Klas Ingesson, o gigante gentil que conquistou o respeito do futebol italiano | OneFootball

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Calciopédia

·12 de março de 2020

Klas Ingesson, o gigante gentil que conquistou o respeito do futebol italiano

Imagem do artigo:Klas Ingesson, o gigante gentil que conquistou o respeito do futebol italiano

Se você tem pelo menos 30 anos e passou a acompanhar futebol desde muito jovem, a seleção da Suécia que disputou a Copa do Mundo de 1994 está gravada na sua memória. Os suecos enfrentaram o Brasil duas vezes e surpreenderam por ficarem com o terceiro lugar naquele mundial.

A seleção sueca, porém, era muito forte. Seu elenco contava com o carismático goleiro Thomas Ravelli, o sólido zagueiro Patrik Andersson e os craques Henrik Larsson e Tomas Brolin no ataque – ao lado de Martin Dahlin e Kennet Andersson. Mas o setor mais forte era o meio-campo: Stefan Schwarz, Jesper Blomqvist, Jonas Thern, Anders Limpar e Klas Ingesson, o cérebro do time. O histórico camisa 8 escandinavo, que não participou de apenas 14 minutos da campanha, foi um dos jogadores daquele time que passaram pelo futebol italiano.


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Ingesson já era um jogador de bastante experiência quando disputou o Mundial nos Estados Unidos. Klabbe, como era conhecido, se profissionalizou em 1986. O primeiro clube que defendeu foi o IFK Göteborg, um dos mais fortes e vencedores da Suécia. Com a camisa dos anjos, Klas se notabilizou como um meio-campista central de ótima chegada à área, seja para soltar potentes chutes com a perna direita ou para se valer de sua altura (1,90m) para cabecear.

Pelo IFK, Ingesson ganhou dois títulos suecos e ainda fez parte do elenco que faturou a Copa Uefa de 1987. Foi a última e uma das duas únicas taças europeias de um time escandinavo – ambas ganhas pelo time de Gotemburgo. Em maio de 1989, antes de completar 21 anos, Klabbe estreou pela seleção da Suécia num amistoso contra a Argélia e mostrou um belo cartão de visitas: dois gols na vitória por 2 a 0.

As boas atuações com a camisa auriazul o levaram à Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália. Klas recebeu a camisa 10 e foi titular da Suécia, barrando o excelente Glenn Peter Strömberg, da Atalanta. O cabeludo era um dos jogadores do elenco que atuavam ou já tinham passado por clubes do Belpaese, juntamente ao zagueiro e capitão Glenn Hysén (ex-Fiorentina), o ponta Johnny Ekström (ex-Empoli) e o meia Limpar, então na Cremonese. Os suecos foram eliminados na fase de grupos após perderem todos os jogos, mas Ingesson se destacou e foi vendido pelo IFK ao KV Mechelen, da Bélgica.

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Os tricolores viviam o melhor momento de sua história e, nos anos anteriores, haviam vencido o campeonato e a copa belgas, além de uma Recopa Uefa e uma Supercopa Europeia – também passaram perto do bi continental e foram às quartas de final da Copa dos Campeões. Ingesson chegava a um time que tinha o goleiro Michel Preud’homme como destaque máximo e rapidamente se adaptou. Em três anos de casa, mostrou verve goleadora e anotou 28 tentos em 99 aparições.

Por estar em alta no Mechelen, Klabbe continuou como titular absoluto da seleção no período de preparação para a Euro 1992, da qual a Suécia participaria na condição de anfitriã. A dona da casa fez bonito e terminou a fase de grupos na primeira posição, deixando para trás as tradicionais França e Inglaterra, e avançando com a Dinamarca, que se sagraria campeã. Nas semifinais, um doloroso 3 a 2 para a Alemanha eliminou os auriazuis. Contudo, a geração de Ingesson e Brolin dava sinais de que faria mais história.

Em 1993, Ingesson trocou o Mechelen pelo PSV Eindhoven, mas não vingou no clube da Philips por conta de uma lesão que o tirou dos gramados por quase quatro meses. Apesar disso, Klabbe se recuperou a tempo de disputar a Copa do Mundo de 1994 e, nos Estados Unidos, desfilou futebol, sendo um dos melhores meias da competição.

O camisa 8 venceu a concorrência com Limpar e, ao lado do capitão Thern, comandou o centro do campo sueco, oferecendo sustentação para que Brolin, Dahlin, Andersson e Larsson brilhassem à frente. Naquele Mundial, Klabbe também mostrou uma de suas maiores qualidades, a capacidade de cobrar pênaltis com maestria: contra a Romênia, converteu uma das cobranças que garantiram a classificação dos escandinavos às semifinais. Naquele mesmo jogo, ainda teve um gol anulado.

Após a Copa, Ingesson rumou à Premier League. O sueco acertou com o Sheffield Wednesday, mas novamente teve dificuldades de se firmar em virtude de muitos problemas físicos, que o afastaram também da seleção. Entre agosto de 1994 e novembro de 1995, o gigante atuou em apenas 18 partidas pelas corujas, com gols anotados em triunfos sobre Everton e Arsenal.

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Aos 27 anos, então, surgiu uma proposta do futebol italiano. O Bari, que estava em sua segunda temporada seguida na elite, queria o grandalhão para reforçar o seu meio-campo. O Sheffield Wednesday não se opôs e Klabbe aceitou a proposta do time do sul da Itália, no qual atuaria ao lado do parceiro Kennet Andersson. Aquele Bari era forte e ainda tinha o goleiro Alberto Fontana, o lateral-direito Abel Xavier, o zagueiro Luigi Sala, o volante brasileiro Gérson Caçapa, o ponta Carmine Gauteri e o goleador Igor Protti.

O time titular honrou a camisa biancorossa, Protti foi artilheiro do campeonato com 24 gols, Andersson fez 12 e Ingesson se adaptou rapidamente ao futebol da Itália, ganhando a estima da torcida. Isso significa que o Bari fez uma grande Serie A? Não. A equipe, capaz de aplicar 4 a 1 na Inter (jogo em que Klas anotou o seu primeiro no San Nicola), acabou perdendo pontos preciosos em confrontos diretos, teve uma defesa frágil e passou quase todo o certame – da 10ª rodada em diante – na zona de rebaixamento. A queda foi confirmada matematicamente na penúltima jornada. Klabbe tinha propostas de outros clubes, mas gostou de morar na Apúlia e decidiu ajudar os galletti a retornarem à elite.

A decisão de disputar a Serie B afastou Ingesson da seleção sueca, pela qual tinha voltado a atuar quando se transferiu para o Bari. Em 1997, quando Tommy Svensson deixou a equipe nacional e foi substituído por Tommy Söderberg, as portas se fecharam quase em definitivo: como os auriazuis não se classificaram para a Eurocopa de 1996 e estavam atrás de Áustria e Escócia nas Eliminatórias para a Copa de 1998, o novo treinador decidiu abrir espaço para os mais jovens. O último jogo de Klabbe pela Suécia ocorreu em outubro de 1998, pouco depois de completar 30 anos: o meia amargou um 4 a 0 aplicado pela Espanha, num amistoso.

Se o ciclo de Ingesson na seleção sueca estava terminando, no Bari tudo ia de vento em popa. Klas ganhou o respeito da torcida apuliana pelo que fez na temporada 1995-96 e, principalmente, por ter decidido ficar para disputar a segundona. O clube presidido por Vincenzo Matarrese contratou o experiente meia Thomas Doll, com quem o escandinavo passaria a dividir não só a braçadeira de capitão como a responsabilidade de criar as jogadas – o regista Sergio Volpi também tinha tal importância tática. Eles serviriam um ataque que perdeu Protti e Andersson, mas tinha como opções o experiente colombiano Miguel Ángel Guerrero e três revelações italianas: Francesco Flachi, Marco Di Vaio e Nicola Ventola.

A segunda maior autoridade nos vestiários dos biancorossi, logo depois do técnico Eugenio Fascetti, era Klabbe. Ingesson era conhecido por ser um cara brincalhão e conselheiro – daí veio a alcunha de gigante gentil –, mas também era honesto, direto e falava o que tinha de falar para não deixar os ânimos exaltados. Além de manter o equilíbrio do time fora de campo, o sueco fazia o mesmo nos gramados. Klas atuou nos 38 jogos do Bari na Serie B e marcou seis gols, dentre os quais uma doppietta na vitória do dérbi apuliano contra o Lecce. Ele, Guerrero e Ventola foram os grandes nomes da campanha do acesso barês, conquistado na última rodada graças a uma vitória por 3 a 1 sobre o Castel di Sangro.

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Com garra e responsabilidade, Ingesson também foi o pilar de Fascetti na disputa da Serie A 1997-98. Usando a braçadeira de capitão em definitivo, o sueco comandou um time que ganhou os reforços do goleiro Francesco Mancini, do zagueiro Rachid Neqrouz, do lateral Gianluca Zambrotta e do atacante Phil Masinga, e fez ótima campanha na elite. Os galletti terminaram com uma tranquila 11ª posição, sem flertarem de verdade com o rebaixamento – ainda que a salvação matemática tenha ocorrido apenas nas últimas rodadas. Klabbe marcou quatro gols e ainda ajudou a rebaixar o Lecce: anotou na ida (vitória por 1 a 0) e na volta (empate por 2 a 2).

Ao fim da campanha, o capitão estava valorizado e o Bari não tinha uma situação financeira das mais estáveis. Por isso, no verão de 1998, a diretoria apuliana aceitou uma oferta do Bologna pelo atleta de quase 30 anos e Ingesson se despediu do sul do país. No total, o sueco fez 102 jogos e 12 gols pelos biancorossi. Até hoje, é o único jogador que tem 100% de aproveitamento em cobranças de pênalti pelo clube: foram cinco conversões.

Ingesson chegou a um Bologna que começou a década na terceira divisão, mas que se recuperava com a boa gestão de Giuseppe Gazzoni Frascara. A equipe tivera Roberto Baggio por empréstimo em 1997-98, mas, mesmo sem o craque para a nova temporada, contava com uma base forte. Klabbe encontraria seu compatriota Kennet Andersson e os russos Igor Kolyvanov e Igor Simutenkov, além do goleiro Francesco Antonioli e dos meias Carlo Nervo e Giancarlo Marocchi. Com o sueco, chegavam também o meia-atacante Davide Fontolan e a cereja do bolo: o goleador Giuseppe Signori.

O gigante gentil mostraria sua importância para o forte elenco bolonhês logo nos primeiros dias de vivência na Emília-Romanha. De cara, aconselhou Andersson a permanecer no Bologna e não aceitar uma proposta da Juventus. Durante a temporada, assumiu uma função um pouco mais defensiva no time treinado por Carlo Mazzone e pisou menos nas áreas adversárias, mas sem deixar de ter importância. Ao contrário, foi um pilar da equipe, que conseguiu fazer excelentes campanhas em quatro torneios. O primeiro deles foi a Copa Intertoto, que os felsinei venceram em pleno verão para terem o direito de participarem da Copa Uefa.

Na Serie A, o Bologna foi nono colocado e venceu um jogo de desempate com a Inter para definir qual das equipes disputaria a Copa Uefa da temporada seguinte. Entre os jogadores de linha, Klabbe foi o que mais atuou (2608 minutos), com três gols marcados – dois deles, na penúltima rodada, rebaixaram a Sampdoria.

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A disputa europeia foi ainda mais frutífera para os petroniani, que deixaram Sporting, Slavia Praga, Betis e Lyon pelo caminho e avançaram até as semifinais. A vaga na decisão escapou no finalzinho do jogo de volta contra o Marseille, quando Laurent Blanc converteu penalidade e fez os franceses avançarem por gols marcados fora de casa – o jogo na França acabou em 0 a 0; o na Itália, em 1 a 1.

Na Coppa Italia, o Bologna também caiu nas semifinais. Depois de passar pela Juventus nas quartas, com um gol de pênalti de Ingesson aos 94 minutos do duelo de ida, em Turim, o time emiliano foi eliminado pela Fiorentina com um placar agregado de 4 a 2. Após perderem por 2 a 0 no Renato Dall’Ara, os rossoblù devolveram o placar na Toscana, mas cederam na prorrogação.

Outra vez, Ingesson terminou a temporada valorizado e recebeu uma proposta da Roma. O time capitolino queria um meio-campista de muita garra, tal qual o sueco Thern, que deixara Trigoria dois anos antes. Klabbe preferiu permanecer no Bologna e voltou a ter um ano bastante razoável no clube. A campanha dos rossoblù passou longe de ser um desastre, mas foi inferior à de 1998-99 e teve eliminações mais precoces nas copas e apenas uma 11ª posição na Serie A. Klas atuou em todas as partidas do Italiano e novamente foi o jogador petroniano com mais minutos em campo. No entanto, atritos com o técnico Francesco Guidolin fizeram com que o escandinavo se arrependesse de não ter ido jogar na Cidade Eterna.

No verão de 2000, porém, o meio-campista mudou de clube. Perto de completar 32 anos, Ingesson recebeu uma proposta do Marseille, que fora carrasco do seu Bologna alguns meses antes. Depois de 96 aparições e nove gols pelos rossoblù, Klabbe embarcou para o futebol francês para ser treinado por Abel Braga e dividir vestiários com George Weah, William Gallas, Marcelinho Paraíba e Adriano Gabiru. O sueco foi titular em sua passagem pelo OM, a não ser quando ficou fora de ação por problemas físicos, mas o time ia mal na Ligue 1 – a concluiu logo acima da zona de rebaixamento. Antes mesmo disso, no mercado de inverno, Klas retornou à Itália.

Ingesson aceitou uma oferta de empréstimo feita pelo Lecce, maior rival do Bari. O sueco poderia acabar taxado como traidor, mas o legado que deixou nos biancorossi era mais forte do que a raiva. Inclusive, ele foi bem recebido pelos colegas no San Nicola, num jogo em que a torcida dos galletti se recusou a ir em protesto, devido ao péssimo momento vivido pelo lanterna do campeonato.

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A partir do momento em que foi contratado, Klabbe se tornou titular absoluto do time salentino – só ficou de fora de uma das 20 rodadas da Serie A que estava apto a jogar. Como dono do centro do campo, Ingesson contribuiu para que o Lecce se salvasse do rebaixamento na última rodada. Com 37 pontos, os salentinos levavam vantagem no confronto direto contra o Verona e a rebaixada Reggina.

Ingesson ainda parecia ter gás para continuar atuando profissionalmente, mas decidiu se aposentar em 2001, prestes a completar 33 anos. Já como ex-jogador, voltou a morar nos bosques do interior da Suécia e se tornou lenhador, administrando suas próprias terras. Em 2009, Klabbe anunciou uma notícia triste: tinha sido diagnosticado com mieloma múltiplo, um tipo de câncer que ataca os plasmócitos, células da medula óssea responsáveis pela produção de anticorpos que combatem vírus e bactérias. Um ano depois, a melhora: a doença entrou em remissão e Klas se tornou treinador do time sub-21 do Elfsborg.

Em 2013, mesmo debilitado pelas sequelas da doença, Ingesson foi alçado ao cargo de treinador do time principal do Elfsborg. Contudo, o mieloma múltiplo havia retornado meses antes e evoluía: novos transplantes de células de seu próprio corpo não funcionaram e o ex-jogador viu seus ossos enfraquecerem em consequência da enfermidade.

Anos antes Ingesson era um touro dentro de campo. Agora ele tinha de ser forte para lutar, mesmo com um corpo tão frágil, contra uma doença devastadora, que não tem cura e pode apenas ser amenizada. Infelizmente, porém, Klabbe piorava. Primeiro, usava muletas para ficar em pé; depois, andador; em meados de 2014 já estava numa cadeira de rodas. Ele não desistia de treinar a equipe, mas quedas que levaram a fraturas no braço e no fêmur eram um prenúncio do que estava por vir.

Em 16 de outubro de 2014, Klas deixou o cargo de técnico do Elfsborg por causa de sua saúde debilitada. Apenas 13 dias depois, em 29 de outubro, Ingesson faleceu enquanto dormia. Aos 46 anos, deixou a esposa Veronica e dois filhos – Martin chegou a ser zagueiro na base do Elfsborg, mas não progrediu na carreira. Em vida, o sueco foi uma inspiração para jogadores de seu país, torcedores e jovens atletas de Bari, Bologna, Lecce e outros clubes. Mas, principalmente, exemplo para os que lutam contra doenças incuráveis e precisam, ao mesmo tempo, ter esperança e aproveitar os últimos momentos com os que amam. O fato é que o legado de Klabbe permanece.

Klas Inge Ingesson Nascimento: 20 de agosto de 1968, em Ödeshög, Suécia Morte: 29 de outubro de 2014, em Ödeshög, Suécia Posição: meio-campista Clubes: IFK Göteborg (1986-90), Mechelen (1990-93), PSV Eindhoven (1993-94), Sheffield Wednesday (1994-95), Bari (1995-98), Bologna (1998-2000), Marseille (2000-01) e Lecce (2001) Títulos: Copa Uefa (1987), Campeonato Sueco (1987 e 1990) e Copa Intertoto (1998) Carreira como técnico: Elfsborg (2013-14) Seleção sueca: 57 jogos e 13 gols

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