Calciopédia
·06 de abril de 2023
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Não existe só uma forma de mensurar o sucesso de um atleta. Regularidade, taças conquistadas e o respeito do torcedor são três dos aspectos mais importantes quando este tipo de avaliação é feita. Ao longo de sua carreira, Lucas Leiva cativou os corações das torcidas de todos os clubes que defendeu: Grêmio, Liverpool e Lazio. Não ergueu tantos troféus, é verdade, mas isso em nada diminui a trajetória de alguém que atuou com extrema constância durante os 15 anos que passou no futebol europeu.
Sobrinho do ponta-direita Leivinha, que defendeu o Brasil na Copa do Mundo de 1974 e se destacou por Palmeiras e Atlético de Madrid, Lucas despontou para o futebol no Grêmio, seu clube do coração. O sul-mato-grossense concluiu a sua formação nas categorias de base do Tricolor Gaúcho em 2005, quando o time disputava a Série B do Campeonato Brasileiro pela segunda vez em sua história.
Vindo do banco, o volante colaborou na campanha que culminou no título do Imortal, tendo participado da épica Batalha dos Aflitos. Apenas um ano depois, Lucas se consolidou de vez como principal jogador do time e levou a Bola de Ouro, tradicional prêmio do futebol brasileiro, concedido pela revista Placar.
Em 2007, Lucas Leiva conduziu o Grêmio à decisão da Copa Libertadores, vencida pelo temível Boca Juniors de Juan Román Riquelme, Rodrigo Palacio e Martín Palermo. Com tamanho sucesso, era natural que o volante entrasse no radar de grandes clubes da Europa e ele acabou fechando com o Liverpool, um dos clubes em maior evidência na época, por ter chegado duas vezes à final da Liga dos Campeões, ambas contra o Milan – venceu em 2005 e perdeu em 2007.
Descendente de italianos, Lucas Leiva teve bom desempenho na Bota (Getty)
Mas o clube do noroeste inglês entrou em um difícil momento financeiro e, apesar de contar com grandes nomes no elenco, deixou de brigar por grandes objetivos nos anos seguintes e beirou a falência. O brasileiro demorou um pouco para se adaptar, muito por conta da mudança cultural, de algumas lesões e da forte disputa no setor de meio-campo, que contava com nomes graúdos, como Steven Gerrard, Xabi Alonso e Javier Mascherano.
Na temporada 2009-10, com a ida de Alonso para o Real Madrid, Lucas se firmou na equipe e disputou 50 partidas. Mascherano também rumou para a Espanha um ano depois, ao fechar com o Barcelona. As reposições foram encontradas na Serie A, mas Alberto Aquilani (contratado junto à Roma) e Christian Poulsen, ex-Juventus, estavam longe do nível técnico de seus antecessores e evidenciaram a importância da dupla Leiva-Gerrard em um enfraquecido setor intermediário.
Durante o período, Lucas era constantemente convocado para a seleção brasileira, treinada por Dunga e, posteriormente, por Mano Menezes – aliás, o volante foi um dos poucos atletas que ganharam o Sul-Americano Sub-20, em 2007, a atuarem na equipe adulta canarinho. Leiva fez parte do grupo que faturou o bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e foi titular na Copa América de 2011. No entanto, seguidas lesões, em novembro daquele ano, atrapalharam sua trajetória com o Brasil – sua última convocação ocorreu em 2013.
Pelo Liverpool, Lucas Leiva venceu a Copa da Liga Inglesa, em 2012 e, em seus anos derradeiros na Inglaterra, já sob o comando de Jürgen Klopp, perdeu espaço em decorrência dos problemas físicos e da reformulação promovida pelo treinador alemão. A Inter chegou a cortejá-lo e ele esteve próximo de integrar o elenco nerazzurro, mas acabou fechando com a Lazio na temporada 2017-18.
Ao longo de seus cinco anos de Lazio, o volante brasileiro sempre se destacou pela regularidade (Getty)
Bisneto de um italiano nascido na Toscana, Lucas Leiva já tinha a cidadania italiana quando aportou na Cidade Eterna – e, por lá, reencontrou a boa fase, na condição de peça-chave do esquema de Simone Inzaghi, em substituição ao capitão Lucas Biglia, negociado com o Milan. Em seu primeiro ano pela nova equipe, completou 50 jogos, mesmo número que teve em sua temporada mais ativa pelos Reds.
Logo de cara, o brasileiro foi titular na conquista da Supercopa Italiana, em uma emocionante vitória por 3 a 2 sobre a Juventus. Além disso, marcou o seu primeiro gol pelas águias na fase de grupos da Liga Europa, na derrota por 3 a 2 diante do Zulte Waregem, da Bélgica. E não foi um tento qualquer: o volante mostrou recurso e mandou de calcanhar para o fundo das redes.
Lucas nunca foi muito de balançar as redes, mas anotou quatro gols na temporada – curiosamente, todos os que fez pelos capitolinos, inclusive. Outro tento importante marcado pelo brasileiro ocorreu nas oitavas de final da Liga Europa: após um empate em 2 a 2 na Itália, foi quem abriu o placar na Ucrânia, no triunfo por 2 a 0 sobre o Dynamo Kyiv. A Lazio foi eliminada na fase posterior, pelo Red Bull Salzburg, mesmo após abrir 4 a 2 na ida – na volta, foi goleada por 4 a 1. Em termos de resultados, o time celeste foi semifinalista da Coppa Italia, sendo eliminado pelo Milan nos pênaltis (Leiva desperdiçou a sua cobrança) e terminou a Serie A na quinta colocação, garantindo vaga na Europa League do ano seguinte.
Em 2018-19, as campanhas na Serie A e na Liga Europa deixaram a desejar – a Lazio ficou no oitavo lugar e caiu na fase de 32 avos de final, respectivamente. O voo das águias aconteceu na Coppa Italia. Depois de passar por Novara, Inter e Milan, restava a Atalanta na grande decisão. E foi através dos pés de Lucas que a equipe romana começou a colocar os dedos na taça. Se as redes não balançaram na primeira etapa, na segunda o brasileiro garantiu que isso mudasse ao cobrar um escanteio com perfeição, na cabeça de Sergej Milinkovic-Savic, que inaugurou o marcador com uma precisa testada. Ainda deu tempo para Joaquín Correa ampliar, já no finalzinho do confronto, e garantir o merecido título para o lado capitolino.
Lucas Leiva conquistou três títulos em sua passagem pela Lazio, onde foi peça importante (Getty)
Um ano depois, quis o destino que Lazio e Juventus se reencontrassem na Supercopa Italiana. Desta vez contando com Cristiano Ronaldo, a Velha Senhora esperava se vingar da derrota sofrida duas temporadas antes. Mas os comandados de Inzaghi não permitiram que isso acontecesse e venceram de forma indiscutível, por 3 a 1. Já na Serie A, os bianconeri continuaram sua insana sequência de glórias e venceram o nono scudetto consecutivo. A equipe celeste garantiu sua participação na Liga dos Campeões seguinte ao terminar na quarta posição, logo acima da rival Roma. Para Lucas, o único ponto negativo foi uma lesão no joelho, que o tirou de nove partidas na reta final da campanha.
Apesar de o desempenho não ter sido ruim, a equipe biancoceleste não teve muito o que celebrar na temporada 2020-21. Os comandados de Inzaghi avançaram para o mata-mata da Liga dos Campeões, mas encararam logo de cara o poderoso Bayern Munique, que venceu os dois duelos e se classificou com um 6 a 2 no placar agregado. Na Coppa Italia, os aquilotti amargaram uma eliminação nas quartas de final para a Atalanta, em um disputado jogo que terminou com vitória por 3 a 2 para a Dea. Na Serie A, a disputa pelas vagas em competições europeias foi intensa, e a Lazio terminou com a quinta colocação e mais uma vaga na Liga Europa.
Lucas, mais uma vez bastante utilizado por Inzaghi, esteve entre os quatro meio-campistas que mais minutos tiveram ao longo da temporada dentro do elenco laziale. Quando o brasileiro esteve ausente, foi em decorrência de algum problema muscular ou de suspensão por cartões. Incontestável àquela altura, Leiva compunha um setor fortíssimo, ao lado de Milinkovic-Savic, Marco Parolo, Senad Lulic e Luis Alberto.
A temporada 2021-22 foi a última de Lucas em solo europeu. Em ótima forma física, ficou fora em apenas três das 38 rodadas da Serie A, embora tenha revezado bastante com Danilo Cataldi, que teve a preferência do novo técnico Maurizio Sarri no time titular, por ter um passe mais qualificado. Ainda assim, o brasileiro ofereceu contribuição consistente e ajudou a Lazio a terminar o torneio no quinto lugar.
Na capital italiana, Lucas formou um dos setores de meio-campo mais fortes da história da Lazio (Getty)
Era o último ano de contrato de Leiva com a Lazio, e ele optou por colocar um ponto final em sua vencedora trajetória no Velho Continente, depois de 198 partidas pela equipe celeste. Apesar de ainda ter mercado por lá, o volante decidiu que era a hora de escrever seus derradeiros capítulos como profissional no Grêmio, clube do coração, ao qual sempre nutriu o desejo de retornar.
De volta a Porto Alegre, foi importante na caminhada do Grêmio, que venceu a Série B e regressou à primeira divisão um ano após ter sido rebaixado. Mas para Lucas, pouco depois, mais precisamente na pré-temporada, veio a notícia de que ele precisaria se afastar do futebol: o volante foi diagnosticado com uma fibrose cicatricial no miocárdio, isto é, uma alteração cardíaca que afeta a contração e funcionamento do coração. Em março, Leiva se despediu do esporte ao qual se dedicou por tanto tempo. Seria muito arriscado continuar praticando uma atividade de alta intensidade.
Apesar do abrupto ponto final, a carreira de Lucas foi vitoriosa e repleta de motivos para ele se orgulhar. Se não ganhou tantos títulos, os que vieram tiveram um sabor especial, e ele obteve o respeito de toda a comunidade futebolística como um atleta leal, comprometido e qualificado. Basta perguntar em Porto Alegre, Liverpool ou Roma sobre o meio-campista brasileiro que as respostas serão praticamente as mesmas, sempre com palavras elogiosas e muita admiração. Isso também é vencer no esporte.
Lucas Pezzini Leiva Nascimento: 9 de janeiro de 1987, em Dourados (MS) Posição: volante Clubes: Grêmio (2005-07 e 2022-23), Liverpool (2007-17) e Lazio (2017-22) Títulos: Série B (2005), Campeonato Gaúcho (2006 e 2007), Sul-Americano Sub-20 (2007), Bronze Olímpico (2008), Copa da Liga Inglesa (2012), Supercopa Italiana (2017 e 2019) e Coppa Italia (2019) Seleção brasileira: 24 jogos
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