Jogada10
·10 de maio de 2025
Cobrança sobre Paiva, por ora, é desproporcional no contexto de 2025

Jogada10
·10 de maio de 2025
A história se repete como farsa, pontuou Karl Marx no século 19. Qualquer sensação de déjà vu é suficiente para evocar o velho filósofo alemão. No Botafogo, as reincidências ocorrem em um curtíssimo intervalo. Apenas dois anos, para ser mais preciso. No primeiro semestre de 2023, de forma covarde e brutal, a torcida do Glorioso massacrou Luís Castro e pediu sua saída em coro uníssono. Houve, aliás, até repórter cobrando a demissão! De ironias a ofensas, o português foi colocado no mesmo nível de Marcelo Chamusca e outros treinadores que não deixam saudade no Mais Tradicional. Hoje, boa parte daqueles canceladores pede o “ex”, livre no mercado, de volta ao cargo, no lugar do compatriota Renato Paiva, o execrado da vez. Após ser tirado para nada pelos alvinegros, Castro engatou uma sequência de vitórias e deixou o time da Estrela Solitária disparado na liderança do Campeonato Brasileiro.
Apressados, os torcedores mais exaltados do Botafogo acreditam que Luís Castro ou Jorge Jesus assinarão contrato com o clube dois minutos depois da queda de Renato Paiva. Ignoram que há conversas, reuniões, exigências e cifras altíssimas envolvidas em negociações que podem durar dias ou semanas. O mais importante, no entanto, é a vacância no posto de treinador. Ou seja, enquanto John Textor e seus Black & White Caps correm atrás do substituto, a equipe alvinegra ficaria nas mãos de um interino, sem comissão técnica. A bomba vai estourar nas mãos de Cláudio Caçapa. Diante de um cenário tão negativo e jogos duríssimos de Copa Libertadores pela frente, ele encontrará uma dificuldade mastodôntica de trabalhar e não conseguirá arrumar a casa da forma adequada. Lembrem-se da Recopa, contra o Racing (ARG).
A saída de Paiva, neste momento, é um grande tiro no pé. Só aumentaria a crise no Glorioso. Por isso, as cobranças são, por ora, exageradas e desproporcionais. O técnico recebeu um elenco com vários jogadores que não engraxam as chuteiras dos coadjuvantes daquele time campeão brasileiro e continental. Além disso, desde que pisou no Estádio Nilton Santos, sofre com um número considerável de lesões. Ainda assim, o treinador buscou soluções. Por exemplo, De Paula, como “10”, não deu certo, assim como Jeffinho na ponta direita. Mas Cuiabano, na meia-esquerda, rendeu. Jesus e Mastriani, juntos, no ataque, também resultou em outra boa alternativa, pois confunde a marcação adversária, como aconteceu no clássico contra o Fluminense. Só que o tuiteiro de plantão está ali, de prontidão, para destilar o seu ódio ao invés das críticas pontuais.
Renato Paiva não montou este elenco invertebrado e tampouco deu o aval para os reforços de 2025. Apesar deste contexto de adversidades, o técnico lusitano mantém o melhor aproveitamento como local durante a era SAF e deixou o Botafogo dependendo das próprias forças para avançar na Libertadores. Com tropeções, a Estrela Solitária está viva e com dois jogos no Colosso do Subúrbio para decidir o futuro. Se o desempenho é, de fato, insatisfatório, o erro individual determinou o resultado em algumas derrotas do Glorioso. O frango de John, contra o Estudiantes, por exemplo, e a bobeira dupla de Telles em uma mesma jogada, contra o Bragantino, pesaram para os resultados destes confrontos.
A belicosidade retórica da torcida está, portanto, apontada para o lado errado. Centralizador, Textor é o maior culpado pelos fracassos recentes. Aliás, dentro e fora de campo. O sócio majoritário da SAF alvinegra já tem o know how para publicar um tratado de como destruir um time com alma vencedora em tempo recorde. Enquanto brinca de caubói na França, o big boss deixou o Botafogo à revelia durante três meses. É imperdoável um campeão da Libertadores e Brasileiro (no mesmo ano) avançar na temporada com um técnico do sub-20, como Carlos Leiria. Isto não ocorre em nenhum lugar do planeta. Alguém imagina uma equipe que acabou de ganhar a Champions, Liga Europa ou até Conference League nas mãos de um treinador de divisões inferiores? O magnata sentiu inveja do Botafogo amador. Não há outra explicação para um planejamento tão desastroso.
*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10
Ao vivo