Calciopédia
·30 de julho de 2019
Calciopédia
·30 de julho de 2019
A evolução do futebol tem feito com que goleiros com menos de 1,80m sejam cada vez mais raros. Vários arqueiros “baixinhos” marcaram época em Copas do Mundo, no entanto: Ladislao Mazurkiewicz, René Higuita e Jorge Campos são exemplos disso. A própria Itália foi bicampeã mundial em 1934 e 1938 com Gianpiero Combi, de 1,74m, e Aldo Olivieri, quatro centímetros mais alto. Dino Zoff, com 1,82m, também não era um gigante. Luca Bucci, do alto de seu 1,78m, também podia sonhar em ser um vitorioso na posição.
Bolonhês, Bucci iniciou sua trajetória na própria Emília-Romanha, mas a cerca de 100 quilômetros de casa. Luca se formou nas categorias de base do Parma e foi alçado ao time profissional antes de completar 18 anos, na temporada 1986-87. O técnico que o promoveu e o fez estrear pela equipe crociata, que disputava a Serie B, foi Arrigo Sacchi – que seria fundamental para sua carreira noutros momentos.
Nos primeiros anos como profissional, Bucci recebeu poucas oportunidades em campo. Após a estreia no Parma, foi emprestado a Pro Patria, na quarta divisão, e Rimini, na terceira. Contudo, só jogou uma vez por cada um dos clubes. O goleiro voltou aos ducali e não atuou nenhuma vez em 1988-89.
Na temporada seguinte, porém, Luca superou Marco Ferrari na hierarquia e foi o reserva de Giacomo Zunico na campanha que levou os parmenses à Serie A pela primeira vez na história. O goleiro jogou quatro partidas, mas não ficou para a disputa na elite. Bucci acabou negociado em definitivo com a Casertana.
A equipe de Caserta era frequentadora habitual da Serie C1 e tinha flertado com o acesso à segundona sete vezes ao longo dos anos 1980. Os falchetti só conseguiriam a promoção à categoria no ano da chegada de Bucci. Com o baixinho na meta, ainda tiveram a melhor defesa: os rossoblù foram campeões com apenas 16 gols sofridos em 34 partidas. Luca também foi titular na Serie B, mas não evitou a queda dos campanos.
Bucci atuou em bom nível pela Casertana e recebeu uma proposta da Reggiana, que também estava na segunda divisão. O goleiro voltou para a Emília-Romanha para ser titular dos teste quadre e, aos 24 anos, finalmente obteve destaque nacional. Luca disputou 36 dos 38 jogos da Regia e se tornou um ídolo da torcida por ter sido um dos principais artífices da histórica promoção: o time treinado por Giuseppe Marchioro sofreu apenas 16 gols e teve a melhor defesa do torneio, do qual se sagrou campeão. O goleiro virou até mesmo garoto-propaganda de uma empresa de transportes local.
Muito hábil com o jogo com os pés, Bucci já estava no radar de Sacchi, que era o comandante da seleção italiana e lhe conhecia bem. O goleiro só precisava de uma boa experiência na Serie A para ser considerado pelo treinador, que ainda contava com Pietro Carmignani, ex-goleiro e ex-auxiliar do Parma, em sua comissão técnica. As chances na elite aconteceram justo com a camisa da equipe crociata, que precisava descartar um jogador estrangeiro e optou por mandar o brasileiro Cláudio Taffarel para a Reggiana, em troca do garoto formado em sua base. A operação se mostrou positiva para todos os envolvidos.
Enquanto Taffa brilhou em Reggio Emilia e salvou os grenás do rebaixamento, Bucci ganhou a titularidade absoluta na equipe de Nevio Scala e viveu momentos gloriosos. Em 1993-94, o Parma foi competitivo em quatro frentes: ficou com a quinta posição na Serie A e garantiu vaga na Copa Uefa; foi semifinalista na Coppa Italia; vice-campeã da Recopa; e, por fim, campeã da Supercopa europeia.
Na ida das semifinais da Recopa, ante o Benfica, Bucci realizou uma das melhores partidas de sua carreira. Fez sete defesas difíceis, pegou pênalti (uma de suas especialidades) e garantiu uma derrota por apenas 2 a 1. Na volta, o triunfo por 1 a 0 levou os italianos à decisão, perdida para o Arsenal.
Em alta, Luca recebeu sua primeira convocação para a seleção italiana em maio de 1994 – justo na lista de Sacchi para a Copa do Mundo. Ser eficiente com os pés e jogar num time que marcava por zona, método que o treinador também executava na Nazionale, foram os fatores primordiais para que o bolonhês superasse Angelo Peruzzi na hierarquia do treinador. Assim, Bucci foi o terceiro goleiro azzurro na expedição aos Estados Unidos, que terminou com o vice-campeonato mundial. No entanto, o baixinho só estreou pela Itália em dezembro, num amistoso contra a Turquia.
Bucci se manteve como titular do Parma por mais duas temporadas. Em 1994-95, superou a concorrência do veterano Giovanni Galli e colaborou com outras campanhas positivas dos gialloblù, que montaram uma defesa forte: Lorenzo Minotti, Luigi Apolloni, Roberto Sensini e Fernando Couto eram os centrais que protegiam a meta emiliana.
Naquele ano, os ducali ficaram na terceira posição da Serie A e tiveram duelo ferrenho com a Juventus: bateram a Velha Senhora na Copa Uefa, mas foram derrotados pela rival na sequência, na final da Coppa Italia. Em 1995-96, os crociati tiveram desempenho um pouco inferior e Bucci fez suas últimas partidas pela seleção – a última de suas 25 convocações ocorreu em outubro de 1996.
Na temporada seguinte, mudança no comando do Parma. Carlo Ancelotti chegou à cidade do presunto depois de uma experiência positiva na Reggiana, assim como Bucci. O bolonhês foi o titular até a sétima rodada da Serie A, mas um certo Gianluigi Buffon, que estreara na campanha anterior, pedia passagem. Don Carletto optou pelo jovem e Luca acabou emprestado no mercado de inverno. O destino foi o Perugia, treinado justamente por Scala, que fora seu comandante na Emília-Romanha.
Luca Bucci recuperou espaço e foi titular dos biancorossi, mas não conseguiu evitar o rebaixamento da equipe umbra. O goleiro retornou ao Parma, ficou seis meses inativo e, em janeiro de 1998, aceitou se transferir para o Torino, que não atravessava uma boa situação do ponto de vista financeiro e, por isso, não montava boas equipes. A equipe caíra para a Serie B em 1996 e estava na categoria quando Bucci chegou.
O goleiro baixinho, que se dedicava e não tinha medo dos grandalhões, se doou bastante nos mais de cinco anos de Toro. Foi titular em quase todo o período em que permaneceu no Piemonte, salvo quando se lesionou em 1998-99 e foi substituído por Luca Pastine e Fabrizio Casazza. No período, Bucci fez 175 partidas e conquistou dois acessos à elite, um título da segundona e uma permanência sofrida na Serie A. Por outro lado, amargou dois rebaixamentos. Depois da última queda, em 2003, acertou com o Empoli.
Pelo clube azzurro, Bucci não teve muita sorte. Fez 19 partidas pelos toscanos, sofreu uma lesão no ombro no início do segundo turno da Serie A 2003-04 e não pode mais colaborar para tentar evitar um novo rebaixamento – que acabou acontecendo. Aos 35 anos, o goleiro ficou parado por mais seis meses e, em janeiro de 2005, voltou para os braços de seu amado Parma. E não para fazer número.
Luca chegou com a confiança de Carmignani para ser o reserva de Sébastien Frey, mas com a missão de ser titular na Copa Uefa. Na competição, os ducali surpreenderam e foram até as semifinais, fase em que caíram para o CSKA Moscou. Depois de um empate em 0 a 0 na Itália, o Parma levou 3 a 0 na Rússia. Bucci acabou sendo substituído pouco depois do gol de Daniel Carvalho, que abriu o placar: foi atingido por um rojão na cabeça e ficou com a visão prejudicada.
Sua quinta passagem pelo Parma tinha um sabor diferente das demais: o clube estava falido, devido ao processo de concordata que a Parmalat atravessara. Sem a verba de sua mecenas, a agremiação só podia montar equipes modestas, que brigavam para não cair. Em todas as temporadas completas que jogou pela equipe dali para frente, Bucci começou como reserva, mas superou os concorrentes por causa de grandes atuações: ficaram para trás Cristiano Lupatelli e Matteo Guardalben, em 2005-06, Alfonso De Lucia, em 2006-07, e Nicola Pavarini, em 2007-08. O veterano era uma das poucas fontes de segurança da equipe e evitou duas quedas. Na terceira campanha negativa, não foi possível.
Bucci deixou o Parma em fim de contrato em junho de 2008, depois de 222 partidas disputadas pela equipe. Entre essas, 176 ocorreram pela Serie A e o colocam na seleta lista dos 10 que mais vezes defenderam os crociati na competição. Em 88 ocasiões, Luca não sofreu gol pelos ducali. E, por ser um goleiro confiável, não parou nem quando deixou a terra famosa por sua gastronomia.
Em fevereiro de 2009, assinou com o Napoli, que atravessava uma crise com seus goleiros. Gennaro Iezzo, Matteo Gianello, Nicolás Navarro e Luigi Sepe defenderam a meta azzurra em 2008-09, sem convencer. Bucci chegou para ser uma sombra mais respeitável do que o garoto Sepe e incomodar o trio de trapalhões. Com 40 anos, um mês e seis dias, o bolonhês jogou contra o Cagliari, pela 32ª rodada da Serie A, e se despediu dos gramados como o mais velho a atuar pelo clube numa partida do máximo campeonato.
Ao longo de sua carreira, Bucci se notabilizou por vestir camisas com numerações incomuns para um goleiro. Mesmo quando a 1 estava disponível ou era possível optar por outras mais populares entre arqueiros, como a malha 12 ou a 16, ele fazia escolhas alternativas.
A extravagante tradição começou no Perugia, quando Bucci vestiu o número 35. No Torino, numa única temporada ele cedeu a 1 para o reserva Pastine e usou a 25. Em sua quinta e última passagem pelo Parma, o baixinho “despirocou”: começou com a 37, escolheu a 7 numa campanha e fez seus dois últimos campeonatos com a 5 nas costas. Por fim, encerrou sua trajetória com a 70 do Napoli.
Dois anos depois de pendurar as luvas, Bucci se tornou preparador de goleiros do Parma. Começou em 2011, como parte do estafe de Franco Colomba, e continuou depois que o técnico foi demitido, em janeiro de 2012. O ex-arqueiro ficou na equipe na gestão de Roberto Donadoni – com quem trabalhou na seleção e no Napoli – e, depois da falência crociata, em 2015, seguiu o treinador rumo ao Bologna. Encerrada a gestão do amigo, Bucci permaneceu no clube de sua cidade natal, no qual trabalha até hoje.
Luca Bucci Nascimento: 13 de março de 1969, em Bolonha, Itália Posição: goleiro Clubes: Parma (1986-87, 1988-90, 1993-97, 1997-98 e 2005-08), Pro Patria (1987), Rimini (1987-88), Casertana (1990-92), Reggiana (1992-93), Perugia (1997), Torino (1998-2003), Empoli (2003-04) e Napoli (2009) Títulos: Serie C1 (1991), Serie B (1993 e 2001), Supercopa Uefa (1993) e Copa Uefa (1995) Seleção italiana: 3 jogos e 1 gol sofrido
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