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Calciopédia

·14 de abril de 2021

Luca Pellegrini foi o capitão da Sampdoria nos anos dourados do clube

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Toda sólida construção começa a partir de colunas que sustentam todo o resto. No caso da histórica Sampdoria dos anos 1980 e 1990, o defensor Luca Pellegrini representou tanto a função de pilar estruturante como a de pedra fundamental. O zagueiro foi o primeiro integrante dos anos dourados dos blucerchiati a ser contratado pelo lendário presidente Paolo Mantovani e, em 11 anos de casa, foi da Serie B ao scudetto. O eterno capitão doriano foi crucial para o clube chegar aonde chegou e, não à toa, foi amado pela torcida.

Natural de Varese, na Lombardia, Pellegrini começou cedo nas categorias de base do clube de sua cidade, homônimo do município. Luca era o primogênito de uma família de jogadores: seus irmãos Davide e Stefano também virariam futebolistas e, após também darem seus passos iniciais no Varese, teriam uma carreira respeitável, com passagens por clubes da elite italiana. O mais velho, contudo, também era o mais talentoso. Assim que completou 15 anos, o defensor polivalente, tranquilo e de boa técnica assinou um contrato profissional com os biancorossi.


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Com apenas 16 anos e 85 dias, Luca foi lançado pelo técnico Eugenio Fascetti e estreou no jogo entre Varese e Brescia, válido pela penúltima rodada da Serie B 1978-79. O clube lombardo já estava rebaixado e Fascetti resolveu dar oportunidades aos jovens: Luca a aproveitou, teve uma boa atuação e foi titular na última jornada, contra o Lecce. Foi protagonista dessa partida que confirmou o Varese na última colocação do campeonato: marcou um gol contra e depois se redimiu, anotando o seu primeiro e único tento com a camisa branca e vermelha.

Na temporada 1979-1980, os bosini foram facilmente campeões da Serie C1. Luca alternou entre a reserva e a titularidade, entrando em campo em 23 dos 34 jogos que o clube disputou naquele campeonato. Atuando como lateral-direito, devido a seu bom passe e sua boa técnica, o garoto seria peça importante no time de Fascetti que retornaria à segundona. As boas exibições de Pellegrini abriram os olhos de Milan e Torino.

No verão de 1980, o Milan superou o Torino e ganhou a disputa pelo zagueiro promissor, mas exigiu que ele ficasse mais uma temporada no Varese, pois achava que ele ainda não estava pronto para vestir a camisa rubro-negra. A solicitação travou a finalização do negócio e, em meio ao impasse, surgiu um personagem que, até então, era pouco conhecido no meio do futebol: se tratava de Paolo Mantovani, empresário que comprara a Sampdoria havia alguns meses e estava em busca de jovens jogadores. Com toda sua ambição, Mantovani atravessou a negociação e ofereceu um valor fixo por Luca. As boas relações que o cartola tinha com Mario Colantuoni, presidente biancorosso, ditaram o resto.

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Na temporada 1980-81, a primeira de Luca em Gênova, a Sampdoria se encontrava na Serie B e ainda não tinha muitas estrelas. No jogo contra o Cesena pela 2ª rodada, o técnico Enzo Riccomini sacou o veterano Giancarlo Galdiolo e colocou o jovem em campo. Na jornada seguinte, Pellegrini ganhou a titularidade e disputou todos os jogos até o fim do campeonato. Naquela temporada, o zagueiro também disputou o seu primeiro dérbi contra o Genoa: com apenas 17 anos, teve a árdua tarefa de marcar o veterano fantasista Claudio Sala, que tinha o dobro de sua idade.

Na temporada seguinte, Renzo Ulivieri foi contratado e os blucerchiati disputaram o título da Serie B com o Verona. Luca foi titular em alguns jogos na temporada 1981-82 e se manteve como um bom substituto para os laterais mais experientes, como Salvatore Vullo e Mauro Ferroni. O time do Marassi ficou na terceira colocação do campeonato e garantiu a promoção para a Serie A seguinte.

Pellegrini fez a sua estreia na elite logo na primeira rodada do campeonato, contra a Juventus. A Sampdoria ganhava por 1 a 0, com gol de Ferroni, quando Ulivieri resolveu fechar mais o time e sacou um jovem Roberto Mancini para colocar Luca no posto de lateral. O garoto, que se destacava pelas suas antecipações e pela boa leitura de jogo, teve o trabalho de marcar o ponta Domenico Marocchino e o fez com maestria.

A temporada de debute na Serie A só não foi melhor para o defensor de 20 anos por causa de uma lesão. Num tenso clássico contra o Genoa – que terminou em um empate por 2 a 2 –, Luca quebrou a clavícula e ficou de molho por algumas semanas, na fase final da campanha doriana. Mesmo assim, atuou em 27 das 30 rodadas do torneio e ajudou os blucerchiati a ficarem na sétima colocação.

Com a chegada de Pietro Vierchowod na temporada 1983-84, Pellegrini foi movido ao centro da defesa por Ulivieri e passou a atuar como zagueiro e líbero. Depois de mais uma sétima colocação na Serie A, a Samp não renovou com Ulivieri e substituiu o bigodudo por Eugenio Bersellini, que introduziu a chamada zona mista.

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Se valendo de toda a sua polivalência, Pellegrini foi vital no 4-4-2 do Sargento de Ferro e atuou em todas as posições da defesa, constituída ainda por Moreno Mannini, Vierchowod e Alessandro Renica. Com o treinador, os genoveses chegaram em duas finais de Coppa Italia, em 1985 e 1986. Luca foi titular em ambas as decisões e conquistou a taça contra o Milan, na primeira delas.

A temporada 1986-87 representou um grande marco na carreira de Pellegrini: com a saída de Alessandro Scanziani para o rival Genoa, Luca se tornou capitão com apenas 24 anos. Sob a batuta do novo técnico, Vujadin Boskov, o capitão blucerchiato foi titular em todos os jogos da equipe na temporada. A chegada do treinador iugoslavo também significou a volta da marcação homem a homem, que não foi usada na era Bersellini.

O sistema de Boskov potencializou o futebol de Luca Pellegrini, que disputou todas as partidas da Serie A em 1986-87, sem perder um único minuto, e se consolidou como um dos melhores zagueiros da liga – sexta colocada, a Sampdoria sofreu 21 gols e dividiu o posto de terceira defesa menos vazada da competição com o Milan e o Napoli, campeão. Na segunda temporada de Boskov, que também era a segunda de Luca como capitão, a Samp melhorou de rendimento. Foi quarta colocada no Italiano e garantiu mais uma vez a Coppa Italia. Pellegrini, então, levantou o seu primeiro título como líder da equipe.

Mesmo com as boas atuações pela Sampdoria ao longo de várias temporadas, Pellegrini jamais teve chance na seleção principal da Itália. No entanto, foi convocado para alguns amistosos do time sub-21 e seria chamado por Francesco Rocca para disputar a Olímpiada de 1988, em Seul. O blucerchiato não foi titular em nenhum jogo da Nazionale: apenas saiu do banco na derrota por 4 a 0 contra Zâmbia.

A última temporada em alto nível de Pellegrini pela Sampdoria foi a de 1988-89, na qual a equipe da Ligúria foi novamente campeã da Coppa Italia, além de ter sido quinta colocada na Serie A e ficado com os vices da Supercopa Italiana e da extinta Recopa Uefa. Depois disso, as lesões musculares começaram a atormentar o defensor – o departamento médico doriano demoraria a descobrir que a causa era a radiculopatia, a lesão ou o comprometimento de um ou mais nervos e suas raízes nervosas, na coluna vertebral. Mesmo assim, Luca conseguiu faturar, com a braçadeira de capitão, o título da Recopa contra o Anderlecht, em 1990.

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Devido às lesões, na histórica temporada do scudetto, em 1990-91, Luca atuou em apenas 15 dos 34 jogos que os blucerchiati disputaram na vitoriosa campanha. Apesar disso, ele participou do jogo contra o Lecce, que confirmou o título para os genoveses, e também esteve presente no último jogo do clube no campeonato contra a Lazio. Quando os campeões foram ovacionados no estádio Marassi, o nome de Luca Pellegrini, Il Capitano, foi cantado em alto e bom tom pela torcida.

Só que demorou pouco para que a celebração se transformasse em revolta. Pellegrini costumava assinar contratos em branco com a Sampdoria, deixando a duração do vínculo a critério da diretoria. Havia feito o mesmo no início de 1990-91, quando deixara apalavrada a renovação por mais três anos. Ao fim da campanha, contudo, Luca descobriu que a papelada desse acordo jamais foi registrada na liga, de modo que o trato não teve validade. Dessa maneira, o zagueiro se despediu da Samp como um dos maiores jogadores da história blucerchiata, somando 362 partidas e cinco troféus em 11 anos.

Numa esclarecedora entrevista em 2018 ao jornal Il Secolo XIX, de Gênova, Pellegrini expressou sua amargura pelo que considerou “traição” de Paolo Mantovani. “Liguei para o presidente para saber o motivo de Paolo Borea [diretor esportivo] ter me procurado e ele me disse que eu não permaneceria para o ano seguinte. Fiquei impassível e perguntei sobre o contrato, nunca depositado, aí desliguei”, disse Luca. “Eu queria ter terminado minha carreira na Sampdoria. Me senti traído”, completou.

Depois da desoladora saída do clube genovês, Pellegrini queria continuar sendo protagonista e aceitou a proposta do Verona, onde encontrou seu ex-técnico Eugenio Fascetti e seu irmão do meio, Davide – na Sampdoria, Luca já havia atuado com o caçula, Stefano, em 1988-89. O ex-capitão doriano disputou 27 partidas do time na temporada, mas não conseguiu impedir o trágico rebaixamento dos gialloblù para a Serie B.

Enquanto amargava o descenso, Pellegrini via a Sampdoria alcançar uma histórica final de Copa dos Campeões contra o Barcelona. O ex-jogador falou sobre isso na mesma entrevista a Il Secolo XIX. “[Os dorianos] Não ganharam porque eu não estava lá. Honestamente, eu não assisti as partidas da Sampdoria na Copa dos Campeões. Me senti traído, o que é pior do que ter uma decepção”, ressaltou.

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Luca jogou por mais uma temporada pelo Verona e não conseguiu retornar com o Hellas para a primeira divisão. Saiu ao fim da temporada 1992-93 e acertou com o pequeno Ravenna. O zagueiro fez uma ótima Serie B pelo clube romanholo, mas mesmo assim amargou a queda para a terceirona.

Por conta de seu desempenho na Emília-Romanha, Pellegrini ganhou mais uma chance de disputar a primeira divisão: foi contratado pelo Torino. O primeiro jogo de Luca com a camisa grená acabou sendo justamente contra a Sampdoria, no Marassi, ocasião em que os torcedores blucerchiati lhe receberam com uma grande festa. Após entrar em campo apenas 14 vezes na temporada 1994-95, o lombardo se aposentou com apenas 32 anos, no intuito de entrar no mundo dos negócios.

Pellegrini contou em entrevistas que recebeu varias propostas para voltar para a Sampdoria depois que saiu de Gênova, mas afirmou que havia uma certa resistência de alguns membros da diretoria em relação ao assunto. Luca esteve perto de retornar para a capital da Ligúria em 1994-95, depois que técnico Sven-Göran Eriksson pediu a sua contratação. Contudo, o veto da direção levou à escolha de Riccardo Ferri para o seu lugar.

Hoje em dia, Pellegrini administra seus negócios na Ligúria e é um dos donos de uma importante companhia de logística portuária em Sampierdarena, bairro em que estão fincadas as raízes populares da Sampdoria, nos arredores do importante Porto de Gênova. Luca também é comentarista esportivo de uma TV italiana e frequentemente comenta jogos da equipe blucerchiata – inclusive, sendo acusado pelos mais supersticiosos de dar azar à equipe. Mas, no final das contas, o respeito da torcida permanece intacto: para os dorianos, ele não foi apenas um capitão, mas Il Capitano.

Luca Pellegrini Nascimento: 24 de março de 1963, em Varese, Itália Posição: zagueiro e lateral Clubes: Varese (1978-80), Sampdoria (1980-91), Verona (1991-93), Ravenna (1993-94) e Torino (1994-95) Títulos: Serie C1 (1980), Coppa Italia (1985, 1988 e 1989), Recopa Uefa (1990) e Serie A (1991)

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