Gazeta Esportiva.com
·23 de agosto de 2022
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·23 de agosto de 2022
Com o início da temporada do futebol na Ucrânia nesta terça-feira, apesar da invasão da Rússia, os jogadores de um clube de Mariupol esperam de alguma forma poder honrar uma cidade devastada pelo conflito e sob ocupação russa.
O FSC Mariupol treina agora em um minúsculo estádio de Demydiv, nos arredores de Kiev, mas a centenas de quilômetros de sua verdadeira casa, de onde os jogadores conseguiram escapar antes de os russos tomarem o controle por completo.
O presidente do clube, Oleksandre Yaroshenko, explicou à AFP que motiva seus atletas dizendo que eles não jogam apenas futebol, mas que fazem isso porque representam Mariupol.
Dois dias antes da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro, a equipe estava disputando um amistoso, lembra Yaroshenko, quando ninguém esperava um ataque. A partir desta data, as primeiras bombas começaram a cair sobre a cidade, cercada em poucos dias pelo exército russo.
Rapidamente, foram cortadas a energia e a água corrente. Nesse momento, os jogadores e treinadores se refugiaram na sede do FSC Mariupol.
Yaroshenko, que também é empresário no ramo da saúde, se ofereceu como voluntário para coordenar as instalações médicas da cidade, que sofria com bombardeios massivos e destrutivos.
Primeiro, ele pediu aos jogadores que deixassem Mariupol em um ônibus oficial estacionado a poucos metros do estádio. Mas, por medo de deixar seu entes queridos e serem atacados no caminho, a maioria se negou. Uma semana depois, mudaram de ideia e decidiram deixar a cidade.
“O objetivo era apenas deixar Mariupol. Não tínhamos planejado nos reencontrar em nenhum outro lugar”, conta Yaroshenko.
Inicialmente, a equipe só conseguiu chegar a Berdyansk, um município controlado pelo exército russo. De lá, cada um tomou um rumo diferente. Uns foram para a Geórgia e outros para a Polônia. Alguns inclusive para a anexada Crimeia.
O FSC Mariupol vai disputar a segunda divisão da Ucrânia e seu primeiro jogo da temporada será contra o Karpaty Lviv. O principal clube da cidade, o FC Mariupol, que joga a primeira divisão, recebeu autorização para não participar do campeonato nesta temporada e voltar na próxima.
A decisão de começar a temporada de futebol, apesar da guerra, partiu do próprio presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, com o objetivo de recuperar a moral da população. Os jogos serão realizados sem público por questões de segurança e muitos clubes não usarão seus estádios, mas sim áreas mais seguras no oeste e na região central do país.
A guerra teve um efeito devastador para os clubes ucranianos, especialmente os de menor expressão, que contam com um baixo orçamento. Apenas dez jogadores do Mariupol conseguiram chegar à nova base do clube, em um bairro de Kiev. O time foi completado por jovens de outras equipes, inclusive da região de Donetsk, também devastada pelo conflito.
“Atualmente, o mais importante é participar. Não sabemos se o campeonato poderá ser disputado até o final”, diz Yaroshenko.
Apesar de tudo, o dirigente diz que se orgulha de uma “equipe ideológica, construída com a filosofia de que somos Mariupol e que estamos vivos”.