 0. Mas, no finalzinho, Pavard errou o posicionamento e Mota aproveitou para completar um cruzamento com cabeçada bem angulada. Inzaghi já havia feito as cinco substituições, mas não tirou Çalhanoglu e Barella. Ao contrário, optou até por colocar o criticadíssimo Correa em campo. Vencer com uma formação tão nonsense seria difícil, mas o treinador viu sua equipe arrancar pelo menos o empate, após Dumfries empurrar para as redes um passe desviado de Carlos Augusto.
Tops: Vásquez e Gyasi (Empoli) Flops: Fagioli e González (Juventus)
Na Toscana, vimos traços de uma Juventus allegriana – de novo. Assim como contra a Roma, a equipe de Thiago Motta apresentou problemas na criação e saiu de campo zerada. Por outro lado, a formação bianconera é a única que ainda não sofreu gols nesta Serie A.
O surpreendente Empoli, que, assim como a Juventus, também conserva invencibilidade neste início de certame, teve uma atuação defensiva impecável. Enquanto nomes como Ismajli, Pezzella e Goglichidze foram capazes de reduzir os espaços de Vlahovic, González e companhia, o arqueiro Vásquez apareceu bem quando isso não foi possível: efetuou defesas importantes ante o sérvio, e também em conclusões de Gatti e Koopmeiners.
Do outro lado do campo, o Empoli também não se escondeu. Observando suas limitações, o time toscano tentou ameaçar Perin quando via oportunidades. E quase encontrou a chance perfeita nos acréscimos, quando o incansável Gyasi, com atuação tática perfeita pelo flanco direito, saiu na cara do gol: o ganês só não marcou por causa do bloqueio fundamental de Gatti.
Desfigurada, a Inter produziu atuação bem abaixo da crítica e tropeçou no Monza (imago/LaPresse)
Gols e assistências: Hernandez (Rafael Leão), Fofana (Pulisic), Pulisic (pênalti) e Abraham (pênalti) Tops: Pulisic e Abraham (Milan) Flops: Joronen e Svoboda (Venezia)
Nada melhor do que enfrentar o pior time da Serie A antes de compromissos importantes, não é mesmo? Às vésperas do jogo com o Liverpool, pela Champions League, e do Derby della Madonnina contra a Inter, pela Serie A, o Milan pode se esbaldar na fragilidade do Venezia e tirar das costas o peso de ainda não ter vencido no campeonato. A goleada esfria a fervura, mas o baixo nível do adversário não permite avaliar se o Diavolo virou a chave e corrigiu seus problemas, principalmente os defensivos.
O Milan resolveu a parada em menos de 30 minutos – e graças a muita colaboração dos arancioneroverdi. Logo na casa dos 2, Rafael Leão e Hernandez dialogaram pela esquerda e o disparo cruzado do francês foi empurrado para as redes devido à imprecisão do arqueiro Joronen, que engoliu um frangaço. Depois, a defesa do Venezia se posicionou mal e, no primeiro pau, Fofana ampliou. O arqueiro finlandês aprontaria mais uma ao dar rebote e derrubar Abraham na área. Pulisic converteu a penalidade e, pouco depois, abriu mão de cobrar outra: a que Schingtienne cometeu sobre Leão ficou a cargo do ex-atacante da Roma.
Sufocado por um 4 a 0 implacável, o Venezia mal teve forças para reagir, enquanto o Milan claramente tirou o pé – e, até por isso, não fez o goleiro Joronen ter uma noite ainda mais escandalosa. Quando esboçou alguma graça, num lance que Zampano pode concluir às redes, o time visitante recebeu um balde de água fria: Nicolussi Caviglia cometera falta duríssima sobre Loftus-Cheek e, além de invalidar o lance, foi expulso. Eusebio Di Francesco terá muito trabalho para tentar evitar o descenso dos lagunari.
Gols e assistências: Retegui (Lookman), De Ketelaere (Éderson) e Lookman (De Ketelaere); Martínez Quarta (Mandragora) e Kean (Gosens) Tops: Lookman e De Ketelaere (Atalanta) Flops: Ranieri e Biraghi (Fiorentina)
Tudo no primeiro tempo. No dia em que finalmente pode receber casa cheia no completamente reformado Gewiss Stadium, a Atalanta comemorou com uma virada eletrizante sobre a Fiorentina. De um lado, a Dea se recuperou das duas derrotas seguidas, para Torino e Inter; de outro, a Viola até mostrou alguma evolução, mas terminou o domingo derrotada, sendo que havia empatado os seus cinco compromissos anteriores em 2024-25.
Para marcar seus gols, a Fiorentina se valeu da fragilidade defensiva da Atalanta na bola aérea. Foi assim que balançou as redes aos 15, com Martínez Quarta – apesar dos esforços de Carnesecchi –, e anotou o segundo, aos 32, com Kean. O ítalo-marfinense ainda acertaria a trave, dessa vez em jogada pelo chão. Mas impressionou o quanto o trio de defesa nerazzurro atuou mal. Sobretudo Hien, que foi substituído no intervalo.
Porém, a Atalanta tinha Lookman, carrasco da Fiorentina – agora com quatro gols marcados sobre os gigliati. O nigeriano começou o show com um drible da vaca em Bove (sem trocadilhos, ok?) seguido de um lançamento na medida para Retegui anotar seu quarto tento e empatar com Thuram na artilharia da Serie A. Pouco após De Ketelaere, de cabeça, empatar o jogo, o camisa 11 da Dea ainda faria uma bela jogada, deixando Cataldi e Ranieri perdidinhos, e viraria a parada. Na segunda etapa, uma bobeada de Mandragora deixou Bellanova na cara de De Gea, mas o lateral não aproveitou.
Pelo segundo jogo consecutivo, a Juventus foi improdutiva no ataque e passou em branco (Getty)
Gols e assistências: De Winter (Vitinha); Dovbyk Tops: Martín (Genoa) e Dovbyk (Roma) Flops: Thorsby (Genoa) e Pellegrini (Roma)
O Genoa de Alberto Gilardino é um osso duro de roer e luta até o fim. No Marassi, o time rossoblù entregou a enésima prova de sacrifício e, aos 96 minutos, impediu que a Roma celebrasse a sua primeira vitória nesta Serie A. Segue preocupante a situação da equipe de Daniele De Rossi, colega de Gila na campanha do tetracampeonato mundial da Itália, em 2006: em quatro rodadas, a Loba somou três empates e uma derrota.
Ofensivamente, a Roma até funcionou melhor do que nas suas partidas anteriores. Dovbyk pareceu mais inserido nos mecanismos da equipe e participou de várias jogadas envolventes com Dybala. Com algumas boas defesas, Gollini resistiu até o fim da primeira etapa, quando o ucraniano aproveitou um rebote para anotar o seu primeiro gol com a camisa giallorossa.
A Roma foi melhor durante a partida e teve mais oportunidades para marcar, parando novamente em Gollini – o arqueiro chegou a efetuar boa defesa com o joelho, negando a doppietta a Dovbyk. Sem matar o confronto, a equipe visitante foi ficando nervosa e passou a sofrer com a pressão do Genoa. Logo após De Rossi ser expulso por reclamação, os grifoni furaram a retaguarda rival: De Winter se antecipou a Hermoso e, com potente cabeçada, definiu o placar.
Gol e assistência: Dia (Zaccagni) e Castellanos (Zaccagni); Tengstedt (Dawidowicz) Tops: Zaccagni e Castellanos (Lazio) Flops: Daniliuc e Coppola (Verona)
No Olímpico, Lazio e Verona fizeram um duelo que começou de forma eletrizante e até chegou a dar a impressão de que terminaria com uma chuva de gols. Não foi assim, porém o roteiro teve o desfecho que o seu início indicou: contra seu antigo time, o técnico Marco Baroni somou uma vitória importante e incontestável, contando com o brilho de Zaccagni, outro ex-gialloblù.
Zaccagni começou seu show aos 5 minutos, com um lançamento esperto para Dia abrir o placar e, aos 20, forneceu sua segunda assistência com um corner cobrado na medida para Castellanos. Entre os passes do italiano, Tengstedt aproveitou uma jogada bastante vertical que confundiu a defesa celeste – que está longe de ser impecável e ainda precisa ser arrumada por Baroni.
No mais, a Lazio mandou no jogo e só não ampliou o placar devido a Montipò, que efetuou várias defesas difíceis. Vale destacar que os aquilotti apostaram muito nos chutes de média e longa distância durante a partida. É um recurso que, nos tempos atuais, tem sido desincentivado, mas não no lado celeste de Roma.
O Milan aproveitou a fragilidade do Venezia e, com direito a goleada, conseguiu sua primeira vitória nesta Serie A (Getty)
Tops: Milinkovic-Savic (Torino) e Gaspar (Lecce) Flops: Lazaro (Torino) e Pierotti (Lecce)
Quem viu somente os melhores momentos do duelo entre Torino e Lecce custaria a crer que esse jogo ocorreu no Piemonte e não na Apúlia. Os visitantes, situados na parte inferior da tabela da Serie A, dominaram inteiramente o duelo contra os grenás, que começaram a rodada com a liderança compartilhada do certame. Entretanto, Milinkovic-Savic, com mais uma atuação sólida, manteve o zero no placar.
Muito sólido na defesa, o Lecce simplesmente anulou a trupe de Zapata: Falcone foi um mero espectador da partida. Do outro lado do campo, porém, o montenegrino Krstovic deu um trabalho enorme para o sérvio Milinkovic-Savic, especialmente na segunda etapa. Enquanto no primeiro tempo os arremates perigosos, em geral, passaram perto, após o intervalo o grandalhão teve que trabalhar: foram pelo menos três intervenções complicadas, que fizeram o Toro ganhar um pontinho e seguir bem colocado, na terceira posição.
Gols e assistências: Casale (contra) e Cutrone (Gabriel Strefezza); Castro e Iling-Junior (Castro) Tops: Paz (Como) e Castro (Bologna) Flops: Casale e Posch (Bologna)
Nem Como nem Bologna deixaram o Giuseppe Sinigaglia satisfeitos pelo empate. Os comascos ficaram muito perto de ganharem o primeiro jogo na Serie A – o que não acontece há mais de duas décadas – e o fariam logo na estreia em casa, após conclusão das reformas na arena. Acabaram cedendo, porém. Os bolonheses até podem se animar com a reação, mas a verdade é que o time piorou muito sob o comando de Vincenzo Italiano e, não à toa, além de não ter vencido nenhuma partida, está à beira da zona de rebaixamento.
Sólida na gestão de Motta, a defesa do Bologna se tornou uma peneira com Italiano. E o Como, que tinha apresentado poucos atributos defensivos nas jornadas anteriores, não se furtou a aproveitar os generosos espaços nas costas dos defensores rossoblù. Cutrone deitou e rolou: forçou o gol contra de Casale, desperdiçou uma oportunidade cara a cara com Skorupski e, já no segundo tempo, anotou um golaço.
O Bologna, porém, teve em Castro um lutador. O argentino tem aproveitado a lacuna deixada por Zirkzee – que deveria ter sido preenchida por um Dallinga ainda longe da melhor forma – e foi o nome da reação visitante. Oportunista, aproveitou a sobra de um chute de Pobega (que acertara a trave pouco antes) e diminuiu; depois, fez o trabalho de pivô e iniciou a jogada lindamente concluída por Iling-Junior, nos acréscimos.
Milinkovic-Savic (Torino); Gatti (Juventus), Ismajli (Empoli), Gaspar (Lecce); Thauvin (Udinese), Anguissa (Napoli), Pulisic (Milan), Zaccagni (Lazio); Lookman (Atalanta), Kvaratskhelia (Napoli); Lukaku (Napoli). Técnico: Kosta Runjaic (Udinese).