Em 2010, uma Juve no fundo do poço encarou um pressionado Manchester City na Liga Europa | OneFootball

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Calciopédia

·11 de dezembro de 2024

Em 2010, uma Juve no fundo do poço encarou um pressionado Manchester City na Liga Europa

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Pode carimbar: o torcedor da Juventus que gostar de lembrar das temporadas 2009-10 e 2010-11 deve ter pelo menos um quê de masoquismo entre seus prazeres particulares. Para essas pessoas apegadas a um dos piores momentos já vividos pela Velha Senhora, portanto, nós recordaremos a segunda vexaminosa campanha bianconera na Liga Europa.

Sobre a primeira, encerrada com goleada aplicada pelo Fulham, nós já falamos. Agora, é hora de rememorarmos a vergonha que a Juve passou num grupo facílimo. Seis empates resultaram na precoce eliminação numa chave que tinha Lech Poznan, Red Bull Salzburg e um Manchester City que já era bilionário e precisava lidar com fracassos em sequência, por não traduzir os cifrões em conquistas e futebol bem jogado.


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Os problemas da Juventus começaram com o envolvimento de diretores no Calciopoli, escândalo de manipulação de resultados que sacudiu a Itália em 2006. A agremiação foi rebaixada à Serie B como punição e, apesar de ter retornado à elite de imediato e ter conseguido a classificação para a Champions League nas duas temporadas subsequentes, os efeitos colaterais permaneceram. Além de ter afetado o poder de investimento da Velha Senhora, que fez – em geral – contratações mais modestas naquele período. Como resultado, a equipe passou por solavancos em 2009-10 e 2010-11, quando viveu o vexame em Craven Cottage e emendou duas sétimas posições na Serie A. Na segunda das campanhas, ficou sem vaga na Liga dos Campeões pela primeira vez em 20 anos.

Evidentemente, a vergonha na Liga Europa de 2010-11 também entra neste pacote. Naquela ocasião, a Juve não foi vítima de uma goleada rotunda, como a sofrida pelo Fulham, mas entregou o vexame a conta-gotas, ao não vencer Lech Poznan e Salzburg, somar seis empates e cair na fase de grupos de um torneio de segunda prateleira em nível continental. Ali, a crise se aprofundou e motivou novo senso de urgência na diretoria. Afinal, era o primeiro ano de Andrea Agnelli como presidente.

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Num dos raros momentos de felicidade da Juventus naquela Liga Europa, Iaquinta abriu o placar sobre o Manchester City (Getty)

O quarto Agnelli a ser presidente da Juventus foi beber na fonte da Sampdoria, que se classificou para a Champions League em 2010. O cartola buscou o diretor esportivo Giuseppe Marotta – que teria Fabio Paratici como parceiro – e também o técnico Luigi Delneri. As contratações de jogadores, porém, foram mais modestas: Fabio Quagliarella, Leonardo Bonucci, Alberto Aquilani, Simone Pepe, Milos Krasic, Marco Storari e Jorge Martínez foram os principais reforços. O elenco bianconero, até então, tinha como destaques Alessandro Del Piero, Gianluigi Buffon, Giorgio Chiellini e Claudio Marchisio. Sem dúvidas, o suficiente para avançar na Liga Europa. E assim foi nas fases preliminares, com vitórias sobre Shamrock Rovers, da Irlanda, e Sturm Graz, da Áustria.

Apesar da pressão por resultados, a Juventus tinha o Calciopoli como álibi. O Manchester City, principal rival no Grupo A da Europa League, não. Adquirido em 2008 pelo multibilionário Abu Dhabi United Group, dos Emirados Árabes Unidos, o clube inglês recebeu aportes financeiros generosos e fez contratações de peso, como a do artilheiro Carlos Tevez, principalmente, e não conquistou nenhum título em suas duas primeiras temporadas. O técnico italiano Roberto Mancini, que assumiu o cargo em dezembro de 2009, tinha a missão de inverter essa rota inglória.

Em meados de setembro de 2010, os dois times estrearam pela Liga Europa e os desfechos não poderiam ser mais díspares. Enquanto o Manchester City ganhou do Salzburg por 2 a 0 e com tranquilidade, na Áustria, a Juventus protagonizou a façanha de levar uma tripletta do letão Artjoms Rudnevs, do Lech Poznan, numa partida de roteiro rocambolesco. Os poloneses abriram vantagem de dois gols, os italianos viraram e, nos acréscimos, cederam o empate. Na segunda rodada, a visita aos Citizens ganhava mais importância para a trupe de Delneri.

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Inoperante, Martínez foi reflexo de uma Juventus pouco agressiva (Getty)

No momento do confronto, no fim de setembro de 2010, a Juventus tinha o melhor ataque da Serie A e o Manchester City, a melhor defesa da Premier League. Com as ausências de Aquilani e Quagliarella, que não foram inscritos na Liga Europa por terem jogado a fase preliminar daquela edição do torneio por seus antigos times, Delneri foi obrigado a fazer algumas alterações em seu habitual 4-4-2. Para o meio, optou por Mohamed Sissoko e Marchisio, deixando Felipe Melo no banco. E na frente, lançou sua única opção: Vincenzo Iaquinta. Do outro lado, Mancio optou por um 4-3-1-2, com Tevez e Emmanuel Adebayor no comando do ataque e Yaya Touré e Patrick Vieira como principais nomes no centro do gramado.

O jogo começou com uma Juventus mais eficiente, bem postada em campo e levando perigo ao gol de Joe Hart. Já na segunda oportunidade, aos 10 minutos, Iaquinta fugiu de sua maior característica – ser um nome de área – e, ao cair pela ponta esquerda, decidiu arriscar chute de longe. A trajetória da bola surpreender o goleiro inglês e, assim, a Velha Senhora abriu o placar.

A equipe bianconera continuou melhor por mais alguns minutos, antes de deixar o City trabalhar a bola e começar a assustar. Aos 34, Gareth Barry acertou a trave de Alexander Manninger, arqueiro da Juve nas copas, e mostrou como o gol dos mandantes estava amadurecendo. O tento saiu logo em seguida, com Adam Johnson, que aproveitou um passe sensacional de Yaya Touré, que rasgou a defesa e encontrou o meia inglês cara a cara com o goleiro austríaco.

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Felipe Melo foi um dos titulares que participaram do jogo de volta contra o City, quando a Juve já havia sido eliminada (Getty)

Apesar de ter passado por alguns apuros no primeiro tempo, na segunda etapa a Juve apresentou uma consistência defensiva não vista até o momento naquela temporada. Bonucci e, principalmente, Chiellini foram muito bem nos combates aos adversários e Sissoko também executou um importante papel na contenção do forte meio-campo inglês – assim como Felipe Melo, quando saiu do banco. Del Piero, por sua vez, ainda carimbou o travessão de Hart no apagar das luzes.

Faltou mais intensidade ao ataque para que a Velha Senhora saísse com um resultado melhor. O uruguaio Martínez foi inoperante pela esquerda e Krasic não conseguiu aparecer bem como em outras oportunidades, pela direita. Um pecado mortal, já que a chegada pelas pontas era essencial para que o 4-4-2 de Delneri fosse efetivo no ataque. Do outro lado, Mancini optou por afastar Tevez do gol e apostar em Adebayor no comando do setor ofensivo, mas não foi feliz na escolha. O Manchester City jogou melhor depois que David Silva substituiu o togolês, permitindo que o argentino ficasse mais centralizado.

O ponto fora de casa foi comemorado pelos juventinos e, certamente, foi o único resultado que não foi passível de críticas naquela edição da Liga Europa. Afinal, a situação da Velha Senhora não era tranquila, por conta do péssimo resultado contra o Lech Poznan, e as desconfianças se justificariam nos meses seguintes.

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O brilho de Krasic por poucos meses e o solitário gol do pouco talentoso Giannetti foram sintomas de uma Juve perdida (Getty)

Na Serie A, a ótima fase de Krasic na metade inicial da temporada chegou a fazer a Juventus sonhar em brigar pelo título – ou, pelo menos, por vaga na Champions League. Em contrapartida, os tropeços subsequentes na Liga Europa fizeram com que a equipe focasse no Italiano: empates sucessivos contra o Red Bull Salzburg, além de uma igualdade por 1 a 1 na Polônia, em que Rudnevs voltou a ser carrasco, levaram à eliminação precoce dos bianconeri. Na última rodada do Grupo A, Manchester City e Lech Poznan já estavam classificados.

Assim, a Juventus escalou um time alternativo para encarar o mistão do Manchester City em casa, num duelo que servia apenas para cumprir tabela – o que, por si só, já era razão para sentir vergonha. Naquela noite, entraram no gramado do Olímpico de Turim jogadores que passaram muito longe de desenvolver carreiras vitoriosas. Na equipe italiana, atuaram Niccolò Giannetti, Vincenzo Camilleri, o liechtensteinense Marcel Büchel e Filippo Boniperti, neto da lenda Giampiero Boniperti; na formação inglesa, jogaram o liberiano Alex Nimely e Chris Chantler. Não conhece nenhum deles? Naturalmente, você tem o nosso perdão.

Num dos jogos mais inúteis da história da Juventus, o primeiro gol saiu aos 43 minutos, quando o capitão bianconero Del Piero tirou Micah Richards, dono da braçadeira dos Citizens, para dançar na grande área e cruzou para Giannetti, que se antecipou a Dedryck Boyata e guardou. Foi o único tento do atacante com a camisa bianconera: depois, ele foi fazer uma carreira modesta por clubes da Serie B.

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Sempre disponível, Del Piero esteve em campo num dos jogos mais inúteis da história da Juve (Getty)

No segundo tempo, Nicola Legrottaglie foi bloqueado na hora H, dentro da área, e por pouco não fez mais um para a Velha Senhora. Mais tarde, Del Piero cobrou falta por cima da meta defendida por Shay Given. Aí, aos 77 minutos, o Manchester City empatou: Johnson encontrou o brasileiro Jô no meio da zaga bianconera e ele não perdoou. Fim de papo.

A eliminação na Liga Europa coincidiu com a queda de rendimento da Juventus na Serie A. Ou seja, quem esperava que a equipe pudesse focar no campeonato, se enganou: com apenas sete vitórias nos 21 jogos que disputou em 2011, a Velha Senhora despencou na tabela e, após virar o ano em quarto, terminou o certame apenas na sétima posição, sem vaga em competições europeias. O Manchester City, por sua vez, também não brilhou muito. Na Liga Europa, o time de Mancini enfiou 8 a 1 no agregado contra o Besiktas, na fase de 16-avos de final, mas foi eliminado pelo Dynamo Kyiv (2 a 1), nas oitavas. Na Premier League, os Citizens ficaram com a terceira posição. O título da Copa da Inglaterra, o primeiro da gestão emiradense, serviu apenas para aplacar decepções.

Para Juventus e Manchester City, tudo mudou em 2011-12. Antonio Conte voltou a Turim e deu início à hegemonia dos bianconeri, que emendaram nove títulos consecutivos da Serie A e outras 11 taças, entre a Coppa Italia e a Supercopa Italiana. Na Inglaterra, Mancio encontrou o caminho das vitórias na mesma temporada e, na última rodada da Premier League, pôde fazer os Sky Blues comemorarem seu primeiro troféu da competição desde 1968.

Manchester City 1-1 Juventus

Manchester City: Hart; Boateng (Milner), K. Touré, Kompany, Zabaleta (Boyata); Y. Touré, Vieira, Barry; Johnson; Tevez, Adebayor (Silva). Técnico: Roberto Mancini. Juventus: Manninger; Grygera, Bonucci, Chiellini, De Ceglie (Motta); Krasic (Felipe Melo), Sissoko, Marchisio, Martínez (Pepe); Del Piero, Iaquinta. Técnico: Luigi Delneri. Gols: Johnson (37′); Iaquinta (10′) Árbitro: Eduardo Iturralde González (Espanha) Local e data: City of Manchester Stadium, Manchester (Inglaterra), em 30 de setembro de 2010

Juventus 1-1 Manchester City

Juventus: Manninger; Grygera, Legrottaglie, Chiellini, Traoré (Boniperti); Krasic (Camilleri), Felipe Melo, Sissoko, Pepe; Del Piero, Giannetti (Büchel). Técnico: Luigi Delneri. Manchester City: Hart; Richards, Boateng, Boyata, Bridge; Wright-Phillips (Chantler), Milner, Vieira, Johnson; Jô, Nimely (Zabaleta). Técnico: Roberto Mancini. Gols: Giannetti (43′); Jô (77′) Árbitro: István Vad (Hungria) Local e data: estádio Olímpico, Turim (Itália), em 16 de dezembro de 2010

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