Calciopédia
·29 de setembro de 2022
Calciopédia
·29 de setembro de 2022
Lateral-esquerdo de enorme vigor físico, Federico Balzaretti corria incansavelmente para apoiar no ataque e colaborar com bons cruzamentos. Equilibrado, tinha fôlego de sobra para fazer a recomposição defensiva repetidas vezes. Com uma trajetória interessante e de muita dedicação no futebol, teve sua carreira abreviada por conta de uma grave lesão, que o fez lutar até que não fosse mais possível continuar atuando profissionalmente.
Balzaretti nasceu em Turim e ingressou nas categorias de base do Torino quando tinha apenas seis anos de idade, fazendo toda a sua formação enquanto lateral-esquerdo na equipe granata. Foi promovido aos profissionais em 1998, mas não recebeu oportunidades do técnico Emiliano Mondonico. Para adquirir experiência, foi emprestado ao Varese, onde esteve por um biênio, e ao Siena, por uma temporada. Chegou a flertar com o acesso à segundona pelo time biancorosso, em 1999-2000, e fez uma campanha de meio de tabela na Serie B pelos toscanos.
Federico retornou ao Toro e estreou pelo clube em setembro de 2002, quando entrou no segundo tempo na derrota fora de casa por 1 a 0 para a Inter, gol anotado por Christian Vieri. O time granata acabou rebaixado à Serie B ocupando a lanterna, a 17 pontos de distância da Reggina, mas Balzaretti apareceu como uma das peças mais importantes da equipe que, em meio aos maus resultados, teve quatro treinadores: Giancarlo Camolese, Renzo Ulivieri, Renato Zaccarelli e Giacomo Ferri.
Com um desempenho modesto, o Toro foi o 12º colocado na Serie B. No ano seguinte, Balzaretti ajudou os granata a ficarem com o vice-campeonato. Após passarem pelo Perugia no playoff, o retorno à primeira divisão parecia garantido. Entretanto, por estar vivendo um caos financeiro, o Torino decretou falência, ficando sem a vaga de acesso. Como consequência, o lateral-esquerdo e os demais jogadores do elenco foram liberados para buscarem novos destinos.
Balzaretti tinha um forte vínculo afetivo com a cidade de Turim, local onde nasceu, cresceu e apareceu para o futebol. Querido pela torcida granata, surpreendeu a todos quando assinou sem custos com a rival Juventus. A transferência, como era de se esperar, foi recebida como traição e, dali em diante, o cabeludo loiro passou a receber sonoras vaias em todas as visitas que fez ao Comunale.
Nos bianconeri, ganhou chances do treinador Fabio Capello e atuou em 28 ocasiões, com direito a estreia na Liga dos Campeões, tendo disputado quatro partidas. A Juventus terminou a Serie A ocupando a primeira colocação, mas então veio o Calciopoli, o maior escândalo de manipulação de resultados do futebol italiano, e a Velha Senhora, além de ser rebaixada como punição pelo envolvimento de alguns cartolas, viu seu scudetto ser atribuído à Inter. Em uma quase debandada, Fabio Cannavaro e Emerson seguiram os passos do técnico e foram para o Real Madrid, Lilian Thuram e Gianluca Zambrotta foram para o Barcelona, Adrian Mutu para a Fiorentina, e Patrick Vieira e Zlatan Ibrahimovic rumaram para a Beneamata.
Balzaretti permaneceu, assim como os ídolos Gianluigi Buffon, Alessandro Del Piero, Pavel Nedved, David Trezeguet e Mauro Camoranesi, além de um emergente Giorgio Chiellini. O lateral-esquerdo marcou seu primeiro gol como bianconero na goleada por 5 a 0 sobre o Crotone ao completar um levantamento feito por Nedved. Ele marcaria novamente, desta vez um belo tento por cobertura no empate em 1 a 1 contra o AlbinoLeffe, após saída atabalhoada de Federico Marchetti, e ajudou a Juve a conquistar o título que a poria de volta na elite. Contudo, ao término da campanha, o jogador não fazia mais parte dos planos do clube e acabou acertando com a Fiorentina.
Natural do Piemonte e formado no Torino, Balzaretti causou indignação na torcida grená após assinar com a Juventus (New Press/Getty)
Foram somente 11 partidas pela Viola, já que o treinador Cesare Prandelli preferia escalar outras peças, como Manuel Pasqual ou Massimo Gobbi. Balzaretti deixou a Toscana na metade da temporada e foi jogar no Palermo, mas ele e Prandelli se reencontrariam na seleção italiana. Na nova casa, escolheu a camisa de número 42, em homenagem ao ano de nascimento de seu pai, Piercarlo – antes, ele havia utilizado os números 6, 4, 17 e 14. A mudança trouxe sorte naquela que provavelmente foi a melhor fase do lateral-esquerdo, tanto em termos técnicos quanto físicos, e ele se firmou como um dos principais nomes da posição no campeonato.
A temporada 2009-10 foi marcante para o jogador por diversos aspectos. Em 18 de outubro de 2009, marcou seu primeiro gol pelos rosanero e também pela Serie A, no triunfo fora de casa diante do Livorno (2 a 1), estufando as redes após uma sobra dentro da área. No dia 6 de dezembro, data que marcou seu aniversário de 28 anos, ele celebrava uma expressiva marca: 100 jogos no Italiano; de quebra, seu time venceu o Cagliari por 2 a 1.
Jogando um belo futebol e auxiliando o Palermo a ser quinto colocado na Serie A, passou a ter seu nome especulado na Nazionale e foi convocado por Prandelli no ano seguinte, estreando em um amistoso contra a Romênia (1 a 1). Distribuiu sete assistências no decorrer do campeonato de 2010-11 e fez parte de uma excelente campanha na Coppa Italia, quando o time siciliano passou por Chievo, Parma e Milan até chegar à decisão, contra a Inter. Os nerazzurri, comandados por José Mourinho, levaram a melhor e venceram por 3 a 2, graças a uma doppietta de Samuel Eto’o e um gol de Diego Milito; Ezequiel Muñoz descontou para o lado rosanero.
Balzaretti tornou a ser convocado para a Squadra Azzurra para disputar um amistoso contra a Ucrânia, e um jogo contra Eslovênia, válido pelas Eliminatórias para a Euro 2012, onde os italianos venceram com um gol de Thiago Motta após assistência do lateral-esquerdo. Na Euro, ele estreou na terceira partida da fase de grupos ao entrar na vaga de Emanuele Giaccherini – Prandelli mudou do 3-5-2 para o 4-4-2 – e disputou os três duelos do mata-mata; na semi, contra a Alemanha, atuou como lateral-direito, e na final, perdida para a Espanha, entrou aos 21 da primeira etapa, substituindo o lesionado Chiellini.
Em seu último ano na Sicília, atuou em 27 partidas, mas acabou ficando um bom tempo fora por conta de uma laringite e alguns problemas físicos. O Palermo, por sua vez, foi apenas 16º colocado da Serie A. Nada que reduzisse seu valor de mercado e um eventual interesse de outras equipes – afinal, Balzaretti foi eleito para o time ideal da temporada na Itália. Maurizio Zamparini, presidente do clube, recebeu algumas propostas e tinha uma negociação bem encaminhada para que o lateral-esquerdo se transferisse para o Napoli.
Roma, Milan e Lazio foram os outros clubes interessados, e o que valeu no final foi a vontade do jogador, que escolheu assinar com os giallorossi, mas não sem antes se despedir dos rosanero. “Em Palermo me senti amado, mimado e importante. Os caminhos são divididos por minha escolha pessoal e profissional, agradeço a todos, ao presidente, meus camaradas, meus apoiadores. Minha família e eu sempre voltaremos a Palermo. Vocês todos ficarão no meu coração”, afirmou.
Todavia, a justificativa dada por Balzaretti foi, digamos, de uma tremenda franqueza. “Não quero ir para um time que jogue as copas [europeias]. É muito estresse e são muitas viagens. Quero curtir a minha família e minhas meninas, é uma escolha de vida”. Os giallorossi tinham fechado a Serie A na sétima colocação, justamente a primeira posição fora da zona classificatória para as competições continentais.
Balzaretti integrou um forte time do Palermo e chegou a ser eleito como melhor lateral-esquerdo da Serie A em seus tempos de Sicília (Getty)
Por falar em família, Federico havia se casado pouco tempo antes com Eleonora Abbagnato, diretora do corpo de balé do Teatro dell’Opera de Roma e primeira bailarina italiana a ganhar um papel de protagonismo na cena de Paris, na Ópera Garnier, um dos templos da modalidade artística. Pai de Lucrezia e Ginevra, frutos de um relacionamento anterior, o jogador teve outros dois filhos, Julia e Gabriel, com sua nova cônjuge.
Balzaretti chegou à Cidade Eterna e ficou hospedado no Majestic, luxuoso hotel cinco estrelas da cidade, para firmar um contrato com a Roma válido por três temporadas na manhã do dia posterior. Francesco Totti, Daniele De Rossi e os demais companheiros de equipe o receberam com a seguinte mensagem: “Bem-vindo, ajude-nos a vencer”. O treinador Zdenek Zeman, ansioso por um desfecho positivo, celebrou seu mais novo reforço, mas ele acabaria sendo mandado embora após uma derrota em casa por 4 a 2 para o Cagliari, além de uma pressão interna que já existia devido ao fato dele ter afastado peças importantes, como Maarten Stekelenburg, Pablo Daniel Osvaldo e até mesmo De Rossi, vice-capitão.
O escolhido para substituir Zeman foi Aurelio Andreazzoli, que já compunha a comissão técnica do clube. Ele ainda conseguiu conduzir a Roma à final da Coppa Italia, que reservou simplesmente um Derby della Capitale. A Lazio levou a melhor e se sagrou campeã depois que Senad Lulic balançou as redes de Bogdan Lobont. Na temporada seguinte, a Loba flertou mais uma vez com a glória, mas bateu na trave. Parou nas semifinais da copa, contra o Napoli, e ficou com o vice-campeonato na Serie A.
O momento mais especial para Balzaretti naquele ano aconteceu em maio. Roma e Lazio empatavam em 0 a 0 até os 18 minutos da segunda etapa, quando o loiro roubou a cena acertando um chute de canhota ao aproveitar cruzamento perfeito de Totti, que tirou o peso da bola no momento da batida, deixando-a à feição para o companheiro mandar para o fundo das redes. Com a cicatriz ainda aberta pela derrota na decisão da Coppa Italia quatro meses antes, foi uma vitória para lá de valiosa para os giallorossi.
Tão especial quanto o gol foi a celebração do lateral-esquerdo, que saiu de braços abertos em disparada, pulou as placas de publicidade e celebrou eufórico junto à torcida. Passada a explosão, enquanto retornava para o reinício do jogo, Balzaretti tentou esconder, sem sucesso, as lágrimas que caíam em seu rosto com as palmas das mãos. A partir daquele momento, passou a ser idolatrado pelos torcedores, que se viram representados dentro de campo por um aguerrido e voluntarioso jogador.
Seis meses depois, em novembro, Balzaretti foi diagnosticado com pubalgia atlética, uma hérnia causada em decorrência da prática esportiva, após um jogo contra o Sassuolo, quando percebeu que não tinha condições de caminhar. Ele já havia sentido dores na região do púbis depois de um confronto ante o Torino, mas a princípio pensava que se tratava de algo passageiro. Com a urgência de ser operado, foi para os Estados Unidos, mas a cirurgia não correu como o esperado. Outro procedimento cirúrgico foi realizado na Alemanha, igualmente sem resultados satisfatórios. A ressonância magnética apontava uma piora em seu quadro.
Com gravíssimos problemas na cartilagem, foi informado de que nunca mais poderia jogar futebol. Realizando um tratamento à base de laser e ultrassom, o lateral-esquerdo estava incomodado por não poder estar em campo ajudando seus companheiros e representando a torcida. Ele propôs reduzir seu próprio salário até que estivesse plenamente recuperado e à disposição do treinador Rudi Garcia.
Após alguns grandes momentos na Roma, Balzaretti foi obrigado a se aposentar devido a uma pubalgia (Getty)
Balzaretti ficou sem atuar pela Roma de novembro de 2013 até maio de 2015, quando regressou ao futebol e disputou os 90 minutos na derrota por 2 a 1 para o Palermo, na rodada derradeira da Serie A. Anteriormente, entrou em campo num amistoso em abril pela equipe primavera da Loba, contra a Ternana. Os giallorossi, mais uma vez, fizeram uma grande campanha, mas não foram capazes de competir com a Juventus, que venceu o scudetto com 17 pontos de vantagem, e terminaram com o segundo lugar.
Aquela foi a derradeira partida na carreira de Balzaretti que, na manhã do dia 12 de agosto de 2015, em Trigoria, anunciou em entrevista coletiva sua forçosa despedida do esporte. “Foi uma decisão difícil de tomar, mas não posso continuar jogando como eu gosto, a 100%. Vou parar de jogar futebol. Quero agradecer a todos, permaneceram no meu coração. Ter conseguido jogar aqueles últimos 90 minutos pela Roma foi um sonho para mim e agradeço ao clube por tudo o que me permitiu realizar. Foram emoções fortes que ficarão dentro de mim”, disse o recém-aposentado, de 33 anos.
Mauro Baldissoni, diretor geral da Roma, fez questão de prestar seu apoio ao ex-jogador. “Nós oferecemos a ele a oportunidade de continuar trabalhando aqui para nós e continuar contribuindo com sua experiência e valores para o nosso clube. Lamentamos porque é um momento triste, mas é apenas um novo passo”. Com isso, o contrato de atleta de Balzaretti foi adaptado para o de dirigente, e ele ficou responsável por cuidar de jogadores que estavam emprestados às outras equipes. Além disso, a Loba tinha um plano de carreira para que ele se tornasse chefe do setor de futebol futuramente.
Entre 2015 e 2017, Balzaretti foi comentarista da Liga dos Campeões para o canal Premium Calcio e teve passagens por Rai e Fox Sports. Em 2019, deixou a Roma e aceitou a proposta para ser comentarista no DAZN, onde trabalhou com Diletta Leona, famosa apresentadora. Pensando em se qualificar enquanto dirigente, cursou o MIP (Master for International Players), o mestrado da Uefa focado em ex-atletas, na Universidade de Lausanne (Suíça), e foi colega de classe de Kaká e Didier Drogba.
Em 2021, voltou a trabalhar como comentarista na Liga dos Campeões, pela Amazon Prime Video. Ao mesmo tempo, concluiu o curso de treinadores da categoria A da Uefa, em Coverciano, e em 2 de novembro do mesmo ano assumiu o cargo de diretor esportivo do Vicenza, substituindo Giuseppe Magalini. Os biancorossi viviam uma fase tenebrosa na Serie B, acumulando nove derrotas em 11 partidas, e acabaram rebaixados depois de perderem para o Cosenza no playout. Balzaretti permanece na função até os dias de hoje.
Federico Balzaretti Nascimento: 6 de dezembro de 1981, em Turim, Itália Posição: lateral-esquerdo Clubes: Torino (1998-99 e 2002-05), Varese (1999-2001), Siena (2001-02), Juventus (2005-07), Fiorentina (2007-08), Palermo (2008-12) e Roma (2012-15) Título: Serie B (2007) Seleção italiana: 16 jogos