Trivela
·16 de junho de 2021
Trivela
·16 de junho de 2021
A seleção de Serra Leoa se confirmou nesta terça-feira como mais uma participante da Copa Africana de Nações, ficando com a última vaga à edição de 2021 – que começará em janeiro de 2022. Os serra-leoneses enfrentavam Benin na rodada decisiva das eliminatórias e a partida deveria ter acontecido em março, mas um grande imbróglio provocou seu adiamento. Antes do duelo, seis atletas beninenses deram positivo para COVID-19 e os visitantes acusaram uma fraude no resultado. Por conta disso, o embate foi adiado em três meses e, depois de novos problemas com o coronavírus, ocorreu apenas nesta terça no campo neutro de Conakry. Por fim, Serra Leoa superou os desfalques e garantiu a classificação com a vitória por 1 a 0. Será a terceira aparição do país na CAN, a primeira desde 1996.
Nas eliminatórias da Copa Africana, cada país que sedia os jogos é responsável pelos exames de coronavírus. E a suspeita de tramoia circundou o duelo entre Serra Leoa x Benin, que disputavam em março a segunda vaga do Grupo L, liderado pela Nigéria. Horas antes da partida, os beninenses receberam os resultados dos testes e seis atletas estariam infectados. Destes, cinco eram titulares. A contaminação de seus principais jogadores, para Benin, não era mera coincidência e sim uma fraude. Segundo a federação local, o elenco havia realizado três exames antes da viagem para Serra Leoa e ninguém tinha dado positivo na delegação de 77 pessoas. Além disso, a demora na divulgação dos resultados e os nomes escritos a caneta aumentaram as suspeitas.
Quando Benin chegou ao estádio em Freetown para o jogo de março, a federação de Serra Leoa impediu a entrada do time e queria retirar os seis atletas positivados numa ambulância. Por conta disso, os beninenses se recusaram a sair do ônibus e o pontapé inicial foi suspenso temporariamente. O duelo chegou a ser remarcado para acontecer horas depois, mas o ônibus da equipe visitante permaneceu bloqueado por dirigentes serra-leoneses. Quando foi liberado, o grupo decidiu voltar ao hotel.
Diante do impasse, o jogo acabou cancelado. A Confederação Africana de Futebol decidiu remarcar a partida decisiva para este mês de junho. Na tentativa de evitar novas confusões, a entidade levou o embate para Guiné, em país neutro onde também seriam realizados os exames de coronavírus e o protocolo. Serra Leoa acabaria perdendo a vantagem do mando de campo.
Todavia, se enganou quem imaginava que o jogo aconteceria sem problemas neste mês de junho. A partida estava marcada inicialmente para quinta-feira da última semana. Quando os times já estavam no estádio, Serra Leoa recebeu a informação de que seis jogadores testaram positivo para COVID-19. O duelo acabou adiado para segunda-feira, mas de novo seria remarcado. Cinco atletas serra-leoneses continuaram dando positivo na contraprova e a equipe da casa se negou a entrar em campo, garantindo que o elenco inteiro tinha dado negativo. Por fim, apenas nesta terça as seleções aceitaram entrar em campo em Conakry.
Serra Leoa contou com apenas 20 jogadores à disposição, incluindo dois goleiros. Apesar dos desfalques, a equipe cumpriu sua missão e garantiu a vitória por 1 a 0. O gol da classificação foi anotado por Kei Kamara, cobrando pênalti aos 19 minutos. Embora Benin dependesse apenas de um empate para avançar, a pressão não deu resultados e os serra-leoneses preservaram a vantagem até o apito final. A classificação gerou uma grande comemoração não só em campo, como também nas ruas de Freetown e das principais cidades do país.
As outras duas participações de Serra Leoa na Copa Africana de Nações aconteceram em 1994 e 1996. A equipe tinha alguns nomes de destaque na Europa, com menção principal ao atacante Mohamed Kallon e ao zagueiro Kewullay Conteh. Os serra-leoneses chegaram a derrotar Burkina Faso em sua segunda participação, mas em ambas as edições o time foi eliminado na fase de grupos. Depois de 25 anos, um dos países com pior IDH do mundo consegue se destacar novamente no futebol.
O elenco atual de Serra Leoa concentra boa parte de seus jogadores no próprio futebol local. Curiosamente, quatro deles defendem o Kallon FC – fundado exatamente por Mohamed Kallon. Há também destaques no futebol europeu, sobretudo descendentes de migrantes serra-leoneses que nasceram na Inglaterra. Os principais nomes, de qualquer forma, são outros. Mustapha Bundu é uma das principais esperanças e passou a última temporada emprestado ao Copenhague, enquanto Alhaji Kamara se destacou no ataque do Randers, também no Campeonato Dinamarquês. Já o atleta mais tarimbado é o próprio Kei Kamara, herói da classificação. O atacante começou sua trajetória no Kallon FC, mas migrou aos Estados Unidos através de um programa para refugiados quando tinha 16 anos. O jogador de 36 anos fez sua carreira na MLS, com destaque especialmente no Sporting Kansas City e no Columbus Crew. Está sem clube desde que deixou o Minnesota United em 2020, mas ainda assim levou seu país de volta à CAN.
Além de Serra Leoa, as outras seleções participantes da CAN 2021 são: Camarões, Senegal, Argélia, Mali, Tunísia, Burkina Faso, Guiné, Comores, Gabão, Gâmbia, Egito, Gana, Guiné Equatorial, Zimbábue, Marrocos, Costa do Marfim, Nigéria, Sudão, Malaui, Mauritânia, Etiópia, Guiné-Bissau e Cabo Verde. O torneio, a princípio, acontecerá em Camarões. Porém, por conta da situação da pandemia no país e de conflitos entre regiões, a CAF montou um comitê estratégico para possibilitar a realização do torneio a partir de janeiro.