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·01 de agosto de 2024

Adolfo Baloncieri, o primeiro craque do futebol italiano

Imagem do artigo:Adolfo Baloncieri, o primeiro craque do futebol italiano

Como uma das principais escolas da história do futebol, a Itália não demorou a produzir o seu primeiro craque. Nos primórdios da modalidade, antes mesmo de a Serie A e a Copa do Mundo saírem do papel, surgiu Adolfo Baloncieri, habilidoso meio-campista ofensivo que foi um divisor de águas do esporte no país. Maior jogador do Alessandria e um dos grandes do Torino, o piemontês foi a estrela do bronze olímpico dos azzurri em 1928 e da conquista da Copa Internacional, uma das mais célebres competições de seleções de sua época, e até hoje é um dos 10 principais artilheiros da Nazionale.

Baloncieri nasceu no fim do século XIX em Castelceriolo, uma comuna nos arredores de Alessandria, e rapidamente se mudou para a Argentina com a família: em busca de oportunidades na América do Sul, seus pais se instalaram em Rosário, a mesma cidade em que nasceriam craques e grandes jogadores, como Lionel Messi, Ángel Di María, Maxi Rodríguez, Ezequiel Lavezzi, Giovani Lo Celso e Mauro Icardi. Lá, Adolfo entraria em contato com o futebol e veria despertar o seu desejo por se tornar atleta – a ponto de deixar de lado os estudos em contabilidade no retorno à Itália, em 1913, quando tinha 16 anos.


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Em 1914, Adolfo ingressou no Alessandria, pouco após passar pela Juventus, uma equipe pequena da cidade, e impressionar os treinadores. Aos 17, somou duas partidas pelos grigi, mas o início da Primeira Guerra Mundial, naquele mesmo ano, adiou seus planos de viver jogando bola no amadorismo – o esporte só seria profissionalizado no país em meados da década seguinte. Durante o conflito, Baloncieri se dividiu entre amistosos e o ofício que tinha na artilharia do exército da Itália. Só tornaria a vestir a camisa cinzenta de fato em 1919, com o fim da conflagração.

A partir dali, Baloncieri passaria a escrever seu nome na história do Alessandria, clube pelo qual marcou 75 gols em 123 jogos e do qual é, até hoje, o terceiro maior artilheiro. Ainda ostentando um portentoso topete, o meia ofensivo, que ficaria careca e guardaria semelhança com Alfredo Di Stéfano, colocou os grigi nas cabeças: até 1925, foram ótimas campanhas no então regionalizado Campeonato Italiano – que era disputado em fase de grupos e mata-mata na época. Em 1921, o urso cinzento só foi eliminado na semifinal do norte pela Pro Vercelli, que se sagraria hexacampeã.

Naqueles tempos, Adolfo fez um potente trio de meio-campo com Carlo Carcano e Guglielmo Brezzi, seu primo – que faleceria cedo, em 1926. Todos vestiriam a camisa da seleção italiana, formada apenas pouco antes, em 1910. Baloncieri estreou pelos azzurri em 1920 e, enquanto militava pelo Alessandria, disputaria as Olimpíadas de 1920, na Antuérpia, e 1924, em Paris.

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Um Baloncieri ainda cabeludo foi ídolo do Alessandria (Museo Grigio)

No total, o meia ofensivo (um mezz’ala) representou o Alessandria por sete temporadas – entremeadas por um empréstimo ao Genoa, em 1923, apenas para uma turnê dos rossoblù pela América do Sul. Em 1925, a relação entre Baloncieri e a diretoria cinzenta azedou e isso impulsionou a sua transferência à capital do Piemonte: então presidido pelo conde Enrico Marone Cinzano, herdeiro da homônima fabricante de bebidas alcoólicas, o Torino pagou 70 mil liras e ficou com o craque.

A torcida do Alessandria ficou descontente pela perda do ídolo, mas o fato é que o negócio foi um dos mais caros de uma época em que o profissionalismo no esporte ainda engatinhava na Itália. Baloncieri, por sua vez, passaria a brigar de fato por títulos com a camisa do Torino e a ganhar notoriedade em todo o país e na Europa, virando unanimidade entre jornalistas especializados. Renato Casalbore fez notar que Adolfo levou ao futebol italiano elementos estilísticos e plásticos caros aos sul-americanos. Gianni Brera, por sua vez, salientou a genialidade e a elegância aliadas à verve goleadora do atleta – atributos que Antonio Ghirelli também exaltou, considerando sua excelente visão de jogo. Para Carlo Felice Chiesa, o calvo foi “um dos maiores registas de todos os tempos”.

Com um mercado forte em 1925, o Torino também assegurou a contratação do argentino Julio Libonatti, do Newell’s Old Boys. A dupla funcionou, mas os granata acabaram ficando a poucos pontos da vaga para a final do norte no Campeonato Italiano. Em 1926, com a chegada de Gino Rossetti, do Spezia, para auxiliar na ligação entre meio e ataque, o time decolou de vez, proporcionando um futebol vistoso e baseado na escola danubiana – defendida por técnicos húngaros e austríacos, por exemplo.

De cara, o chamado “trio das maravilhas” entregou 56 dos 69 gols anotados pelo Toro em 1926-27. O time grená, comandado pelo húngaro Imre Schoffer, até faturou o scudetto, mas a Federação Italiana de Futebol – FIGC revogou o título devido às denúncias de suborno dos campeões ao defensor Luigi Allemandi, num dérbi com a Juventus, no qual o bianconero foi um dos melhores em campo. O chamado “caso Allemandi” nunca foi esclarecido de fato e Leandro Arpinati, presidente da entidade, decidiu não atribuir um vencedor àquele campeonato. Até hoje, o Toro tenta reaver a conquista.

No ano seguinte, o Torino, já sob a batuta do austríaco Tony Cargnelli, continuou voando e, guiado pelo seu trio maravilhoso, levou outro título nacional, dessa vez válido. Libonatti foi o artilheiro do campeonato, com 35 gols, enquanto Baloncieri foi o segundo colocado, com 31, sendo sete num único duelo, um 14 a 0 sobre a Reggiana. Rossetti, mais modesto, fez 23.

Antes da confirmação do scudetto, em julho, Adolfo levou o seu momento de ápice na carreira para a seleção: entre o fim de maio e o início de junho de 1928, beirando os 31 anos, o carequinha foi o líder da Itália nos Jogos de Amsterdã e marcou seis gols na campanha do bronze olímpico – a primeira medalha dos azzurri na modalidade. Baloncieri foi um dos vice-artilheiros do torneio, no qual os italianos superaram França e Espanha antes de caírem nas semifinais, perante o Uruguai. Enquanto a Celeste faturou o bicampeonato, a Nazionale goleou o Egito por 11 a 3 e ficou com o terceiro lugar no pódio.

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Baloncieri começou a defender a Itália quando ainda era jogador do Alessandria, mas atingiu outro nível após acertar com o Torino (Museo Grigio)

Chegava, finalmente, a consagração de Baloncieri com a camisa da Itália. Até aquele momento, o meia ofensivo, que também se virava como atacante, era o principal nome da seleção, mas não havia conseguido glórias. O seu grande feito àquela altura era ter sido o primeiro italiano a marcar sobre o célebre goleiro Ricardo Zamora, da Espanha, no amistoso que marcou a inauguração do estádio Littoriale, atual Renato Dall’Ara, em Bolonha – na ocasião da foto que abre este texto. Também podia se gabar de ser o primeiro atleta a marcar gols em três Jogos Olímpicos consecutivos.

O fato é que havia um motivo simples para a falta de louros de Baloncieri com a Itália: até 1927, a única competição de seleções que existia era a olímpica. Naquele ano, então, foi criada a Copa Internacional, que reunia países da Europa Central e tinha duração de três temporadas. Adolfo, a propósito, deu sua contribuição para o título italiano na edição inaugural, encerrada em 1930, quando ele próprio se despediu da camisa azzurra, após 47 aparições e 25 gols.

Na época, o craque disse adeus como maior artilheiro da Nazionale; hoje, é o sexto da lista, atrás de Alessandro Del Piero, Roberto Baggio, Silvio Piola, Giuseppe Meazza e Luigi Riva. Baloncieri também chegou a ser o líder em jogos como capitão (28), mas foi superado por Giacinto Facchetti, em 1970. Muitos de seus feitos, inclusive, terminaram ofuscados pelo bicampeonato mundial que a Itália conquistou logo após sua aposentadoria, em 1934 e 1938. Os grandes atletas daqueles elencos certamente aprenderam muito com Adolfo.

Baloncieri não voltou a comemorar títulos até se aposentar. A última temporada positivo daquele time do Torino foi o de 1928-29, quando terminou como vice-campeão italiano, com derrota para o Bologna na decisão. Nos certames posteriores, os grenás caíram de rendimento e não brigaram por taças na recém-constituída Serie A, disputada em pontos corridos. Adolfo decidiu encerrar sua carreira em 1932, beirando os 35 anos, no intuito de passar o bastão para os mais jovens. Parou como terceiro maior artilheiro do Toro, com 101 gols em 194 aparições, atrás de Libonatti e Rossetti, e atualmente é o nono da lista.

Aquele foi seu último ano como jogador de fato – posteriormente, ainda atuaria como atleta agregado, apenas para evitar derrotas por WO, por Comense e Alessandria, enquanto treinava os times. O supracitado desejo de fomentar a juventude vinha de longa data, já que ele atuara como tutor de garotos nos grigi e no próprio Torino, clube em que ajudou a montar as divisões de base e do qual foi auxiliar técnico no ocaso da carreira como meia-atacante, em 1931-32. A equipe de juvenis do Toro, aliás, chegou a ser apelidada de “Balon Boys” em sua homenagem.

Se Baloncieri chegou a ser considerado como um dos maiores meias ofensivos do futebol italiano, ao lado de Meazza e Valentino Mazzola, por exemplo, na função de treinador não obteve o mesmo sucesso. Inicialmente até foi bem na Serie B, pela Comense – alcunha que o Como assumiu em parte das décadas de 1920 e 1930. Depois, contudo, não brilhou por um Milan ainda distante do gigantismo e foi rebaixado à segundona com o Novara.

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Baloncieri não teve grande sucesso como técnico: na Roma, fracassou ao não se entender com os suecos Nordahl, Sundqvist e Andersson (Sjöberg Bildbyrå)

Posteriormente, Baloncieri alternou dois trabalhos dignos com o Liguria, time que se chamava Sampierdarenese e formaria a Sampdoria anos depois, a passagens pouco brilhantes por Napoli e Alessandria. Pelos lígures, chegou a ser sexto colocado da Serie A, campeão da segundona e artífice de duas campanhas de permanência na elite.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Baloncieri voltou ao Milan, dividindo o comando com Antonio Busini, e levou o time ao terceiro posto no Italiano. O carequinha rumou à Suíça para ser campeão da terceirona pelo Chiasso e tornou à Itália para viver o seu momento de maior solidez como técnico: um triênio positivo na recém-fundada Sampdoria, com duas campanhas de meio de tabela e um quinto lugar.

Sucessivamente, o craque dos gramados ganhou uma chance na Roma. Não a aproveitou: teve dificuldades de conviver com os suecos Sune Andersson, Stig Sundqvist e Knut Nordahl, recém-contratados, e foi demitido em meados da Serie A. A equipe capitolina, aliás, terminaria rebaixada à segundona pela única vez na história. Baloncieri ainda acumularia passagens opacas por Sampdoria e Palermo, encontrando glórias apenas na Suíça: foi terceiro colocado da elite e campeão da divisão de acesso pelo Chiasso, em trabalhos diferentes. Em 1962, então, pendurou a prancheta.

Embora as novas gerações pouco ouçam falar de Baloncieri, não há a menor dúvida de que o futebol italiano teve forte influência de seu estilo, ao menos do meio para frente do campo. Foi ele que mudou as dinâmicas de ritmo de jogo, mostrou que atletas de sua posição podiam ser goleadores e se tornou um exemplo no qual os garotos deviam se espelhar. Não só por seus feitos nos gramados, que lhe renderam uma medalha de Cavaleiro da Coroa de Itália, em 1930, mas por superar adversidades fora dele – como as mortes precoces do primo Guglielmo, do irmão Carlo e do filho Bruno.

Adolfo só não podia sujeitar mesmo a morte. O craque faleceu em 1986, poucos dias antes de completar 89 anos, vítima de uma broncopneumonia. Ele morava em Gênova, cidade em que se estabeleceu depois de se aposentar e onde viveu com a filha Flora e uma irmã até o seu derradeiro suspiro.

Adolfo Baloncieri Nascimento: 27 de julho de 1897, em Castelceriolo, Itália Morte: 23 de julho de 1986, em Gênova, Itália Posição: meio-campista e atacante Clubes como jogador: Alessandria (1914-23, 1923-25 e 1943-44), Genoa (1923), Torino (1925-32) e Comense (1932-33) Títulos como jogador: Campeonato Italiano (1928), Bronze Olímpico (1928) e Copa Internacional (1930) Clubes como treinador: Comense (1932-34), Milan (1934-36 e 1945-46), Novara (1936-37), Liguria (1937-39 e 1940-42), Napoli (1939-40), Alessandria (1942-45), Chiasso (1946-47, 1951-52 e 1961-62), Sampdoria (1947-50 e 1958), Roma (1950) e Palermo (1954) Títulos como treinador: Serie B (1941), Terceira Divisão Suíça (1947) e Segunda Divisão Suíça (1962) Seleção italiana: 47 jogos e 25 gols

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