Terra de Zizou
·21 de julho de 2021
Terra de Zizou
·21 de julho de 2021
O futebol feminino nos Jogos Olímpicos de Tóquio já teve o pontapé inicial na madrugada desta quarta-feira (21). No dia seguinte, será a vez dos homens darem os primeiros passos nos gramados japoneses. E, logo de cara, teremos a chance de ver a França enfrentando o México, a partir das 5h, no Estádio de Tóquio, abrindo o Grupo A do Torneio Olímpico.
A seleção que estará na Ásia poderia ser bem mais forte. Jogadores como Kylian Mbappé, Houssem Aouar e Dayot Upamecano possuem idade olímpica e tinham a chance de representar o país em Tóquio. O astro do PSG, inclusive, sempre manifestou o desejo de ir à competição. Não foi chamado e tampouco seria liberado, a exemplo dos outros citados.
De quebra, o técnico Sylvain Ripoll ainda precisou travar uma batalha com os clubes para formar a lista final de convocados. Da primeira convocação, oito dos 16 nomes precisaram ser retirados da listagem final. Mais cinco foram acrescentados, fechando os 21 que tentarão colocar a medalha de ouro no peito.
Alguns dos convocados são conhecidos do grande público, como o goleador André-Pierre Gignac e o campeão mundial Florian Thauvin. Mas há muita gente ainda sem tanto holofote, como o volante Beka Beka e os laterais Michelin e Caci.
Confira abaixo quem é quem nessa seleção olímpica:
Sylvain Ripoll será o treinador francês em Tóquio | Foto: Imago/OneFootball
No banco de reservas estará Sylvain Ripoll, técnico de 49 anos. Como jogador, foi volante e lateral direito e teve uma carreira discretíssima. O clube onde mais se destacou foi o Lorient, jogando entre 1995 e 2003. Após a aposentadoria, virou assistente-técnico do time, na época treinado por Christian Gourcuff. Foi auxiliar até 2014 e assumiu o time após Gourcuff não renovar o contrato. Dirigiu os Merlus até outubro de 2016, encerrando o ciclo com 32 vitórias, 20 empates e 45 derrotas em 97 jogos.
Desde então, comanda a seleção sub-21 e vem observando a pressão aumentar a cada torneio que passa. Afinal de contas, a base francesa é repleta de talentos, mas o desempenho dos Bleus nos últimos anos tem sido bem frustrante. Em 2019, foi até a semifinal do Europeu da categoria, mas caiu na semifinal com uma goleada por 4 a 1 diante da Espanha.
Já na edição deste ano, mesmo tendo um elenco poderoso – Upamecano, Tchouaméni, Aouar e Ikoné – caiu nas quartas de final para a Holanda, perdendo de virada por 2 a 1. O rendimento somado a queda renderam duras críticas a Ripoll, que se vê obrigado a fazer o time olímpico render, mesmo com tantos problemas na convocação.
A lista de goleiros escolhida por Sylvain Ripoll tem um titular bem definido: Paul Bernardoni, de 24 anos. O arqueiro careca, dono do simpático cachorro Berni, personagem frequente de suas redes sociais, já possui mais de 120 jogos na Ligue 1 e foi titular do Angers na temporada passada. Campeão europeu sub-19 em 2016 – em time que tinha Marcus Thuram e Kylian Mbappé -, ele foi eleito o melhor goleiro da 2ª divisão dois anos depois, quando defendia o Clermont, emprestado pelo Bordeaux. Se estabeleceu no Nîmes durante duas temporadas até ser negociado com os Angevins.
Bernardoni será o dono da 1 da França | Foto: FFF / Divulgação
Bernardoni desponta como potencial titular já que seus dois concorrentes sequer são titulares em seus clubes. Dimitry Bertaud, de 23 anos, é reserva de Omlin no Montpellier, seu clube formador – foi campeão da Copa Gambardella, a Copa São Paulo francesa, em 2017 – enquanto Stefan Bajic, de 19, já era opção a Moulin no Saint-Étienne e ainda viu Etienne Green progredir e ganhar mais minutos na reta final da última temporada. Foi pro fim da fila nos Verdes e assim deve ser em Tóquio também.
Vale lembrar que a lista inicial tinha ainda Larsonneur, que não foi liberado pelo Brest.
Para escolher os defensores, Ripoll precisou quebrar a cabeça, já que a lista inicial era uma e a definitiva foi outra. Benoît Badiashille, do Monaco, William Saliba, negociado recentemente com o Olympique de Marseille, e Malang Sarr, do Chelsea, não foram liberados. Muita gente que estava no segundo escalão da lista subiu um patamar e jogadores que sequer estavam no radar apareceram.
Os únicos três mantidos são Caci (24 anos), do Strasbourg, Kalulu (22), do Milan, e Michelin (24), do Lens. Dos três, talvez apenas o jogador dos Rossoneros estaria entre os titulares na defesa original, mas na lateral direita. Com tantas perdas, Kalulu, que já participou do Europeu sub-19 em 2019 e do sub-21 em 2021, deve virar zagueiro após uma temporada onde fez parte da rotação da equipe italiana, com 18 jogos.
Já Caci e Michelin reforçam as laterais. O primeiro joga nas duas, mas, preferencialmente, pela esquerda. Disputou 33 partidas pelo Strasbourg na temporada passada, a maioria como titular. Se destacou especialmente pela disciplina: não recebeu nenhum cartão, foi o segundo do time em média de desarmes e o quarto em interceptações. Já Michelin, que atua na direita, tem um perfil diferente. Como o Lens jogava com dois alas, ele colaborou mais no ataque e terminou a Ligue 1 passada com quatro assistências.
Outras boas opções para Ripoll são Sagnan, de 22 anos, e Bard, de 20, que reforçam a zaga e a lateral esquerda, respectivamente. O primeiro não é tão conhecido do público francês. Surgiu no Lens e está desde 2019 na Real Sociedad. Disputou 21 partidas na temporada passada, mas não era titular da equipe espanhola. Ainda assim, parece estar atrás apenas de Kalulu no ranking dos zagueiros. Já Bard esteve na rotação do Lyon e, sem espaço, vai respirar novos ares no Nice na próxima temporada. Jogador de potencial ofensivo, que se opõe a Caci, seu concorrente de posição.
Os caçulas da lista são os zagueiros Timothée Pembélé, do PSG, de apenas 18 anos, e Ismaël Doukouré, de 17, do Valenciennes. O parisiense disputou a Eurocopa Sub-17 de 2019, na campanha que acabou na semifinal, mesma etapa onde os franceses caíram na Copa do Mundo da categoria meses depois. Apesar de predominantemente zagueiro, pode jogar em todas as posições da defesa. Já Doukouré é uma das grandes jóias do VAFC, clube que defende desde 2020 e, segundo a imprensa local, já chegou a ser cortejado por clubes como Juventus, Benfica e Barcelona. Tido como um “jogador dominante”, ele fez boa parte da base no Lille, mas um recrutador o fez trocar de lado no norte francês, indo pro Valenciennes, da Ligue 2.
Niels Nkounkou, de 20 anos, do Everton, chegou ‘atrasado’ na convocação. O lateral esquerdo de forte imposição física foi chamado após a lesão de Gelin, que é volante, vindo de uma temporada bem discreta na Inglaterra. Jogou dez partidas, sendo duas apenas na Premier League. Seu histórico nas seleções de base é curto (apenas alguns poucos jogos no sub-18 e no sub-19) e é natural imaginar que esteja no fim da fila da posição.
Tousart joga, atualmente, no Hertha Berlin | Foto: FFF / Divulgação
Outra parte da lista bastante mexida foi no meio-campo. A convocação inicial tinha Camavinga, do Rennes, e Ikoné, do Lille, ambos com passagem pela seleção principal, além de Caqueret, do Lyon. Nenhum dos três estará em Tóquio e apenas Tousart, Savanier e Thauvin foram mantidos da lista original – os dois últimos ganham um tópico separado, ao lado de Gignac.
Tousart, aliás, é peça de confiança de Ripoll. Volante clássico, de imposição física, joga a frente da área. Cria do Lyon, defendeu o Hertha Berlin na última temporada, onde foi titular em boa parte da Bundesliga. Participou das edições de 2015, 16 e 19 da Eurocopa Sub-19, além da Copa do Mundo Sub-20 em 2017. Na Euro 2016, foi capitão do time campeão continental ao lado de Mbappé, além de Bernardoni e Michelin, que também estarão em Tóquio.
O possível companheiro de meio-campo de Tousart deve ser Enzo Le Fée, de 21 anos, do Lorient. Meio-campista de boa capacidade técnica, ele participou de 36 dos 38 jogos dos Merlus na última Ligue 1 e deu cinco assistências. Rende melhor como um meia ofensivo, se aproximando do ataque, mas pode ser utilizado como volante também.
Completa a lista Alexis Beka Beka, de 20 anos, no Caen. Fez a base como defensor, mas foi convertido para o meio-campo por Pascal Dupraz. É o menos badalado dos meio-campistas, mas pode ser uma opção para passes longos e em jogos onde a França tenha dificuldade em sair da pressão rival. Essas são duas boas virtudes de Beka Beka.
A única mudança na lista de ataque foi de Amine Gouiri, do Nice, que foi um dos primeiros a ser barrado quando a convocação inicial foi divulgada. Apesar dessa ausência, há peças interessantes nas mãos de Ripoll.
A opção pro centro de ataque é Randal Kolo Muani, de 22 anos. Forte fisicamente, o atacante de 1,87 de altura vem de ótima temporada no Nantes, com nove gols na última Ligue 1. Será o reserva imediato de Gignac. Já Arnaud Nordin, de 23, é outro dos calejados da seleção. É ponta esquerda do Saint-Étienne e já soma mais de 100 jogos pelos Verdes. Habilidoso e dono de bom chute, deve ser titular ao lado de Thauvin e Gignac.
Nordin é um dos nomes calejados da França | Foto: FFF/Divulgação
As opções a Nordin serão Lihadji e Mbuku. O primeiro, de 19 anos, acabou de ser campeão francês com o Lille, mas jogando muito pouco. É canhoto, joga pela direita e sempre foi tratado como uma joia no Marseille, até por ter passado por todas as categorias da seleção francesa e ter sido um dos destaques da Copa do Mundo Sub-17 em 2019, disputada no Brasil. Porém, sem espaço no clube de origem, buscou novos rumos no norte do país.
Mbuku também tem 19 anos e foi companheiro de Lihadji no Mundial Sub-17 em 2019. O jogador do Stade de Reims anotou um hat-trick nas oitavas de final contra a Austrália e terminou a competição como vice-artilheiro, com 5 gols. Titular do SdR na temporada passada da Ligue 1, ele desponta como opção imediata para os homens de beirada do ataque.
Podemos dizer que Ripoll gastou seus cartuchos entre os jogadores acima dos 23 anos, trazendo três peças pesadíssimas: André-Pierre Gignac, de 35 anos, Florian Thauvin, de 28, e Téji Savanier, de 29.
O mais conhecido dos três, certamente, é Gignac, goleador do Tigres do México. Fora da seleção principal desde 2016, o centroavante se mostrou solícito a disputar os Jogos Olímpicos desde o princípio e terá uma chance de ouro de conquistar um título com a França. Vale lembrar que na final da Eurocopa de 2016, ele acertou uma bola na trave de Portugal quando o placar estava 0 a 0 – Éder acabou com as ambições francesas no Tempo Extra. Cinco anos depois, pinta uma nova chance de ser herói.
O veterano Gignac será o capitão da França | Foto: FFF/Divulgação
Ao seu lado estará Thauvin, que foi seu companheiro no Olympique de Marseille e agora estarão juntos no Tigres. O meia-atacante foi campeão mundial sub-20 com a França em 2013, mas nunca repetiu o protagonismo na equipe principal, mesmo com o título da Copa do Mundo em 2018, sendo reserva daquela equipe. Os Jogos de Tóquio darão a ele o estrelato que nunca teve com a camisa azul e será a referência ofensiva com Gignac.
Sem o mesmo cartaz que os dois vem Savanier, do Montpellier. Não se enganem pelo nome ou pelo currículo modesto. O meia de 29 anos tem um talento incrível que ficou, muitas vezes, restrito aos clubes pequenos que defendeu. Ganhou destaque no Arles Avignon e vingou no Nîmes, sempre na Ligue 2. Com os Crocodilos, chegou a elite em 2018/19 e foi o principal assistente da Ligue 1, com 13 passes para gol. Arrumou uma transferência ao Montpellier, seu clube de formação, em 2019/20, onde vem sendo a referência criativa com a dupla Delort-Laborde.
Além da técnica e do bom chute de média distância, Savanier dá aos franceses uma considerável vantagem na bola parada, especialmente por ser ambidestro. Para quem o acompanha há algum tempo – caso deste que escreve – será uma satisfação imensa ver um jogador de tamanha qualidade, mas relegado a clubes menores, defendendo a seleção francesa.
A França, que está no Grupo A, estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio na manhã de quinta-feira (22), a partir das 5h, contra o México. Completam o roteiro francês a África do Sul (25) e o Japão (28).
Ao vivo