Trivela
·30 de julho de 2022
Trivela
·30 de julho de 2022
Sari van Veenendaal está para o futebol feminino na mesma prateleira ocupada por Edwin van der Sar no futebol masculino. Ambos constam facilmente como os melhores goleiros da seleção da Holanda / Países Baixos, assim como representam demais no nível internacional. Van Veenendaal compartilha feitos individuais e coletivos. Foi eleita a melhor goleira da Eurocopa em 2017, da Copa do Mundo em 2019 e também recebeu o inédito prêmio oferecido pela Fifa de melhor do planeta em 2019. Já pela Oranje, sua consagração ocorreu com o título europeu de 2017. E foi exatamente depois da atual edição da competição, com uma campanha encerrada nas quartas de final, que a craque de luvas se despede do esporte. Aos 32 anos, Van Veenendaal se aposenta relativamente cedo, em decisão acelerada pelo desejo de se aventurar em outras carreiras.
“É hora de dizer adeus ao jogo. Sempre foi ‘tudo ou nada’ para mim. Todos os dias eu tentei alcançar o máximo. Serei para sempre grata por estar em uma posição para ganhar troféus e compartilhar momentos bonitos dentro e fora de campo com muitas pessoas ótimas. Vi o futebol feminino crescer. No começo da minha carreira, minha irmã apostou comigo: se eu ganhasse uma Euro, ela iria me convidar a um musical. Acho que vocês sabem quem ganhou. Ela me levou ao Rei Leão em Londres. Nunca esperamos que esse dia aconteceria, mas aconteceu. Fico tão orgulhosa e feliz que garotas possam dizer que querem ser jogadoras profissionais. Isso existe. E o futebol sempre me deu muitas memórias para nutrir. Farei isso para sempre”, afirmaria a goleira, em suas redes sociais.
“Não quero mais estar em campo todos os dias e tirar meu máximo todos os dias. É hora de explorar coisas diferentes. É minha decisão dizer adeus e isso me parece o certo no momento. Quero agradecer à federação e ao PSV, e a todos os outros clubes e pessoas que contribuíram à minha carreira. E por último, mas não menos importante, quero agradecer a todos os torcedores. Foram eles que adicionaram um valor extra às minhas experiências ao longo da carreira. Também é por causa deles que eu olharei à minha carreira com um grande, grande sorriso. Meus sonhos se tornaram realidade e espero que o futebol feminino realize muitos sonhos mais de outras meninas. Continuem acreditando, tenham fé e aproveitem a jornada. Eu correrei atrás de novos sonhos”, complementou.
Van Veenendaal foi uma figura onipresente nos sucessos da Holanda ao longo da última década. A goleira disputou 91 partidas em 11 anos pela equipe nacional, de 2011 a 2022. Iniciou sua trajetória na Euro 2013 e na Copa do Mundo de 2015, ainda como reserva de Loes Geurts. Assumiu a titularidade exatamente na Euro 2017, quando a Oranje deu um salto de campanhas modestas a uma conquista inesquecível. A camisa 1 virava uma das referências da geração, ao lado de craques como Lieke Martens, Sherida Spitse e Vivianne Miedema.
Van Veenendaal recebeu o prêmio de melhor goleira da Eurocopa e sua importância estava expressa na competição. Porém, a confirmação da camisa 1 num lugar especial da história viria na Copa do Mundo de 2019. Ela seria uma das principais responsáveis por levar a Holanda até a decisão contra os Estados Unidos. Fez defesas cruciais e jogou até mesmo lesionada. Na final, mesmo importante, não evitaria a derrota da Oranje. Mas a capitã saiu eleita a melhor goleira do torneio e, inquestionavelmente, recebeu também o prêmio oferecido pela Fifa à melhor da posição no ano. Inaugurava uma nova era, numa condecoração inédita.
Por clubes, Van Veenendaal também teve uma carreira respeitável. Foi campeã com o Utrecht no início da carreira e se consagrou principalmente no Twente. Depois de 2015, passou quatro boas temporadas com o Arsenal e também levou a taça do Campeonato Inglês. Já em 2019/20, teria uma rápida passagem pelo Atlético de Madrid, antes de viver as duas últimas temporadas com o PSV, já sem o melhor de seus níveis. Apesar dessa queda técnica, fez por merecer a idolatria em diferentes cantos.
No último ano, Van Veenendaal teve o gosto de disputar as Olimpíadas pela primeira vez, em campanha encerrada nas quartas de final. Já a Eurocopa demarcou o seu último ato, mas de maneira triste. A capitã se lesionou logo no primeiro tempo da estreia contra a Suécia e seria cortada, com uma grave lesão no ombro. Viu do lado de fora a eliminação para a França nas quartas de final, com a jovem Daphne van Domselaar se tornando uma digníssima substituta. O corpo e a mente da capitã, então, pediram trégua. Mesmo que, aos 32 anos, ainda tivesse muito para fazer em campo, a goleira já tinha escrito seu nome nos livros de ouro do futebol feminino e decidiu encerrar a carreira.
A decisão de Sari van Veenendaal é totalmente compreensível. Se não via o mesmo prazer no futebol profissional, tem muito tempo pela frente para experimentar novas áreas e buscar outros sonhos. Suas façanhas sob as traves, afinal, serão inesquecíveis. O futebol holandês saberá reconhecer uma das maiores da história. Seu auge está muito bem gravado na memória de quem acompanhou os seus sucessos e viu a consagração de uma geração.