Calciopédia
·13 de maio de 2020
Calciopédia
·13 de maio de 2020
O que Márcio Amoroso, Sonny Anderson e Giovane Élber têm em comum? Ainda muito jovens, no início e no meio da década de 1990, os três saíram do Brasil para tentar a sorte no futebol europeu numa época em que esse fluxo ainda não era habitual. Como se sabe, eles tiveram êxito em seu propósito, mas não tiveram vida longa na Seleção. O que muitos desconhecem, porém, é que Élber foi para a Europa por causa do Milan.
Élber foi revelado pelo Londrina, clube de sua cidade natal, e rapidamente chamou a atenção dos responsáveis pelas seleções de base brasileiras. Em 1991, pouco antes de completar 19 anos, o atacante foi chamado pelo técnico Ernesto Paulo para ser o camisa 9 canarinho no Mundial Sub-20. Élber integrou um grupo que tinha nomes como Roberto Carlos, Djair, Ramon Menezes, Sérgio Manoel e Paulo Nunes, mas se destacou mais do que os colegas. O Brasil foi derrotado por Portugal na decisão, e o paranaense, que fez quatro gols na campanha verde e amarelo, foi eleito como o segundo melhor jogador do torneio.
Pelo desempenho na competição, Élber entrou na mira de clubes europeus. O Milan, que entrava no quinto ano da gestão de Silvio Berlusconi, fez um dos movimentos ousados que costumava executar na época e resolveu adquirir o atacante. Dessa forma, Élber se tornou o precursor dos muitos brasileiros da gestão de Berlusconi. Era o primeiro jogador do país contratado pelo clube desde que Angelo Sormani deixou a Lombardia, em 1970.
No entanto, o paranaense não vestiria a camisa rossonera em 1991. Como a Serie A impunha um limite de três estrangeiros por equipe – e os do Milan eram Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten –, Élber foi emprestado ao Grasshopper, da Suíça. Depois de nove gols em 21 jogos na primeira divisão helvética, o jogador, já conhecido como Giovane Élber, retornou ao Milan com uma esperança: a liga italiana havia liberado a contratação de mais estrangeiros pelos clubes, transformando o limite de três “gringos” por elenco em três relacionados a cada rodada.
Com a alteração nas regras, o brasileiro chegou a fazer parte da pré-temporada com o Milan, mas só atuou em cinco amistosos, nos quais chegou a anotar um gol contra um combinado de Hong Kong. O Diavolo manteve o trio holandês e recebeu os reforços de Zvonimir Boban, Dejan Savicevic e Jean-Pierre Papin. Giovane Élber, então, se viu sem espaço e foi novamente emprestado ao Grasshopper. Na Suíça, teve desempenho ainda melhor: 25 gols. Em 1993, mais maduro, teria chances maiores de ser aproveitado pelo Milan.
Naquele verão, o Milan se renovava. Os holandeses, por exemplo, viravam passado. Rijkaard e Gullit haviam deixado o time e Van Basten sofrera uma lesão séria, que, a princípio, o tiraria dos gramados por meses – na verdade, o craque não atuaria mais profissionalmente. Restavam, então, um jovem Boban, um irregular Papin e Savicevic, mais os novos contratados estrangeiros: Brian Laudrup e Florin Raducioiu. Um indício de que o brasileiro poderia ser aproveitado foi a sua participação nas fotos oficiais dos rossoneri, juntamente com o treinador Fabio Capello, os reforços da temporada e os outros estrangeiros do elenco.
Em campo, a pré-temporada foi parecida com a anterior. Giovane Élber também participou de mais cinco amistosos e anotou um gol contra a Udinese. Fora dos gramados, na expectativa de ser utilizado, Élber foi entrevistado pela Gazzetta dello Sport. Na conversa com o jornal, o centroavante declarou que estava aprendendo bem o idioma italiano, assumiu ser torcedor do Flamengo e disse se inspirar em Careca.
O paranaense também afirmou que o diretor esportivo Ariedo Braida lhe garantira que não iria para o Borussia Dortmund, como especulado na época. Seu destino seria a permanência em Milão ou um empréstimo para a Reggiana, recém-promovida. O centroavante chegou até a elogiar o técnico dos emilianos, Giuseppe Marchioro, mas foi claro: preferia tentar cavar espaço no Milan.
A entrevista, porém, seria um dos últimos atos de Élber como jogador do Diavolo. O atacante voltou a ficar sem espaço e, em agosto, foi emprestado ao Grasshopper pela terceira – e última – vez. Depois dos 21 gols no campeonato helvético e do título da Copa da Suíça, Élber, então com 22 anos, não queria mais ser emprestado. Dessa forma, foi vendido ao Stuttgart, da Alemanha. Lá, o goleador contava com o aval de Dunga.
Giovane Élber ficaria três anos no Stuttgart, onde seria companheiro do capitão do tetra e também de outros jogadores importantes, como Franco Foda, Thomas Strunz, Thomas Berthold, Zvonimir Soldo, Krasimir Balakov e Fredi Bobic. Pelos Roten, Élber conseguiu ter uma excelente média de gols (foram 44 em 95 jogos) e conquistou um título da Copa da Alemanha. O suficiente para ir parar no gigante Bayern Munique.
Na Baviera, Élber se tornou um dos atacantes mais letais do futebol europeu. Em seis anos pelo Bayern, sua temporada menos prolífica foi a de 1999-2000, em que marcou “apenas” 19 gols. A mais rica foi a última, em 2002-03, na qual anotou 31 tentos e foi o artilheiro da Bundesliga, com 21. O brasileiro conquistou incríveis 13 taças pelo clube alemão, incluindo quatro títulos nacionais, uma Champions League e um Mundial Interclubes. Adorado em Munique, foi escolhido pelos torcedores como integrante do melhor onze inicial da história do FCB.
O mais saboroso dos triunfos pelo Bayern Munique foi o da Liga dos Campeões, em 2000-01. Giovane Élber foi um dos vice-artilheiros da competição, com seis gols, e o grande nome dos bávaros no torneio. Afinal, deixou sua marca na partida de volta das quartas de final, contra o Manchester United, e nas duas semifinais, contra o Real Madrid. O paranaense não anotou na decisão, mas pode colocar em prática o que sonhava no início da carreira: festejar em Milão. A final, vencida nos pênaltis sobre o Valencia, foi realizada em San Siro.
Mesmo em alta no Bayern, Giovane Élber pouco vestiu a camisa da Seleção – fato que fez até com que chamasse o técnico Mário Jorge Lobo Zagallo de “louco”. Ele não contava com grande apreço dos treinadores brasileiros que passaram pela amarelinha enquanto vivia o seu auge: além de Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari comandaram o Brasil no período.
Para piorar, Élber ainda teve a concorrência de nomes como Ronaldo, Rivaldo, Romário, Edmundo, Bebeto, Edílson, Luizão e até mesmo de Amoroso e Sonny Anderson, citados no início desse texto. Por fim, o atacante sofreu lesões em momentos-chave e só defendeu a canarinho em amistosos, partidas de Eliminatórias para o Mundial e um torneio oficial (a Copa Ouro, em 1998).
Seriam as lesões que encerrariam a carreira de Élber, em 2006. O atacante teve uma ótima fase pelo Lyon em 2003-04, mas uma fratura na fíbula e o consequente comprometimento dos tendões do tornozelo o afetariam severamente. Depois de uma passagem pelo Mönchengladbach, o brasileiro retornou a seu país para defender o Cruzeiro, clube pelo qual conquistou o Campeonato Mineiro. As fortes dores no pé direito, porém, fizeram com que ele se aposentasse, aos 34 anos. Desde então, o ótimo ex-atacante é embaixador do Bayern Munique e, às vezes, atua como comentarista para TVs da Alemanha, onde vive até hoje.
Élber Giovane de Souza, o Giovane Élber Nascimento: 23 de julho de 1972, em Londrina (PR) Posição: atacante Clubes em que atuou: Londrina (1989-91), Milan (1991), Grasshopper (1991-94), Stuttgart (1994-97), Bayern Munique (1997-2003), Lyon (2003-05), Mönchengladbach (2005) e Cruzeiro (2006) Títulos: Copa da Suíça (1994), Copa da Alemanha (1997, 1998, 2000 e 2003), Copa da Liga Alemã (1997, 1998, 1999 e 2000), Bundesliga (1999, 2000, 2001 e 2003), Champions League (2001), Mundial Interclubes (2001), Ligue 1 (2004 e 2005), Supercopa da França (2004) e Campeonato Mineiro (2006) Seleção brasileira: 15 jogos e 7 gols
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