Zagueiro geracional, Leonardo Bonucci foi enorme na Juventus e campeão europeu pela Itália | OneFootball

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Calciopédia

·31 de julho de 2024

Zagueiro geracional, Leonardo Bonucci foi enorme na Juventus e campeão europeu pela Itália

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Leonardo Bonucci se destacou como o zagueiro mais refinado do trio BBC. Se Andrea Barzagli e Giorgio Chiellini eram mais reconhecidos pela força física, Leo dava um toque de classe à trinca. Seus lançamentos teleguiados o diferenciaram de outros beques contemporâneos – não à toa, Pep Guardiola tentou levá-lo para o Manchester City. Porém, ele foi, de longe, mais controverso do que seus fiéis companheiros de zaga. Trocar a Juventus pelo Milan, em 2017, deixou a torcida bianconera enfurecida, ainda que tenha retornado a Turim um ano depois, arrependido de sua escolha. Na reta final da carreira, saboreou a conquista da Eurocopa com a seleção italiana, marcando na decisão, e pendurou as chuteiras longe dos holofotes, na reserva do Fenerbahçe, da Turquia.

É necessário voltar a 2004 para entender por que Bonucci era tão bom no aspecto passe longo. Natural de Viterbo, comuna italiana localizada na região do Lácio, ele tinha 16 anos à época e treinava no time juvenil da Viterbese, onde atuava como meio-campista – seguindo os passos do irmão mais velho, Riccardo, que também vestiu a camisa dos tusci. No entanto, o então técnico da equipe gialloblù, Carlo Perrone, percebeu que aquele garoto alto e magro poderia chegar ao profissional jogando mais recuado. Assim, começou a trajetória de Leo como zagueiro.


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Após somar algumas convocações pelo time adulto gialloblù, o novo beque deixou a Viterbese em 2005 e rumou à Inter, que o contratou por apenas 40 mil euros e o integrou à formação Primavera. Nas categorias de base dos nerazzurri, foi titular da equipe que ganhou o Campionato Primavera em 2007, com Mario Balotelli como principal destaque.

Após impressionar nas divisões inferiores da Beneamata, colecionar algumas partidas pelos profissionais e faturar o scudetto em 2006, Bonucci passou duas temporadas jogando na Serie B. Passou por Treviso e Pisa, onde, apesar das más campanhas dos times, fez bom papel. Com isso, foi envolvido na negociação que levou Thiago Motta e Diego Milito do Genoa para a Inter, para depois ser cedido em copropriedade para o Bari, recém-promovido para a elite.

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Uma ótima passagem pelo Bari projetou Bonucci no cenário italiano (Getty)

Num Bari que parecia fadado ao rebaixamento, mas que fez uma campanha surpreendente e concluiu o campeonato com 50 pontos (recorde histórico do clube), Bonucci estreou como titular e fez uma sólida dupla com o igualmente jovem Andrea Ranocchia, duas grandes revelações da temporada. Graças às ótimas atuações da dupla, os biancorossi concluíram 2009 como a segunda melhor defesa da competição, com apenas 15 gols sofridos em 16 jogos.

Embora na segunda parte da Serie A o nível tenha caído um pouco após a lesão de Ranocchia, Bonucci foi o principal jogador dos galletti na temporada, tendo atuado em todos os jogos da campanha do time treinado por Gian Piero Ventura, décimo colocado. Zagueiro seguro, muito bom nas jogadas aéreas e também no combate corpo a corpo, devido à sua boa estrutura física, chegou a ser comparado a Chiellini por causa de suas características.

O bom campeonato lhe valeu as primeiras convocações para a seleção italiana de Marcello Lippi, na qual estreou em março de 2010, quando tinha 22 anos, num 0 a 0 em amistoso contra Camarões. Três meses depois, Leo marcou o gol de honra na derrota da Itália para o México, por 2 a 1. A defesa passou por muitos apuros, seja pela má fase do capitão Fabio Cannavaro ou pela inexperiência do próprio zagueiro de Viterbo. De qualquer forma, Bonucci foi incluído na lista de 23 convocados da Nazionale para a Copa do Mundo. Viu o Mundial do banco – na reserva de Cannavaro e Chiellini – e, portanto, não entrou em campo na pífia campanha dos azzurri na África do Sul.

Sete dias após a vergonhosa trajetória italiana no Mundial, o zagueiro foi oficializado como novo reforço da Juventus, que desembolsou, ao todo, 15,5 milhões de euros para levá-lo a Turim. Ele chegou a uma equipe que passava por reestruturação após o escândalo Calciopoli, com poucos nomes de peso no elenco. Assim, se tornou titular logo de cara da zaga ao lado de Chiellini. Embora a Velha Senhora tenha passado com tranquilidade pelos playoffs da Liga Europa – superou Shamrock Rovers e Sturm Graz para poder se classificar para a fase de grupos da competição –, a estreia dos bianconeri na Serie A foi amarga: derrota por 1 a 0 para o Bari, antigo time de Leo, na Apúlia.

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Em consonância com a má fase da Juventus, Bonucci acumulou erros em seus primeiros meses de Turim (Getty)

O revés na abertura do campeonato seria uma prévia do que aguardava a Juventus no restante da temporada. O time comandado por Luigi Delneri fez uma campanha desastrosa, a ponto de terminar o certame na sétima colocação – fora das competições europeias depois de 20 anos – e ser eliminado da Liga Europa na fase de grupos. Bonucci foi o jogador que mais entrou em campo pela Vecchia Signora na Serie A, mas cometeu muitos erros técnicos e táticos, o que levou a imprensa esportiva a criar um neologismo para se referir aos vacilos do beque: bonucciata – ou bonucciate, no plural. O termo, inclusive, entrou para o dicionário Treccani.

A carreira de Bonucci e os tempos de vacas magras da Juventus mudariam a partir de 2011-12. Isso porque Giuseppe Marotta e Fabio Paratici, nomeados diretor-geral e diretor esportivo quando Andrea Agnelli assumiu a presidência do clube, um ano antes, foram cirúrgicos ao contratarem o emergente Antonio Conte para o lugar de Delneri. Capitão da equipe de Turim na década de 1990, o ex-volante recebeu reforços certeiros – Stephan Lichtsteiner, Andrea Pirlo, Arturo Vidal, Alessandro Matri, entre outros – aproveitou o calendário sem jogos continentais, extraiu o melhor dos jogadores no sistema 3-5-2 e fez a Velha Senhora voltar a competir nas cabeças.

Com a implementação de um esquema com três zagueiros, Leo foi posicionado no centro da defesa, deixou as bonucciate para trás pouco a pouco e, ao lado de Barzagli e Chiellini, deu início a um trio defensivo que marcaria a década de 2010 no futebol mundial. Mas, além do comandante, outra pessoa teve um papel fundamental para a virada de chave na carreira de Bonucci: o treinador mental Alberto Ferrarini. “Meu objetivo é trazer à tona a alma, o guerreiro que está em cada um de nós”, explicou ele. Capacitado por Ferrarini, o beque encarnou o “espírito juventino” e cresceu absurdamente no miolo da zaga bianconera.

A Juventus realizou uma campanha incrível na Serie A 2011-12, sobretudo na reta final – foram nove vitórias e um empate nos últimos dez jogos – e ganhou o scudetto de forma invicta, com uma defesa que foi vazada apenas 20 vezes em todo o campeonato. A Vecchia Signora ultrapassou o Milan, vice-campeão, na 31ª rodada, quando venceu o Palermo, por 2 a 0, na Sicília; Bonucci abriu o placar e Fabio Quagliarella anotou o segundo tento. Os bianconeri também alcançaram a final da Coppa Italia, mas sucumbiram diante do Napoli, que contou com gols de Marek Hamsík e Edinson Cavani para faturar a taça.

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Sob as ordens de Conte, o beque passou a escrever grande história na Juventus e se tornou um dos melhores zagueiros da Europa (AFP/Getty)

Terminada a temporada de clubes, Bonucci foi convocado para servir a seleção italiana na Eurocopa de 2012. A Nazionale de Cesare Prandelli apresentava um ótimo futebol e chegou à final da competição, porém não foi páreo para uma atuação de gala da Espanha. A Fúria passou por cima dos azzurri: 4 a 0. O zagueiro romano disputou todas as partidas, seja em linha de quatro ou de três – Prandelli variou bastante entre o 4-3-1-2 e o 3-5-2 no decorrer do torneio.

A temporada 2012-13 começou com uma vingança da Juventus sobre o Napoli. Se na época anterior os napolitanos haviam levado a melhor na decisão da Coppa Italia, o time juventino deu o troco na Supercopa Italiana de 2012, com vitória por 4 a 2, na prorrogação. O jogo terminou envolto em polêmica, visto que Goran Pandev recebeu cartão vermelho direto após insultar o árbitro assistente minutos antes de o duelo ir para o tempo extra. Juan Camilo Zúñiga também acabou expulso na prorrogação, depois de tomar o segundo amarelo. Por fim, Walter Mazzarri, então técnico dos azzurri, teve o mesmo destino do macedônio e do colombiano, já que protestou acintosamente diante do árbitro Paolo Silvio Mazzoleni.

Bonucci fez sua estreia em jogos da Liga dos Campeões em setembro de 2012: na abertura do Grupo E da competição continental, a Juventus ficou no 2 a 2 com o Chelsea, em Londres. Na partida seguinte, contra o Shakhtar Donetsk em Turim, o camisa 19 marcou o gol dos italianos, garantindo o 1 a 1 com os ucranianos – seria o único tento que ele guardaria naquela temporada. Apesar de três empates seguidos na primeira fase, a Velha Senhora conseguiu se classificar ao mata-mata da Champions League, caindo nas quartas de final para o Bayern de Munique, que levantaria o troféu naquele ano.

Com nove pontos à frente do vice Napoli, a Juventus terminou a temporada no topo da Serie A novamente. Ao lado de Barzagli, Bonucci liderou o ranking de jogadores que mais entraram em campo – 48 jogos. Em junho de 2013, o zagueiro e a seleção italiana partiram para o Brasil disputar a Copa das Confederações. Prandelli optou por deixar Leo no banco nas duas primeiras partidas, contra México e Japão, nas quais a Itália saiu vitoriosa.

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Em meados da década de 2010, Leo se tornou um dos líderes do elenco da Juve e fez grande parceria com Barzagli e Chiellini (Getty)

Curiosamente, Leo iniciou jogando diante do Brasil e os italianos perderam por 4 a 2. Ele também atuou durante os 120 minutos da semifinal ante a Espanha, na qual a Squadra Azzurra perdeu nos pênaltis, sendo que o zagueiro desperdiçou a cobrança decisiva. A Nazionale teve de disputar o terceiro lugar e triunfou sobre o Uruguai, também nas penalidades. Último na lista, o bianconero nem precisou bater, dessa vez.

Por seis anos, a resposta para a pergunta “qual é a melhor defesa da Itália?” foi praticamente unânime – e, em algumas oportunidades, a mesma assertiva valeu para o cenário europeu. Sob a batuta de Conte, foram três edições da Serie A vencidas de forma consecutiva e com autoridade, inclusive com recorde de pontos: 102 em 2013-14.

Entre 2014 e 2016, inclusive, Bonucci viveu seu auge, apesar do fraco desempenho na Copa do Mundo, onde a seleção italiana como um todo ficou abaixo do esperado e acabou eliminada na primeira fase do torneio – Leo atuou apenas no derradeiro jogo, contra o Uruguai, que foi o seu único na competição em toda a carreira. Por outro lado, o beque continuou empilhando títulos nacionalmente com a Juventus, chegou a uma final de Liga dos Campeões – derrota por 3 a 1 para o Barcelona de Lionel Messi, Luis Suárez e Neymar – e despertou muita raiva entre os rivais.

Não à toa, o ex-zagueiro Pasquale Bruno, um dos maiores carniceiros da história do futebol italiano e torcedor do Torino, deu uma declaração polêmica sobre o camisa 19 juventino. “Adoraria voltar a jogar para dar um murro em Bonucci”, afirmou, ao Tuttomercatoweb. “Esperaria no túnel para os vestiários… um murro para quebrar sua boca; cinco pontos e cinco meses sem falar. Ele é insuportável, reclama demais. Eu era o antipático, talvez o pior de todos, mas mostrava em campo e protestava pouco”, disparou.

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Ao trocar a Juve pelo Milan, Bonucci entrou para uma seleta lista de atletas que atuaram pelos três gigantes italianos (Getty)

Um mês antes, Bonucci marcara um dos gols mais bonitos e importantes de sua carreira, pegando um voleio da entrada da área e garantindo a vitória por 3 a 2 sobre a Roma. Após a bola balançar as redes de Lukasz Skorupski, ele comemorou da forma clássica: levou o dedo indicador próximo à boca e começou a girá-lo, como se estivesse dizendo aos adversários “lavem a boca”. A explicação do próprio atleta após o triunfo foi a seguinte: “Tenho o maior respeito por quem veste as cores dos giallorossi e por quem as carrega no coração. Quem me conhece sabe que essa é a minha forma de comemorar, dedicada aos juventinos e aos meus amigos. Não queria atacar ninguém. Um gol desses talvez eu não marque nunca mais e pensei em prolongar a felicidade”, afirmou.

Em meio a tanto ódio de torcedores rivais, Bonucci foi um dos destaques da seleção italiana na Eurocopa 2016, que disputou na condição de “senador” do grupo. Já sob as ordens de Conte, uma equipe em reformulação ensaiou uma recuperação com resultados acima do esperado: uma queda sofrida nas quartas do torneio, somente nos pênaltis, frente à Alemanha. Na estreia, Leo forneceu uma linda assistência de 40 metros para Emanuele Giaccherini abrir o placar contra a Bélgica e foi eleito o melhor em campo. Terminou a competição bastante valorizado, o que só ratificou os elogios de Guardiola a ele. “Um dos meus jogadores favoritos de todos os tempos”, enalteceu o técnico, em fevereiro de 2016.

Anos depois, Bonucci contou os bastidores do interesse do Manchester City de Guardiola em seu futebol. “Em 2016, eu estive perto de ir para o Manchester City”, revelou, ao jornal The Sun. “Eles ofereceram quase 100 milhões de libras para a Juventus, mas decidimos continuar juntos. Houve conversas em 2017 também, depois que a Juve me colocou à venda. No final, as coisas tiveram que seguir esse caminho”, salientou o defensor, que ainda imaginou como seria atuar sob o comando de Pep. “Ser treinado por Guardiola teria sido uma grande conquista porque ele teria me melhorado, mas não posso reclamar porque ganhei muitos troféus, prêmios individuais e a Eurocopa. Sempre deixei meu coração me ditar o que faço, e é por isso que permaneci em Turim”.

Percebeu dois spoilers na declaração de Bonucci na entrevista divulgada em janeiro de 2024? Então, na temporada 2016-17, Leo seguiu atuando em alto nível, conquistou títulos nacionais e alcançou mais uma decisão de Champions League, dessa vez perdida para um histórico Real Madrid, por 4 a 1, em Cardiff, País de Gales. Ele até marcou um gol na final da Coppa Italia contra a Lazio, vencida pelos bianconeri por 2 a 0. No entanto, o camisa 19 e Massimiliano Allegri, sucessor de Conte, entraram em atrito, a ponto de ambos trocarem insultos em 2017, e o defensor aceitando uma proposta do Milan, rival da Juve. Assim, o beque entrou para uma seleta lista, formada por apenas 11 atletas, que representaram os três maiores clubes da Itália.

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Barzagli, Bonucci e Chiellini foram fundamentais para que a Juventus estabelecesse o recorde de nove scudetti consecutivos (Getty)

Após sete anos de idolatria em Turim e 12 títulos conquistados, Bonucci foi comprado pelos rossoneri por 42 milhões de euros e se tornou persona non grata entre torcedores bianconeri. O anúncio da contratação, que causou um alvoroço na Itália, ocorreu em 20 de julho de 2017. No Diavolo, o zagueiro escolheu o mesmo número 19 que utilizava na Vecchia Signora e foi o principal reforço do “Milan chinês”: o grupo Rossoneri Sport Investment Lux, comandado pelo chinês Li Yonghong, adquiriu 99,93% das ações da holding Fininvest, que pertencia a Silvio Berlusconi, lendário presidente milanista.

“A Juventus é passado”, sacramentou, em entrevista à Gazzetta dello Sport. “Agradeço por tudo que me deram, com eles eu me tornei um dos melhores defensores do mundo. Porém, quando você faz certas escolhas, você tem de assumir as responsabilidades e suas consequências. […] Espero fazer no Milan o que Pirlo fez na Juventus, com o percurso inverso”, frisou o beque, que sonhou alto: “Em quatro anos eu espero vencer a Champions. Quero levar tudo para casa. Estou com fogo e mais fome do que nunca, sempre vou além dos meus limites. Meu objetivo é fazer com que o Milan volte ao Olimpo do futebol mundial. Eu escolhi este clube para reiniciar. Estou aqui para vencer”.

O início da trajetória no Milan foi até animador: antes odiado pelos rossoneri, Bonucci ganhou a simpatia de parte da torcida e recebeu a faixa de capitão – o meio-campista Riccardo Montolivo e o lateral-direito Ignazio Abate eram quem utilizavam a braçadeira antes de Leo. Em sua estreia no San Siro, o time milanês goleou o Shkëndija, da Macedônia, por 6 a 0, na ida dos playoffs da Liga Europa. Depois, entretanto, o atleta fez péssimos jogos, acertou uma cotovelada no lateral-direito Aleandro Rosi, então jogador do Genoa, e pegou um gancho de duas partidas. Em novembro, quando o clube estava em sétimo na liga, Vincenzo Montella acabou demitido e sucedido por Gennaro Gattuso.

Em meio à troca de comando no Milan, Bonucci e toda a Itália tiveram que lidar com o fato de que a seleção italiana não conseguiu se classificar à Copa do Mundo de 2018. A Nazionale, à época treinada por Ventura, técnico de Leo nos tempos de Bari, estava jogando bem abaixo do que poderia e caiu diante da Suécia na repescagem europeia: derrota por 1 a 0 em solo escandinavo e empate sem gols em um San Siro lotado. Havia 60 anos que a Nazionale não ficava ausente de uma edição de Mundial.

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Devido às lesões de Chiellini, Bonucci passou a usar a faixa de capitão da Juve e, oficialmente, foi o dono da braçadeira em seu último ano em Turim (Getty)

Ainda absorvendo a eliminação para a Suécia, Bonucci subiu de rendimento na gestão de Gattuso, e ao lado de Alessio Romagnoli. Em janeiro de 2018, o camisa 19 marcou pela primeira vez pelo Milan, contra o Crotone, em vitória pelo placar mínimo: Hakan Çalhanoglu cobrou escanteio, o goleiro Alex Cordaz socou a bola errado e a jogou nas costas de Leo. Em março, ele anotaria um gol ainda mais simbólico: o Milan estava perdendo por 1 a 0 para a Juventus, em Turim, quando o defensor, de cabeça, empatou o clássico e comemorou de forma efusiva. No fim, a Juve faria mais dois e venceria por 3 a 1, em duelo com polêmicas envolvendo a arbitragem.

Apesar do bom segundo turno, o Milan teve que se contentar com a sexta posição na tabela da Serie A, novamente sem vaga na Liga dos Campeões. Por outro lado, os comandados de Gattuso chegaram à final da Coppa Italia, deixando pelo caminho Verona, Inter e Lazio. Na decisão, contudo, a Vecchia Signora enfiou um acachapante 4 a 0 em cima do time rossonero, cujo capitão era Bonucci. Depois de uma temporada muito aquém das expectativas, o beque surpreendeu a todos mais uma vez e pediu para retonar à… Juventus. O clube bianconero pagou 35 milhões de euros e cedeu o zagueiro Mattia Caldara e o atacante Gonzalo Higuaín ao Milan para contar novamente com Leo.

Em entrevista coletiva de (re)apresentação, Bonucci explicou por que decidiu se juntar ao Diavolo alguns meses antes. “Acertei com o Milan em um momento de raiva”, afirmou. “Com certeza a discussão com o treinador [Allegri] me fez ir embora. No último ano conversamos algumas vezes para nos entender e temos uma excelente relação. Graças a ele melhorei. Queria voltar porque tinha saudades de casa. Deixei meu coração aqui, sou Juventus desde que nasci. Se me apresentarem uma proposta para sair hoje, nem sequer pensaria”, completou.

Bonucci encontrou uma Juventus diferente: Gianluigi Buffon partira para o Paris Saint-Germain e Wojciech Szczesny assumira a titularidade da meta; Chiellini se tornara capitão; Claudio Marchisio, uma bandeira do clube, deixara Turim, assim como o artilheiro Higuaín. No entanto, a principal novidade mesmo foi a chegada de Cristiano Ronaldo à equipe. Com um dos melhores jogadores do mundo no comando do ataque, a Vecchia Signora seguiu dominante em solo nacional, mas sequer passou perto de conquistar uma Champions League, que era o maior desejo da diretoria encabeçada por Agnelli.

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Fundamental para o título da Euro, Bonucci marcou gol na decisão, contra a Inglaterra, e converteu sua penalidade (imago/IPA)

Dentro de campo, Bonucci foi titular durante toda a temporada 2018-19, mas somou muitas atuações irregulares. Apesar disso, marcou um gol no clássico contra o Napoli, no Allianz Stadium, pelo primeiro turno da Serie A. Em duas oportunidades no campeonato usou a faixa de capitão, o que não caiu muito bem entre os torcedores bianconeri, visto que o tratavam com repulsa devido à troca pelo Milan. Pior ainda foi a posição que ele tomou em um caso de racismo envolvendo um companheiro de grupo – o que encobriu parcialmente, por exemplo, a imagem positiva que o atleta vinha construindo como pai presente e tolerante, que assistia a jogos ao lado de um dos três filhos, torcedor do Torino.

Após a vitória por 2 a 0 sobre o Cagliari, na Sardenha, pela 30ª rodada da Serie A, Bonucci foi à imprensa e repreendeu o atacante Moise Kean, que sofreu atos racistas de torcedores rossoblù. O jovem marcou o segundo gol da vitória bianconera, correu em direção à torcida adversária, abriu os braços e ficou olhando fixamente para o setor de onde vinham as ofensas. Foi uma forma de desabafar, já que o jovem vinha sofrendo insultos de cunho racial durante a partida.

“Kean sabe que quando ele marca um gol, ele tem que focar em comemorar com seus companheiros. Ele sabe que poderia ter feito diferente também. Houve gritos racistas depois do gol, Blaise [Matuidi] ouviu e estava furioso. Eu acho que a culpa é 50% a 50%, porque Moise não deveria ter feito isso e a Curva não deveria ter reagido daquela forma. Nós somos profissionais, nós temos que dar o exemplo e não provocar ninguém”, disse Bonucci, à Sky Sports Italia. Um garoto de 19 anos à época foi provocado durante o jogo inteiro, balançou as redes, tirou onda dos torcedores racistas e ainda teve que ouvir, de um dos líderes do elenco, que tinha metade da culpa por sofrer insultos raciais. A declaração, claro, gerou polêmica na imprensa.

Em 2019-20, Maurizio Sarri foi o escolhido da diretoria bianconera para substituir Allegri, e Bonucci utilizou a faixa de capitão em quase todas as partidas da Velha Senhora no ano, já que Chiellini sofreu com lesões e entrou em campo somente quatro vezes pela Serie A. Em meio à pandemia de covid-19, conquistou seu nono scudetto – oito com a Juventus e um com a Inter, em 2006, que o deixam na segunda posição em número de troféus do torneio, ao lado de Chiellini e atrás de Buffon (10). O técnico não permaneceu para a temporada seguinte, fazendo com que a cúpula piemontesa apostasse em Pirlo como comandante da equipe.

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Já veterano, Bonucci não vingou no Union Berlin (Getty)

Sob a regência do ex-volante, Leo caiu de produção e recebeu críticas da imprensa especializada, mas daria a volta por cima na Eurocopa 2020, que foi realizada em 2021, devido à pandemia. A Itália de Roberto Mancini fez uma excelente fase de grupos e, mesmo depois de perder o lateral-esquerdo Leonardo Spinazzola – um dos destaques da competição – por lesão nas quartas de final, superou grandes seleções e alcançou a decisão. Contra a Inglaterra, em Wembley, a Squadra Azzurra saiu atrás do placar no início do embate, mas Bonucci empatou o duelo. Após 120 minutos, o confronto foi decidido nos pênaltis: o zagueiro converteu sua cobrança, Gianluigi Donnarumma brilhou e deu o bicampeonato europeu aos italianos. O bianconero foi um dos cinco nomes da Nazionale escolhidos pela Uefa para o time ideal do certame.

Passada a comemoração pelo triunfo na Euro, Bonucci voltou à Juventus e reencontrou Allegri, que fora contratado para o lugar de Pirlo. Na temporada 2021-22, anotou duas doppiette: uma contra a Lazio e outra diante do Venezia. Acostumado a celebrar títulos, o beque viu a Vecchia Signora perder a Supercopa Italiana e a Coppa Italia para a rival Inter, além de amargar dois insucessos com a Nazionale: primeiro, em março de 2022, os azzurri perderam da Macedônia do Norte, por 1 a 0, em Palermo, e deram adeus à classificação à Copa do Mundo de 2022. Três meses depois, sucumbiram diante da Argentina na Finalíssima: 3 a 0 na despedida de Chiellini da seleção.

A propósito, Chiello também deixou a Juventus e oficialmente passou a faixa de capitão para Bonucci. A torcida começou a temporada empolgada pela montagem do plantel, que ganhou nomes como Paul Pogba, Ángel Di María, Bremer, Filip Kostic e Leandro Paredes. No papel, a equipe era uma forte candidata ao scudetto, mas em raríssimas oportunidades Allegri conseguiu fazê-la render ao máximo. Os bianconeri ainda tiveram a campanha dificultada pelo grande número de lesões e com a perda de 10 pontos por fraude fiscal. Assim, encerraram o ano sem taças e fora das competições europeias.

Allegri deixou claro, no meio da temporada 2022-23, que Bonucci não fazia parte dos seus planos – apesar de ter renovado o contrato pouco antes e de ter deixado claro que queria se aposentar em bianconero, ao fim da campanha seguinte. Com isso, o zagueiro saiu do clube após 502 jogos, 37 gols, 17 títulos e ostentando o posto de sexto jogador que mais vezes atuou pela agremiação. Já sem vínculo com a Juve, o veterano revelou que entraria com uma ação legal contra o clube e disparou críticas ao treinador. “É uma decisão que já vem de muito tempo e se deve ao fato de ter lido e ouvido muitas coisas que não são verdade”, pontuou, em entrevista à Mediaset.

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A passagem de Bonucci pelo Fenerbahçe ficou marcada por um pênalti decisivo desperdiçado (Fotomaç)

“O técnico da Juventus relatou algumas histórias falsas. Não é verdade que tenham me contado há meses sobre a intenção de se desfazerem de mim. Em maio, disse à Juve que estava aberto a permanecer como quinta ou sexta escolha para ajudar os jovens jogadores. Os diretores do clube me disseram no dia 13 de julho que eu estava fora do projeto deles depois de muitos rumores na mídia [sobre negociações com outros times]. Esta foi a maior humilhação que sofri depois de mais de 500 jogos defendendo a equipe”, enfatizou.

Aos 36 anos, Leo aceitou o desafio de jogar pelo Union Berlin, da Alemanha. Seria sua primeira experiência fora da Itália. Em setembro, assinou contrato até o junho de 2024, mas permaneceu no clube apenas três meses – tempo em que até participou do debute dos Eisernen na Champions League e brigou contra o descenso na Bundesliga. Isso porque ele se transferiu para o Fenerbahçe logo nos dias iniciais de janeiro visando defender a seleção italiana de Luciano Spalletti na Eurocopa 2024.

Porém, Bonucci atuou somente 420 minutos até o fim da temporada, acabou amargando o vice da Süper Lig, perdendo o pênalti decisivo na eliminação do Fener nas quartas da Conference League para o rival Olympiacos, da Grécia, e foi escanteado pelo técnico da Nazionale. Assim, aos 37 anos, anunciou a aposentadoria – ocupando, a propósito, o quarto posto na lista de partidas pelos azzurri, com 121 presenças. Um final de carreira bem distante dos holofotes para um dos zagueiros mais marcantes do futebol italiano na década de 2010. Reflexo de suas más decisões fora de campo.

Leonardo Bonucci Nascimento: 1º de maio de 1987, em Viterbo, Itália Posição: zagueiro Clubes: Viterbese (2004-05), Inter (2005-07), Treviso (2007-09), Pisa (2009), Bari (2009-10), Juventus (2010-17 e 2018-23), Milan (2017-18), Union Berlin (2023-24) e Fenerbahçe (2024) Títulos: Serie A (2006, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2019 e 2020), Supercopa Italiana (2012, 2013, 2015, 2018 e 2020), Coppa Italia (2015, 2016, 2017 e 2021) e Eurocopa (2020) Seleção italiana: 121 jogos e oito gols

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