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Jogada10

·05 de junho de 2022

Entre Hennessey e Kelsey

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O gol mais bonito da história da Copa do Mundo foi marcado contra Gales. Pelé aplicou um lençol mágico em Mel Charles e colocou no canto esquerdo de Jack Kelsey. O Brasil venceu por 1 a 0, em Gotemburgo, pelas quartas de final. Curiosamente, foi a última partida dos britânicos na competição. Faz 64 anos.

Pois eles estão de volta. E creia: não há muita diferença, na essência, entre o que Gales apresentou em 1958 e o que fez desde então. Aquela foi, sem dúvida, a melhor seleção de todos os tempos, que tinha como maior qualidade a capacidade de armar retrancas formidáveis, ou seja, sofrer o menor número de gols que pudesse, e aproveitar as raras oportunidades que surgissem. O time alcançou a segunda fase naquela Copa porque soube manter o equilíbrio: empatou três vezes, ganhou uma e perdeu outra. Marcou quatro e levou quatro bolas na rede. O técnico Jimmy Murphy era um especialista nisso. Enfrentou o campeão mundial e o vice, a Suécia, e só tomou um gol. De Pelé.


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Pelé marca, Brasil avança às quartas e elimina País de Gales. Foi o último jogo dos britânicos em Copas do Mundo. Eles agora estão de volta – AFP via Getty Images

Hoje não foi diferente. Teve menos chances. Anotou em uma única ocasião, em cobrança de falta do seu maior craque, Gareth Bale, que ainda contou com o desvio acidental do veterano Andriy Yarmolenko. E conseguiu evitar que a Ucrânia, um país envolvido numa guerra provocada por um psicopata, chegasse ao empate, com algumas ótimas intervenções de Wayne Hennessey.

Em 1958, não foi muito diferente. Havia Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé, para ficar só nesses, e Jack Kelsey, a exemplo do compatriota que agarra no Burnley, só não defendeu a pelota que o Rei, em mais um dos muitos momentos de gênio, transformou na vitória brasileira.

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Hennessey fechou o gol para Gales – Geoff Caddick /AFP via Getty Images

Rob Page, o treinador atual de Gales, sabe das limitações dos seus elencos, e monta as suas equipes com base na força física e na velocidade dos atletas que escolhe a dedo, graças ao seu poder extraordinário de observador. Se você não sabe, o cidadão está ligado às seleções galesas há 15 anos, pois dirigiu todas as seleções de base do país desde 2006, até assumir a principal, faz um ano e meio. O time que vai ao Catar fez uma campanha justa nas eliminatórias, com seis vitórias, três empates, uma derrota, normal, para a Bégica, fora de casa, 19 gols a favor e 10 contra.

Gales não jogará na Copa muito mais do que se viu hoje, mas brigará com Estados Unidos, Irã e a velha conhecida Inglaterra, o que lhe dá oportunidades, de acordo com o seu estilo, de obter uma vaga na fase seguinte, notadamente se Bale fizer, como tem ocorrido, a diferença em partidas decisivas. Difícil afirmar se a equipe de Page poderia superar se a Ucrânia não estivesse marcada por um conflito de proporções absurdas. Mas o confronto não seria muito distinto.

Na prática, dadas as circunstâncias, só o fato de ter a possibilidade real de disputar o Mundial, após seis décadas, já é o suficiente para comemorar. Mas Gales é um país com pouco mais de três milhões de habitantes, praticamente todos fanáticos por futebol, e em função disso, terá que jogar com alguma responsabilidade. Eles sabem, é claro, que não há chance de ser campeão. Mas vão exigir resultados, o que fará da seleção de Page uma presença interessante no Catar.

Até porque pelo menos uma certeza terão: não haverá, como em 1958, Didi, Garrincha e Pelé pela frente.

(*) Este texto não reflete, necessariamente a opinião do Jogada10

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