Calciopédia
·03 de agosto de 2023
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A Serie A foi o palco para o ápice de dezenas de estrelas do futebol mundial, mas também desvencilhou as suas cortinas para o ocaso de alguns dos mais consolidados atletas da modalidade. Um dos jogadores que encontraram mais sucesso em outros países e viram a sua carreira entrar na descendente na Itália foi Jakub Blaszczykowski, o Kuba. Ídolo da seleção polonesa e do Borussia Dortmund, o ponta teve uma curta e apagada passagem pela Fiorentina, em 2015-16, após sofrer uma séria lesão na Alemanha. O seu objetivo era dar a volta por cima em Florença, mas isso não ocorreu.
Nascido em Truskolasy, vilarejo próximo à Czestochowa, no sul da Polônia, Kuba começou a treinar nas categorias de base do time local aos oito anos de idade. Uma de suas inspirações foi seu tio materno, Jerzy Brzeczek: capitão da seleção polonesa na década de 1990, o meia ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1992 e, mais tarde, entre 2018 e 2021 seria treinador da equipe nacional.
A outra inspiração de Blaszczykowski, no entanto, resultou de uma tragédia. Em 1996, quando tinha 10 anos, seu pai esfaqueou sua mãe até a morte. Com a prisão do genitor, ele e o irmão mais velho, Dawid, foram criados pela avó materna, Felicja. Kuba chegou a abandonar o futebol, mas por insistência dos seus parentes mais próximos, decidiu continuar. Tempos depois, ele creditaria seu sucesso à avó e dedicaria seus gols à falecida mãe.
Jakub passou pelas categorias de base de Raków Czestochowa e Górnik Zabrze, mas seu primeiro time como profissional foi o Czestochowa, que então disputava a quarta divisão do Campeonato Polonês. Em 2005, após duas temporadas e meia no clube auriazul, com a ajuda do tio Jerzy, o ponta foi se apresentar ao Wisla Cracóvia, na tentativa de conseguir um emprego. Ele obteve a vaga e se tornou uma revelação: logo no ano de debute pela equipe da estrela branca, a equipe ganhou a Ekstraklasa, a liga local.
Com o passar do tempo, Kuba se consolidou no Wisla e foi convocado para a seleção nacional, além de ter sido premiado como meia do ano na Polônia, em 2006, e ter sido incluído no time ideal da Ekstraklasa. Dominante no lado direito do campo, onde podia desempenhar funções defensivas e, preferencialmente, mais avançadas, na ponta, Blaszczykowski logo chamou a atenção do Borussia Dortmund, clube ao qual se transferiu em 2007.
Foi no clube alemão em que Kuba viveu o auge da carreira. Primeiramente, ganhou seu espaço num time mais modesto, sob o comando de Thomas Doll, e logo depois se tornou um dos pilares da revolução que Jürgen Klopp protagonizou a partir de 2008. Nesse mesmo ano, o ponta foi eleito como melhor jogador do Borussia Dortmund e também como o principal polonês em atividade.
Com o amadurecimento do trabalho de Klopp, o Borussia Dortmund ganhou duas edições consecutivas da Bundesliga, em 2011 e 2012, a Copa da Alemanha, em 2012, três Supercopas da Alemanha e ainda bateu na trave na Liga dos Campeões em 2013, quando perdeu para o arquirrival Bayern Munique na decisão, em Wembley. Na mesma época em que obtinha grande sucesso no clube, Kuba virou capitão da Polônia e se tornou um dos jogadores mais importantes da história da seleção, ao lado de Robert Lewandowski.
Blaszczykowski começou bem na Fiorentina, mas logo perdeu espaço para um jovem Bernardeschi (Getty)
Kuba passou a disputar posição com Pierre-Emerick Aubameyang a partir de 2013-14, já que o Dortmund queria alcançar um novo patamar e o polonês já se aproximava dos 30 anos. Algumas lesões vinham afetando um pouco o rendimento do ponta, mas sem realmente comprometer a sua continuidade no onze inicial aurinegro. Até que, em janeiro de 2014, aos 4 minutos de um jogo com o Augsburg, válido pela Bundesliga, Blaszczykowski rompeu o ligamento cruzado do joelho direito e ficou mais de 10 meses afastado dos campos.
O polonês até voltou a atuar pelo Dortmund ao longo de 2014-15, mas jamais conseguiu retomar o espaço que tinha anteriormente. Assim, no último dia da janela de transferências do verão europeu de 2015, Kuba foi emprestado para a Fiorentina. Com a camisa violeta, ele poderia atuar em sua posição de origem, disputar campeonatos de alto nível e ainda brigar por títulos em copas – ou, através da Serie A, por vaga em torneios continentais.
Nos três anos anteriores à chegada de Kuba, a Fiorentina teve o comando de Vincenzo Montella, que levou a equipe a consecutivos quartos lugares na Serie A e a outros resultados positivos nas competições de mata-mata – mais especificamente, às semifinais da Liga Europa e ao vice na Coppa Italia. Após o fim do ciclo, o técnico italiano foi substituído pelo português Paulo Sousa, que decidiu não promover uma revolução no estilo de jogo dos gigliati.
Boa parte do elenco da temporada anterior continuava ali: Manuel Pasqual, Gonzalo Rodríguez, Borja Valero, Milan Badelj, Matías Fernández, Josip Ilicic e Federico Bernardeschi eram alguns dos principais nomes do plantel, que foi reforçado por peças como Davide Astori, Matías Vecino e Nikola Kalinic, além do próprio Blaszczykowski. Kuba chegou para ser titular e, mostrando boa forma física no início de sua passagem, marcou um gol importante em sua terceira partida: abriu o placar sobre o Bologna na vitória dos gigliati por 2 a 0 no Dérbi dos Apeninos.
Kuba manteve o posto de titular até a primeira – e única – lesão que teve com a camisa da Fiorentina. Um estiramento muscular na coxa, em novembro, o manteve afastado dos gramados por cerca de um mês e meio. Tempo suficiente para o jovem Bernardeschi mostrar que tinha capacidade de atuar pela ala direita. A chegada de Cristian Tello, em janeiro, ainda ofereceria maior concorrência ao polonês.
Blaszczykowski voltou a jogar no início de janeiro de 2016, e o fez com bola na rede: aos 90 minutos, decretou o triunfo violeta sobre o Palermo, por 3 a 1. Porém, Paulo Sousa viu que a sua equipe havia melhorado de produção com Bernardeschi e manteve Kuba no banco. Dali em diante, o polonês foi titular em apenas outras quatro ocasiões.
Kuba tentou recuperar tempo de jogo e a carreira na Itália, mas acabou acelerando a sua trajetória descendente (Getty)
Sem causar grande impressão, Kuba terminou 2015-16 sem cumprir o principal objetivo com a transferência à Fiorentina – ter minutagem. O ponta somou 20 aparições, sendo 12 como titular, com dois gols marcados e três assistências fornecidas. A Viola, por seu turno, se classificou à Liga Europa graças à quinta colocação na Serie A, mas caiu nas oitavas da Coppa Italia para o Carpi – que tinha acabado de alcançar a elite pela primeira vez em sua história – e foi eliminada pelo Tottenham na fase de 16-avos de final da Europa League.
Ao fim do empréstimo, Kuba voltou ao Borussia Dortmund, mas não foi aproveitado. Em agosto de 2016, foi negociado em definitivo com o Wolfsburg, mas nos três anos em que vestiu a camisa verde não conseguiu fazer campanhas de grande relevância.
Pela seleção polonesa, por sua vez, Blaszczykowski também enfrentou questionamentos – ele e todo o grupo alvirrubro, na verdade. Mesmo com uma grande geração, a Polônia tinha dificuldades para encontrar regularidade. As águias não deslancharam na Euro 2012 nem se classificaram para a Copa do Mundo de 2014.
Na Eurocopa de 2016, ao menos, Kuba, Lewandowski e seus companheiros conseguiram fazer a Polônia alcançar as quartas de final pela primeira vez na história. O ponta marcou gols decisivos contra Ucrânia e Suíça. Além disso, no jogo contra os helvéticos, nas oitavas, converteu sua cobrança na disputa por pênaltis que classificou os polacos. O roteiro não se repetiu na fase seguinte, entretanto: após 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, Blaszczykowski perderia penalidade e contribuiria para que a vitória ficasse com os portugueses, que terminaram como os campeões daquela edição. Na Copa de 2018, já como reserva, Jakub não evitou que os poloneses voltassem a dar vexame e caíssem na fase de grupos.
Em 2019, sem espaço no Wolfsburg, Kuba retornou a seu país natal e ao Wisla Cracóvia. Posteriormente, o jogador ainda se tornaria executivo do clube ao adquirir quase 27% de suas ações, salvando-o da falência – ele ainda optou por receber apenas um valor simbólico para atuar pelo time da estrela branca. Já veterano, Blaszczykowski somou poucos minutos de jogo pela equipe e viu essa condição se agravar depois de mais uma ruptura de ligamento do joelho.
Blaszczykowski se aposentou oficialmente aos 37, ao fim da temporada 2022-23. Sua última partida como profissional foi pela seleção polonesa: quatro anos após a sua aparição anterior, Kuba foi convocado para um amistoso contra a Alemanha, em junho de 2023. Ele entrou em campo como o capitão do time e jogou até os 16 minutos, honrando a sua camisa 16 – número que, inclusive, utilizou na Fiorentina. Nesse momento, passou a braçadeira a seu velho companheiro Lewandowski, com quem alternou a liderança das águias, e saiu ovacionado pelo público do Estádio Nacional de Varsóvia.
Jakub Blaszczykowski Nascimento: 14 de dezembro de 1985, em Truskolasy, Polônia Posição: meia-atacante Clubes: Czestochowa (2003-04), Wisla Cracóvia (2004-07, 2019-23), Borussia Dortmund (2007-16), Fiorentina (2015-16) e Wolfsburg (2016-19) Títulos: Campeonato Polonês (2005), Supercopa da Alemanha (2008, 2013 e 2014), Bundesliga (2011 e 2012) e Copa da Alemanha (2012) Seleção polonesa: 109 jogos e 21 gols