Trivela
·02 de outubro de 2022
Trivela
·02 de outubro de 2022
Pelo menos 125 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas após a polícia atirar gás lacrimogêneo para dispersar torcedores que haviam invadido o gramado depois que o time da casa, o Arema, perdeu por 3 a 2 para o Persebaya Surabaya, pela 11ª rodada da primeira divisão da Indonésia, no estádio Kanjuruhan, em Malang, segundo o chefe da polícia da província de Java Oriental, Nico Afinta.
O total de mortos foi anunciado pela polícia nacional. Ele chegou a ser maior em um primeiro momento, mas as autoridades disseram que as primeiras contagens podem ter considerado alguns dos falecidos mais de uma vez. A debandada sobrecarregou os portões de saída. Segundo o ministro da Segurança da Indonésia, Mahfud MD, as vítimas morreram pisoteadas e sufocadas. Elas chegaram ao hospital com traumatismos e falta de ar, também afetados pelo gás lacrimogêneo, de acordo com o relato de um paramédico à agência de notícias Reuters.
O uso de produtos químicos pelas forças de segurança de jogos de futebol é proibido pela Fifa. Mahfud disse que foi necessário porque “havia anarquia” e que os policiais estavam prestes a serem agredidos. Uma testemunha afirmou à agência de notícias AP que os torcedores apenas revidaram após a polícia bater neles com cassetetes e escudos. Mahfud negou que o público tenha sido agredido pelas forças de segurança.
Ele também afirmou houve superlotação no estádio Kanjuruhan, com 42 mil ingressos vendidos para uma capacidade de 38 mil pessoas. O presidente Joko Widodo disse que pediu que a polícia nacional conduza uma investigação.
“O mundo do futebol está em estado de choque após os trágicos incidentes que aconteceram na Indonésia depois de um jogo entre Arema e Persebaya Surabaya no estádio Kanjuruhan”, afirmou o presidente da Fifa, Gianni Infantino, em um comunicado. “Este é um dia sombrio para todos os envolvidos no futebol e uma tragédia além da compreensão. Estendo minhas profundas condolências às famílias e amigos das vítimas que perderam suas vidas neste incidente trágico”.
A organização Legal Aid Foundation, da Indonésia, criticou o uso “de força por meio de gás lacrimogêneo” e o controle de multidões “inadequado” da polícia da Indonésia. Em nota oficial, disse que suspeita que essa tenha sido a causa da tragédia. “O uso de gás lacrimogêneo que não está de acordo com os procedimentos de controle de multidões resultou em torcedores nas arquibancadas fugindo para os portões de saída, causando falta de ar, desmaios e colisões entre eles. Isso foi agravado pelo excesso de capacidade do estádio”, disse.
O fotógrafo Suci Rahayu afirmou em entrevista ao New York Times que o público não teve permissão para entrar no estádio com garrafas de água, o que teria ajudado a limpar o gás lacrimogêneo. “Muitas pessoas desmaiaram. Se não tivesse havido gás lacrimogêneo, não teria havido um tumulto tão grande”, disse.
O diretor executivo da Anistia Internacional da Indonésia, Usman Hamid, cobrou que haja uma investigação rápida, meticulosa e independente e que os responsáveis sejam punidos e julgados. “Que eles não recebam meramente sanções internas ou administrativas. Também pedimos que a polícia revise o uso de gás lacrimogêneo e outras ‘armas menos letais’ para garantir que uma tragédia de partir o coração como esta nunca mais aconteça”, disse.
“Essa perda de vidas não pode acontecer sem uma resposta. A própria polícia declarou que as mortes aconteceram depois de a polícia usar gás lacrimogêneo na multidão. O gás deveria ser usado apenas para dispersar multidões quando há violência generalizada e quando outros métodos falharam. As pessoas precisam ser alertadas que o gás será usado e permitidas a dispersar. O gás lacrimogêneo nunca deve ser usado em espaços confinados. As orientações de segurança da Fifa para estádios também proíbem o porte ou uso de ‘gás de controle de multidões’ pelos fiscais ou pela polícia”, acrescentou.
O futebol da Indonésia, que sofre com violência de torcidas e más administrações, chegou a ser banido pela Fifa por um ano em 2015 por interferência do governo. Após ser readmitida, virou o país-sede da Copa do Mundo sub-20 que seria realizada em 2021, mas foi cancelada por causa da pandemia e passada para 2023.