Trivela
·24 de maio de 2022
Trivela
·24 de maio de 2022
O final da temporada do Campeonato Polonês teve uma boa e uma má notícia em relação às camisas mais pesadas do país. Primeiro, o Wisla Cracóvia acabou rebaixado na primeira divisão. Segundo maior campeão nacional com 14 títulos, a Estrela Branca figurava na elite de maneira ininterrupta desde 1996, mas já vinha ensaiando o descenso nos últimos anos por conta de uma grave crise financeira – mesmo freada desde que o ídolo Kuba virou um dos proprietários. Em compensação, quem está de volta à primeira divisão é o Widzew Lodz, quatro vezes vencedor da liga. Os alvirrubros estavam longe da elite desde 2014 e precisaram se reconstruir a partir da quinta divisão após falirem. Foram quatro acessos em sete temporadas, até a comemoração desatada neste final de semana.
Fundado em 1906, o Wisla Cracóvia está entre os clubes mais tradicionais do Campeonato Polonês. A Estrela Branca levou seu primeiro título ainda em 1927 e teve um período relevante pouco depois da Segunda Guerra Mundial. De 1952 a 1998, porém, o único troféu faturado pelo Wisla veio em 1978 e a equipe teve três rebaixamentos distintos à segundona. Ao menos, os períodos de baixa não custaram o posto entre as equipes mais populares do país. A última passagem pela segunda divisão durou duas temporadas, até 1996, e antecedeu o período mais glorioso da agremiação, com o apoio de uma companhia local. O maior domínio do Wisla ocorreu de 1999 a 2011, com oito títulos do Campeonato Polonês e quatro vices, além de dois troféus na Copa da Polônia. Num intervalo de 13 anos, apenas uma vez a equipe não ficou entre as duas primeiras da liga.
A partir de 2011/12, o Wisla Cracóvia sofreu uma queda abrupta no Campeonato Polonês. Passou a frequentar o meio da tabela, sem superar a quinta colocação, e sequer se classificou às copas europeias. A situação gerou uma crise econômica que se agravou com o passar dos anos, até chegar ao limite dos riscos de rebaixamento nas temporadas mais recentes. A Estrela Branca chegou a recorrer a antigos ídolos para tentar escapar da bancarrota e conseguir a mera licença da liga. Jakub Blaszczykowski não apenas retornou a Cracóvia para jogar pela equipe, como também se tornou um dos proprietários, ao lado de empresários locais. Todavia, o Wisla permaneceu na corda bamba. Nas duas temporadas anteriores a esta, o time encerrou sua campanha no 13° lugar e beirou a zona de rebaixamento.
Em 2021/22, por fim, o Wisla Cracóvia não escapou do descenso. A situação financeira melhorava e a diretoria conseguiu novos patrocínios, mas a montagem do elenco não vingou. O time chegou até a liderar durante as duas primeiras rodadas, mas logo os resultados degringolaram. A Estrela Branca passou a frequentar a parte inferior da tabela e entrou na zona de rebaixamento durante a metade final do segundo turno – curiosamente, no momento em que seu rival nacional, o Legia Varsóvia, iniciava a fuga do Z-3 após um início de campeonato claudicante. Depois disso, o Wisla não saiu mais. A queda se consumou ainda com uma rodada de antecedência. Outros ex-campeões nacionais que também se viram ameaçados acabaram escapando – incluindo o Slask Wroclaw, o Stal Mielec e o Zaglebie Lubin.
Neste sábado, o Wisla Cracóvia disputou seu último jogo da temporada sob protestos. Os torcedores foram ao estádio vestidos de preto. Vaiaram jogadores e criticaram dirigentes. Kuba foi exatamente um dos raros poupados. O veterano de 36 anos disputou apenas dois jogos do campeonato, ao romper os ligamentos do joelho. O ídolo foi ao centro do gramado e conversou com o público, pedindo desculpas pela situação e explicando os problemas. Sairia aplaudido, sob a promessa de dar seu máximo pela recuperação imediata.
A grande questão para o Wisla Cracóvia está na maneira como o clube lidará com o sufocamento financeiro. O rebaixamento diminui ainda mais as possibilidades de receitas e dificulta a reconstrução. Kuba chegou como um salvador e um herói local. Conseguiu contornar as crises mais urgentes e evitar a falência, mas ainda não acertou no plano esportivo e, por isso, o curso de queda se acentuou. Com uma base de torcedores grande e um estádio reformado há uma década, o Wisla possui alguns pontos para se escorar nesse processo. Entretanto, nada é tão simples, como a derrocada das últimas temporadas deixou bem claro. O rebaixamento é a parte mais dolorosa desse apequenamento.
Se a primeira divisão tinha o drama de um gigante, a segundona contou com a glória de uma agremiação que remete aos anos dourados do futebol polonês. Fundado em 1910, o Widzew Lodz viveu sua grande ascensão a partir da década de 1970, quando se estabeleceu na primeira divisão e começou a lutar pelo topo da tabela. Os primeiros títulos vieram no início dos anos 1980, com o bicampeonato nacional. E os alvirrubros ainda teriam o orgulho de ceder quatro jogadores à seleção na campanha rumo às semifinais da Copa do Mundo de 1982: os ídolos Boniek, Smolarek, Zmuda e Mlynarczyk. Já em 1982/83, a mesma base eliminou o Liverpool na Copa dos Campeões e alcançou as semifinais do torneio, eliminada apenas pela fortíssima Juventus.
Até os anos 1990, o Widzew Lodz permaneceu como um time competitivo na Polônia. Voltou a emendar outro bicampeonato nacional e também alcançou a fase de grupos na Champions League pouco antes da virada do século. No entanto, a crise econômica abateu fortemente a agremiação, quando a gangorra entre as duas primeiras divisões do Campeonato Polonês se tornou frequente. Já o fundo do poço foi atingido na temporada 2014/15. Na segundona, os alvirrubros declararam falência e precisaram recomeçar na quinta divisão da liga nacional.
A reconstrução do Widzew Lodz aconteceu passo a passo. A equipe saiu da quinta divisão logo na primeira tentativa, mas passou dois anos na quarta divisão. Depois, seriam mais duas temporadas na terceirona e também mais duas na segundona. Nono colocado na edição passada, o time deu um salto para ficar com o vice-campeonato desta vez. Seria uma disputa apertada com o Arka Gdynia, de bons desempenhos nas copas durante os últimos anos e também com passagem recente pela elite.
O Widzew Lodz passou 31 das 34 rodadas da segunda divisão na zona de acesso direto. Todavia, o time abusou dos tropeços na reta decisiva e sofreu três derrotas nos quatro jogos anteriores à rodada final. Um ponto à frente dos perseguidores, precisava vencer seu compromisso derradeiro. Conseguiu um salvador 2 a 1 sobre o Podbeskidzie, que desencadeou uma grande festa de sua torcida. Ao lado dos alvirrubros, também subiu o Miedz Legnica, que esteve na elite em 2018/19. Já os playoffs de acesso terão uma disputa pela última vaga entre Arka Gdynia, Korona Kielce, Odra Opole e Chrobry Glogów. Nenhum deles com o peso do Widzew Lodz para a história da liga nacional.