Trivela
·03 de outubro de 2022
Trivela
·03 de outubro de 2022
A tragédia ocorrida neste final de semana em Malang, na Indonésia, já se coloca como a segunda maior da história do futebol. Segundo os números oficiais, 182 pessoas morreram sufocadas e esmagadas no Estádio Kanjuruhan, durante a partida entre Arema e Persebaya Surabaya, pelo Campeonato Indonésio. A confusão começou depois que torcedores do Arema invadiram o gramado para cobrar os jogadores, no primeiro clássico perdido pelo time em casa após 23 anos de invencibilidade. A polícia reagiu com bombas de gás lacrimogêneo, o que resultou no pânico e no desastre. Os números ainda podem aumentar, com mais de 300 feridos. Apenas a tragédia do Estádio Nacional de Lima, em 1964, durante uma partida entre Peru e Argentina pelo pré-olímpico, registrou mais mortes na história da modalidade – com 328 vítimas fatais.
Treinador do Arema, Javier Roca presenciou o caos. O chileno dirige o clube há um mês e estava à beira do campo quando o tumulto começou. Nenhum atleta ou membro das comissões técnicas faleceu, mas eles precisaram lidar com a morte dentro dos vestiários e saíram do estádio em tanques de guerra – algo relativamente comum na Indonésia. Em entrevista à CNN chilena, o técnico falou sobre o horror que viveu.
“Em protesto, a torcida quis entrar em campo para gritar conosco porque estávamos perdendo. Não sei se iam nos agredir. No fim, a situação saiu do controle e a polícia teve que dispersá-los, assim se gerou o caos. Quando as agressões começaram, eu estava no vestiário. Quando voltei depois da coletiva de imprensa, vi muita gente com problemas de respirar. Foi o pisoteamento, as bombas de gás. Aqui dizem que 182 pessoas morreram”, afirmou o treinador.
“Quando voltei da coletiva, nosso vestiário tinha 25 pessoas que estavam sendo socorridas pelos nossos jogadores. Lá morreram quatro pessoas nos braços dos jogadores. Estava tentando abanar as pessoas com camisetas, toalhas. A maior parte de gente morreu por asfixia. Uma semana atrás, também tivemos distúrbios fora de casa. A torcida protestou e queimaram placas de publicidade. Neste caso, a polícia não recorreu a bombas de gás lacrimogêneo, não houve nenhum falecido. Estão investigando, porque a polícia lançou muitas bombas”, complementou.
“Nunca vivi algo tão forte. Na Indonésia já tinha acontecido situações em que, quando jogávamos partidas importantes, saíamos em tanques, isso era recorrente. Mas essa quantidade de gente falecida, nunca. Sinto que a reação do público aconteceu por causa da derrota da equipe. Temos muito que aprender que o futebol é mais que vencer ou perder. Com as bombas se criou um caos. Poderia ter sido evitado, embora isso seja especulação”, finalizou o chileno.
O futebol indonésio possui um histórico de hooliganismo e mortes nos estádios durante as últimas décadas, com embates comuns entre torcedores e policiais. A partida entre Arema e Persebaya Surabaya, além do mais, era de alto risco por conta da rivalidade entre os times. Os primeiros embates ocorreram nos anos 1990, quando os dois clubes sequer disputavam a mesma liga, mas eram forças regionais e seus hooligans se enfrentavam em shows de música. Já em 1994, com a fusão das competições que participavam, o chamado Super Dérbi de Java Oriental começou a ser disputado de forma recorrente e rendeu mais brigas.
A Fifa proíbe que bombas de gás lacrimogêneo sejam usadas em estádios de futebol. Segundo os relatos, as bombas foram atiradas no gramado e próximas às arquibancadas. Para fugir do gás, os torcedores correram até um dos portões do estádio, que estava fechado, e ali aconteceu grande parte das mortes por asfixia e esmagamento. Jogadores e árbitros ajudaram na fuga dos torcedores pelos vestiários. Ainda assim, muitos não resistiram e faleceram antes da chegada do resgate. A tragédia é investigada pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Indonésia.
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