
Central do Timão
·16 de abril de 2025
VaideBet: Augusto Melo depõe à polícia e apresenta versão divergente de outros investigados

Central do Timão
·16 de abril de 2025
Nesta quarta-feira, 16, o presidente do Corinthians Augusto Melo foi ouvido pela Polícia Civil como investigado no inquérito do caso VaideBet. A oitiva, realizada no Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), deu sequência à série de depoimentos iniciada na segunda-feira, 14, com o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano, seguida na terça, 15, pelo ex-superintendente de marketing Sérgio Moura.
O depoimento do presidente do Corinthians durou cerca de três horas e, segundo apuração da Central do Timão, também apresentou divergências em relação às versões dos demais investigados: Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé, dono da Rede Social Media Design, empresa apontada como intermediária no acordo e responsável por transferir cerca de R$ 1 milhão da comissão recebida para uma empresa de fachada. A casa de apostas rompeu o contrato unilateralmente em junho de 2024, acionando uma cláusula anticorrupção.
Foto: Reprodução
Durante o depoimento, o presidente do Corinthians prestou esclarecimentos sobre os relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) que apontam movimentações em uma conta bancária registrada em seu nome na cidade de Blumenau, em Santa Catarina. De acordo com os documentos, a conta recebeu depósitos frequentes e em espécie a partir de dezembro de 2023. Segundo apuração da reportagem, Augusto Melo reconheceu alguns depósitos, mas afirmou não ter conhecimento da existência da conta.
O presidente e seu defensor falaram com a imprensa ao deixar o local. Augusto Melo disse que o depoimento foi tranquilo e cordial, ressaltando que sempre agiu com transparência durante toda a negociação com a VaideBet. Segundo ele, todos os detalhes foram esclarecidos às autoridades, e sua conduta desde o início do processo foi clara e coerente com o que foi relatado durante a oitiva.
“Foi um depoimento muito tranquilo, muito cordial. Fui muito bem recebido. O restante cabe a eles, que terão que apresentar o resultado final. Essa parte é mais jurídica, e o Dr. Ricardo Cury entende melhor e pode explicar para vocês. O que posso dizer é que foi tudo muito tranquilo, desde o início, desde o dia da negociação. Tudo o que foi feito, foi falado.“
“Sempre deixei tudo muito claro, muito transparente, desde o dia em que conheci a patrocinadora, desde o primeiro dia em que negociei com ela. Então, desde esse momento, tudo foi conduzido com tranquilidade, e foi isso que esclarecemos aqui. A minha verdade é uma só, e tudo o que aconteceu foi exatamente o que falamos aqui“, declarou o mandatário.
Questionado sobre Alex Cassundé, Augusto Melo foi interrompido por seu advogado, que ponderou sobre a necessidade de manter em sigilo aspectos técnicos do inquérito. Apesar disso, o presidente do Corinthians afirmou que todas as informações estão devidamente documentadas.
“O inquérito tramita em absoluto sigilo e é assim que deve tramitar o inquérito policial. Nós ficamos aí quase três horas respondendo a uma série de perguntas, o presidente respondeu a todas as perguntas, tem coisas de mérito que não podem ser antecipadas em respeito ao trabalho da polícia, em respeito ao trabalho do Ministério Público do GAECO e eu orientei ao presidente nessa coletiva breve que nós estamos realizando de respeitar esse rito.“
“Todos os esclarecimentos que o presidente devia prestar foram prestados e o que nós temos a dizer nesse momento, o que podemos dizer nesse momento é apenas isso do ponto de vista jurídico. A defesa técnica orientou para não antecipar nada em respeito ao trabalho da polícia do Ministério Público e está prestes a ser encerrado“, afirmou o advogado.
“A conversa (com Cassundé) só foi lá no começo e depois é o jurídico que cuidou e está tudo em contrato, cara. Está tudo documentado“, completou Augusto Melo. O presidente também foi questionado sobre a conta em Blumenau, mas disse desconhecer sua existência e defendeu que o caso seja devidamente investigado.
“Nunca estive em Blumenau. Eu não tenho conta nenhuma a não ser no meu banco aqui, já comparamos as minhas contas, tudo, agência, conta bancária, não tem, para mim é uma surpresa isso. Aliás, não tem nada nesse sentido. Que seja investigado. Agora quem quer essa investigação sou eu, porque tem alguém movimentando uma coisa que eu não sei“, afirmou o dirigente.
O depoimento de Augusto Melo foi o último previsto antes da conclusão do inquérito, conduzido pelo delegado Tiago Fernando Correia, do DPPC, com participação do promotor de Justiça Juliano Carvalho Atoji, do Gaeco. Na saída da delegacia, o advogado Ricardo Cury explicou o motivo da demora para que o presidente fosse ouvido pelas autoridades.
“Quem define o rito, quem define o procedimento, as etapas é a polícia. Nós não temos como atropelar as etapas que são definidas pela autoridade policial. A gente tá respeitando o trâmite normal do inquérito. Algumas providências foram tomadas já pelo Corinthians, naquele período de 2024, tem uma série de documentos que já foram sinalizados aqui no inquérito, indicados para o delegado e para o promotor. Há um conflito escalado já entre Corinthians e a VaideBet. Isso já é público, não é nada do inquérito, não é nada sigiloso, que está dependendo só da conclusão do inquérito para ganhar escala, ganhar potência“, concluiu Cury.
A conclusão do inquérito, em andamento há 11 meses, está prevista para o início de maio. A Polícia Civil avalia indiciar Augusto Melo, Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Alex Cassundé pelos crimes de associação criminosa e lavagem de dinheiro. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee também pode ser responsabilizado como partícipe, por ter, supostamente, contribuído de forma consciente para a prática dos delitos, ainda que não os tenha executado diretamente. Concluído o inquérito, o caso será encaminhado ao Ministério Público, que analisará as provas e decidirá entre apresentar denúncia formal à Justiça ou solicitar o arquivamento da investigação.
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