Trivela
·27 de novembro de 2022
Trivela
·27 de novembro de 2022
A Costa Rica foi a pior seleção da primeira rodada da Copa do Mundo. A Espanha teve uma atuação exuberante, claro, mas impressionou a maneira como os Ticos foram permissivos. A defesa bagunçada sequer dificultava as finalizações dos espanhóis, que não pareciam se esforçar tanto para anotar um caminhão de gols. Por isso mesmo, a mudança de postura dos costarriquenhos rumo à segunda partida foi brutal. Notou-se outra equipe, muito mais concentrada e firme. O Japão, que encantara na estreia, pareceu menosprezar os adversários e não se recuperou a tempo quando se deu conta do tamanho do problema. E a vitória por 1 a 0 se concretiza muito pelo trabalho defensivo, liderado por Francisco Calvo, o jogador em melhor forma do time.
No atual elenco da Costa Rica, Calvo é um dos raros que atuam na Europa. O Konyaspor não é um clube tão badalado na Turquia, mas complementa a excelente experiência do zagueiro de 30 anos, que já rodou o mundo e fala quatro línguas. Nascido em San José, o beque fez sua formação nos Estados Unidos. Deixou as categorias de base do Saprissa para estudar numa universidade no Texas. Já sua profissionalização ocorreu de volta ao Campeonato Costarriquenho, com títulos conquistados pelos rivais Saprissa e Herediano. O que não impediu Calvo de seguir sua trajetória de “trotamundo”. Passou brevemente pelo Nordsjaelland, inclusive treinado por Kasper Hjulmand, o atual técnico da seleção dinamarquesa. Mais recentemente, teve experiências na MLS com as camisas de Minnesota United, Chicago Fire e San Jose Earthquakes. A mudança para o Campeonato Turco ocorreu apenas na atual temporada.
Tamanha bagagem auxiliou Francisco Calvo a fazer parte da seleção da Costa Rica. Sua estreia aconteceu na Copa América de 2011, com apenas 18 anos, mas aquela seria uma experiência isolada. Levou um tempo para que o zagueiro se firmasse nas convocações e ele viu de longe a façanha dos Ticos na Copa do Mundo de 2014. Foi somente nos meses posteriores, no primeiro semestre de 2015, que ele emplacou com a camisa costarriquenha. Desde então, não deixou mais o time, com capacidade técnica para jogar na zaga ou na lateral esquerda. Foram duas edições de Copa Ouro e mais uma Copa América, até desembarcar no Mundial de 2018 como titular. Perdeu a posição durante a campanha e terminaria no banco.
A geração dourada de 2014, porém, envelhecia. Mais jovem, Francisco Calvo ascendeu como uma referência nos últimos quatro anos. O zagueiro se tornou onipresente nas escalações, especialmente durante as Eliminatórias. Viu o time sofrer no início da campanha, mas cresceu na reta final e deu sua contribuição na vitória sobre a Nova Zelândia na repescagem. Com vários companheiros em queda franca, do ponto de vista físico e também técnico, Calvo se colocou como uma das raras certezas para os Ticos.
Francisco Calvo seria um mero espectador do baile da Espanha, é verdade. Seria o jogador de sua equipe com mais desarmes, mas sozinho não podia fazer muita coisa quando o sistema todo desabava. É um jogador importante na construção do jogo e não teve conexão. Contra o Japão, a história seria bastante diferente. A Costa Rica parecia ter aprendido a lição e voltou com uma concentração bem maior. A escolha do rodado Kendall Waston no quinteto defensivo também auxiliou bastante, com boa atuação do veterano. Já a liderança ficou sobretudo para Calvo.
O primeiro tempo contou com uma enorme passividade do Japão. A Costa Rica pôde se fechar com segurança e manter a posse de bola na defesa. Calvo, como o jogador mais técnico do setor, executou mais passes do que qualquer outro companheiro e também teve espaço para buscar os lançamentos longos aos atacantes da equipe. Já no segundo tempo, quando os japoneses tentaram agredir mais e precisavam do empate após tomarem o gol, Calvo seria ainda mais importante no trabalho duro. Teria ações defensivas importantes, não apenas por roubadas de bola, mas por saber quando fazer as faltas. Uma delas ocorreu no limite da grande área e preveniu os adversários de uma chance claríssima.
Keysher Fuller teve o gosto de marcar o gol da vitória, com uma pitada de sorte. Joel Campbell teve uma entrega impressionante e batalhou demais pelo lado esquerdo, especialmente como escape aos passes de Calvo. E a campanha da Costa Rica, que parecia morta, segue com vida antes do duelo final contra a Alemanha. O problema? A falta vital feita por Calvo rendeu seu segundo cartão amarelo na Copa e os Ticos terão que se virar sem o seu principal zagueiro. O coletivo já indicou capacidade de dificultar aos alemães, mas o esforço precisará ser maior sem o esteio da defesa.