Duro duelo com o Club Brugge antecipou vexame do Milan na Copa dos Campeões de 1990-91 | OneFootball

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Calciopédia

·22 de outubro de 2024

Duro duelo com o Club Brugge antecipou vexame do Milan na Copa dos Campeões de 1990-91

Imagem do artigo:Duro duelo com o Club Brugge antecipou vexame do Milan na Copa dos Campeões de 1990-91

Em 2006, Zinédine Zidane mostrou para o mundo inteiro que até mesmo craques da mais alta estirpe podem deixar o seu time e a sua torcida na mão por conta de bobagens. Em seu último jogo como atleta, na final da Copa do Mundo daquele ano, o francês desferiu uma cabeçada em Marco Materazzi e, dos vestiários, viu a França ser derrotada pela Itália. Bem antes, em 1990, algo similar aconteceu com Marco van Basten, ídolo do Milan. O atacante perdeu a serenidade e foi expulso num duro duelo com o Club Brugge, na Copa dos Campeões, e acabou desfalcando os rossoneri num confronto ainda mais complicado, contra o Olympique de Marseille. Sem o holandês em campo, o Diavolo foi dominado e apelou para o tapetão na expectativa de passar de fase.

O que o Milan fez em Marselha, no início de 1991, foi chocante especialmente se considerarmos que o Diavolo era o time do momento àquela altura. Comandado pelo revolucionário Arrigo Sacchi, havia faturado a Serie A, em 1988, e somado dois títulos consecutivos na Copa dos Campeões, contra Steaua Bucareste, em 1989, e Benfica, em 1990. Além disso, ganhou tanto a Copa Intercontinental, contra o Atlético Nacional, quanto a Supercopa Uefa, contra o Barcelona, em 1989 – e repetiriam a dose ante Olimpia e Sampdoria, antes de 1990 terminar. Foi com esse poderoso cartel que os rossoneri encararam o Club Brugge na principal competição de clubes da Europa, em outubro de 1990.


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Não dá para dizer que o time belga tinha tanto cartaz assim, mas a verdade é que o futebol da Bélgica vivia seu período dourado naqueles tempos. A seleção tinha emplacado uma geração fortíssima, que foi vice-campeã da Euro 1980, disputada na Itália, e quarta colocada da Copa do Mundo de 1986, realizada no México. Ademais, os clubes do país engataram sucessivas boas campanhas nos torneios continentais, com títulos conquistados na Recopa e na Copa Uefa, por exemplo. O Club Brugge chegou a bater na trave um pouquinho antes, com os vices da atual Liga Europa, em 1976, e da Copa dos Campeões, em 1978 – sendo derrotado pelo Liverpool em ambas as ocasiões.

O embate entre duas das grandes forças do futebol europeu naquele momento ocorreria nas oitavas de final da Copa dos Campeões, antecessora da Champions League, que era disputada inteiramente em mata-mata à época – e dela somente participavam os vencedores das taças nacionais e o detentor da orelhuda. O Milan, por ter vencido a edição anterior do torneio, começou o seu caminho exatamente naquela fase, enquanto o Club Brugge eliminou o Lillestrøm, da Noruega, por um placar agregado de 3 a 1 em etapa preliminar.

O jogo de ida das oitavas aconteceu em San Siro, no final de outubro de 1990. Sacchi mantinha o seu habitual 4-4-2, com nomes de muito destaque na história do Milan, como a fortíssima zaga formada por Mauro Tassotti, Alessandro Costacurta, Franco Baresi e Paolo Maldini, o meia Roberto Donadoni e o trio holandês composto por Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Van Basten. Já o Club Brugge era treinado por Georges Leekens, que foi jogador do time durante as campanhas de vice-campeonatos citadas acima, e contava com nomes de destaque da seleção belga, como o criativo capitão Jan Ceulemans e o vigoroso Franky Van der Elst.

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Em San Siro, Milan e Club Brugge fizeram jogo duro, em prévia do que ocorreria na Bélgica (Guerin Sportivo)

Num gramado em péssimo estado no Giuseppe Meazza, por conta do clima hostil de Milão, se imaginava um duelo bastante físico. O Club Brugge de Leekens foi a campo com um forte esquema defensivo, no qual Van der Elst e o macedônio Cedomir Janevski tinham preponderância. Assim como o zagueiro Pascal Plovie, responsável por marcar Van Basten, o grande nome dos mandantes.

Entretanto, o que chamou atenção nos seis minutos iniciais foi o árbitro austríaco Hubert Forstinger, que suscitou reclamações dos rossoneri. O apitador não entendeu como faltoso um tranco do goleiro Dany Verlinden sobre Van Basten, que tentava driblá-lo, e não preservou a lei da vantagem depois que Janevski errou feio na saída de bola e deu um carrinho sobre Gianluca Gaudenzi. Àquela altura, o atacante holandês já estava na cara do gol, sozinho.

Durante o primeiro tempo, o Milan tentou fazer o seu jogo centrado em trocas de passes, desafiando o gramado revirado, com tufos soltos por toda parte. Até criou perigo, em chutes cruzados de Donadoni e Van Basten, bem defendidos pelo goleiro Verlinden. Mas era pouco e o Club Brugge, bem postado, levava a melhor. Além disso, os belgas picotavam a partida como podiam – ao apito final, as estatísticas revelariam absurdas 34 faltas dos visitantes contra apenas seis dos mandantes.

Sacchi voltou do intervalo com Carlo Ancelotti no lugar de Gaudenzi, no intuito de tornar mais fluidas as dinâmicas de meio-campo do seu time. De fato, Carletto passou a reger os rossoneri, mas na busca por espaços para que o Milan conseguisse efetuar cruzamentos à área em melhores condições. E foi assim que algumas grandes chances saíram. Maldini alçou a bola na cabeça de Gullit, que parou em Verlinden. Mais tarde, após um balão de Tassotti, Rijkaard pegou a sobra, soltou um foguete e carimbou o travessão.

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Van Basten fazia uma ótima partida na Bélgica, mas perdeu a cabeça e jogou a atuação no lixo (Arquivo/AC Milan)

O Club Brugge, em suas raras chegadas, também buscava a bola aérea, utilizando o ítalo-australiano Frank Farina como referência. Andrea Pazzagli, contudo, pouco trabalhava. Verlinden, não: além de ter agasalhado um bom chute de Ancelotti, teve de ficar ligado até o último lance, quando o Milan tentou perfurar a defesa numa tabelinha aérea. Van Basten ficou cara a cara com o arqueiro, que efetuou saída rasteira. Na sobra, Alberico Evani bateu bem, mas Lorenzo Staelens surgiu para cortar quase em cima da linha e sacramentar o empate sem gols.

Duas semanas depois, Club Brugge e Milan voltaram a se enfrentar no acanhado Jan Breydelstadion. No caldeirão belga, o roteiro foi muito similar ao de San Siro. Van Basten tentava usar a sua habilidade para se livrar da marcação individual de Plovie, os italianos lutavam contra a forte defesa dos Blau-Zwart e os mandantes, além de cometerem muitas faltas, aguardavam a chance de engatar um contra-ataque.

O primeiro tempo na Bélgica foi menos empolgante do que o da Itália, ainda que os donos da casa tenham conseguido sair mais para o jogo e empenhado Pazzagli. Centrando suas ações no poder de criação de Van Basten, o Milan, por sua vez, ameaçou realmente em duas ocasiões: quando o camisa 9 caiu pela esquerda e rolou na medida para Gullit, de boa posição, mandar para longe, e no momento em que o atacante mudou de lado e encontrou um bonito passe por elevação para Rijkaard, que terminou antecipado por Staelens.

Logo no início do segundo tempo, porém, o Milan achou seu gol. E das únicas formas que pareciam possíveis: com uma jogada que passasse pelos pés de Van Basten e com um toque de mágica para que o ferrolho belga fosse superado. Aos 47 minutos, o camisa 9 recebeu de Gullit na meia-lua, ciscou e rolou para Angelo Carbone acertar um tirambaço no ângulo de Verlinden.

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A ingenuidade de Van Basten não impediu que o Milan festejasse ao apito final – embora essa alegria fosse durar pouco (imago/Buzzi)

Com a vantagem do Milan, o jogo se tornou ainda mais faltoso – e Van Basten apanhou bastante. O holandês chegou a ter uma boa oportunidade após ajeitada do compatriota Rijkaard, mas parou em Verlinden. Impedimentos, poucas oportunidades e muitas interrupções se tornaram a tônica da partida até os 84 minutos, quando um lance aparentemente banal ganhou ares históricos.

Baresi buscou Van Basten com um lançamento longo que não daria frutos, mas o holandês, nervoso com a marcação pesada, desferiu uma cotovelada no rosto de Plovie. O árbitro escocês David Syme expulsou o atacante e isso não mudou os rumos da eliminatória: o Milan superou a dura retranca do Club Brugge e se classificou. O problema é que teria de enfrentar o emergente Marseille, campeão francês, sem um dos maiores craques de sua história: o Cisne de Utrecht foi suspenso por dois jogos.

Sem o holandês, o Milan empatou com o Marseille por 1 a 1 em San Siro e, no Vélodrome, se viu dominado pelos franceses, que venciam por 1 a 0 até o final da partida. Faltando dois minutos para o fim do tempo regulamentar, uma torre de refletores se apagou. Quando o jogo seria retomado, o diretor Adriano Galliani invadiu o campo e ordenou que os rossoneri fossem para os vestiários. O executivo do Diavolo queria levar a eliminatória ao tapetão, sonhando com uma decisão favorável da Uefa, mas o seu tiro saiu pela culatra: além de ter sua queda confirmada, o time italiano foi suspenso das competições continentais por um ano.

Com isso, o Milan também perdeu a melhor versão de Van Basten em campos europeus. O holandês já havia feito muito pelos rossoneri, mas teria sua melhor média de gols pelo clube em 1991-92, quando seu desempenho lhe fez ser premiado com a Bola de Ouro pela terceira vez. Naquela temporada, produziu 0,76 tento por jogo, contra 0,70 por partida em 1988-89. Vale destacar, em um parêntese, que o Club Brugge, neste mesmo ano em que Marco pode brilhar apenas nos gramados da Itália, foi semifinalista da Recopa Uefa, ratificando o bom trabalho de Leekens.

Em 1992-93, o Diavolo, campeão italiano, disputou a Champions League e o Cisne de Utrecht fez o que pode para render o máximo, ainda que o seu tornozelo direito não permitisse mais que alcançasse tal nível. E qual seria a última aparição da carreira profissional de Van Basten, interrompida precocemente? Uma derrota para o Marseille, na decisão continental daquela temporada. Triste ironia.

Milan 0-0 Club Brugge

Milan: Pazzagli; Tassotti, Costacurta, Baresi, Maldini; Donadoni, Gaudenzi (Ancelotti), Rijkaard (Massaro), Evani; Gullit, Van Basten. Técnico: Arrigo Sacchi. Club Brugge: Verlinden; Cossey, Janevski, Plovie, Borkelmans (Crève); Beyens, Van der Elst, Staelens, Ceulemans; Booy, Farina. Técnico: Georges Leekens. Árbitro: Hubert Forstinger (Áustria) Local e data: estádio Giuseppe Meazza, Milão (Itália), em 24 de outubro de 1990

Club Brugge 0-1 Milan

Club Brugge: Verlinden; Disztl, Janevski, Plovie, Borkelmans (Querter); Crève (Beyens), Van der Elst, Staelens, Ceulemans; Booy, Farina. Técnico: Georges Leekens. Milan: Pazzagli; Tassotti, Costacurta, Baresi, Maldini; Carbone (Gaudenzi), Ancelotti, Rijkaard, Evani; Gullit (Massaro), Van Basten. Técnico: Arrigo Sacchi. Gol: Carbone (47′) Cartão vermelho: Van Basten Árbitro: David Syme (Escócia) Local e data: Jan Breydelstadion, Bruges (Bélgica), em 7 de novembro de 1990

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