Trivela
·20 de maio de 2022
Trivela
·20 de maio de 2022
O Velez Mostar era um dos clubes mais importantes da Bósnia nos tempos de Campeonato Iugoslavo. Os aurirrubros não conquistaram o título, como os rivais Sarajevo e Zeljeznicar, mas disputaram 38 edições da primeira divisão e faturaram duas vezes a Copa da Iugoslávia. Porém, numa das cidades mais afetadas pela guerra, o Velez teve dificuldades para se estabelecer no Campeonato Bósnio desde a independência do país. A agremiação encarou sérios problemas financeiros, foi rebaixada duas vezes para a segundona e nunca mais levou um título de elite. Já nesta quinta-feira, a espera se encerrou. O Velez conquistou a Copa da Bósnia e encerrou um jejum de 36 anos sem troféus de primeiro nível. O que se viu, então, foi uma comemoração insana na cidade histórica.
O longo jejum do Velez tinha uma frustração a mais pelo sucesso dos maiores rivais, o Zrinjski Mostar. Por fazer parte do Campeonato Croata em tempos nos quais o país era governado por fascistas, o Zrinjski fechou as portas durante a Iugoslávia e foi refundado em 1992. O clube logo se tornou uma bandeira da comunidade croata em Mostar e isso se inseria num contexto de tensões étnicas. O Velez, uma equipe historicamente multiétnica, passou a ser mais identificado com grupos muçulmanos. Neste ressurgimento, o Zrinjski se estabeleceu como um dos principais clubes da liga local a partir de 2005 e faturou sete títulos desde então, inclusive o de 2021/22.
Três vezes vice no Campeonato Iugoslavo, o Velez se tornou um time de meio de tabela no Campeonato Bósnio desde a independência. Mesmo os rebaixamentos não resultaram em acessos imediatos, com três temporadas na segundona em cada descenso. Um sinal positivo recente tinha vindo em 2020/21, com a terceira colocação na liga, a melhor posição da equipe nas últimas três décadas. A colocação permitiu que os aurirrubros voltassem a disputar as competições europeias após 32 anos. Era um reencontro com a própria história, para quem figurou seis vezes nos torneios continentais durante a Iugoslávia e alcançou as quartas de final da Copa da Uefa em 1974/75 – deixando pelo caminho Spartak Moscou, Rapid Viena e Derby County, até a eliminação para o Twente.
A torcida do Velez, de qualquer forma, esperava a reconquista de um título. A Copa da Iugoslávia tinha vindo pela primeira vez em 1980/81, numa final bósnia contra o Zeljeznicar. Milos Milutinovic (irmão de Bora) era o treinador, numa equipe estrelada por Vahid Halilhodzic. Já em 1985/86, a final foi vencida diante do Dinamo Zagreb. O comando ficava com Dusan Bajevic, antigo ídolo do clube e um dos maiores jogadores bósnios da história. Pela tradição, era inadmissível que o Velez não tivesse sequer uma Copa da Bósnia desde então.
A espera se encerrou na atual temporada. O Velez terminou em quinto no Campeonato Bósnio, mas se deu bem na Copa da Bósnia. A decisão foi disputada contra o Sarajevo, em Zenica. Após o empate por 0 a 0, o triunfo dos aurirrubros veio nos pênaltis. Coube ao atacante brasileiro Brandão, ex-Galícia e Araçatuba, definir a vitória por 4 a 3 na marca da cal. O Velez pôde erguer a taça e, de quebra, se garantiu nas preliminares da próxima edição da Conference League.
Mais bonito que o resultado em campo, porém, foi mesmo a festa da torcida em Mostar. Uma multidão saiu nas ruas da cidade, que permanece com fortes divisões entre croatas e muçulmanos, inclusive territoriais e políticas. Depois de anos vendo apenas o Zrinjski celebrar, desta vez o Velez pôde garantir uma grande comemoração – como não se vivia desde tempos bem mais unidos na Iugoslávia.
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