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·08 de abril de 2024

Um título com a cara do Galo, mas parido pela coragem

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Por Hugo Fralodeo 8 abr 2024 00:13

A dinâmica da finalíssima do Mineiro foi transformando o título deste texto, que eu ia escrevendo na cabeça, à medida que a bola rolava. Uma única coisa foi constante: eu tinha certeza que não viria aqui lamentar uma derrota.


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Por mais que eu tenha achado que Milito possa ter errado na escalação – em nomes, não na ideia -, compreendi desde o primeiro segundo de jogo o que o sagaz treinador argentino queria. O malandro fez exatamente o contrário do que (quase) todo mundo esperava. Ele pretendia reverter o cenário do jogo da Arena, levando o primeiro tempo na boa, só para botar fogo depois do intervalo.

Cheio de más intenções, o Mariscal apertou o botão de reset no cérebro do treinador adversário, que, quando foi perceber que seu time estava recebendo o mesmo tratamento dado ao Caracas, já quase tinha tomado o primeiro, mas Paulinho falhou nos gestos técnicos.

Apesar da evidente superioridade técnica do Galo, o rival não é tão frágil quanto os venezuelanos. Então, o plano de jogo de Milito parecia sair do controle, principalmente após a volta dos vestiários, quando os caras ganharam confiança e relaxaram. Aí, o audaz comandante implementou a segunda fase do plano: se fazer de desesperado para que eles se entocassem no campo defensivo, achando que matariam o jogo em algum contra-ataque.

Sem contar com a astúcia de Milito, ninguém viu que ele, sabendo que muito provavelmente tomaria um gol, queria justamente que o lado de lá sentisse que a parada já estava resolvida e que o jogo passaria a ser contra o relógio. Ledo engano. O Galo empata em uma jogada claramente treinada para surpreender. Era a primeira vez de Otávio mais próximo a área e também a primeira ultrapassagem de Saravia no jogo. O adversário, mesmo fechado, não tinha referências, o que quebrou a marcação.

Ainda dando a entender que tinha pressa, o bonitão chama três jogadores ofensivos, indicando que iria para o tudo ou nada sem qualquer critério. Eu duvido que você, assim como todos do outro lado da lagoa, não tenha pensado que a ordem seria abrir com Saravia e Arana, que fariam chover mais bola na área do que chove água em uma tarde de janeiro em Belo Horizonte.

Quando fica só um zagueiro com dois laterais na primeira linha, saem os dois volantes e passa aos três atacantes, você, o tal do ‘lagartão’ e (quase) todo mundo caiu na armadilha como o goleiro caiu depois de Hulk virar com o gol de pênalti.

A jogada do penal saiu exatamente onde Milito queria, exatamente como ele queria, algo que só ele enxergou naquele momento: o adversário povoaria a área para tentar conter os três atacantes do Galo. Então, com dois jogadores de meio-campo destacados para o lado, no adversário, o lateral e o volante mais próximo à jogada ficariam na dúvida em quem marcar, mas com a certeza que o meia canhoto traria da ponta direita para dentro. Todo mundo errou, exceto Scarpa, Igor Gomes e Milito.

Quando o Galo vira o placar, Milito provoca o rival a responder. Com o relógio rodando, o jogo vira junto, porque quem abdicou de atacar e se preparou para defender deveria buscar o resultado. Ainda com duas substituições, Milito, com a cara mais sonsa que ele poderia ter, olha para o banco, chama seus dois zagueiros, volta ao esquema original, agora para se segurar por alguns minutos.

Quem estava sob o domínio da emoção, do desespero, olhando o cronômetro, rezando, comemorando… e os desesperados, ou seja, ninguém, se lembrou que o rival, cansado, uma vez que já havia começado a fazer trocas para parar o jogo, teria que se lançar e se preocupar em bloquear contra-ataques puxados por jogadores com pernas bem mais frescas.

Assim, o treinador do Atlético se mostrou um cara extremamente perigoso e manipulador. Precisamos ter cuidado com este argentino. Mexer as peças dessa forma em um clássico valendo taça… com tamanha frieza…. Com 13 dias de Cidade do Galo, já está em casa…. Esse cara vai dar trabalho. Com a maior calma do mundo, o cara tira para m&rd@ um tanto de gente assim…. Não sei aonde esse bacana vai chegar desse jeito.

Milito teve coragem. Não por deixar só um zagueiro de origem em campo, isso se vê todo santo dia em diversos cantos do mundo, muito menos por tornar o time mais ofensivo quando saiu perdendo, nada disso. O marechal da linha de frente do Galo foi corajoso ao manter a calma, seguir seu plano e apostar na qualidade, na competitividade e no poder de decisão de seu elenco.

Antes do último dia 25, fazia muito tempo que eu não me emocionava por causa do Atlético. Eu já tinha vibrado bastante no jogo da Arena, mas hoje voltei a me sentir dentro do estádio sentado no sofá. Não chorei pela taça, muito menos pela vitória, meu olhos se encheram d’água porque eu voltei a ter orgulho dos que entraram em campo para nos representar. Eu levantei na hora que Hulk botou a bola na marca da cal e permaneci até ver a taça para o alto porque foi naquele momento que eu tive certeza que, independente do que aconteça entre o último sábado de novembro e o primeiro domingo de dezembro, o Galo vai brigar e competir muito para nos fazer chorar de novo quando chegarmos lá.

*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.

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