Calciopédia
·23 de outubro de 2020
Calciopédia
·23 de outubro de 2020
O futebol – de maneira semelhante ao que conhecemos hoje – começou a ser praticado na Inglaterra, em meados do século 19. Desde então, diversos craques e estrelas surgiram para encantar o mundo e fomentar o esporte por todo o globo terrestre, mas apenas um jogador conseguiu ter seu nome diretamente atrelado ao jogo: Edson Arantes do Nascimento. Pelé. O Rei.
Edson nasceu em 23 de outubro de 1940, na cidade de Três Corações, em Minas Gerais. Já na adolescência, o garoto se transformou em Pelé e, aos 17 anos, assombrou o mundo ao decidir uma final de Copa do Mundo – na qual deu ao Brasil a sua primeira conquista da competição. Desde então, o seu nome e o futebol se entrelaçaram, viraram sinônimos e essa é a maior diferença entre o Rei do Futebol e qualquer outro jogador que já tenha passado pelos gramados. Em seu aniversário de 80 anos, detalhamos os seus confrontos e o seu rendimento contra clubes italianos e a Nazionale.
Em junho de 1959, o mundo do futebol já estava de joelhos pelo jovem craque que conquistou a Copa um ano antes, na Suécia. O Santos, que também tinha um grande time, era requisitado como importante adversário dos times europeus em amistosos de verão. Sendo assim, naquele fim de anos 1950, o Peixe viajou até Milão para enfrentar a Inter em San Siro. Os nerazzurri tinham terminado a Serie A na terceira colocação na temporada anterior e o duelo contra o esquadrão brasileiro seria um grande teste para a campanha seguinte.
O jogo foi bastante aberto, com muitas chances de gol para os dois lados. Pelé foi titular, obviamente, e marcou os dois gols de sua equipe. O segundo deles foi uma pintura: dominou a bola na entrada da área, driblou quatro marcadores e finalizou sem chances para Mario Da Pozzo. Apesar do grande desempenho do camisa 10, o Santos acabou derrotado por 3 a 2, com os três gols da Inter tendo sido marcados por Eddie Firmani, principal atacante nerazzurro àquela altura. Curiosamente, depois de se aposentar, o sul-africano de origem italiana se transformou em treinador e acabou comandando Pelé em sua passagem pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos.
Naquela época, a Inter chegou a sondar o Santos pela contratação do craque, mas os dirigentes do Peixe não queriam – justamente – se desfazer do craque. Apenas 20 dias depois do primeiro confronto, os caminhos de Pelé e da Beneamata voltaram se cruzar, no Troféu Naranja, também conhecido como Torneio de Valência. A competição era disputada na cidade espanhola por Santos, Inter e Valencia. Dessa vez, o cenário da partida foi completamente diferente e a equipe brasileira aplicou uma senhora goleada: um sonoro 7 a 1, com direito a quatro gols do Rei do Futebol.
Num Mestalla lotado, com mais de 60 mil pessoas, o jogo começou com a Inter tentando se impor e chegar ao seu gol, mas o Santos viria a abrir o placar com Coutinho, num contra-ataque. Pouco depois foi a vez de Pepe aumentar a diferença no marcador. O público espanhol presente no estádio já estava extasiado com a qualidade dos brasileiros, mas nem imaginavam o que viria pela frente na segunda etapa.
Sem permitir que a Beneamata respirasse e tivesse meios para encostar, o Santos atropelou com quatro gols de Pelé. O craque marcou aos 3, aos 8, aos 23 e aos 24 minutos da segunda etapa, fazendo o estádio lhe aplaudir de pé e confirmar que o que acontecera na Suécia um ano antes não foi por acaso. O futebol estava mesmo diante de seu maior fenômeno e futuro maior jogador.
Depois desses dois duelos contra a Inter, Pelé também entrou na mira de Milan e Juventus, mas nenhum negócio teve prosseguimento – e o Verona, que o havia observado em 1957, perdera qualquer condição de fazer ofertas pelo Rei. O mitológico craque brasileiro passou os anos seguintes no imaginário dos italianos, já que encarou times da Velha Bota em diversas ocasiões: enfrentou o Genoa ainda em 1959; bateu de frente com Roma e Fiorentina, em 1960; mediu forças com Juventus, Roma e a própria Beneamata, em 1961; encarou a seleção italiana pela primeira vez e jogou contra Roma, Inter, Milan e Juve no primeiro semestre de 1963. Nesses 11 confrontos entre 1959 e 1963, Pelé marcou 7 gols. Num deles, porém, o Rei foi completamente superado.
Em maio de 1963, a Itália recebeu o Brasil para um amistoso em San Siro. Antes da partida, o clima era mesmo amigável, como mostram as fotos entre Pelé e Sandro Mazzola, um dos maiores craques daquela geração azzurra. O jogo viria a ficar conhecido, porém, pela consagração de Giovanni Trapattoni como um marcador implacável. Trap anulou o Rei por 26 minutos, até que o lendário atacante canarinho pedisse a substituição e desse lugar a Quarentinha. O brasileiro afirmou que sentira forte dor de estômago no dia do amistoso e que, por questões contratuais, teve de participar do embate pelo menos por alguns minutos. Humilde, o milanista não quis contar vantagem e ratificou a versão contada por Pelé.
Todos esses amistosos foram uma espécie de aperitivo para o Mundial de Clubes – onde a forte rivalidade e os ânimos acirradíssimos, como era comum no futebol daqueles tempos, afloraram ainda mais. Na Copa Intercontinental, o Rei enfrentaria uma equipe italiana em uma partida oficial pela única vez da carreira: o Milan. Seria, portanto, uma ocasião de obter a revanche ante Trapattoni.
Em outubro de 1963, o Santos viajou para Milão para dar início à disputa do Mundial de Clubes, contra o Milan, que havia se consagrado campeão da Europa, ao derrotar o Benfica de Eusébio – que perdera o Intercontinental anterior para o próprio Peixe. Naquela época, a disputa era em formato de ida e volta, com um jogo extra de desempate em caso de uma vitória para cada lado.
O primeiro duelo começou com duas verdadeiras seleções escaladas para entrar em campo. O Milan recebeu o Santos escalado por Luis Carniglia com Giorgio Ghezzi; Mario David, Giovanni Trapattoni, Cesare Maldini e Mario Trebbi; Ambrogio Pelagalli e Gianni Rivera; Bruno Mora, Giovanni Lodetti, José Altafini e Amarildo. Já o Santos, treinado por Lula, foi ao jogo com Gilmar; Lima, Haroldo, Calvet e Geraldino; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
O duelo começou equilibrado, com as duas equipes se estudando bastante e buscando estabelecer o seu estilo de jogo. A equipe brasileira não abria mão de sua característica e acabou atraída para a armadilha do Diavolo, que tinha se caracterizado por um ataque avassalador na conquista da Copa dos Campeões, quando se impôs contra todos os seus oponentes e viu Altafini brilhar com 14 gols marcados – recorde até a temporada 2013-2014, quando Cristiano Ronaldo anotou 17 vezes.
Aos 3 minutos, Amarildo partiu pela direita e achou Trapattoni na entrada da área. O volante dominou e bateu cruzado, sem chances para Gilmar. Amarildo, que substituíra Pelé com louvor durante a campanha que culminou na conquista da Copa de 1962, ampliou 12 minutos depois, finalizando boa construção de pé em pé. Surpreendido pela postura dos Italianos, o Santos voltou para o segundo tempo com outra postura e logo conseguiu descontar, sempre contando com a genialidade do Rei. Aos 10 minutos da segunda etapa, o craque recebeu de Zito, girou sobre a marcação e arrancou até bater Ghezzi, marcando o primeiro gol do Peixe.
Vendo o rumo do jogo mudar, o Santos apertou o Milan e buscou o ataque, mas acabou novamente apanhado pelos contra-ataques italianos. Amarildo marcou novamente aos 23 e Mora ampliou aos 37. Pelé, de pênalti, ainda descontou aos 40, mas o Santos acabou mesmo derrotado. Um mês depois, foi a vez de o Milan viajar até o Rio de Janeiro, para enfrentar o Santos no Maracanã, que recebeu mais de 132 mil pessoas naquela tarde. Pelé, entretanto, não pode jogar devido a uma lesão. O Santos devolveu o 4 a 2 e, na partida extra, também disputada no Rio de Janeiro, venceu por 1 a 0 com gol de Dalmo, se sagrando bicampeão mundial.
Entre aquela partida em Milão em 1963 e 1970, Pelé enfrentou equipes italianas em outras 11 oportunidades, vencendo nove desses duelos e marcando nove gols. A familiaridade do Rei com os campos e os times itálicos era enorme e calhou de uma das maiores partidas da história do craque ter acontecido contra a Squadra Azzurra.
Em 21 de junho de 1970, Pelé entrou em campo no Estádio Azteca para jogar sua segunda decisão de Copa do Mundo, com a possibilidade de conquistar o tricampeonato. Essa seria sua última partida oficial pela seleção brasileira e o atacante, prestes a completar 30 anos, sabia muito bem disso. Do outro lado, a fortíssima seleção da Itália, campeã da Europa dois anos antes e classificada após derrotar a Alemanha na semifinal, no chamado Jogo do Século. A partida em si, nós já analisamos aqui. O desempenho do Rei, porém, merece uma análise à parte.
Todo o encaixe coletivo dessa partida tinha como ponto principal o modo como a Itália se organizava para defender, com sua marcação individual, e a forma como Mário Jorge Lobo Zagallo utilizou Pelé para driblar essa estratégia. O Rei foi acompanhado por perto por Tarcisio Burgnich durante toda a partida e, para ajudar no encaixe das outras peças do estelar ataque brasileiro, Zagallo centralizou seu camisa 10 – que atuou durante toda partida como algo que hoje chamamos de falso 9. O que atacantes como Lionel Messi e Roberto Firmino tanto fizeram nos últimos anos – ao atrair marcação, criar espaços e potencializar seus companheiros – Pelé já tinha feito com maestria naquela tarde de forte de calor no Azteca.
Aos 18 minutos, Pelé bateu Burgnich pela primeira vez, ao subir mais alto que o defensor e completar de cabeça o cruzamento de Rivellino para o fundo da rede. O jogo foi bastante disputado e apertado, com o Brasil sendo efetivo na troca curta de passes e a Itália buscando, principalmente com Luigi Riva, finalizar de média de distância. Até o intervalo, houve poucas chances efetivas de gol pelo lado brasileiro, mas as melhores passavam por Pelé – fosse abrindo espaço para uma arrancada de Jairzinho ou sustentando o marcador com o corpo para rolar para finalizações de Tostão.
A Squadra Azzurra empatou ainda no primeiro tempo, com Roberto Boninsegna, e o jogo ficou bastante duro até os 20 minutos da etapa final, quando Jairzinho arrancou e rolou para Gérson driblar Giacinto Facchetti e finalizar sem chances para Enrico Albertosi. A Itália sentiu um baque muito grande com o segundo gol brasileiro, que afetou seu psicológico e até mesmo a parte física – afinal, o cérebro controla o restante do corpo. O que vimos depois disso foi um baile da seleção canarinho e, como era de se esperar, Pelé foi protagonista. Aos 71, Gérson descolou um lançamento de 50 metros e o camisa 10 apenas ajeitou de cabeça para Jairzinho marcar o terceiro gol brasileiro.
Já nos derradeiros momentos da partida, quando faltavam apenas quatro minutos para o seu encerramento, tivemos a coroação definitiva do melhor time que o Brasil já teve e a última participação de Pelé num gol em Copa do Mundo. Gérson iniciou a jogada, Clodoaldo partiu em direção ao ataque e driblou quatro jogadores da Itália antes de tocar para Rivellino, que rapidamente efetuou um passe maravilhoso para Jairzinho receber e deixar dois marcadores pelo caminho.
Finalmente a bola chegou ao Rei do Futebol. Ele a parou, contemplou o momento por alguns milésimos de segundo e, depois, apenas rolou para Carlos Alberto marcar com uma finalização perfeita e confirmar o tricampeonato mundial do Brasil e de Pelé, que se despediu dos grandes palcos com um gol e duas assistências.
Depois desse duelo tão famoso e histórico, o craque brasileiro ainda voltaria a enfrentar equipes italianas em 10 oportunidades, marcando 11 gols. Uma delas foi inesquecível para o goleiro Alberto Ginulfi, titular da Roma nos anos 1960 e 1970. Na noite de 3 de março de 1972, num amistoso contra o Santos, o italiano defendeu um pênalti batido por Pelé e entrou para a história – afinal, o Rei desperdiçou apenas 18 cobranças em toda a sua longa carreira. Gentil, o lendário atacante felicitou o arqueiro e ainda lhe deu a camisa. Um pequeno presente após a vitória santista por 2 a 0.
O último dos confrontos de Pelé contra times italianos foi em um amistoso realizado entre New York Cosmos e Lazio, em 1977 – partida que homenageava Giorgio Chinaglia, companheiro do Rei nos Estados Unidos e ídolo celeste. Na ocasião, o brasileiro passou em branco e as águias venceram.
Porém, Pelé e a Itália ainda se veriam novamente. As duas últimas vezes em que o craque entrou em campo foram “pintadas” de azul. Em 1987, o craque atuou no triunfo por 3 a 0 da seleção brasileira de seniores sobre o time italiano da mesma categoria. Em 1990, treinado por Paulo Roberto Falcão, o Rei se despediu de vez num jogo em homenagem a seus 50 anos, no gramado de San Siro, contra a seleção do Resto do Mundo – comandada por Arrigo Sacchi e com nomes como Carlo Ancelotti, Júlio César, Alemão e Marco van Basten. Foi, é claro, ovacionado pelos italianos que tanto puderam-no ver de perto.
Brasil 0-3 Itália, em 1963 (amistoso, em Milão) Brasil 4-1 Itália, em 1970 (Copa do Mundo, na Cidade do México) American All-Stars 0-4 Itália, em 1976 (Torneio do Bicentenário da Independência dos Estados Unidos, em Washington, DC) 1 gol marcado
Santos 2-3 Inter, em 1959 (amistoso, em Milão) Santos 7-1 Inter, em 1959 (Torneio de Valencia) Santos 4-1 Inter, em 1961 (Torneio Itália, em Milão) Santos 0-2 Inter, em 1963 (amistoso, em Milão) Santos 4-1 Inter, em 1966 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 0-1 Inter, em 1967 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 1-0 Inter, em 1969 (Recopa Mundial de 1968, em Milão) 8 gols marcados
Santos 3-2 Roma, em 1960 (amistoso, em Roma) Santos 5-0 Roma, em 1961 (Torneio Itália, em Roma) Santos 4-3 Roma, em 1963 (amistoso, em Roma) Santos 3-1 Roma, em 1967 (Torneio Triangular, em Florença) Santos 2-0 Roma, em 1972 (amistoso, em Roma) New York Cosmos 1-3 Roma, em 1975 (amistoso, em Nova Iorque) 6 gols marcados
Santos 4-2 Napoli, em 1968 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 6-2 Napoli, em 1968 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 5-2 Napoli, em 1968 (amistoso, em Toronto) Santos 1-0 Napoli, em 1972 (amistoso, em Nápoles) 5 gols marcados
Santos 2-1 Bologna, em 1971 (amistoso, em Toronto) Santos 1-1 Bologna, em 1971 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 1-0 Bologna, em 1971 (amistoso, em Montreal) 2 gols marcados
Santos 3-0 Lazio, em 1973 (amistoso, em Nova Iorque) Santos 4-2 Lazio, em 1973 (amistoso, em Chicago) New York Cosmos 2-3 Lazio, em 1977 (amistoso, em Nova Iorque) 3 gols marcados
Santos 0-4 Milan, em 1963 (Torneio Cidade de Milão) Santos 2-4 Milan, em 1963 (Mundial de Clubes, em Milão) 2 gols marcados
Santos 4-2 Genoa, em 1959 (amistoso, em Gênova) Santos 7-1 Combinado Genoa/Sampdoria, em 1969 (amistoso, em Gênova) 2 gols marcados
Santos 0-3 Fiorentina, em 1960 (amistoso, em Florença) Santos 1-1 Fiorentina, em 1967 (Torneio Triangular, em Florença)
Santos 2-0 Juventus, em 1961 (Torneio Itália, em Turim) Santos 3-5 Juventus, em 1963 (amistoso, em Turim) 2 gols marcados
Santos 2-1 Cagliari, em 1968 (amistoso, em Cagliari) Santos 3-2 Cagliari, em 1972 (amistoso, em Cagliari) 2 gols marcados
Santos 2-1 Alessandria, em 1968 (amistoso, em Mantova) 1 gol marcado
Santos 1-0 Venezia, em 1968 (amistoso, em Veneza)
Santos 5-1 Lecce, em 1967 (amistoso, em Lecce) 3 gols marcados
Santos 2-0 Alessandria, em 1968 (amistoso, em Alessandria) 1 gol marcado
Santos 7-1 Catanzaro, em 1972 (amistoso, em Nova Iorque) 2 gols marcados
43 jogos 29 vitórias, 3 empates e 11 derrotas 42 gols marcados