MundoBola Flamengo
·23 de dezembro de 2024
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·23 de dezembro de 2024
Contratado pela gestão de Luiz Eduardo Baptista, o Bap, para chefiar o departamento de futebol do Flamengo a partir de 2025, José Boto já externou algumas ideias que considera importantes para um setor em pleno funcionamento. O português, inclusive, teve participação na decisão que selou a saída de David Luiz, confirmada no último domingo (22).
Em entrevista ao portal Benfica Independente, Boto comentou sobre as prioridades do departamento de scouting, responsável pelas contratações, a estrutura que imagina como ideal e algumas das ideias que costuma implantar — ou retirar — em seus trabalhos. Confira os principais tópicos abaixo.
Em uma das explicações, Boto disse enxergar três tipos de scouts e detalhou cada um deles. O novo dirigente do Flamengo destacou a importância de trabalhar com empolgação em relação aos jogadores pretendidos e deixou a impressão de que não será conhecido por contratar um alto número de atletas. Para o português, é melhor agir com convicção, mesmo com o risco de errar.
"Eu costumo dizer que existem três tipos de scouts, mas a mim só interessa um. Existem os scouts que têm dúvidas sobre todos os jogadores: é uma forma de defesa, não sei. E existem os scouts que não têm dúvidas sobre nenhum jogador, que colocam quase todos os jogadores, como nós dizemos, a contratar, porque também se defendem um pouco, não é? Acabam acertando com algum", explicou.
"Eu prefiro aqueles scouts de convicção plena, mesmo correndo o risco de errar, porque errar está sempre presente em qualquer coisa da vida — principalmente nesta. Mas que ponham a cabeça. Costumo dizer que gosto que meus scouts mostrem paixão pelos jogadores que estão a propor", disse.
Na opinião de Boto, o departamento de scout precisa estar alinhado com o entendimento de mais de uma área do futebol. Além do mercado, é claro, José pregou a importância do conhecimento sobre o jogo em si, principalmente a maneira de jogar de cada treinador.
"Quando falo sobre conhecer o jogo... Todos nós gostamos de futebol, não? Todos nós olhamos para o jogo e o interpretamos à nossa maneira. Isso é natural, é algo que tem a ver com a forma que gostamos de ver uma equipe, com nossas emoções. Mas, para trabalhar no futebol, você tem que conhecer o jogo. Não é só aquilo que observamos ou que nos emociona, há outras nuances. Você precisa percebê-las. Quando digo isso, é porque muitas vezes há muita gente que conhece o mercado, mas não conhece o jogo", disse.
"E há muita gente que conhece o jogo, que entende, mas também não conhece o mercado. Portanto, quando você trabalha como scout, precisa ter essas duas vertentes. É impossível, sei lá, um scout que trabalha para o Benfica, por exemplo, e não entende como o Roger Schmidt joga, entende? Mas também é impossível você ter um scout que entende como o Roger Schmidt joga, mas não entende o mercado. Ou seja, propõe jogadores que são impossíveis para o clube. E isto é conhecer o mercado", destacou.
O português também adiantou que não pretende trabalhar com um olheiro específico para goleiros. Para Boto, o conhecimento do jogo por parte dos integrantes do departamento precisa necessariamente passar pelo arqueiro, que acumula as responsabilidades defensivas com a "previsão do que vai acontecer", segundo José.
"Sei que há muita gente que pensa assim, colegas meus. Não concordo em nada com isso. Então, teríamos que ter um scout para defensores pela direita e um scout para defensores centrais, porque cada posição tem sua especificidade. Mas quando você conhece o jogo, conhece a partir do goleiro. Não é sobre ter dez jogadores e outro cara no gol, não. É sobre ter 11", ressaltou.
Na entrevista, Boto abordou alguns desafios da função de olheiro, principalmente sobre se adequar à filosofia de determinado clube. Como exemplo, o português comparou os trabalhos à frente de Benfica, em Portugal, e Shakhtar Donetsk, na Ucrânia. José destacou, ainda, a importância de manter projetos a longo prazo.
"O que é desafiador no scouting: perceber o que o treinador quer — ou o clube. O Benfica tinha uma política esportiva que assentava muito, em termos de características de jogadores, com o que o treinador queria. No Shakhtar, por exemplo, não era assim. Era mais sobre o presidente, que queria uma forma de jogar. Então, tudo era escolhido por essa forma de jogar", explicou.
"O que acontecia? Quando você mudava de treinador, o que chegada não diria que o plantel não serve. Para mim, isso é ótimo. O maior clube que trabalhei foi o Benfica, sem dúvida, a nível de dimensão do clube. O melhor projeto esportivo foi o do Shakhtar", afirmou.
Algo comum no futebol brasileiro, as trocas de perfil entre treinadores foram demonizadas por José Boto. O dirigente ressaltou que, em caso de demissão de um treinador, o novo contratado precisa ter uma filosofia que se encaixe com os jogadores que integram o elenco. Caso contrário, o clube inevitavelmente vai gastar mais dinheiro do que deveria.
"É sobre saber o que você quer para o clube. Dando um exemplo um pouco estúpido, é como começar com um Guardiola e as coisas não darem resultado. Aí, você passa para um Simeone. Falamos de dois excelentes treinadores, mas que não têm nada a ver um com o outro. E o que acontece? Os jogadores que o Guardiola escolheu não servem para o Simeone", comparou.
"No fim, você vai gastar mais dinheiro, porque vai ter que adaptar o plantel a um treinador de ideias completamente diferentes. E vemos muito isso nos clubes, não só em Portugal. É em toda a Europa", comentou.
Um dos pontos mais repetidos por Boto foi de ter uma filosofia definida no clube, independentemente do treinador que esteja empregado. Desta forma, de acordo com ele, as mudanças de comando não virão acompanhadas de uma revolução completa no elenco.
"Para mim, é um erro o clube deixar tudo nas mãos de um treinador. Por que? O treinador é o elo mais fraco. Dependendo da paciência do clube e dos torcedores, se os resultados não aparecerem, é o primeiro a cair. E se você busca um treinador com ideias diferentes, vai ter que mexer nos jogadores que for buscar e gastar mais dinheiro", pontuou.