Michael Bradley, o general que saiu do ‘soccer’ para ser o Roy Keane da Serie A | OneFootball

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Calciopédia

·16 de outubro de 2024

Michael Bradley, o general que saiu do ‘soccer’ para ser o Roy Keane da Serie A

Imagem do artigo:Michael Bradley, o general que saiu do ‘soccer’ para ser o Roy Keane da Serie A

Poucos jogadores norte-americanos deixaram saudades no futebol italiano. Embora as estrelas do “soccer” tenham conquistado o seu espaço nos grandes clubes da Serie A na década de 2020, com destaque para Timothy Weah e Weston McKennie, na Juventus, Yunus Musah, no Milan e, principalmente, Christian Pulisic, também nos rossoneri, dá para contar nos dedos quantos atletas ligados à terra do Tio Sam tiveram impacto na Itália.

Pensando em alguns nomes de destaque, é impossível deixar de lado Alexis Lalas, roqueiro e dono de um visual único, que jogou de 1994 a 1996 no Padova. E, com a liberdade para “apelar” um pouco, Giuseppe Rossi, que embora tenha feito toda a carreira na seleção italiana, além de ter defendido clubes como Parma (onde começou), Fiorentina, Genoa e Spal, tem a cidade de Teaneck, no estado de Nova Jérsei, em sua certidão de nascimento. Ah, e claro, há um outro jogador que não pode ficar de fora dessa lista: Michael Bradley, talentoso dono de uma careca marcante.


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Conterrâneo de estado de Rossi, o “General”, apelido que recebeu ao longo de sua carreira, nasceu no mesmo ano do compatriota, 1987, na cidade de Princeton. Seus primeiros passos no esporte, em um país que na década de 1990 começava a nutrir um interesse maior pelo futebol jogado com os pés, foram motivados pelo pai, Bob Bradley.

É bem provável que você já tenha ouvido falar o nome do progenitor. Bradley pai conta com um longeva carreira como técnico, que inclui uma passagem de 2006 a 2011 no comando da seleção dos Estados Unidos. Bob também passou por muitos times da Major League Soccer, pela equipe nacional do Egito e, na Europa, comandou Le Havre (França), Swansea (País de Gales, mas militante na Premier League inglesa) e, por duas vezes, o Stabaek, da Noruega.

Grande fã do irlandês Roy Keane em sua infância, o pequeno Mike começou a se destacar no futebol atuando na mesma posição do ídolo. Meio-campista hábil, e capaz de performar tanto na primeira volância quanto na armação mais avançada, Bradley, em 2004, foi draftado com 16 anos pelo New York MetroStars (hoje, New York Red Bulls), que na época era treinado por Bob, o que gerou certa controvérsia e uma série de críticas por um suposto favorecimento familiar.

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Bradley se adaptou rapidamente ao Chievo e teve importância numa campanha digna do time na Serie A (Getty)

Apesar da polêmica que o introduziu ao futebol profissional, Bradley, desde cedo, mostrava invejáveis versatilidade e capacidade de liderança em campo. Pelo clube, fez 32 partidas e provou o seu talento e personalidade, chamando a atenção do Heerenveen, da Holanda. Assim, em 2006, começava a sua primeira aventura em gramados europeus.

Não demorou muito para o jovem promissor conquistar o seu espaço em terras holandesas e alçar voos ainda maiores. Nos Países Baixos, fez 73 jogos entre o ano de sua chegada e 2008. Foi, inclusive, depois de apenas quatro meses no clube da Frísia que teve a sua primeira chance de entrar em campo pela seleção principal dos Estados Unidos. Desta vez, porém, a oportunidade não veio com o pai.

Embora o careca mais velho tenha assumido o comando dos yankees em 2006, a oportunidade só veio em dezembro. A estreia do filho foi em maio, jogando o finalzinho de um amistoso contra a Venezuela, quando Bruce Arena ainda era o treinador. Dois dias depois, em outro compromisso amigável, repetiu a dose nos minutos derradeiros, ante a Letônia. Os Estados Unidos venceram ambos os jogos, batendo os sul-americanos por 2 a 0 e os europeus pelo placar mínimo.

Com papel de destaque na condução do Heerenveen à Copa Uefa em 2006-07 e também na temporada seguinte, um novo desafio bateu à sua porta: foi contratado pelo Borussia Mönchengladbach, que brigava pela permanência na Bundesliga e, com o ianque no time, a obteve três vezes. Os 81 jogos fizeram do clube de nome complicado o segundo que mais contou com os seus serviços. Ao final da sua passagem, em janeiro de 2011, foi emprestado ao Aston Villa. Na breve aventura pela Grã-Bretanha, somou apenas quatro aparições e pouco contribuiu para que os Villains ficassem no meio da tabela.

Após a frustração na Premier League, Bradley desembarcou na Itália em agosto de 2011. A pedido do técnico Domenico Di Carlo, aluno fiel da escola italiana de montagem de defesas altamente sólidas, o meia chegava para ser um dos pilares na missão do Chievo de se estabilizar na Serie A após escapar do descenso em 2009-10, terminando com o 16º posto, e conseguir a 11ª posição na temporada seguinte.

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Volante capaz de chegar bem ao ataque, o norte-americano desempenhou funções mais defensivas no Chievo (Getty)

Com 18 gols e nove assistências pelo Heerenveen, além de 11 bolas na rede e quatro passes para os colegas guardarem pelo Mönchengladbach, Michael era dono de números honestos para um meio-campista multifuncional. Todavia, pelo Chievo, o jogador se destacou pelas suas virtudes defensivas. Muitas vezes jogando como primeiro volante, terminou a temporada 2011-12 com 36 jogos e apenas um tento anotado e um serviço de garçom em sua conta. Mas o fato de que as suas habilidades ofensivas tenham sido pouco exploradas não diminuíram o seu impacto no time, pelo contrário.

Ao lado de outros pilares da equipe, como o lendário atacante Sergio Pellissier, que fez mais de 500 jogos pelo clube, e o experiente goleiro Stefano Sorrentino, outro que faz parte do hall de ídolos dos gialloblù, Bradley ajudou a conduzir o Chievo a uma honrosa 10ª colocação na temporada – em tempos nos quais a história do Céo, posteriormente falido e renascido, não era tão triste quanto a mais famosa de William Shakespeare, passada em Verona.

Foi sob a atmosfera do estádio Marcantonio Benegodi que o norte-americano – primeiro e, até o fechamento deste texto, único da história dos gialloblù – pode, enfim, “emular” o jogador que mais o inspirou. Quando chegou à Inglaterra, Bradley declarou que “queria ser o Roy Keane” do Aston Villa. A missão não chegou sequer perto do êxito.

Em Verona, no entanto, sua raça, talento, liderança e capacidade de dominar o meio-campo lhe garantiram o apelido de Il Generale pela torcida. Talvez seja um exagero comparar o seu nível ao do irlandês que assombra os sonhos da torcida palmeirense – e deixou as travas das chuteiras nas pernas de tantos rivais –, mas seu estilo nunca esteve tão próximo ao do ídolo.

Eis, inclusive, um dado interessante: enquanto Keane colecionou 99 cartões amarelos e oito expulsões em sua carreira de 612 jogos por clubes, somados a 10 advertências e um vermelho pela Irlanda, ao longo de 67 partidas, Bradley teve 110 cartões amarelos em 577 aparições por equipes, além de 20 amarelinhos em 151 compromissos pelos Estados Unidos. Foi na seleção que teve a única expulsão da carreira, em 2007, contra o Canadá, em duelo válido pela Copa Ouro. Se não acompanhou seu herói no quesito “ir para o chuveiro mais cedo”, ao menos o gosto por ter seu nome colocado nas súmulas por conta de faltas era o mesmo.

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Apesar das turbulências da Roma, Bradley cumpriu o seu papel na capital italiana (Getty)

No futebol rápido e tático da Itália, o filho de Bob não teve problemas para se adaptar. No modelo de jogo compacto e eficiente de Di Carlo, era difícil pensar em um jogador que se encaixasse tão bem no meio-campo quanto o americano o fez. Extremamente disciplinado taticamente, o General era uma peça mais do que necessária para a qualidade na transição da defesa para o ataque. Muito elogiado internamente e também pela imprensa, começou a chamar a atenção de times maiores. Não à toa, ficou apenas uma temporada em Verona antes de ter a oportunidade no maior clube de sua carreira. Em julho de 2012, seu destino foi a Roma.

Quando chegou à capital italiana para ser o xerife, ou melhor, o general do meio-campo giallorosso, a equipe da Cidade Eterna não vivia o seu momento mais especial: ficara com o sexto e o sétimo lugares, respectivamente, nas duas temporadas anteriores. Um chacoalhão era necessário, uma vez que as posições não coincidiam com as ambições da diretoria e da torcida. Os cartolas, aliás, eram novos – e norte-americanos, o que contribuíra para a chegada de Bradley, num esforço para popularizar a Roma nos Estados Unidos. Em 2011-12, Thomas DiBenedetto fora o presidente da Loba; em 2012, assumiu James Pallotta.

Após começar a temporada lesionado, Bradley foi se integrando aos poucos ao elenco e ao esquema do técnico Zdenek Zeman, até que não perdeu mais a titularidade após assumi-la. Sua adaptação foi mais uma prova de sua versatilidade. Apesar de seguir jogando como um meia mais recuado, assim como no Chievo, o modelo de futebol era completamente diferente. O estilo defensivo de Di Carlo não existia mais, mas sim um jogo rápido e ofensivo, numa equipe com ambições maiores.

Ao lado de ícones como Francesco Totti, Simone Perrotta e Daniele De Rossi, e jovens promessas como Erik Lamela e Miralem Pjanic, Bradley, que assim como no Chievo, era o primeiro jogador norte-americano da história romanista – e foi o único até 2021, quando a Roma teve em campo o jovem Bryan Reynolds –, cumpriu bem o seu papel, mas não mudou a história recente da agremiação.

Em fevereiro de 2013, Zdenek foi demitido após 10 vitórias, quatro empates e nove derrotas na Serie A. Coube a Aurelio Andreazzoli comandar a equipe no restante da temporada e, com um aproveitamento melhor, de 62,2% contra 49,2% do antecessor, levar a Roma a mais um sexto lugar. Na Coppa Italia, a Loba até teve bom desempenho, chegando à final, mas não há torcedor que queira se lembrar do resultado do jogo decisivo. Bradley foi titular e jogou os 90 minutos na derrota por 1 a 0 para a Lazio, sua arquirrival, na primeira decisão capitolina da história do torneio.

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Com a troca no comando da equipe romana, o volante perdeu espaço e acabou voltando para a América do Norte (Getty)

Apesar de ser um time recheado de bons talentos, a Roma pagou pelo inconstante desempenho defensivo, que, além de não ser privilegiado pela formação de Zeman, tampouco contava com unanimidades. No gol, estavam os questionáveis Maarten Stekelenburg e Bogdan Lobont, além de Júlio Sérgio, em fase da carreira que o distanciava de seus melhores momentos. A defesa tinha a base formada por Vasilis Torosidis, Leandro Castán, Nicolás Burdisso e Federico Balzaretti. Marquinhos, aos 19 anos, e Alessandro Florenzi, com 22, eram os principais talentos, mas pouco puderam fazer para ajudar.

Mesmo com o bom desempenho em campo em seu primeiro ano, a titularidade de Bradley na temporada seguinte não era mais uma garantia. Agora comandado pelo francês Rudi Garcia, o estadunidense continuou tendo bons minutos, mas a reserva também começara a se tornar mais habitual. Assim, em janeiro de 2014 voltou para a MLS. Contratado pelo Toronto FC, ficou no time canadense até o final de sua carreira, em janeiro de 2024.

Na equipe que tem o italiano Sebastian Giovinco como um de seus maiores ídolos, Bradley construiu uma história de 308 jogos, 19 gols e 23 assistências. Para alguns torcedores, é o maior ícone da agremiação do Canadá. Foi em Toronto, inclusive, que conquistou os únicos títulos da carreira por clubes, com destaque para a MLS Cup, em 2017. Na seleção, sagrou-se duplamente campeão da Copa Ouro, em 2007 e 2017. Mike ostenta o prêmio de futebolista do ano nos Estados Unidos, em 2015, e jogou as Copas do Mundo de 2010 e 2014 – vale destacar que os ianques não se classificaram para a edição de 2018.

Um jogador que já “começou veterano”, pela sua capacidade de predominar no meio-campo e pela habilidade em liderar desde cedo, Michael Bradley, o General que queria ser como Roy Keane, teve uma carreira sólida, conquistando respeito por onde passou. Talvez merecesse mais tempo nos principais holofotes do futebol europeu, mas certamente deixou seu legado no “soccer”. Fora dos campos, tem tentado transmiti-lo como auxiliar de seu pai, Bob, e teve sua primeira experiência neste cargo no Stabaek.

Michael Sheehan Bradley Posição: meio-campista Clubes: New York MetroStars (2004-05), Heerenveen (2006-08), Mönchengladbach (2008-11), Aston Villa (2011), Chievo (2011-12), Roma (2012-14) e Toronto FC (2014-23) Títulos: Copa Ouro (2007 e 2017), Conferência Leste da MLS (2016, 2017 e 2019), Campeonato Canadense (2016, 2017, 2018 e 2020), Supporters’ Shield (2017) e MLS Cup (2017) Seleção norte-americana: 151 jogos e 17 gols

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