Após 19 anos na elite russa, o Rubin Kazan sofreu um rebaixamento com muitos requintes de crueldade | OneFootball

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Trivela

·24 de maio de 2022

Após 19 anos na elite russa, o Rubin Kazan sofreu um rebaixamento com muitos requintes de crueldade

Imagem do artigo:Após 19 anos na elite russa, o Rubin Kazan sofreu um rebaixamento com muitos requintes de crueldade

O Rubin Kazan surgiu como uma nova força do Campeonato Russo há pouco mais de uma década. Os grenás conquistaram um bicampeonato nacional em 2008 e 2009, em tempos nos quais reuniam um elenco cheio de nomes interessantes. A equipe do Tartaristão chegou até mesmo a derrotar o Barcelona na Champions League, um resultado histórico. Porém, as boas campanhas se tornaram mais esporádicas nos últimos anos. E, neste final de semana, aconteceu o rebaixamento após 19 anos consecutivos na elite. O time treinado pelo tarimbado Leonid Slutsky fez um péssimo segundo turno, num momento em que seis jogadores estrangeiros deixaram o clube por causa da guerra. Apesar disso, as chances de salvação permaneciam na última rodada e o time jogava pelo empate diante de sua torcida, no confronto direto com o Ufa. O Rubin Kazan perdeu por 2 a 1, de virada e com o gol decisivo aos 45 do segundo tempo, desperdiçando ainda um pênalti no 13° minuto dos acréscimos.

O Rubin Kazan ascendeu no contexto pós-soviético. Os grenás nunca disputaram o Campeonato Soviético, mas começaram a se fortalecer a partir dos anos 1990, graças ao apoio político local. Kazan é a capital do Tartaristão, uma região que ganhou status especial de semiautonomia a partir da independência da Rússia. Dentro desse cenário, o Rubin se tornou uma bandeira regional e recebeu investimentos de companhias locais. Seu presidente era ninguém menos que o prefeito de Kazan, depois substituído pelo vice-presidente da província. Tal ajuda garantiu o acesso inédito para a primeira divisão em 2003. Era apenas o começo.


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Em suas primeiras aparições na primeira divisão do Campeonato Russo, o Rubin Kazan já descolou vaga nas copas europeias. De qualquer maneira, o ápice veio mesmo com o bicampeonato nacional em 2008 e 2009. A equipe tinha bons nomes, incluindo Sergei Semak, Serhiy Rebrov, Alejandro Domínguez, Christian Noboa, Gökdeniz Karadeniz, Cristian Ansaldi e Savo Milosevic. Era um elenco multinacional, o que não costumava ser tanto o padrão das forças do país. O desempenho destacado também garantiu aparições frequentes na fase de grupos da Champions. Ficaria famosa a vitória sobre o então campeão Barcelona em 2009, além de um empate contra a Internazionale que levaria a taça naquela temporada. Quando o topo da liga não se manteve, o Rubin bateu cartão na Liga Europa durante os anos seguintes.

De 2003 a 2015, o Rubin Kazan ficou entre os seis primeiros do Campeonato Russo em nove temporadas e nunca apareceu abaixo do décimo lugar. Depois disso, os grenás perderam força na liga nacional, estagnados no meio da tabela. O clube seguiu apadrinhado pelo poder público, tanto é que seu presidente desde 2015 é o atual prefeito de Kazan, Ilsur Metshin. Entretanto, os investimentos não garantiam tantas estrelas ao time, num momento em que o Tartaristão perdeu seu status especial dentro do governo russo. Uma esperança surgiu com a contratação do técnico Leonid Slutsky, histórico comandante do CSKA Moscou. Sob nova direção, o Rubin terminou a Premier League 2020/21 na quarta colocação e voltou às competições europeias após cinco anos. Todavia, sofreu uma queda abrupta na atual campanha.

Ainda sob as ordens de Slutsky, o Rubin Kazan começou o Campeonato Russo 2021/22 com três vitórias, mas logo emendou uma série ruim e terminou o primeiro turno no oitavo lugar. O nível de desempenho piorou ainda mais no segundo turno e os grenás só ganharam um de seus primeiros dez jogos, com oito derrotas. Neste ínterim, o início da guerra na Ucrânia afetou diretamente o time, já que vários estrangeiros optaram por interromper seus contratos e sair do país. Seis jogadores, cinco deles da base titular, fizeram as malas a partir de março – incluindo destaques ofensivos como Anders Dreyer e Khvicha Kvaratskhelia.

A esta altura, o próprio Leonid Slutsky pensou em pedir demissão, mas foi convencido pela diretoria a ficar. Em espiral, o Rubin Kazan sofria derrotas duras e, a quatro rodadas do fim, entrou na zona dos playoffs contra o rebaixamento, ao ser goleado por 6 a 0 pelo Sochi. Perdeu depois para Lokomotiv Moscou e Ural, até a rodada final contra o Ufa, vice-lanterna e logo abaixo na tabela. Os dois times se viam separados por dois pontos e o duelo definiria o penúltimo colocado, rebaixado diretamente à segunda divisão.

A vantagem ainda era do Rubin Kazan. Um empate bastaria para ficar à frente do Ufa e pelo menos disputar os playoffs contra o rebaixamento. Melhor ainda, uma vitória poderia até tirar os grenás da zona dos playoffs, a depender da combinação de resultados da rodada. Outro ponto favorável era o fato de jogar em casa, e 25 mil torcedores garantiram o maior público da temporada em Kazan. Foi então que o Rubin decepcionou, com uma dramática derrota por 2 a 1. O time da casa abriu o placar aos 37 minutos, num pênalti convertido por Vitali Lisakovich – que, na comemoração, imitou Francesco Totti e tirou uma selfie em campo. Vladislav Kamilov empatou para o Ufa aos nove do segundo tempo. Já a salvação dos visitantes saiu aos 45, com um tento de Dilan Ortíz aproveitando uma pane geral da defesa adversária.

O Rubin Kazan ainda teria os acréscimos para lutar. Aos 48, Aleksandr Lomovitskiy acertou a trave. A arbitragem tinha dado quatro minutos adicionais, mas no sexto um pênalti foi marcado a favor dos grenás. Uma grande confusão se instaurou, resultando na expulsão de dois membros da comissão técnica do Ufa. Bastava converter para evitar o descenso direto. A cobrança de Lisakovich, porém, resvalou na trave e não entrou. As esperanças de salvação do Rubin estavam enterradas. O desespero dos jogadores em campo se misturou com as brigas dos torcedores nas arquibancadas.

O Rubin Kazan caiu ao lado do Arsenal Tula, lanterna e rebaixado por antecipação. Ufa e Khimki disputarão os playoffs, que na Rússia envolvem também o terceiro e o quarto da segunda divisão. Já a reconstrução do Rubin na segundona deixa suas dúvidas. O clube atua em um dos estádios da Copa do Mundo de 2018, mas a administração da praça esportiva acusava a diretoria dos grenás de não cumprir com pagamentos. Paralelamente, o contrato do clube com os atuais patrocinadores se encerra na próxima temporada. Além disso, a própria situação da guerra deixa suas incertezas. Kvaratskhelia é um que nem volta, já acertado com o Napoli. Por conta dos imbróglios causados pelo conflito, a questão do pagamento ainda deverá ser avaliada por Uefa e Fifa.

Leonid Slutsky não deve ficar. O treinador sequer respondeu às perguntas dos jornalistas depois da derrota para o Ufa. O veterano também é criticado por “não acreditar nos jogadores russos” depois da debandada dos estrangeiros, em discurso que ganha outras conotações em meio à guerra. Fato é que o Rubin Kazan precisará reencontrar seu caminho depois de tamanho trauma. E sabe que o abandono do governo regional neste momento poderia afundar o time num buraco maior. O Anzhi, hoje no meio da tabela da terceirona, que o dia.

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