Com ou sem emoção? A Argentina fez uma campanha em que sempre optou pela via mais dramática | OneFootball

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Trivela

·19 de dezembro de 2022

Com ou sem emoção? A Argentina fez uma campanha em que sempre optou pela via mais dramática

Imagem do artigo:Com ou sem emoção? A Argentina fez uma campanha em que sempre optou pela via mais dramática

A seleção que representa um país que vive o futebol à flor da pele não poderia ter uma campanha chata. Talvez, porém, não precisasse ser tão dramática assim. Praticamente todas as vezes em que a Argentina parecia caminhar para uma vitória tranquila optou pela via da emoção, e a final deste domingo foi apenas o exemplo mais contundente. O que parecia uma vitória até anticlimática virou um dos maiores épicos da Copa do Mundo para selar uma campanha que deixou os torcedores com o coração na boca da garganta desde o primeiro jogo contra a Arábia Saudita.

A surpresa causada pelos sauditas no retorno do primeiro tempo da estreia parece ter deixado a seleção argentina constantemente à beira de um colapso nervoso. Apenas dois jogos foram disputados em condições normais, contra Polônia e Croácia. Os outros ou começaram tensos ou se tornaram diante da primeira adversidade. De repente, foi um sofrimento para segurar a vitória contra a Austrália. De repente, a Holanda conseguiu forçar a prorrogação com um gol… diferente. De repente, a França também conseguiu forçar a prorrogação em um jogo que parecia morto.


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Tudo começou normal. A Argentina abriu o placar cedo contra a Arábia Saudita, que todos esperavam que fosse goleada, com Messi cobrando pênalti. Por alguns centímetros não ampliou em contra-ataques que estavam pegando a defesa asiática bastante adiantada. Parecia necessário apenas um pequeno ajuste para deslanchar e matar o jogo. Nope. A Arábia Saudita empatou aos três minutos do segundo tempo e virou aos oito. Se a Argentina tinha um plano, ela o esqueceu completamente. Entrou no modo desespero e não conseguiu salvar nada da partida.

Aquela derrota deu início a um estado de emergência na seleção argentina. Uma derrota para o México significaria a eliminação. Significaria o fim da história de Lionel Messi em Mundiais após dois jogos. Um time que chegou ao Catar entre os favoritos, prestes a igualar a maior invencibilidade do futebol de seleções, seria um dos primeiros eliminados. O técnico Lionel Scaloni tentou suavizar o peso do momento em suas entrevistas, mas ele estava muito claro no estádio de Lusail – o mesmo da final da Copa do Mundo.

Raras vezes em um jogo de futebol a tensão era tão palpável. Parecia física, como se fosse um cheiro ou uma âncora. Gerardo Martino, um argentino, entende a psique do seu povo e tentou jogar com isso. Armou a seleção mexicana para frustrar. Um ferrolho defensivo que travou a Argentina no primeiro tempo, à espera do desespero e do erro fatal. Ao contrário, veio o alívio, quando Messi encontrou um chute de fora da área para abrir o cadeado, e depois Enzo Fernández fechou a vitória com um golaço.

A Copa do Mundo mal havia completado uma semana de vida, e a Argentina já fora do inferno ao céu. Aqueles dois jogos reiniciaram a sua campanha, e bastava vencer a Polônia para avançar às oitavas de final. Messi ainda perdeu um pênalti no fim do primeiro tempo para dar um pouco mais de emoção, mas, no geral, foi um jogo disputado sob condições normais de temperatura e pressão, e a Argentina finalmente conseguiu mostrar o futebol que a colocava entre as favoritas.

Ninguém esperava dificuldades contra a Austrália, e ainda demorou uma meia hora para Messi encontrar outro espaço que ninguém mais encontra para abrir o placar. A vitória parecia confirmada com o gol de Julián Álvarez, após um erro crasso do goleiro Mathew Ryan, mas tudo mudou da hora para a outra. A cerca de 15 minutos do fim, um chute desviado descontou para a Austrália, e o lateral esquerdo Aziz Behich quase empatou com o que seria um dos maiores golaços da história das Copas. O jogo ficou frenético, Messi assumiu as rédeas, Lautaro Martínez perdeu gols, e Emiliano Martínez ainda teve que fazer uma linda defesa no ato final para impedir a prorrogação.

Havia ficado claro na fase de grupos e mais claro ainda contra a Austrália: a Argentina estava com uma propensão a perder a cabeça diante da primeira adversidade. Era o que mais precisava ajustar para o restante do mata-mata e até parecia que o havia feito contra a Holanda. Um passe brilhante de Messi encontrou Nahuel Molina para o primeiro gol, Marcos Acuña sofreu um pênalti, convertido pelo craque, e a Argentina caminhava para uma vitória tranquila. O primeiro gol de Wout Weghorst não a tirou do auto-controle, mas deu início a uma reação natural da Holanda.

Não foi exatamente por culpa da Argentina, embora a falta de Germán Pezzella tenha sido um pouco afobada na entrada da área. Mas era difícil imaginar que Teun Koopmeiners cobraria rasteiro para Weghorst marcar o segundo e forçar a prorrogação. O primeiro tempo da prorrogação foi travado, mas a Argentina encaixou oito minutos de intensa pressão antes dos pênaltis. Lautaro Martínez parou em Noppert e em Van Dijk, teve bola na trave, uma sequência de escanteios, mas nada de gol. Emiliano Martínez defendeu duas cobranças holandesas e garantiu a semifinal.

Contra a Croácia, finalmente alguma tranquilidade. A Argentina foi dominada nos primeiros trinta minutos, sem permitir muitas chances de gol. Encaixou um contra-ataque, conseguiu um pênalti e abriu o placar. Ampliou logo em seguida, com uma arrancada de Álvarez, e abriu 2 a 0. Como descobriria nesta Copa do Mundo, porém, esse é um placar bastante perigoso. Não chegou a sofrer e uma jogada maravilhosa de Messi ainda terminou com o terceiro gol, também de Álvarez.

A final foi uma história à parte. Está entre os maiores jogos de todos os tempos pelo enredo e pela importância. A Argentina estava com tudo sob o controle. Mais um gol de pênalti, outro de Di María em contra-ataque, e a França mal dava sinais de recuperação. Didier Deschamps parecia até perdido. Fez duas substituições a cinco minutos do intervalo e tirou Antoine Griezmann, o maestro do seu meio-campo. De repente, do nada, do absoluto vazio, tudo mudou. Um pênalti de Nicolás Otamendi convertido por Mbappé e um bonito gol do craque francês deixaram tudo igual. Ninguém poderia imaginar que a Argentina terminaria o jogo rezando por uma prorrogação.

O negócio ficou ainda mais maluco no tempo extra porque o jogo ficou frenético. A França continuou parecendo melhor. A entrada de Lautaro Martínez foi importante para estancar a sangria e gerar algumas chances. Messi marcou no rebote de uma bomba do atacante da Internazionale, e a história do jogo mudou novamente, assemelhando-se à da final de 1986. Os argentinos, porém, talvez não estivessem cientes de quanto tempo faltava porque começaram a prender bola na bandeirinha de escanteio com mais de dez minutos pela frente.

Eis que de repente sai um pênalti. Um lance confuso, até, pela linguagem corporal do árbitro que parecia ter marcado falta no toque de mão de Gonzalo Montiel em chute de Mbappé. O francês completou o seu hat-trick, e a campeã de 2018 ainda ficou muito próxima de arrancar a vitória. Kolo Muani saiu na cara de Emiliano Martínez que fez a grande defesa da Copa do Mundo com a perna.

Diante do que foi o jogo, a disputa de pênaltis foi até meio chata. Mbappé e Messi acertaram, e Martínez engrandeceu ainda mais uma Copa do Mundo lendária defendendo a batida de Kingsley Coman. Aurélien Tchouaméni contribuiu batendo para fora, e uma trajetória que começou com um pênalti convertido por Messi terminou com um pênalti convertido por Montiel.

Usam muito o tango como metáfora para descrever o futebol argentino, mas essa Copa talvez tenha sido uma ópera.

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