oGol.com.br
·22 de novembro de 2024
oGol.com.br
·22 de novembro de 2024
Adrián não gosta do apelido de "Maravilla Martínez". Embora não duvide: "o que Deus fez com a minha vida, foi uma maravilha". Artilheiro da Sul-Americana, Adrián Martínez não teve categorias de base: começou a carreira tardiamente, depois de ter trabalhado como gari e pedreiro. Chegou a ser preso, mas superou todos os obstáculos para mostrar, no campo, o seu talento ao mundo. No sábado, contra o Cruzeiro, terá a chance de conquistar o título mais importante da carreira, aos 32 anos.
O futebol é capaz de produzir histórias singulares todos os dias. Na América Latina, o contexto social que vivemos é o ambiente perfeito para o impossível se tornar regra. Adrián não é apenas o caso do menino pobre que cresceu na vida através da bola. O futebol, na verdade, estava longe de ser uma saída para ele. Até que um acidente de moto mudou tudo...
Quando menino, Adrián jogou apenas no time de seu bairro, Las Acacias, que era presidido por sua mãe. Informalmente, jogava "pelada" com seus amigos, como qualquer menino argentino. Mas não tinha como doar seu tempo ao futebol: precisava trabalhar para se sustentar.
Adrián trabalhava como lixeiro para ajudar nas contas da casa. No mundo real, seu trabalho está em jogo todos os dias. Basta um passo em falso. Ou uma curva errada... Adrián sofreu um acidente de moto que o fez perder o emprego. Em seguida, trabalhou como pedreiro com o tio.
Nessa época conturbada de sua vida, perdeu o irmão, baleado. Em 2014, Adrián foi preso acusado de invadir e incendiar a casa do assassino. Ficou seis meses preso, até ser inocentado.
Quando comenta esse período, Martínez diz ter "encontrado Deus" na cadeia. Buscou a saída dos problemas, a partir de então, na religião. Usou a experiência como um aprendizado de vida.
"Os presos se matam e passam fome. A maioria está todo o dia drogado ou sob efeitos de medicamentos. Não é como nas séries, que te dão comida em bandejas. Se a tua família não te leva comida, não come nada. Depois de passar por isso, você vê a vida de outra maneira, e aproveita tudo o que tem", disse o jogador ao portal argentino Infobae.
Na prisão, Adrián teve uma experiência diferente com o futebol.
"Lá dentro, era possível jogar, mas havia apenas um campo. E quando organizavam os jogos, a maioria das pessoas saía para descarregar suas frustrações. Brigavam a facadas, porque jogavam com facas", contou.
Quando saiu da cadeia, resolveu tentar a carreira no futebol. Fez um teste no Defensores Unidos, da Primera C, quarta divisão argentina. Foi aprovado e estreou com recém-completados 23 anos. Dois anos depois, se mudou para o Atlanta, até atrair o interesse, com gols, do Sol de América paraguaio. A partir daí, a carreira de Adrián adotou uma sequência mais "lógica".
Adrián Martínez deixou o futebol semiamador da Argentina e, já no primeiro jogo no Paraguai, estreou em uma competição oficial. A estreia no alto nível foi contra o tradicional Nacional, do Uruguai. O quarto jogo como profissional de Adrián foi no Parque Central, na eliminação da equipe para os uruguaios.
A primeira temporada do argentino no Paraguai foi de 13 gols em 20 jogos, média de 0,65 gol/jogo. Não demorou muito para o jogador, que começou a carreira no semiamador aos 23 anos, jogar nos principais clubes do Paraguai.
Martínez passou pelo Libertad, com direito a temporada com 15 gols em 44 gols, e depois no Cerro Porteño, passagem menos feliz e sem qualquer gol em 12 jogos. Em 2022, os gols e os títulos de campeão nacional no Paraguai abriram as portas do Brasil para o atacante.
Emprestado ao Coritiba, conseguiu ajudar o Coxa a permanecer na elite do Brasileirão. Mas marcou apenas quatro gols em 24 jogos e acabou devolvido ao Libertad. Na sequência, estreou, já depois dos 30 anos, na primeira divisão argentina. Pelo Instituto, marcou 18 gols em 41 jogos.
Contratado pelo Racing para ser a referência ofensiva da equipe em 2024, vive a melhor temporada, com 28 gols em 46 jogos. Neste sábado, pode conquistar o título mais importante da carreira.
"É a partida mais importante da minha carreira. É para fechar minha história. E tudo passou muito rápido, não esperava isso e cheguei aqui através dos gols que marquei", contou, para a Espn.
Em 12 jogos na Sul-Americana, Martínez marcou nove gols. Na semifinal, contra o Corinthians, foi decisivo como garçom para o gol da virada de Quintero. De volta para o Paraguai, onde viveu momentos bonitos da carreira, tenta a consagração definitiva.