Calciopédia
·10 de setembro de 2020
Calciopédia
·10 de setembro de 2020
Você se recorda de algum jogador que tenha marcado gols nas cinco principais ligas europeias? Puxar essa estatística na memória não é das tarefas mais fáceis. Afinal de contas, apenas um jogador na história do futebol conseguiu tal proeza. Trata-se de Florin Raducioiu, atacante romeno que rodou por vários times italianos nos anos 1990 e ganhou uma Liga dos Campeões pelo Milan.
Nascido e criado em Bucareste, capital da Romênia, Raducioiu se moldou como jogador no Dinamo Bucareste. Com faro de gol, o jovem se destacou tanto nas categorias de base que sua estreia pelo time principal ocorreu de forma bem precoce, aos 16 anos, em maio de 1986. De fato, os holofotes apontaram para o atacante em 1990.
Após marcar 14 gols pelo campeonato nacional e ajudar o Dinamo Bucareste a vencer tanto a liga como a Copa da Romênia, Florin carimbou seu passaporte para a Copa do Mundo de 1990, realizada na Itália. Embora tenha sido titular do selecionado romeno, o atacante passou em branco no Mundial. Os romenos caíram nas oitavas de final, nos pênaltis, para a Irlanda.
Apesar da seca na Copa, Raducioiu ganhou visibilidade e reforçou o Bari no verão europeu daquele ano. Com o número 9 às costas, ele era a esperança de gols dos galletti ao lado do brasileiro João Paulo, seu parceiro de ataque. Porém, o desempenho de Raducioiu em sua primeira temporada na Apúlia ficou aquém do esperado: marcou apenas cinco gols em 34 partidas. O suficiente para ajudar os biancorossi a permanecerem na elite.
Após contratar o croata Zvonimir Boban e o australiano Frank Farina, o Bari se viu obrigado a se desfazer de um atleta estrangeiro. Naquela época, os times só podiam contar com três gringos no elenco, e o Bari possuía quatro: João Paulo, Raducioiu, Boban e Farina. Assim, Florin foi o escolhido para deixar a agremiação. Mas não demoraria a encontrar nova casa.
Para a temporada 1991-92, o Hellas Verona, recém-promovido da segunda divisão, depositou em Raducioiu a esperança de gols na elite do futebol italiano. Porém, seu rendimento foi pior do que no Bari. O avançado anotou só dois tentos em 34 jogos (somando Serie A e Coppa Italia), os gialloblù tiveram um ano péssimo dentro de campo e não conseguiram escapar do rebaixamento. Raducioiu não permaneceu para a disputa da Serie B e deixou a equipe veronesa.
Depois de duas temporadas fracas, o atacante buscaria a redenção no Brescia. Florin chegou à Leonessa em um contexto semelhante ao do Verona, em que o time havia acabado de subir para a primeira divisão. Três compatriotas de Raducioiu chegaram ao clube biancazzurro para a época 1992-93: Ioan Sabau, Dorin Mateut e Gheorghe Hagi – este último, um talentoso meia canhoto, seria o grande destaque da equipe. Mircea Lucescu, também romeno, era o treinador.
A serviço dos rondielle, Raducioiu reencontrou o caminho das redes: marcou 13 gols em 29 partidas na Serie A de 1992-93 e foi o artilheiro da agremiação no certame. Caçado por rivais, Florin chegou a se desentender seriamente com o violentíssimo Pasquale Bruno, do Torino – que também teve problemas com Hagi, meses mais tarde. Na derrota para os grenás, o defensor deu carrinho duro sobre o romeno, que precisou deixar o estádio Comunale carregado. Nos vestiários, como o corte era tão profundo que se podia visualizar parte dos ossos do tornozelo, o atacante teve de levar nove pontos.
Raducioiu acusou o adversário de tê-lo machucado de propósito. O romeno disse a jornalistas que Bruno passou o primeiro tempo todo lhe provocando e que, quando teve a chance, cumpriu a ameaça de “arregaçar” a sua perna. Questionado por repórteres se o que Florin havia declarado tinha procedência, Bruno ironizou. “É verdade. Eu também disse que tinha comigo uma Magnum e uma espingarda, e que poderia também atirar nele”, disse, antes de deixar a zona mista dando risada – tudo está disponível em vídeo.
O romeno perdeu uma partida, por conta da lesão, e voltou a campo com bom desempenho. Apesar disso, o camisa 9 não impediu o Brescia de retornar à segundona: o time lombardo fechou o grupo de quatro rebaixados ao lado de Pescara, Ancona e Fiorentina. Na época, equipes que empatavam em pontuação no campeonato precisavam realizar um jogo de desempate em campo neutro para definir título, classificação a competições europeias ou rebaixamento. O Brescia teve o mesmo número de pontos que a Udinese e, embora levasse a melhor no confronto direto – nos quais Raducioiu fez três gols –, acabou derrotado no duelo mais importante, em Bolonha. Após o descenso, o romeno deixou os biancazzurri, mas permaneceria na região da Lombardia, no norte da Itália.
Por 4,8 bilhões de velhas liras, Raducioiu acertou com o Milan de Fabio Capello. Pelos rossoneri, apesar de ter vencido uma Serie A, uma Liga dos Campeões e uma Supercopa Italiana – além de ter sido vice da Supercopa Uefa e do Mundial Interclubes, num jogão contra o São Paulo –, o romeno pouco atuou. Florin realizou apenas quatro gols em 14 partidas, devido a uma forte concorrência. O Diavolo ainda contava com nomes como Jean-Pierre Papin, Daniele Massaro, Marco Simone, Dejan Savicevic, Brian Laudrup e Gianluigi Lentini.
Após um ano de escassa utilização no clube rossonero, Florin recuperou a moral na seleção. Pela Romênia, marcou quatro gols em cinco jogos na histórica Copa de 1994 para a Tricolorii. A equipe europeia eliminou a Argentina e só caiu nas quartas de final para a Suécia, naquele que foi o melhor desempenho romeno num Mundial. Embalado por seu desempenho nos Estados Unidos, Raducioiu acabou vendido pelo Milan ao Espanyol por 5,5 bilhões de liras.
Na Espanha, o atacante finalmente conseguiu seguir em um clube por mais de um ano, barreira que ele ainda não havia conseguido quebrar desde que tinha deixado o Dinamo Bucareste. Contudo, o desempenho deixou a desejar, de modo a marcar somente oito gols em dois anos de Espanyol.
Irregular nos clubes, confiável na seleção. Assim poderíamos definir Raducioiu em meados da década de 1990. Embora estivesse em baixa no futebol espanhol, o atleta anotou tentos importantes em jogos válidos pelas Eliminatórias da Eurocopa de 1996, ajudando a Romênia a se classificar para o torneio.
Todavia, a participação do escrete romeno na Euro foi pífia: com três jogos e três derrotas, segurou a lanterna de seu grupo, que contava com Espanha, França e Bulgária. Depois da Eurocopa, Raducioiu cairia de rendimento e não voltaria mais à seleção, com a qual realizou 40 partidas e foi às redes 21 vezes – é o sétimo maior artilheiro da história do selecionado.
Antes de começar a temporada 1996-97, o Espanyol emprestou Florin ao West Ham. O jogador, porém, não foi bem em solo inglês, quase não entrou em campo e marcou somente dois gols. Ele retornou a Barcelona antes do fim do empréstimo, fez alguns jogos pelo time espanhol e anotou cinco tentos. Dois deles, pesadíssimos, em vitória por 2 a 0 no clássico contra o Barça. Com a doppietta, ajudou os periquitos a se salvarem do descenso e viu sua carreira se relançar. Raducioiu começou 1997-98 na Espanha, mas foi cedido novamente, desta vez ao Stuttgart.
Na Alemanha, o jogador contribuiu para o quarto lugar do Stuttgart, com quatro gols em 19 jogos na Bundesliga. Por pouco ele não se sagraria campeão da Recopa Europeia, uma vez que o time alemão alcançou a final da competição, mas perdeu do Chelsea pelo placar mínimo. Ao fim da temporada, Raducioiu se desvinculou do Espanyol e voou para a Itália, onde defenderia novamente o Brescia. Não importava se os biancazzurri estavam na Serie B: o romeno queria jogar com mais regularidade.
No entanto, o centroavante ficou devendo em sua segunda passagem pelo Brescia. Ele revezou com Dario Hübner e Emiliano Bonazzoli uma posição de titular no ataque da Leonessa e, na segunda divisão, balançou as redes apenas três vezes em 24 exibições, numa campanha medíocre dos biancazzurri. Na temporada seguinte – e com Raducioiu quase sempre no banco – os rondielle conseguiram retornar à primeira divisão.
Após deixar o Brescia, em 2000, o centroavante romeno voltou ao Dinamo Bucareste e, posteriormente, viajou à França para defender o Monaco e encerrar a carreira no modesto Créteil. Ele entrou para a história do futebol como o único jogador a haver atuado e marcado gols nas cinco principais ligas europeias: Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália.
Mais tarde, o volante dinamarquês Christian Poulsen, ex-Juventus, também alcançaria a proeza de jogar nos cinco principais campeonatos do Velho Continente. Porém, nenhum outro jogador conseguiu balançar as redes atuando por times de Bundesliga, La Liga, Ligue 1, Premier League e Serie A. Um feito histórico que pertence apenas a Raducioiu.
Aposentado, Raducioiu foi diretor esportivo do Dinamo Bucareste e passou a se dedicar à formação de novos atletas. Florin foi técnico da seleção romena sub-16 entre 2012 e 2014, e também treinou o Aldini, agremiação de base romena afiliada ao Milan. Atualmente, o ex-jogador é funcionário do clube rossonero, para o qual executa a função de olheiro da equipe sub-19.
Florin Valeriu Raducioiu Nascimento: 17 de março de 1970, em Bucareste, Romênia Posição: atacante Times: Dinamo Bucareste (1985-90 e 2000-01), Bari (1990-91), Hellas Verona (1991-92), Brescia (1992-93 e 1998-2000), Milan (1993-94), Espanyol (1994-96 e 1997), West Ham (1996-97), Stuttgart (1997-98), Monaco (2001-02) e Créteil-Lusitanos (2003-04) Títulos: Copa da Romênia (1986 e 1990), Campeonato Romeno (1990), Supercopa Italiana (1993), Serie A (1994) e Liga dos Campeões (1994) Seleção romena: 40 jogos e 21 gols