Última Divisão
·07 de março de 2024
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Texto escrito por Davi Saito (Por Fora das Quatro Linhas @pfqloficial)
No último “O que aconteceu”, o escolhido foi o Flu de Feira, clube tradicional da Bahia que busca se reerguer após anos no ostracismo. Agora falaremos sobre o Gama, clube de Brasília que se destacou bastante, mas está sumido do cenário nacional nos últimos anos. Vem com a gente!
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A Sociedade Esportiva do Gama foi fundada em 15 de novembro de 1975 por Hermínio Ferreira Neves, o Tim, na região administrativa do Gama, Distrito Federal. Sua primeira partida foi em 21 de fevereiro de 1976 contra o Humaitá, vencida por 2 a 0 e válida pelo Torneio Imprensa.
Apesar do nome inusitado, o Torneio Imprensa era um campeonato sério, sendo considerado o primeiro torneio oficial no novo regime profissional do DF. Assim, o Gama venceu este torneio em 1977 e 1978, o que tornou o time bastante popular.
Em 1979, veio o primeiro estadual do Gama, que derrotou o seu rival Brasília na final. Na época, a vitória foi considerada um “Davi vs Golias”, pois o Brasília era o atual tricampeão do estado e tinha mais dinheiro. Com o título, o Gama também disputou o Brasileirão de 1979, com um grande público em seu estádio, o Bezerrão.
Uma curiosidade sobre o ano de 1979 é que, segundo registros do Futebol 80, o Gama enfrentou a Seleção da Nigéria no Bezerrão e, simplesmente, venceu por sonoros 4 a 0. Em 1981, o Alviverde conquistou seu primeiro título regional: o Torneio Centro-Oeste. Nesse período, o clube foi convidado a disputar o Campeonato Goiano, mas recusou.
O restante da década de 80 não foi muito proveitoso para a equipe: Primeiramente, ocorreu a promoção Gamão Milionário, que seria uma forma de torcedores financiarem o clube por meio de carnês. No entanto, a promoção foi um fracasso que colocou o clube em severas dificuldades e, por muito pouco, não o levou à extinção.
Na década de 90, o clube começou a ser reconstruído financeiramente, e o protagonista tem nome: o empresário Wagner Marques, que injetou recursos financeiros no clube e, com isso, este virou protagonista no cenário local. Dessa forma, o Gama ganhou seis estaduais na década, além da Série B de 98.
Após o polêmico Caso Sandro Hiroshi (leia abaixo), o Gama foi punido pela FIFA em 2000 por ter ido à Justiça Comum contra a CBF, o que gerou uma outra briga nos tribunais, desta vez por conta da final do Candangão daquele ano. O juiz Jansen Fialho de Almeida, da Vara Cível de Planaltina, logo após a suspensão, concedeu uma liminar que permitiu ao Gama jogar a decisão.
Depois de uma longa batalha e alguns adiamentos da final por conta da indecisão sobre o assunto, a final foi realizada algumas semanas depois da data original, com o Gama sagrando-se campeão. Na Copa João Havelange, ficou em 22º dentre os 25 times do Módulo Azul.
A partir do século XXI, o Brasiliense tornou-se o grande rival do Gama e, infelizmente para o Alviverde, um contraste interessante aconteceu: enquanto o Brasiliense ascendeu, o Gama caiu. Em 2002, veio o rebaixamento para a Série C, da qual foi vice em 2004.
A partir de então, o Gama passou a ter, apenas, alguns feitos positivos esporádicos, já que o Brasiliense dominou o cenário estadual. Alguns desses feitos foram as classificações sobre Botafogo (2004) e Vasco (2007) na Copa do Brasil, que incluíram o adiamento do gol 1000 de Romário.
Em 2008 o Gama foi rebaixado para a Série C e, em 2010, para a Série D. Porém, o pior ainda estava por vir: após 20 anos como presidente, Wagner Marques deixou o clube, colocando-o em uma fase de transição da qual, aparentemente, não saiu até agora.
Apesar de tudo, o Gama ainda conseguiu alguns respiros, como o fim do jejum de 12 anos no Candangão em 2015 e a participação na Copa do Brasil de 2012, na qual foi eliminado na primeira fase. Além disso, fez uma excursão pela Europa em 2014, jogando contra times como o Charleroi, da Bélgica, e o NAC Breda, da Holanda. Por fim, chegou à final da Copa Verde em 2016, perdendo para o Paysandu.
O pior para o Gama veio em 2020: apesar do bicampeonato candango em 2019 e 2020, o clube passou por uma severa dificuldade financeira, agravada pela pandemia. Dessa forma, salários ficaram atrasados por sete meses, e o elenco entrou em greve.
Em relato ao @geglobo, a então diretoria do Gama disse que os atrasos ocorreram por conta de recursos do exterior não recebidos. Além disso, a equipe feminina teve que pagar a inscrição para o Candangão da modalidade do próprio bolso, já que o clube não as custeou.
Ainda em 2020, o Gama perdeu seu patrocinador, e a torcida teve que ajudar a equipe com uma vaquinha virtual, que arrecadou alguns milhares de reais para custear a equipe. Por fim, o clube obteve um empréstimo de R$ 400 mil dando como garantia uma área de 20 mil m² no valor de R$ 2 milhões, segundo apuração do Distrito do Esporte.
Com o grande rombo nas finanças, o resultado esportivo não demorou: com um fiasco na Série D em 2021, o clube está sem divisão nacional desde então e não vai à final do Candangão desde 2020, o que diminui suas receitas e, por consequência, aumenta a criese financeira. Segundo estimativa do Correio Brasiliense, a dívida em 2021 chegou aos R$ 20 milhões.
Em 2021, o Gama tornou-se uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) visando abater suas dívidas e captar investimentos. Na época, o clube até criou uma criptomoeda, a Gama Utility Token (GAMAO). Porém, o projeto não durou muito tempo.
No ano seguinte, a Junta Comercial, Industrial e Serviços do DF (Jucis-DF), após longa batalha entre a Sociedade Esportiva do Gama e o Gama SAF, extinguiu a SAF e seu CNPJ, o que basicamente levou o clube à estaca zero e devolveu à Sociedade Esportiva o comando do futebol do clube.
Em entrevista ao @geglobo, o especialista em Direito Desportivo e advogado Victor Amado explicou o motivo da extinção:
“A decisão vem anteriormente a uma decisão que determinava a juntada de atos constitutivos da Green White, uma empresa sediada no exterior, que seria a maior investidora da Gama SAF. Essa juntada dessa documentação não foi realizada dentro do prazo estabelecido pela Junta, não atendendo a um requisito essencial do Direito Brasileiro, que é a demonstração de quem são os diretores, os constituidores desta empresa”
Dessa forma, o Gama tenta se reconstruir sem uma SAF. No atual Candangão, o clube é vice-líder da primeira fase, com 19 pontos em 8 jogos, e a meta é obter uma vaga na Série D de 2025. Neste ano, o Gama não terá divisão nacional para disputar.
O Gama é um dos times mais tradicionais do DF. Mas por conta de má gestão financeira e da falta de adequação ao futebol moderno, ficou para trás. Hoje não consegue ao menos ser protagonista no estadual. Para se reconstruir, o caminho é longo, pois há uma forte crise econômica, baixas receitas e falta de maior aporte financeiro.
No Brasileirão de 1999, Sandro Hiroshi era jogador do São Paulo. Apesar de ter sua identidade adulterada (foi registrado como nascido em 1980, mas nasceu em 1979), o grande “x” da questão não é esse. O Tricolor Paulista escalou o jogador de maneira irregular em dois jogos do campeonato: uma goleada contra o Botafogo por 6 a 1 e um empate contra o Internacional em 2 a 2.
Desta forma, as duas equipes pediram, respectivamente, três e dois pontos à Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), que deu causa ganha àquelas. E é neste ponto que o Gama vira protagonista.
O rebaixamento para a Série B funcionava de um jeito bem diferente: os rebaixados seriam aqueles que tivessem as quatro menores médias entre as pontuações de 1998 e 1999. Era um sistema de média ponderada, que pode ser entendido da seguinte forma:
Pontuação = [(P98/23) + (P99/21)]/2, sendo que haviam 23 jogos em 98 e 21 em 99. No caso dos times como o Gama, que jogaram a Série B em 98, a média era simplesmente P99/21.
Seguindo esta lógica, os três pontos que o Botafogo ganhou nos tribunais livraram o clube do rebaixamento e colocaram o Gama na Série B (segundo a Wikipedia, o Botafogo ficou com média de 1,249, sendo o primeiro fora da zona, enquanto o Gama terminou com 1,238).
Insatisfeito com a desorganização do torneio e, principalmente, com a queda no “tapetão”, o Gama foi à Justiça Comum contra a CBF. A principal alegação era que, segundo resolução do Código Brasileiro Disciplinar do Futebol, o Botafogo não deveria ter ganho os pontos. Entretanto, o TJD seguiu uma outra resolução, a da CBF. Com essa polêmica, o clube brasiliense obteve sucesso e a CBF ficou incapacitada para organizar a edição seguinte do Brasileirão.
Com o sucesso da ação do Gamão, o Clube dos 13 assumiu a organização da próxima edição do Brasileirão e, após acordos judiciais e até uma intervenção da FIFA, foi criada a Copa João Havelange para o ano 2000. O torneio tinha um funcionamento bem diferente, com quatro módulos.
Depois a fase final era disputada por 16 times em formato mata-mata, e o vencedor seria proclamado como o campeão brasileiro. Dessa forma, o Vasco venceu o São Caetano na final (com direito à icônica logo do SBT no uniforme).
Relembre a Copa João Havelange no “Aquele Brasileirão”:
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