Trivela
·12 de abril de 2022
Trivela
·12 de abril de 2022
Resistir era uma palavra de ordem ao Villarreal na visita a Munique. O primeiro tempo já foi sufocante, com o Submarino Amarelo empurrado para trás, mas travando os ataques de um adversário que abusava dos cruzamentos. Já a segunda etapa viu o time de Unai Emery depender ainda mais do mental nessa tarefa. Os bávaros marcaram o gol logo na volta do intervalo, eram bem mais criativos, arriscavam muito mais. A equipe da casa chegou aos 73% de posse e 15 finalizações apenas na etapa final. Antes que o gol salvador viesse nos minutos derradeiros, suportar o bombardeio foi fundamental ao Villarreal. Ninguém melhor que uma liderança como Raúl Albiol para simbolizar esse espírito de luta, que premiou o Submarino Amarelo com o empate por 1 a 1 e com a emoção que o clube não vivia desde 2006.
Albiol é daqueles jogadores que dispensam apresentações, por mais que tenha sido coadjuvante nos maiores sucessos de sua carreira. O zagueiro era reserva, mas compôs a Espanha que dominou o futebol de seleções na virada da década. Estava com o grupo nos dois títulos consecutivos da Eurocopa e também no Mundial de 2010, embora com apenas duas aparições em campo nas três competições somadas. Tarimba não falta a quem defendeu a Roja por 58 partidas, ao longo de 14 anos – e reapareceu nas listas de Luis Enrique no último mês de setembro, mostrando que idade não era empecilho para ser convocado aos 36 anos.
Por clubes, Albiol não foi tão grande quanto a história na seleção sugere, mas ainda assim tem sua estatura. Surgiu de pronto como um ídolo do Valencia e conquistou Copa do Rei pelo clube. O reconhecimento o levou para o Real Madrid, mas seria titular apenas na primeira temporada em 2009/10. Caiu no ostracismo, o que não custou sua vaga na seleção, mas o fez dar um passo para trás rumo ao Napoli. Na Itália, recuperou seu prestígio e a melhor forma. Foram seis anos como titular dos celestes, formando uma dupla de zaga formidável com Kalidou Koulibaly. Reconquistou o respeito ao redor de seu nome.
A volta para a Espanha em 2019 sugeria o encaminhamento do final de sua carreira. Ledo engano. Albiol foi para o Villarreal e passaria a desfrutar os momentos mais reluzentes por clubes, mesmo passando dos 34 anos. São três temporadas em alto nível. A dupla com Pau Torres pode ser considerada histórica em La Cerámica, também pelo amadurecimento do garoto ao seu lado. Mas não que o veterano seja um coadjuvante, desta vez não. Virou capitão e imprescindível às empreitadas continentais do time de Unai Emery. Foi herói contra o Arsenal na semifinal da Liga Europa. Conquistou seu primeiro título continental. E agora experimenta sua caminhada mais longa na Champions como titular.
A classificação do Villarreal contra o Bayern de Munique começa no Estádio de La Cerámica, onde a solidez do time de Unai Emery foi essencial. Talvez o grande mérito do Submarino Amarelo não tenha sido a quantidade de chances criadas, mas a forma como o time não concedeu oportunidades aos poderosos adversários. A consciência tática e o esforço físico foram potencializados por um nível de concentração altíssimo dos espanhóis. Albiol era uma voz de comando muito importante nesse sentido, para liderar seus companheiros ao topo, também pelo exemplo. Dominava a área ao lado de Pau Torres.
A volta na Allianz Arena, então, cobraria a resiliência do Villarreal. A primeira metade do jogo provou de novo o foco máximo do Submarino Amarelo para conter os insistentes cruzamentos do Bayern. Albiol era senhor do espaço aéreo na área. Já a segunda etapa não era só tática ou física, num momento em que os bávaros pareciam superiores nesses aspectos. Era de segurar a bronca no mental, diante daquilo que poderia desabar. O Villarreal escapou de uma reviravolta que parecia bem possível. Então, reviveu numa reta final em ritmo mais baixo, mas ainda aberta à sua estocada. Albiol também teria seu peso, pela forma como ajudava no início das construções.
O gol do Villarreal tem uma pontinha de Albiol. O capitão afasta o cruzamento de cabeça e, assim, começa a contragolpe. Os méritos, de qualquer forma, são maiores a outros companheiros. Dani Parejo limpou três no campo de defesa, com muita categoria, e foi ali que construiu a jogada. Giovani Lo Celso carregou muito bem e deu o passe na medida. Gerard Moreno teve o senso de posicionamento para esperar e depois disparar, até a assistência cirúrgica. Já Samuel Chukwueze foi frio na definição, com um tapa leve no alto da meta que conseguiu surpreender Manuel Neuer, mesmo quando o goleiro estava inteiro na jogada.
Esse sucesso do Villarreal na Champions League não é individual. É difícil não citar pelo menos cinco nomes para ressaltar a longa campanha na Champions. Até pela maneira como a equipe tem se portado coletivamente, Unai Emery se sobressai ao levar o Submarino Amarelo tão longe. Dentro de campo, Raúl Albiol também merece seu destaque. É o capitão e foi uma fortaleza na Allianz Arena. A quem ganhou tanto com a seleção, uma semifinal de Champions pode nem parecer muito. Mas, já ao final de sua carreira, é um reconhecimento importante a tudo aquilo que construiu mesmo fora dos holofotes.
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