Calciopédia
·15 de junho de 2020
Calciopédia
·15 de junho de 2020
No futebol de hoje em dia, uma característica bastante requisitada por treinadores nos meio-campistas é a capacidade de desempenhar funções na fase defensiva e na ofensiva com a mesma destreza. Alguns atletas, como Marco Tardelli, eram atemporais e cumpriam essas tarefas com maestria muito antes que isso se tornasse uma imposição ditada pela evolução do esporte. O holandês Wim Jonk, de curta passagem pela Inter no início dos anos 1990, foi um dos que se notabilizaram por ter essa dinâmica entre seus atributos.
Jonk nasceu na cidade de Volendam, localizada a pouco mais de 20 km de Amsterdã, e lá mesmo começou no futebol. Wilhelmus Maria, apelidado como Wim, se profissionalizou no clube local em 1986 e teve um ano de estreia fantástico, com 23 gols marcados na campanha do título do Volendam na Eerste Divisie, a segundona dos Países Baixos. Na elite, Jonk não repetiu a altíssima quantidade de gols para um volante, mas contribuiu com a salvação do time laranja e acabou contratado pelo Ajax.
Medindo 1,86m e apresentando um futebol combativo, o volante ganhou o apelido de “Spijker” (ou “prego”, em português), numa referência dupla, tanto à sua compleição física quanto a seu estilo de jogo. As características de Jonk, contudo, não agradaram tanto os técnicos Kurt Linder, Antoine Kohn e Leo Beenhakker: Wim não se firmou entre os titulares em seus três primeiros anos pelos Godenzonen, ainda que tenha sido utilizado com frequência. Só com Louis van Gaal, a partir de 1991, é que o meio-campista se integrou de fato ao onze inicial, em parceria com o contemporâneo Aron Winter.
O garoto de Volendam entrou em evidência por ter uma saída de bola superior à do companheiro e pelos oito gols na temporada 1991-92, que ocorriam principalmente com chutes de longa distância. Foi justamente com um petardo cheio de efeito, que pegou o goleiro Luca Marchegiani no contrapé, que Jonk marcou o primeiro da partida de ida da final da Copa Uefa, contra o Torino. Após o 2 a 2 no Delle Alpi, o Ajax segurou o 0 a 0 em casa e foi campeão. Merecidamente, Wim estreou pela seleção holandesa dias depois e integrou o grupo da Oranje na Eurocopa.
Após a Euro, Winter foi para a Lazio e Edgar Davids passou a dividir o centro do campo com Jonk. Isso durou apenas uma temporada, já que uma excelente geração pedia passagem no Ajax e Wim também estava valorizado. Dessa forma, em 1993, o clube optou por lucrar com a venda do dinâmico volante, que também aportaria na Itália: ele foi adquirido pela Inter, que desembolsou cerca de 10 bilhões de velhas liras para contar com seu futebol.
Spijker ainda conseguiu convencer Dennis Bergkamp, companheiro de clube desde 1988, a ir para Milão junto com ele. O fantasista tinha recebido uma oferta da Beneamata, mas não estava muito convencido de que deixar o Ajax seria a melhor escolha para sua carreira. Bergkamp só decidiu mesmo tomar o rumo de Appiano Gentile porque teria um amigo para dividir experiências e enfrentar o processo de adaptação a um novo país. No fim das contas, os dois chegaram à Itália como as maiores contratações da Inter para a temporada.
Bergkamp talvez pressentisse os maus bocados que viveria no tempo compartilhado com Jonk em Milão – biênio em que suas carreiras acabaram se entrelaçando mais ainda. Spijker também enfrentou problemas, mas de menor intensidade. Ao longo da passagem pela Inter, Wim apresentou mais consistência do que o atacante e impulsionou o futebol do compatriota no período em que teve seu pico de rendimento.
Em seu novo desafio, Wim começou com o pé direito – literalmente. O volante estreou no fim de agosto de 1993, na 1ª rodada da Serie A, contra a Reggiana. Aos 14 minutos de jogo, abriu a vitória da Inter por 2 a 1 com uma bomba no ângulo e, depois, ainda deu a assistência para Salvatore Schillaci fechar a conta. Apesar disso, o técnico Osvaldo Bagnoli tinha dificuldades de fazer seu time render desde a pré-temporada.
Um dos problemas era a coexistência de Jonk e Antonio Manicone: os dois tinham características parecidas e acabavam se atrapalhando em campo. O treinador encontrou soluções que não agradavam: o rodízio ou o avanço do holandês para uma posição em que rendia menos. Spijker preferia atuar como regista, vindo de trás para atacar espaços, e não tão próximo dos avantes.
Os meses seguintes foram ruins para a Inter e para Jonk, que chegou a perder todos os jogos de dezembro de 1993 e parte dos de janeiro de 1994 por uma lesão. O holandês voltou voando do estaleiro e contribuiu para as vitórias sobre Foggia e Cremonese com três gols – dois sobre a Cremo. Bagnoli foi demitido no início de fevereiro e Wim cresceu sob o comando de Gianpiero Marini, ex-volante que fez muito sucesso pela Beneamata. Guiado pelo tricampeão mundial com a Itália, em 1982, Jonk se tornaria para os nerazzurri o que eram Dino Baggio para a Juventus e Demetrio Albertini para o Milan.
Na Serie A, porém, a Inter não se encontrava: a equipe concluiu a temporada na 13ª posição, apenas um ponto acima da zona de rebaixamento, e teve a pior campanha de sua história nos pontos corridos. Na Copa Uefa, porém, havia uma luz no fim de um túnel que parecia imune à pressão pelos maus resultados no Campeonato Italiano. Liderada por Jonk e Bergkamp, a Beneamata foi avançando na competição, mas sem indicar que poderia surpreender Juventus ou Borussia Dortmund, francos favoritos ao título.
Nas quartas de final, depois de eliminar Rapid Bucareste, Apollon Limassol e Norwich, a Beneamata teria o seu grande desafio frente ao fortíssimo time do Dortmund. Spijker descomplicou o duelo com muita frieza e capacidade de surpreender os adversários. Se valendo dessas características, anotou uma doppietta na Alemanha, com gols aos 33 e aos 35 minutos de jogo, e ajudou os nerazzurri a levarem uma confortável vantagem de 3 a 1 para Milão. A Inter foi derrotada no retorno, mas avançou mesmo assim.
Jonk também marcou nas semifinais, ante o Cagliari, e fez um golaço de cavadinha na partida de volta da decisão, contra o Casino Salzburg. Após dois triunfos por 1 a 0 sobre os austríacos, a taça da Copa Uefa ficava com o time italiano pela segunda vez na história. E a dupla holandesa respirava: Bergkamp foi o artilheiro da competição, com oito gols, e Wim terminou como o meia mais prolífico, com cinco. Ao todo, o hábil volante dos Países Baixos encerrou a temporada com 11 tentos em sua conta.
Cacifado pelo excelente ano de 1994 que fazia pela Inter, Jonk foi defender a Holanda na Copa do Mundo com status de titular inquestionável. E assim foi: disputou todos os minutos dos cinco jogos realizados pela Laranja e foi um dos melhores holandeses na competição. Wim estreou com um golaço contra a Arábia Saudita e fez outro de fora da área contra a Irlanda, contando com um frango de Pat Bonner. Apesar disso, se despediu do torneio como o autor da falta que Branco transformou no golaço da vitória do Brasil, nas quartas de final.
Spijker voltou dos Estados Unidos e encontrou uma Inter que iniciava mais uma reformulação – a começar pelo comando, que passava ao técnico Ottavio Bianchi. O novo treinador montou um time mais defensivo e orientou Jonk a ter menor presença no campo de ataque, principalmente porque Nicola Berti recuperou a melhor forma, depois de uma lesão que o tirou de quase toda a temporada 1993-94. Desempenhando nova função, Wim continuou como titular absoluto da equipe e marcou dois gols, nas vitórias contra Torino e Milan.
No verão de 1995, a Inter prosseguiu no caminho de renovação e tanto Bergkamp quanto Jonk acabariam negociados. Massimo Moratti começava sua primeira temporada como presidente do clube e fez grandes vendas, como a de Rubén Sosa para o Dortmund e a dos holandeses a Arsenal e PSV Eindhoven, respectivamente – o objetivo era fazer caixa e reforçar o elenco com Roberto Carlos, Javier Zanetti, Paul Ince, Salvatore Fresi, Benito Carbone, Maurizio Ganz e Sebastián Rambert. O retorno do volante aos Países Baixos, após 67 jogos e 13 gols pela Beneamata, se dava porque Wim não tinha certeza de que permaneceria como titular e não queria perder espaço na seleção.
Jonk teve seu período de maior estabilidade no PSV, quando foi treinado por Dick Advocaat, seu antigo comandante na seleção. Apesar disso, Guus Hiddink – novo técnico da Holanda – não o considerou para a disputa da Euro 1996. Wim voltou à Oranje após a competição continental porque mantinha a grande fase em Eindhoven: por lá, foi campeão da Eredivisie e da Copa da Holanda pela segunda vez na carreira, e venceu por três vezes a Supercopa. Assim, Hiddink levou o volante para mais uma Copa do Mundo, na qual Spijker foi titular e, novamente, esbarrou no Brasil – dessa vez nas semifinais. A Laranja ficou com a quarta posição.
Quando Advocaat deixou o PSV, em 1998, Jonk decidiu tentar a sorte no exterior outra vez. Pelo Sheffield Wednesday, o volante disputou duas edições da Premier League e, em 2000, amargou o rebaixamento. Já aposentado da seleção e com alguns problemas físicos, Wim decidiu encerrar sua consistente carreira logo após os primeiros jogos da temporada 2000-01, quando até entrou em campo pela segundona inglesa.
Depois de pendurar as chuteiras, Jonk virou comentarista esportivo e também atuou como membro do conselho diretor e auxiliar técnico do Volendam. Partidário do futebol ofensivo – até mais do que mostrou como jogador –, Wim retornou ao Ajax para trabalhar nas categorias de base e foi braço direito de Johan Cruyff numa reformulação interna feita pelo clube, entre 2010 e 2011.
Em 2015, após diferenças de pensamento com os diretores Edwin van der Sar e Marc Overmars, Jonk deixou o clube de Amsterdã e passou a coordenar o Instituto Cruyff Football, que celebra e promove o legado do craque. No início da temporada 2019-20, Wim estreou como técnico profissional: ele comanda a equipe do Volendam e mantém a aposta num futebol propositivo, como mostrou nos bons tempos de Inter, Ajax, PSV e seleção holandesa.
Colaborou Felipe dos Santos Souza, do Espreme a Laranja.
Wilhelmus Maria “Wim” Jonk Nascimento: 12 de outubro de 1966, em Volendam, Países Baixos Posição: volante Clubes como jogador: Volendam (1986-88), Ajax (1988-93), Inter (1993-95), PSV Eindhoven (1995-98) e Sheffield Wednesday (1998-2000) Títulos: Eerste Divisie (1987), Eredivisie (1990 e 1997), Copa Uefa (1992 e 1994), Copa da Holanda (1993 e 1996) e Supercopa da Holanda (1996, 1997 e 1998) Clubes como treinador: Volendam (2019-20) Seleção holandesa: 49 jogos e 11 gols
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