Trivela
·10 de abril de 2023
Trivela
·10 de abril de 2023
Uma das partidas mais emocionantes da história recente da Champions League completa dez anos neste domingo. O Borussia Dortmund não terminou com a Orelhuda naquela temporada de 2012/13, mas a classificação sobre o Málaga nas quartas de final é daquelas vitórias contadas de geração para geração de torcedores. Seria uma noite muito especial no Signal Iduna Park, a começar pelo mosaico célebre nas arquibancadas, talvez o mais famoso entre tantos do BVB. Depois, por tudo o que aconteceu em campo. O Málaga tinha a classificação nas mãos, ao fazer 2 a 1 aos 37 do segundo tempo, após o 0 a 0 em La Rosaleda. O Dortmund necessitava do triunfo e conseguiu, com um gol aos 46 e outro aos 48 do segundo tempo, eternizando os palpitantes 3 a 2 no placar. Para nunca mais se esquecer.
É verdade que, em tempos de VAR, o desfecho daquela partida seria outro. O gol da classificação do Dortmund seria anulado, assim como o segundo anotado pelo Málaga. Independentemente disso, o que fica gravado é a emoção que se proporcionou no mais alto nível, com uma reação monumental entre dois times que, cada um à sua medida, marcaram a história de ambos os clubes. Por aquele tento memorável, Felipe Santana nunca mais deveria pagar ingressos no Signal Iduna Park. Garantiu uma das mais vibrantes comemorações da história da Muralha Amarela, e isso não é pouco.
Para relembrar, resgatamos quatro textos publicados naquele dia, sobre a noite especial em Dortmund. Confira:
Por Felipe Lobo
Aos 44 minutos do segundo tempo, o rosto dos torcedores do Borussia Dortmund era de desespero. O time perdia por 2 a 1 e estava sendo eliminado da Liga dos Campeões pelo azarão Málaga, mesmo jogando em casa. Só que aí o futebol mostrou que há momentos que nada pode ser previsto. O Manchester United de 1999 já tinha mostrado isso. Em 2013, o Dortmund tratou de marcar duas vezes nos acréscimos, vencer por 3 a 2 e chutar a zebra e a amarelada em casa para bem longe.
A vitória é daquelas de deixar o torcedor maluco no estádio, comemorando quase sem acreditar. Não bastou o time ter mais posse de bola – no primeiro tempo, muito mais – e estar mais na região perigosa do adversário. O BVB não era eficiente, criava poucas chances de verdade para marcar. E ainda viu o Málaga jogar como um time de veteranos na Liga dos Campeões, marcar um gol na maior e fazer os aurinegros sofrerem. O gol de empate foi fruto de um passe fantástico de Reus.
O segundo tempo teve algumas boas chances para o Dortmund. E o goleiro Willy Caballero parecia que sairia como o herói da classificação. A excelente geração de jovens jogadores alemães parecia que pararia novamente no meio do caminho. Reus e Götze são jogadores de alto gabarito e que já brilham pela seleção alemã, que sofre com as eliminações em fases decisivas. Os aurinegros pareciam que seguiriam pelo mesmo caminho. Mas os últimos minutos mudaram tudo.
Nos acréscimos, já no desespero e quase sem organização, Reus empatou o jogo na marca de 45 minutos. Era insuficiente. Parecia que seria suficiente só para manter a invencibilidade. Mas foi mais do que isso. Na pressão, o Dortmund arrancou o empate em um gol confuso, de pebolim e muito sofrido com o brasileiro Felipe Santana.
Houve ainda dois erros de arbitragem. No segundo gol do Málaga, Eliseu estava impedido. No gol do Dortmund, Felipe Santana também estava em impedimento quando tocou para o gol, já em cima da linha. Ninguém se matou de reclamar por isso.
O Dortmund mostra que tem colhões. Mostrou força para sair de uma situação de desespero. Claro, sorte também conta e é inegável, mas o BVB consegue uma reviravolta que certamente dará uma força enorme para a fase semifinal. E mostra que o elenco pode não ter a experiência de diversas participações seguidas na Liga dos Campeões, mas tem, além da qualidade, colhões, o que certamente deixou a fanática torcida feliz. E ninguém ganha a Liga dos Campeões sem isso. O Chelsea que o diga.
Torcedores do Dortmund fizeram um mosaico combinado com um painel sensacional (Foto: divulgação/Borussia Dortmund)
Marco Reus foi muito bem no jogo. Foi decisivo em todos os gols do Dortmund, participando dos três e sendo um jogador determinante para a sua equipe. Algo que o Dortmund precisou.
Uma defesa de Weidenfeller aos dois minutos do segundo tempo, em uma cabeçada de Joaquín. Um segundo gol do Málaga naquele momento poderia causar um descontrole no time e uma desvantagem difícil de ser tirada.
25’/2T: GOL DO MÁLAGA! Depois de uma boa troca de passes do ataque do Málaga, com Júlio Baptista passando para Isco até que a bola chegou a Joaquín finalizar de fora da área, no cantinho.
40’/1T: GOL DO BORUSSIA DORTMUND! Em contra-ataque rápido, com assinatura do time aurinegro, Götze lançou Reus, que deu um passe espetacular de letra para Lwandowski. O passe desarmou a defesa e o centroavante passou pelo goleiro e marcou.
37’/2T: GOL DO MÁLAGA!Em um contra-ataque rápido pela esquerda, Júlio Baptista recebeu pela esquerda e chutou. Eliseu, livre, completou para o gol, em posição de impedimento, mas validado pelo árbitro.
46’/2T: GOL DO BORUSSIA DORTMUND! Depois de um bate rebate dentro da área, Marco Reus pegou o rebote e marcou o gol de empate para o Dortmund.
48’/2T: GOL DO BORUSSIA DORTMUND! Em um cruzamento, a bola caiu nos pés de Reus, que foi no bate rebate dentro da área, até que a bola sobrou para Felipe Santana, impedido, marcar o gol da classificação e levar o estádio à completa loucura, depois de um estado de tensão enorme.
O Dortmund venceu todos os jogos que fez em casa nesta temporada na Liga dos Campeões. Cinco jogos, cinco vitórias. E segue sendo a única equipe invicta na competição.
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O espetáculo de praxe nas arquibancadas certamente contagiou o Borussia Dortmund, que deixou de lado os pudores para buscar na raça a classificação contra o Málaga
*Por Leandro Stein
O espetáculo nas arquibancadas começou antes de a bola rolar. Acostumada a abarrotar o Signal Iduna Park, a torcida do Borussia Dortmund soube amplificar o apoio incondicional demonstrado a cada jogo. E a atmosfera certamente contagiou os aurinegros dentro de campo. A virada milagrosa contra o Málaga, com um gol aos 46 e outro aos 48 minutos do segundo tempo, veio graças à vibração do time de Jürgen Klopp. Um brio incomum para uma geração alemã acostumada a falhar nos momentos decisivos.
A qualidade técnica do Nationalelf, do Bayern Munique ou do Borussia Dortmund é irrefutável. Porém, os problemas na hora H se tornaram uma constante para explicar a falta de títulos nos últimos anos. Foi assim com a seleção, pelo menos semifinalista nas duas últimas Copa do Mundo e nas duas últimas Eurocopas. Também com o Bayern, que morreu na praia em duas das últimas três edições da Liga dos Campeões. E tinha sido demonstrada de maneira precoce pelo Dortmund, eliminado na primeira fase da Champions 2011/12.
O sinal de amadurecimento dos aurinegros tinha surgido já na primeira fase desta Liga dos Campeões. Não apenas sobreviveram ao temido “grupo da morte”, como também deixaram para trás Real Madrid, Ajax e Manchester City. E, depois da classificação tranquila contra o Shakhtar Donetsk, a força de vontade acabou pesando contra o Málaga.
Enquanto a classificação parecia questão de detalhe, o Dortmund continuou pecando pelo desleixo. A equipe desperdiçou um caminhão de gols, especialmente com Mario Götze e Robert Lewandowski, enquanto Roman Weidenfeller fazia milagres para segurar o resultado. Até que Eliseu deixou os boquerones novamente em vantagem e obrigou uma atitude mais incisiva dos alemães.
Neste momento, três nomes se sobressaíram. Marco Reus foi quem mais buscou o jogo e, depois do passe magistral no primeiro tento, foi condecorado com o segundo gol. Felipe Santana foi improvisado como centroavante e seu espírito de luta foi vital na virada. E Nuri Sahin, que saiu do banco e originou os dois gols decisivos com seus lançamentos.
Pela organização e pelo empenho defensivo, o Málaga teve seus méritos pela classificação. Um feito e tanto para um estreante na Liga dos Campeões, que vive grave crise financeira desde o começo da temporada. Não deu. Pesou a raça do Dortmund. Uma vitória que certamente ficará marcada na história do clube. E, quem sabe, também pode significar um ponto de virada aos alemães na busca pelas taças que faltaram nos últimos anos. Nada mais justo para recompensar a devoção de praxe nas arquibancadas.
O grito de “amarelão” já estava na boca dos babacas para explicar a derrota. Mas o time mostrou que de amarelo só tem a camisa
*Por Pedro Venancio
Um jogo de futebol tem 90 minutos como tempo regulamentar. Em nenhum deles o Borussia Dortmund esteve classificado. Aliás, em nenhum deles o Dortmund mereceu a vaga. Fez um jogo igual ao Málaga, mas não teve o ímpeto de outros jogos e iria jogando uma campanha espetacular na Liga dos Campeões pelo ralo. Mas os acréscimos, esses bandidos, também fazem parte do jogo. E quando sai um golzinho ali na base do abafa, a festa é bonita, mas relativamente comum. Se saem dois, é a catarse, o êxtase. Quase um orgasmo coletivo.
O gol sepultou o discurso de qualquer babaca que compra em qualquer esquina: o do “Amarelão”. Essa tese vagabunda, simplista e de fácil acesso, utilizada com a devida canalhice e oportunismo sempre com atletas brasileiros em Jogos Olímpicos, e que pode ser colada em qualquer time derrotado. E já foi com o Dortmund. Jamais uma equipe boa pode ser imatura, azarada, ou mesmo inferior a um adversário vistoso tecnicamente. É amarelão e pronto.
Mas o Dortmund mostrou que, de amarelo, só tem a camisa. Por mais esforço que tenha feito Mario Götze para jogar a classificação por terra com seus 800 gols perdidos. Por mais problemas de lesão que o time teve durante a temporada, sobretudo com Hummels e Blaszczykowski. Em suma, o time tirou as fraldas da imaturidade. Fez uma primeira fase brilhante e, mesmo que perdesse para o Málaga, já havia mostrado que era capaz de coisas espetaculares. Em caso de derrota, a forma como ela aconteceu seria muito mais negativa do que o saldo da campanha em si.
Falar do “dedo do treinador” nesse momento é outro clichê fácil de comprar. Jürgen Klopp colocou Nuri Sahin em campo e o turco entrou muito bem. Meteu também Felipe Santana de centroavante e o brasileiro decidiu o jogo. Aliás, se há alguma conclusão lógica a ser feita nessa partida é a de que Felipe Santana é melhor do que Schieber, o inoperante e caro reserva do ataque aurinegro. E é superior como centroavante, posição na qual o cidadão não precisa saber jogar bola, e sim fazer gols.
Klopp, no entanto, não fez nenhuma mágica. Agiu no desespero e foi ajudado pela sorte. Em 99% dos casos, essa tática de ir para o desespero dá errado e não surte efeito quando o time precisa só de um gol. No caso da necessidade ser de dois gols, a coisa é ainda pior. Tudo bem, algum bitolado qualquer pode dizer que Santana, como centroavante, “acabou com a sobra” da defesa do Málaga, e que isso foi fundamental para que os dois gols acontecessem.
Mas é óbvio que o fundamental para a virada foi o time jamais ter deixado de acreditar. Correr feito um louco nos minutos finais e conseguir dois gols em duas bolas jogadas na área. É bem verdade que o último foi impedido, assim como o segundo do Málaga foi marcado em impedimento. Mas é claro que nenhum árbitro do mundo marcaria alguma irregularidade num lance daqueles. Se fosse na Libertadores, sairia escoltado por uns 200 policiais até o aeroporto e ainda assim correria perigo.
No fim, a classificação foi merecida. Pela reação, pela raça, por tudo. É a recompensa chegando para um time que encantou a Alemanha nos últimos três anos e foi capaz de enfrentar o Bayern Munique durante dois deles. E mesmo sendo azarão na Europa, pode surpreender e beliscar sua segunda Liga dos Campeões.
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*Por Felipe Lobo
A classificação absolutamente maluca do Borussia Dortmund contra o Málaga, na Liga dos Campeões, deixou o técnico Jürgen Klopp sem saber descrever como se sente. Com dois gols nos acréscimos, o treinador do time que ganhou os dois títulos alemães nas últimas duas temporadas até brincou que a emoção foi tão grande que ele precisa ir ao médico.
“Eu não consigo explicar o que aconteceu comigo depois disso [o gol da virada] – eu acho que eu preciso ver um médico. Eu sinto como se nós tivéssemos ganhado um título”, declarou o técnico. “Meus assistentes e eu estávamos olhando um para o outro em choque nos vestiários dizendo ‘isso é maluco’. É a melhor coisa que eu já senti”, disse Klopp.
Michael Zorc, diretor esportivo do Dortmund, também falou sobre a emoção da classificação insana do Dortmund. “É difícil colocar em palavras. Nós tivemos muita sorte nesta noite. Nós perdemos muitas chances, mas o time continuou acreditando. Não foi o nosso melhor jogo nesta noite, a abordagem tática do Málaga foi fora de série, mas olhando os dois jogos, eu acho que nós merecemos avançar”, afirmou o dirigente.
A história da classificação do Dortmund parece um filme. Ao menos é assim que Neven Subotic vê. “Eu não posso acreditar. Esse é o momento mais maluco na minha carreira no futebol. Foi uma partida especial para todo mundo, para nós e para os torcedores”, declarou. “Até agora, nossa história tem sido como um filme de Hollywood. Espero que tenha um final de Hollywood também”.
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