Calciopédia
·20 de dezembro de 2024
Calciopédia
·20 de dezembro de 2024
Fazendo valer o nada lisonjeiro status de taça nacional menos propensa a surpresas dentre aquelas realizadas pelos países mais tradicionais do futebol europeu, a Coppa Italia não produziu histórias exuberantes nas oitavas de final. Ao menos na segunda leva de confrontos, nesta semana. Afinal, todos os favoritos que jogaram de terça a quinta, sempre como mandantes, avançaram à próxima fase sem muitos problemas.
Há duas semanas, o precoce confronto entre Lazio e Napoli, com classificação dos capitolinos, empolgou. O clássico toscano entre Fiorentina e Empoli, ao não ter o desfecho mais provável e terminar com o triunfo dos azzurri, nos pênaltis, também chamou atenção. Dessa vez, foi diferente. Atalanta e Roma golearam Cesena e Sampdoria, times da Serie B que entraram nas oitavas sem a menor vontade de competir com rivais muito mais fortes, ao passo que a Juventus também não teve dificuldades para se impor sobre um Cagliari que está focado em tentar permanecer na elite. Por fim, a Inter nem forçou a barra para superar a Udinese.
A partir das quartas de final, que ocorrem em 2025, o nível da competição deve melhorar. Enquanto fevereiro não chega, confira o que de melhor ocorreu na segunda leva de jogos das oitavas da Coppa Italia.
Conceição infernizou a defesa do Cagliari e foi o melhor em campo na vitória da Juventus (Getty)
Atual campeã da Coppa Italia, a Juventus até teve algumas dificuldades no primeiro tempo contra o Cagliari, mas impôs a sua força sobre os sardos, mais concentrados na briga pela permanência na Serie A do que no mata-mata nacional. Numa noite em que Vlahovic se reconciliou com a torcida e os reforços Koopmeiners, Conceição e González balançaram as redes, alcançou a goleada e se classificou para encarar o Empoli nas quartas de final.
Enquanto o Cagliari de Davide Nicola foi a campo com muitos reservas, a Juventus de Thiago Motta escalou vários titulares. Entretanto, o técnico ítalo-brasileiro decidiu fazer experiências: ainda que tivesse Gatti e Danilo no banco, optou por escalar Locatelli como zagueiro e McKennie na lateral esquerda. Logo no primeiro minuto, quando Lapadula ficou cara a cara com Di Gregorio e obrigou o goleiro a fazer defesaça, após cruzamento que saiu do lado do norte-americano, a ideia não parecia acertada. Porém, funcionaria ao longo do jogo.
O primeiro tempo foi bastante brigado e o Cagliari equilibrou o jogo com a Juventus, ainda que a Velha Senhora tenha obtido as melhores oportunidades. Melhor em campo, Conceição foi cansando a defesa adversária e, quando obrigou Scuffet a fazer defesaça, aos 36 minutos, anunciou que o gol dos mandantes estava maduro. Aos 44, então, Vlahovic recebeu de Yildiz, girou sobre a marcação e abriu o placar com um chute mascado, que tocou na trave antes de entrar.
A vantagem da Juve desarmou o Cagliari, que sofreu um duro golpe no início do segundo tempo: Koopmeiners, com linda cobrança de falta, ampliou o placar aos 53 minutos. Com uma distância bem considerável no marcador e a classificação encaminhada, a Velha Senhora continuou a ver Conceição infernizar a defesa dos isolani e teve dois gols de Vlahovic anulados por impedimento. Na casa dos 80, de tanto insistir, o português encontrou seu tento. Chico recebeu de González, cortou o defensor adversário e bateu no cantinho. Aos 89, foi a vez de Nico anotar um golaço, após linda arrancada e um esperto toque por cobertura na saída de Scuffet. Recuperado de lesão, o argentino certamente agregará bastante ao time de Motta no restante da temporada.
Arnautovic desencantou e iniciou a vitória dos nerazzurri sobre a Udinese (Arquivo/Inter)
Em San Siro, as duas equipes foram a campo com vários reservas – a formação mandante, aliás, teve quase todo seu onze inicial alternativo. Assim, a partida entre Inter e Udinese ficou marcada pelo debute de Pep Martínez no gol nerazzurro e pela reestreia de Sánchez, ex-Beneamata, na equipe friulana. Foram alguns dos poucos destaques de um jogo que durou, de fato, 45 minutos. Na próxima fase, os lombardos encaram a Lazio.
Logo aos 2, um chute perigoso de Ekkelenkamp, após corte errado da Inter, fez parecer que teríamos alguma disputa no Giuseppe Meazza. Porém, já aos 6, os nerazzurri passaram a ter o controle da partida e até tiveram um pênalti a seu favor – desmarcado após revisão do VAR. Na casa dos 30, o holandês que passou a impressão de que poderia dar emoções ao confronto, traiu os bianconeri: errou feio na saída de bola e deu um presente a Taremi, que ficou com ela e colocou na boa para Aranutovic completar com frieza, inaugurando o placar.
Com a vantagem, a Inter cresceu no jogo e, aos 35, após passe em profundidade de Arnautovic, Carlos Augusto soltou um foguete que foi rebatido pelo goleiro Piana. Perto do intervalo, a partida ficou paralisada por quase seis minutos devido ao mal-estar acusado por um homem nas tribunas. No primeiro lance após o atendimento do torcedor, os nerazzurri encaminharam sua vaga nas oitavas: Asllani bateu escanteio e fez um gol olímpico. Num segundo tempo protocolar, Taremi não aproveitou um passe bastante esperto de Bisseck para tirar a urucubaca: até deslocou o arqueiro, mas acertou a trave.
A Atalanta não tomou conhecimento do Cesena e construiu um placar tenístico no Gewiss Stadium(Getty)
Seria ousado da nossa parte afirmar que houve um jogo em Bérgamo. Até mesmo falar em treino de luxo seria exagerado. O passeio da Atalanta contra o Cesena, que está na zona de playoffs da Serie B, mostra o tamanho do abismo entre uma equipe da elite italiana e um time da segunda divisão que entra em campo apenas para cumprir tabela, no desestimulante regulamento da Coppa Italia. Com dois gols marcados em menos de 10 minutos e quatro na etapa inicial, a Dea rapidamente encaminhou sua passagem às quartas de final, fase em que enfrentará o Bologna.
Todos os seis gols da Atalanta foram construídos em trocas de passes, sendo quatro em tabelinhas mais rápidas e cinco pelo lado direito da defesa do Cesena, muito mal protegido por Ciofi e Adamo, do ponto de vista individual, mas sistemicamente fragilizado – Michele Mignani não conseguiu fazer qualquer correção que contivesse a trupe de Gian Piero Gasperini. Logo aos 4 minutos, Zappacosta pode entrar com facilidade na área e bater na saída de Pisseri; depois, aos 8, De Ketelaere dialogou com Retegui, recebeu um toquinho de letra e só colocou. Os romanholos nem viram a cor da bola.
Já aos 27 minutos, Pasalic e Samardzic puxaram contragolpe e, com um desvio Pieraccini, o sérvio acabou encobrindo Pisseri. Na casa os 35, Samardzic e Retegui trocaram passes rápidos e De Ketelaere novamente só teve o trabalho de colocar para fazer o quarto. O Cesena estava tão desatento que, no início do segundo tempo, a Atalanta fez até uma tabelinha em cobrança ensaiada de falta e, com assistência de Rafael Toloi, em sua 300ª aparição pelos nerazzurri, Brescianini marcou o quinto. No lance do sexto, Samardzic teve enorme liberdade e anotou sua doppietta. O jogo estava tão fácil que Gasperini até trocou de goleiro (o estreante Rui Patrício deu lugar a Rossi) e, já em clima de fim de pelada, o gambiano Ceesay descontou, no apagar das luzes.
Baldanzi foi um dos melhores em campo na fácil vitória dos giallorossi no Olímpico (Arquivo/AS Roma)
Após a derrota para o Como, pela Serie A, a Roma reencontrou o caminho das vitórias – ainda que o adversário da vez não venha apresentando um alto nível de futebol. A Sampdoria estreou há poucos dias Leonardo Semplici, seu terceiro técnico na temporada, depois das demissões de Andrea Pirlo e Andrea Sottil, e briga para não cair para a terceira divisão. O novo comandante, obviamente, prioriza a permanência na segundona e isso ficou evidente pelo fato de os bluerchiati terem entrado no Olímpico com uma equipe mista. Acabaram sendo presa fácil para a Loba, que enfrentará o Milan nas quartas da Coppa Italia.
Assim como a Atalanta, a Roma encaminhou rapidamente a sua vaga na fase seguinte do mata-mata nacional – e contando com a força num dos lados do campo. Pelo flanco direito, a parceria entre Saelemaekers e Baldanzi enlouqueceu Veroli e Vieira, que pouco puderam fazer para se opor. No centro da área, Dovbyk simplesmente parecia um adulto entre as “crianças” Vulikic e Meulensteen. Logo aos 9 minutos, o belga cruzou na área e o ucraniano escorou para as redes. Aos 19, uma fotocópia: o ex-jogador do Milan alçou a pelota na confusão, Meulensteen, de coxa, acertou o próprio travessão e o centroavante aproveitou a sobra para anotar sua doppietta.
Já na casa dos 24 minutos, Baldanzi recebeu de Paredes na intermediária e, com muita liberdade, sem qualquer combate adversário, conduziu a bola até as imediações da meia-lua, de onde só colocou no canto do goleiro Vismara. Parecia que a Sampdoria havia abdicado da partida, mas o espanhol Hermoso – que vem muito mal em seu primeiro ano de Cidade Eterna – fez questão de colocá-la de novo no jogo aos 61, depois de uma furada bizarra, que permitiu ao compatriota Yepes diminuir o placar.
O gol reacendeu a Roma de Claudio Ranieri, que viu Soulé carimbar o travessão e Dovbyk perder grande chance, parando no arqueiro rival, logo depois. No fim das contas, o ensaio de reação da Samp só fez acelerar a goleada. Que foi consolidada na casa dos 79 minutos, com uma forte cabeçada de Shomurodov, depois de cruzamento de Angeliño.