Trivela
·05 de agosto de 2022
Trivela
·05 de agosto de 2022
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Cidade: Newcastle Estádio: St. James Park (52.490 pessoas)
Em dezembro, o torcedor do Newcastle ainda temia que começaria a exercer a sua nova posição como clube mais rico do mundo na segunda divisão da Inglaterra. Após 14 rodadas, ainda não tinha uma vitória. Apenas sete pontos de uma coleção de empates. Claro que Steve Bruce havia sido demitido, mas Eddie Howe precisou de algumas semanas para começar a melhorar os resultados. No fim, melhorou tanto que quase terminou na parte de cima da tabela.
A primeira vitória do Newcastle saiu contra o Burnley, em 4 de dezembro, mas não foi o início da recuperação. As próximas cinco rodadas, uma sequência brutal com Leicester, Liverpool, Manchester City e Manchester United, trouxeram apenas mais dois pontos. A arrancada começou de verdade em janeiro, impulsionada pelos reforços da janela de transferências de inverno – a vantagem de repente ter tanto dinheiro.
A transferência da propriedade de Mike Ashley para o consórcio liderado pelo fundo público da Arábia Saudita foi confirmada no começo de outubro. Janeiro foi a primeira oportunidade de gastar. Sob a liderança da empresária Amanda Steveley, responsável pela administração do clube na última temporada, o Newcastle gastou bem. Muita experiência de Premier League com Kieran Trippier, Matt Targett, Dan Burn e Chris Wood e o talento abundante de Bruno Guimarães.
Após a virada do ano, o Newcastle era outro time. Howe também conseguiu recuperar alguns jogadores, como o brasileiro Joelinton, muitas vezes jogando até como meia. Fabian Schär foi outro que cresceu, e o Newcastle finalmente começou a emendar vitórias. De 22 de janeiro em diante, perdeu apenas de Chelsea, Everton, Tottenham, Liverpool e Manchester City. E ganhou todas as outras partidas, com exceção de um empate com o West Ham. Um desempenho que o coloca no nível de brigar por vaga em competições europeias se o mantiver durante toda uma temporada – ou melhorá-lo, com mais alguns reforços.
Sven Botman, do Newcastle (Foto: Divulgação)
Principais chegadas: Sven Botman (Lille), Matt Targett (Aston Villa), Nick Pope (Burnley),
Principais saídas: Dwight Gayle (Stoke City), Isaac Hayden (Norwich), Jeff Hendrick (Reading)
O Newcastle está descobrindo o problema de ter dinheiro: ninguém está disposto a dar um desconto. Até agora a janela do novo rico do futebol europeu está extremamente modesta, embora o clube a tenha passado ligado a vários nomes interessantes. Os novos donos haviam alertado que o torcedor não deveria esperar gastos irracionais. O investimento será mais paulatino, sem desafiar abertamente as regras de Fair Play Financeiro.
O novo diretor de futebol Dan Ashworth, contratado do Brighton, para o qual fez vários bons negócios, está conduzindo a janela. O principal reforço é o jovem zagueiro Sven Botman, de 22 anos. Técnico, forte, canhoto, estava na mira do Milan. Sua contratação foi ao mesmo tempo uma demonstração de força financeira do Newcastle e da Premier League como um todo. Se tudo der certo, será um dos pilares dos próximos anos.
O Newcastle também confirmou a permanência de Targett, lateral esquerdo que havia sido emprestado pelo Aston Villa em janeiro, e aproveitou o saldão do Burnley para contratar Nick Pope, um dos melhores (senão o melhor) goleiros ingleses em atividade. Chegou a ter um acordo com Hugo Ekitiké, que interessava desde o inverno, mas o jovem atacante acabou acertando com o Paris Saint-Germain.
Com um mês de janela pela frente, o Newcastle ainda não acabou. Está bastante interessado em contratar James Maddison, do Leicester, que está pedindo alto. Também está ligado a Maxwel Cornet, outro integrante do êxodo do Burnley. Um meia e um atacante são esperados em St. James Park para melhorar as chances de brigar na parte de cima da tabela.
Martin Dubrávka é bom goleiro, e Karl Darlow segurou a barra durante algumas semanas quando o eslovaco se machucou, mas Pope não foi contratado à toa. Se não começar como titular, deve se tornar rapidamente. Kieran Trippier foi o primeiro reforço da nova propriedade. Mal conseguiu jogar por causa de uma fratura no pé e está ansioso para começar a dar suas assistências no St. James Park. Emil Krafth foi o lateral direito em sua ausência. Targett e o promissor Jamal Lewis formam a dupla na esquerda.
Botman esteve no radar do Newcastle há muito tempo e, apesar de muito jovem, deve ser o líder da defesa. É raro um time em que os dois melhores zagueiros são canhotos. Howe pode formar sua dupla com Dan Burn ao lado de Botman. Schär e Jamaal Lascelles são as outras duas opções. Há um certo excesso na defesa, com Javier Manquillo, Matt Ritchie e Federico Fernández, que podem ser negociados.
Líder de vestiário, Jonjo Shelvey começou o tripé de meio-campo na arrancada do semestre passado, geralmente com Bruno Guimarães e Joelinton recuado ao setor. A busca por Maddison indica o desejo de ter uma fonte maior de criação. O Newcastle ainda tem Joe Willock, o único reforço da temporada passada pré-Arábia Saudita, e os dois Longstaff – Matty e Sean – na cobertura.
Chris Wood e Callum Wilson, dois dos atacantes mais regulares da Premier League nos últimos anos, são os centroavantes do Newcastle, com vantagem para Wilson, que foi bem quando não esteve machucado. Um cara que faz um gol a cada três jogos de Premier League com regularidade. Os flancos poderiam ser reforçados. Allan Saint-Maximin tem momentos incríveis, mas precisa de mais consistência, e Miguel Almirón ainda não explodiu. Ryan Fraser é a bola de segurança.
Amanda Staveley e Mehrdad Ghodoussi, co-proprietários do Newcastle, junto com Eddie Howe (Foto: Stu Forster/Getty Images/One Football)
Eddie Howe sempre foi tido como uma das maiores promessas de treinadores da Inglaterra. Praticamente salvou o Bournemouth da falência, levou-o à Premier League e o manteve na elite jogando um futebol ofensivo e gostoso de se ver. O ciclo terminou naturalmente. Quando foi contratado pelo Newcastle, como segunda opção após a recusa de Unai Emery, a dúvida era se conseguiria ter sucesso em um ambiente que não lhe era tão familiar. A maneira como revolucionou a temporada rendeu muita moral e confiança com os novos donos. Está em lua de mel, mas sabe também que, em um projeto tão ambicioso, o sarrafo sobe rapidamente, e não é incomum nesses casos que o técnico que servia para os estágios iniciais não serve mais para o momento em que a briga pelos títulos fica real. A missão de Howe é provar que ele serve para qualquer cenário.
O Newcastle é um time relativamente velho. Apenas três jogadores têm menos de 24 anos. Isso se não contarmos o garoto Elliott Anderson, meia-atacante de 19 anos que tem feito barulho na pré-temporada. Estreou no time titular em janeiro de 2021 e passou os últimos meses emprestado ao Bristol Rovers. Fechou a vitória por 7 a 0 na última rodada que acabou garantindo um inacreditável acesso à segunda divisão pelo número de gols marcados. Joey Barton o comparou com Diego Maradona. Talvez um pouco exagerado. Howe terá que decidir se mantém o garoto para lhe dar uns minutos ou o empresta novamente, mas de qualquer maneira parece ter um talento bruto nas suas mãos.
A decisão de manter uma política de contratações mais sã, apesar de ter fundos para mais, ajuda a moderar as expectativas. O Newcastle tem um time melhor do que tinha quando ainda era liderado por Mike Ashley, mas não está cheio de estrelas. Tem experiência de Premier League, dois ou três enormes talentos para desenvolver e outra legião de jogadores competentes. Com um bom trabalho técnico de Eddie Howe, pode tentar terminar em uma colocação de dígito único pela primeira vez desde o quinto lugar em 2011/12. Também pode sonhar com uma briga por vaga em Conference ou Liga Europa, se tudo encaixar direitinho.