Calciopédia
·10 de setembro de 2019
Calciopédia
·10 de setembro de 2019
O continente africano é reconhecido por ser uma terra de fauna e flora exuberantes, abundância de riquezas naturais e grande diversidade cultural. Além de tudo isso, a África também é um celeiro de grandes jogadores de futebol. Dentre os craques que saíram de lá, poucos tiveram a qualidade e o poder de decisão de Samuel Eto’o. Dono de quatro prêmios de melhor futebolista africano, o camaronês viveu uma das melhores fases de sua carreira na Itália, quando vestiu a camisa da Inter.
A trajetória de um dos maiores e mais letais atacantes das últimas décadas começou na academia do Kadji Sport, em Duala, sua cidade natal. Eto’o era um fenômeno desde cedo e o Real Madrid não demorou para notar suas qualidades: em 1997, o camaronês já havia se transferido para o clube do Santiago Bernabéu. Um dia antes de completar 16 anos, Samuel estreou pela seleção principal de Camarões, da qual se tornaria o maior artilheiro tempos depois.
Muito jovem, Eto’o não foi muito aproveitado pelo Real Madrid e rodou por empréstimo – indo bem no Leganés, da segundona, e recebendo pouco espaço no Espanyol. Samuel também participou da Copa do Mundo de 1998 (seu único jogo foi contra a Itália, na fase de grupos) e começou a ganhar espaço na seleção de Camarões na Copa Africana de Nações de 2000. O atacante começou como reserva dos Leões Indomáveis, mas ganhou a vaga durante o torneio. Acabou como campeão e vice-artilheiro, com quatro gols – um deles na final, contra a Nigéria, uma das donas da casa.
No mesmo ano, Eto’o também contribuiu para que a seleção camaronesa conquistasse o ouro olímpico, nos Jogos de Sydney: na trajetória, eliminou o Brasil nas quartas de final e deixou a sua marca na decisão, ante a Espanha de Xavi e Carles Puyol. Naquele momento, Samuel já conhecia bem os adversários. Afinal, desde fevereiro de 2000 vestia a camisa do Mallorca, equipe que o projetou em definitivo para o futebol. Após iniciar a campanha de 1999-2000 no Real Madrid, o atacante foi emprestado aos Bermellones e logo assumiu a titularidade: em 13 oportunidades, balançou as redes seis vezes e foi adquirido em definitivo.
Eleito como melhor jogador jovem africano de 2000, Eto’o galgou degraus na seleção de Camarões e no futebol da África graças ao que mostrou no Mallorca. O atacante comandou os baleares numa das melhores campanhas de sua história em 2000-01 e, com 11 gols marcados, os deixou na terceira posição de La Liga. Aos 21 anos, disputou sua segunda Copa do Mundo e, no ano seguinte, conduziu a Ensaimada Mecánica a seu primeiro título da Copa do Rei.
Em 2004, Samuel já era bicampeão da CAN e tinha um prêmio de melhor jogador africano – além de dois terceiros lugares na eleição. Naquele ano, após longa negociação, o Barcelona o contratou por 24 milhões de euros. Dessa forma, Eto’o deixou o Mallorca depois de 165 jogos e 70 gols marcados, que o mantêm até hoje como artilheiro da história do clube.
Eto’o caiu como uma luva no Barça. Seu estilo de jogar – que unia velocidade, movimentação, habilidade única e um poder de finalização assombroso com as duas pernas – lhe permitiu ganhar a camisa 9 e entrar para a galeria dos maiores craques dos blaugrana. Afinal, em cinco anos de Catalunha, o camaronês foi o artilheiro do Barcelona em quatro delas. Samu atuou em 199 partidas, marcou 130 vezes pelos culé e, até hoje, está entre os seus 10 maiores goleadores.
Em seus anos de Camp Nou, Eto’o foi um grande parceiro de craques como Ronaldinho, Deco, Xavi, Andrés Iniesta, Dani Alves, Yaya Touré, Thierry Henry e Lionel Messi. Logo em seu debute, aos 23 anos, Samuel marcou 25 gols, ajudou a equipe a vencer La Liga e foi eleito pela terceira vez seguida como melhor jogador da África – também ficou na terceira posição na eleição de melhor do mundo pela Fifa.
Em 2006, Eto’o foi bicampeão espanhol e Pichichi do campeonato, além de ter conquistado sua primeira Champions League. No torneio continental, o camaronês balançou as redes seis vezes – uma na final, após cavar a expulsão de Jens Lehmann, do Arsenal – e ainda foi o líder de assistências. Em um de seus mais impactantes anos como profissional, Samu também foi artilheiro da Copa Africana de Nações e eleito como melhor atacante europeu. Merecidamente, integrou as seleções anuais da CAF, da Uefa e da Fifa.
O Barça teve duas temporadas ruins em 2006-07 e 2007-08. Para a campanha seguinte, porém, Pep Guardiola ascendeu ao comando culé e mudou a história do clube e do futebol. O catalão arquitetou a primeira Tríplice Coroa do Barcelona e contou com um Eto’o em máxima potência para atingir seu objetivo – afinal, o trio formado pelo camaronês, por Messi e Henry anotou 100 gols. Samuel marcou 30 na Liga (foi vice-artilheiro) e seis na UCL –um na final, contra o Manchester United. Apesar disso, não permaneceu na Espanha para 2009-10.
Na janela de transferências do verão europeu de 2009, o Barcelona quis contratar Zlatan Ibrahimovic, que vinha de anos arrasadores pela Inter. O clube italiano pediu que Eto’o fosse incluído no negócio e assim foi: o Rei Leão aportou em Milão junto a 46 milhões de euros, enquanto o sueco se mudou para a Catalunha. Ser moeda de troca era pouco para o que Samu já havia conquistado por clubes e seleção, algo que foi reafirmado durante seu biênio na capital da moda. Como ainda vivia o auge de sua carreira, o camaronês contribuiu com o momento mais glorioso da história da Beneamata.
No primeiro de seus dois anos em Milão, Eto’o foi treinado por José Mourinho e, com a presença de Diego Milito no comando do ataque, deixou de ser a referência no setor para atuar aberto pela esquerda no 4-2-3-1 orquestrado pelo português. Lá, ajudou no trabalho defensivo (chegou até a atuar como lateral-esquerdo na histórica semifinal de Liga dos Campeões contra o Barcelona) e deu um toque de genialidade ao ataque, ao lado de Milito e Wesley Sneijder. Nos primeiros momentos de sua passagem pelo clube, contudo, Samu mostrou grande entrosamento com Mario Balotelli, que foi seu principal garçom naqueles meses iniciais. Fora dos campos, desenvolveu grande amizade com Marco Materazzi.
Em 2009-10, Eto’o marcou 16 gols em 48 jogos. Alguns foram bonitos, como o de bicicleta contra o Livorno, mas o camaronês se notabilizou pelos tentos importantes. Na Serie A, por exemplo, anotou contra Juventus, Lazio e Roma – adversária nerazzurra pelo scudetto. Já na Champions League, o Rei Leão decidiu partidas contra Rubin Kazan e Chelsea. A vitória em pleno Stamford Bridge, nas oitavas de final, elevou os nerazzurri de patamar na competição e lhes deu confiança para sonharem com o caneco.
Após eliminar o Barça e aplicar 2 a 0, a Inter ficou de fato com o título europeu e se tornou a primeira equipe italiana a conquistar a Tríplice Coroa – ainda é a única detentora do feito na Bota. Por sua vez, Eto’o se tornou o primeiro jogador a conquistar o Triplete por dois clubes diferentes e o único a ter conseguido tal façanha em anos consecutivos.
Em 2010, Eto’o também voltou a disputar uma Copa do Mundo, mas novamente não conseguiu fazer Camarões superar a fase de grupos. Pelos feitos com o clube, porém, o Rei Leão ganhou o seu quarto prêmio de melhor jogador africano – feito igualado apenas por Yaya Touré, anos depois.
Em 2010-11, a Inter não teria mais Mourinho no comando: o português foi substituído por Rafa Benítez, que daria lugar a Leonardo na véspera de Natal. Reposicionado em campo, Eto’o viria a ter a mais prolífica temporada de sua carreira: fez 37 gols, superando o recorde de Ronaldo na Inter (34) e a sua própria marca, de 36, em 2007-08, na Catalunha. O camaronês entrou em campo em 53 partidas e balançou as redes em 27 delas. Em 10 dessas oportunidades anotou pelo menos dois tentos num mesmo jogo. O destaque foi a tripletta contra o Werder Bremen, na fase de grupos da Champions League.
Com as frequentes lesões de Milito, Eto’o assumiu o posto de homem-gol da equipe e foi letal em toda a campanha, marcando gols decisivos para as conquistas da Supercopa Italiana, do Mundial de Clubes e da Coppa Italia. Também contribuiu fortemente para o vice-campeonato nerazzurro, uma vez que anotou 21 vezes na Serie A e foi um dos três principais goleadores do país.
Na Itália, Eto’o também manteve seu posto de grande combatente ao racismo. Alvo de injúrias raciais na Espanha, o craque não escapou da praga em solo italiano. Em outubro de 2010, num jogo contra o Cagliari, ameaçou deixar o gramado e viu o juiz interromper o duelo até que os cânticos ofensivos dos ultras cessassem. Samu não deixou barato e marcou um golaço para calar os racistas e decretar a vitória nerazzurra em plena Sardenha.
O camaronês até começou 2011-12 em Milão e jogou a Supercopa Italiana, perdida para o Milan. Contudo, não permaneceu em seu terceiro ano na Inter. Às vésperas do início da Serie A, Samu aceitou uma proposta do Anzhi Makhachkala e decidiu tentar uma aventura no novo rico russo – ganhando um valor aproximado de 20 milhões de euros por temporada. Como precisava equilibrar as contas, Massimo Moratti e a diretoria interista não impuseram obstáculos à negociação.
Eto’o ficou apenas dois anos na Rússia. Como capitão do time, o máximo que conseguiu foi contribuir para um terceiro lugar na Premier League, duas classificações para a Liga Europa e uma campanha de oitavas de final no segundo principal torneio continental. Em 2013, o magnata Suleiman Kerimov anunciou que não investiria mais no clube e liberou os jogadores para buscarem outros clubes. Samu acabou parando no Chelsea, onde voltaria a trabalhar com José Mourinho.
O Rei Leão era reserva dos Blues, mas continuava se mostrando letal – ainda que já tivesse 32 anos. Em 35 aparições pelo Chelsea, balançou as redes 12 vezes, ajudou a equipe a alcançar as semifinais da Liga dos Campeões e ainda se notabilizou por um hat-trick contra o Manchester United. Ao fim de seu contrato anual, Eto’o rumou ao Brasil para disputar sua última Copa do Mundo e, depois do fracasso dos Leões Indomáveis, acertou com o Everton.
Apesar de ter ido bem em Stamford Bridge, Eto’o não confirmou o bom momento pelos Toffees. Ao contrário: em janeiro de 2015, depois de 20 jogos e apenas quatro gols pela equipe de Liverpool, trocou de casa. Samu recebeu uma proposta da Sampdoria, que conseguiu negociar com o Everton sua transferência a custo zero – os dorianos pagariam aos ingleses apenas os valores referentes a bônus que o camaronês ganharia em Goodison Park. A contratação revelava a ousadia de Massimo Ferrero, que apenas sete meses antes havia adquirido a Samp.
A Sampdoria era treinada por Sinisa Mihajlovic e vinha fazendo um campeonato interessante, flertando com a zona europeia. Destaque do time, Manolo Gabbiadini fora vendido ao Napoli e Ferrero contratou Eto’o, Joaquín Correa e Luis Muriel para suprir a sua saída. Os três alternariam no ataque com Éder e Stefano Okaka, que viviam boa fase.
Nos cinco meses finais da temporada, Samu atuou principalmente como atacante pelo lado esquerdo e marcou dois gols em 18 partidas da Serie A, contribuindo para a classificação dos blucerchiati à Liga Europa. Embora tenha jogado bem em Gênova, optou por rescindir seu contrato ao fim da campanha. O motivo? Um gordo salário do Antalyaspor, da Turquia.
Nos dois primeiros anos pelo clube turco, Eto’o ficou entre os três melhores atacantes da Süper Lig, com 20 e 18 gols marcados, respectivamente. Chegou, também, a ter uma experiência como técnico interino do time, em 2015-16. Após se tornar o maior artilheiro da equipe alvirrubra, em janeiro de 2018, o camaronês rescindiu o contrato e acertou com o Konyaspor. Em seis meses, salvou a agremiação do rebaixamento e fechou com o Qatar SC, seu último clube.
Em setembro de 2019, Eto’o anunciou sua aposentadoria. O comunicado rendeu homenagens de todo o mundo ao craque de personalidade forte, que construiu uma trajetória exemplar para todo africano que queira ser bem sucedido no esporte – e não só. Maior goleador da história de Camarões, líder em prêmios de melhor da África e dono de marcas importantíssimas em gigantes como Barcelona e Inter. Não à toa, Samuel Eto’o foi o Rei Leão.
Samuel Eto’o Fils Nascimento: 10 de março de 1981, em Duala, Camarões Posição: atacante Clubes: Real Madrid (1996-97, 1998-99 e 1999-2000), Leganés (1997-98), Espanyol (1999), Mallorca (2000-04), Barcelona (2004-09), Inter (2009-11), Anzhi Makhachkala (2011-13), Chelsea (2013-14), Everton (2014-15), Sampdoria (2015), Antalyaspor (2015-18), Konyaspor (2018) e Qatar SC (2018-19) Títulos: Copa Africana de Nações (2000 e 2002), Ouro Olímpico (2000), Copa do Rei (2003 e 2009), La Liga (2005, 2006 e 2009), Supercopa da Espanha (2005 e 2006), Liga dos Campeões (2006, 2009 e 2010), Serie A (2010), Supercopa Italiana (2010), Coppa Italia (2010 e 2011) e Mundial de Clubes Fifa (2010) Carreira como técnico: Antalyaspor (2015-16) Seleção camaronesa: 118 jogos e 56 gols