Blackpool: da elite ao calvário dos problemas judiciais e a queda para a 4ª | OneFootball

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·03 de setembro de 2019

Blackpool: da elite ao calvário dos problemas judiciais e a queda para a 4ª

Imagem do artigo:Blackpool: da elite ao calvário dos problemas judiciais e a queda para a 4ª

No dia 22 de maio de 2010, o Blackpool derrotou o Cardiff por 3 a 2 em Wembley, conquistando vaga para disputar a Premier League na temporada seguinte, voltando a disputar a primeira divisão inglesa após 40 anos.

Ian Holloway até tentou emplacar sua filosofia de jogo ofensivo na elite do futebol inglês e, de certa forma deu certo, visto que os Tangerines marcaram 55 gols.


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Infelizmente isso acabou não sendo o suficiente para manter o Blackpool na Premier League, tendo terminado a competição na 19ª posição com 39 pontos, ficando a apenas um ponto da equipe do Wolverhampton, que terminou em 17º.

Essa situação, na verdade, acaba sendo algo normal para um time recém-promovido. Mas para os torcedores, esse retorno para a primeira divisão acabou sendo mais uma faísca para a conturbada relação com a família Oyston, até então proprietária do clube.

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Início da era Oyston

O Blackpool passava por momentos difíceis até que em 1987, quando estava prestes a perder seu estádio e lutava contra uma possível extinção, Owen Oyston acabou adquirindo o clube.

Mas a equipe não conseguia se estabilizar e subir de patamar, onde alternava entre a terceira e quarta divisão.

Já não bastasse essa estagnação nas divisões inferiores, para piorar a relação entre torcida e diretoria, em 1996, Owen foi julgado e condenado a seis anos de prisão por estupro e agressão a uma adolescente de 16 anos.

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Então sua esposa, Vicki Oyston, assumiu o cargo de presidente após a prisão de Owen, permanecendo até 1999.

Mas assim como Owen, pouco acabou fazendo, com a equipe tendo permanecido na terceira divisão e corrido sérios riscos de rebaixamento para a Division Three (atualmente League Two, equivalente à 4ª divisão).

Vendo que as coisas não estavam nada bem, no dia 3 de abril de 1999, o filho do casal Owen e Vicki, Karl Oyston, assumiu a presidência.

E com toda a bagunça e após ter batido na porta do rebaixamento nos anos anteriores, logo na primeira temporada com Karl à frente do clube, o Blackpool acabou rebaixado para a quarta divisão inglesa.

A equipe conseguiu retornar para a terceira divisão já na temporada seguinte, onde seguiu até 2006/07 quando, finalmente, o Blackpool saiu desse calvário das divisões inferiores e conquistou o acesso para disputar a Championship, voltando assim a disputar novamente a segunda divisão após 30 anos desde a última participação.

Para onde foi o dinheiro?

Em março de 2012, foi divulgado o balanço financeiro do clube referente à temporada em que esteve na Premier League.

E uma matéria publicada pelo The Guardian aponta que, apesar dos rendimentos do clube terem aumentado em 42 milhões de libras, o balanço financeiro mostrou que os gastos com salários dos jogadores se manteve praticamente igual ao da temporada da promoção.

Só que um item em especial chamou a atenção: um diretor havia recebido um pagamento de 11 milhões de libras, conforme matéria publicada pelo Daily Mail.

Mas o nome desse diretor não havia sido informado, constando que esse pagamento teria sido feito a uma empresa chamada Zabaxe Ltd.

E após consultar os documentos na Companies House – empresa de registro de empresas do Reino Unido – constatou-se que os diretores da Zabaxe Ltd eram ninguém menos que o acionista majoritário dos Tangerines, Owen Oyston, e sua esposa Vicki.

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Em meio a esse turbilhão, Karl concedeu entrevista ao Blackpool Gazette, jornal da cidade de Blackpool, onde tentou justificar o dinheiro pago a seu pai:

“Eu não me importo de ser criticado – estou acostumado com isso – mas as críticas dirigidas ao meu pai são completamente equivocadas. Ele emprestou ao clube quantias enormes para financiar as arquibancadas norte e oeste, e muito mais. Eu sei que a principal reclamação entre os torcedores é a maneira como eu opero, mas isso nunca vai mudar e nos levou à Premier League. O dinheiro excedente foi criado como resultado disso.”

Mas, obviamente, a esmagadora maioria dos torcedores não entendeu dessa forma, fazendo com que isso servisse apenas como mais um agravante para tumultuar ainda mais a relação entre torcedores e donos do clube.

Torcida declara guerra

Apesar de toda a falta de investimento, na temporada 2011/12, o Blackpool, ainda sob o comando de Ian Holloway, por pouco não regressou para a Premier League, mas acabou perdendo a final dos playoffs para o West Ham por 2 a 1.

Na temporada seguinte, Holloway deixou a equipe em novembro para assumir o Crystal Palace, sendo o prenúncio do declínio que estava por vir, e os Tangerines terminaram a Championship em 15° lugar.

Já na Championship 2013/14, sem Ian Holloway – o principal responsável pelos bons resultados nos últimos anos – e seguindo sem os investimentos por parte dos Oyston, a equipe acabou a Championship 2013/14 na vigésima posição.

Mas na derrota por 1 a 0 diante o Burnley em casa, aos 53 minutos – em alusão ao título da FA Cup conquistado em 1953 – os torcedores atiraram tangerinas e bolas de tênis no campo, interrompendo momentaneamente a partida.

Além disso, faixas de protestos contra os Oyston eram vistas espalhados pela arquibancada, dando início a uma série de protestos que viriam a seguir.

E foi apenas o começo…

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Para a temporada 2014/15, faltando apenas duas semanas para o início da Championship, a equipe principal do Blackpool não tinha nenhum goleiro e contava com apenas 11 jogadores de linha.

Vendo o total descaso dos Oyston, Valeri Belokon, um dos diretores e dono de 20% das ações do clube, acusou publicamente a família em colocar os negócios pessoais acima da instituição, como emprestar mais de 24 milhões de libras dos cofres da equipe para suas empresas sem o seu consentimento.

Não bastasse todos esses problemas dentro de campo, os Oyston começaram então a tomar medidas judiciais contra os torcedores que expressavam suas opiniões na internet.

Um dos casos mais famosos é o de Frank Knight, torcedor do Blackpool de 67 anos, que em 2014 utilizou sua página no Facebook para expressar sua insatisfação com os proprietários do clube.

Os Oyston então acionaram a justiça contra Knight, que por sua vez realizou um pedido de desculpas de forma pública e aceitou pagar uma quantia de 20 mil libras ao clube, evitando assim que o caso não fosse levado aos tribunais.

Então os torcedores resolveram criar uma vaquinha online, buscando arrecadar fundos e ajudar Knight a pagar essa dívida. No final, a campanha de arrecadação foi um sucesso e o valor obtido acabou superando o valor de 20 mil libras.

Como já era esperado, devido a todos os problemas dentro e fora das quatro linhas ocorridos antes do início da temporada, o Blackpool acabou sendo rebaixado para a League One, tendo conquistado apenas quatro vitórias em 46 jogos.

A confirmação do rebaixamento aconteceu após a 40ª rodada. Então, antes da partida seguinte diante o Reading, torcedores munidos de bombas de fumaça, ovos e ecoando gritos de “fora Oyston” e “nós fomos rebaixados por causa da sua ganância”, protestaram contra Karl e a administração da sua família.

A temporada 2015/16 começou com os mesmos problemas das temporadas anteriores: falta de planejamento e investimentos. E logo no primeiro amistoso, novamente houve uma invasão de campo, onde aproximadamente 20 torcedores protestaram contra os Oyston, e o amistoso teve que ser adiado.

Ao fim da temporada, mais protestos. Em torno de três mil torcedores, carregando cartazes e fantasiados, se reuniram no centro da cidade e partiram em direção ao Bloomfield Road. A equipe acabou sendo derrotada por 4 a 0 e sacramentou seu segundo rebaixamento consecutivo ao perder por 5 a 1 para o Peterborough United na última rodada.

Disputando a 4ª divisão

Tendo disputado pela última vez a quarta divisão inglesa na temporada 1990/91, 16 anos depois o Blackpool viveria o mesmo pesadelo.

Mas a estadia da equipe na League Two durou apenas uma temporada, tendo regressado para a terceira divisão na temporada seguinte. Apesar da boa campanha realizada, os torcedores dos Tangerines seguiam seus protestos contra a família Oyston.

Boicote nas arquibancadas

Os fãs estavam realmente dispostos a lutar até o fim pela saída de Karl e seus familiares do controle da equipe, e tomaram uma atitude drástica, que doeria não somente para os diretores, mas para o clube em si: decidiram abrir mão de comparecer aos jogos.

A média de público dos jogos em casa caiu ano a ano, segundo o Transfermarkt.

  1. 2013–14 (Championship) – 14.217 torcedores;
  2. 2014–15 (Championship) – 10.928 torcedores;
  3. 2015–16 (League One) – 7.052 torcedores;
  4. 2016–17 (League Two) – 3.456 torcedores.

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O início do fim

Valeri Belokon moveu uma ação contra os Oyston, alegando que eles trataram o clube como “sua máquina pessoal de dinheiro”, além de sempre ser preterido sobre as ações e os caminhos que o clube tomava.

Então em novembro de 2017, quando Belokon já não pertencia mais ao quadro de diretores do clube, acabou vencendo a batalha na Suprema Corte, com Karl e Owen se vendo obrigados a pagar 31 milhões de libras ao acionista.

Durante o veredito, o juiz foi enfático e afirmou que a família Oyston havia abusado dos seus poderes maioritários em detrimento tanto de Belokon, como do Blackpool, quando retiraram 26,77 milhões de libras dos cofres do clube e utilizaram esse valor para pagamentos com suas empresas.

Em fevereiro de 2018, de forma surpreendente, o clube divulgou um comunicado informando que Natalie Christopher, filha de Owen Oyston, assumiria o cargo de presidente, no lugar de Karl. Mas em fevereiro de 2019, a família Oyston acabou tomando mais um duro golpe.

Após não terem conseguido honrar com os pagamentos para Valeri, a Suprema Corte decidiu que o Blackpool seria colocado em concordata – um acordo judicial permitindo que a empresa devedora tenha a possibilidade de quitar os seus débitos sem que tenha suas atividades encerradas – obrigando o pagamento de 25 milhões de libras ao ex-diretor.

Enfim, adeus

E no dia 26 de fevereiro de 2019, a notícia tão aguardada pelos torcedores finalmente foi publicada: após decisão da Suprema Corte, Owen Oyston foi destituído do quadro de diretores da equipe do Blackpool, juntamente com sua filha, Natalie Christophe.

Diante do Southend United, 15.871 torcedores dos Tangerines compareceram ao Bloomfield Road e fizeram uma linda festa dentro e fora do estádio. E é claro que os deuses do futebol não decepcionariam.

A equipe perdia por 2 a 1 até os 96 minutos, quando a equipe se lançou para o último ataque do jogo, e após cruzamento para a área, Long cabeceou e o zagueiro Taylor Moore, do Southend United, acabou cabeceando para o próprio gol.

Foi uma explosão de alegria nas arquibancadas, euforia, e até invasão de campo, como se o Blackpool tivesse conquistado um título.

O início da era Sadler

No dia 13 de junho desse ano, Simon Sadler (49) foi anunciado como o mais novo proprietário do Blackpool, tendo adquirido 96,2% das ações do clube de acordo com o site oficial do clube.

O valor não foi divulgado de forma oficial, mas alguns sites informaram que giraria em torno dos 10 milhões de libras. Em entrevista publicada pelo The Guardian, Sadler revelou os motivos para ter se tornado proprietário do clube:

“Eu realmente gosto do desafio, quero entrar de cabeça nisso. Eu provei que posso construir um fundo de sucesso. Eu aprendi muito em minha carreira de 28 anos. Tenho certeza que muito disso é aplicável ao mundo do futebol”.

E depois de ver toda a paixão que os torcedores do Blackpool e o que eles são capazes de fazer pelo bem do clube, não tem como não concordar com Sadler de que realmente ele terá uma grande responsabilidade em suas mãos.

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